Transmissão de pensamentos
Capítulo 10: Transmissão de pensamentos
-Weasley! –Draco chamou Gina pela vigésima vez.
Cansado de não obter resposta, tentou abrir a porta e para sua própria surpresa abriu:
“Como não pensei nisso antes? Ela sempre esquece de trancar a porta”.
O loiro foi se aproximando vagarosamente da cama de Gina e viu que ela estava descoberta e ainda dormindo.
“Dorme que nem uma pedra, não acredito que nem me ouviu chamar. Como alguém pode ter um sono tão pesado?”
Draco se inclinou sobre Gina para tirar uma mecha de cabelos do rosto dela e chacoalhar a ruiva pelos ombros pra ver se acordava. Ao sentir alguém tocar seu, Gina logo abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi Draco inclinado sobre si:
-Malfoy, explique-se! –ela exigiu.
Draco ficou ereto e disse:
-Eu te chamei inúmeras vezes e não obtive resposta. Você não trancou a porta de novo e por isso eu entrei.
-isso não explica o porque estava inclinado sobre mim.
-Quando você acordou eu ia chacoalhá-la pelos ombros. Francamente, você dorme como uma pedra. Se eu quisesse matá-la...já estaria morta.
-Então você não quer me matar? –ela perguntou esperançosa.
-Bem...na verdade não. Tirando o motivo de ser a criatura mais insuportável da face da Terra, eu não tenho nenhum outro para querer matá-la.
-Tirando os meus irmãos quando brigavam comigo, você é a única pessoa que já me chamou de insuportável. Agora no seu caso, eu perdi a conta de quantas vezes pessoas diferentes disseram que VOCÊ era insuportável. Por democracia, quem de nós dois é o insuportável? Você é claro!
-Já querendo briga, Weasley?
-Não, Malfoy. O que eu menos quero é mais uma briga. –ela disse sorrindo.
-Por acaso está com febre? –Draco perguntou colocando as costas de sua mão esquerda na testa de Gina para checar a temperatura.
-Não é nada disso. –ela disse baixando a mão dele com delicadeza.
Os dois ficaram quietos e Gina lançou um olhar inocente à Draco:
-O que você quer de mim, Weasley? Conheço o olhar que uma mulher faz quando quer pedir algo.
-Bem, é que eu não sei como vou fazer pra pagar a diária desse hotel. Eu só tenho dinheiro bruxo.
-E o que você quer que eu faça?
-Lembra que você disse que tinha dinheiro de trouxas? Será que você pode pagar pra mim? Aí eu te pago o correspondente à diária em galeões.
-Eu não tenho dólares suficientes para pagar.
-E agora? –Gina perguntou preocupada.
Draco tirou do bolso a carteira e abriu-a:
-É pra isso que existe esse cartão.
-Como assim?
-Os trouxas usam isso. Foi Voldemort quem me deu, disse que era para pagar as nossas despesas em lugares trouxas. A única diferença é que esse cartão que está no nosso nome, –Draco mostrou que estava escrito “Draco Thomas Malfoy e/ou Virgínia Molly Weasley” –tem o número da conta bancária de outra pessoa, ou seja, o que gastarmos será debitado nessa conta.
-Sabia que se a polícia descobre, nós seremos presos? Isso dá cadeia!
-O que é polícia? Tenho a impressão de já ter ouvido esse termo, mas não me lembro o que significa.
-São as pessoas habilitadas a prender as que desrespeitam a lei.
-Ah, aqueles idiotas que andam naqueles carros barulhentos. Não se preocupe, somos espertos demais para os trouxas. Nunca nos pegarão por isso.
“Como se já não fosse suficiente eu me tornar uma Comensal da Morte, agora serei cúmplice de fraude em um cartão bancário de trouxas. Eu não mereço isso!!! Cada vez estou mais enrolada nessa história”.
Troque-se e arrume sua mala para irmos embora. –Draco falou para Gina.
Quando o gerente do hotel passou o cartão na máquina, Gina sentiu um peso na consciência.
“Trezentos dólares gastos por mim e mais trezentos pelo Malfoy. Sendo que é outra pessoa que vai pagar...eu não gosto disso, eu não gosto nada disso”.
-E agora Malfoy? Como iremos até Roma? –Gina perguntou já do lado de fora do Gran Hotel Italian.
-Vamos pegar um táxi até Pádua e de lá pegamos um trem pra Roma. –ele disse se dirigindo a um dos táxis que estavam parados do lado de fora do hotel.
Ao desembarcarem do trem em Roma, já era 1h da tarde:
-Weasley, veja o que diz o mapa.
Gina pegou o pergaminho e abriu-o:
-Está escrito para irmos ao Coliseu ao meio-dia.
-Mas já passou do meio-dia.
-Eu sei, vamos amanhã então.
-Precisamos achar um hotel, já que vamos ficar aqui até pelo menos amanhã. E de preferência um que se localize perto do Coliseu.
-Certo. –Gina concordou e eles saíram da estação.
Ao estarem do lado de fora viram com os próprios olhos, como a cidade era grande e movimentada.
-Táxi? –Draco perguntou a Gina.
-É, eu acho que é melhor se não quisermos nos perder.
Eles entraram dentro de um táxi:
-Nós queremos ir até o Coliseu. –Draco disse.
O motorista fez que sim com a cabeça, apesar de Draco e Gina terem quase certeza dele ter entendido apenas “o Coliseu” na frase.
-Onde será que iremos passar o reveillon? A sua mãe não faz questão de que você esteja presente, faz?
-Bem, ela gostaria, mas não faz questão. Malfoy, você não acha possível que terminemos essa missão ainda esse ano?
-Eu acho que só por um milagre. Esse mapa, não sabemos até onde nos levará e quanto tempo demorará.
-Você tem razão, seria esperar demais que esse fosse o último lugar em que teríamos que ir.
Quando Gina e Draco saíram do táxi avistaram ao longe o Coliseu, (um dos grandes monumentos construídos na época do Império Romano) mas foi outro Coliseu que chamou a atenção deles.
Olhavam para a fachada do “The best of Coliseu”, certamente era um hotel e arquitetonicamente se parecia com o verdadeiro Coliseu:
-O que acha desse hotel, Weasley?
-Deve ser muito chique e por isso caríssimo.
-Não importa. Pelas pessoas que estão entrando nele, -Draco apontou para um casal de turistas –é um hotel trouxa. Tudo o que temos a fazer é usar o cartão.
“Era isso que eu não queria ouvir ele dizendo”.
-Talvez fosse melhor procurarmos outro hotel, um mais barato. Você não sabe até quando terá saldo para fazer débito automático.
-Voldemort me garantiu que o verdadeiro dono da conta é montado na grana.
-Ah. –Gina respondeu um pouco mais despreocupada.
Eles então entraram e foram direto até a recepção:
-O que falam? Italiano, francês, inglês, alemão, japonês, chinês, espanhol, russo, português, árabe, latim, aramaico, polonês...
-Chega! –Draco interrompeu o recepcionista –Preferimos inglês.
-Muito bem. O nosso hotel oferece suítes luxuosas com banheiras de hidromassagem, TV de 29 polegadas com a programação total da DIRECTV. E também podem desfrutar da piscina aquecida do hotel. Tem apenas um problema...
--Qual? –Gina perguntou.
-Hoje é natal e por isso o hotel está lotado. Mas acabou de vagar a suíte presidencial. O casal não tem problemas com dinheiro, tem?
“Isso é perseguição! Não somos um casal”. Gina pensou inconformada.
“O que tanto esses funcionários idiotas de hotéis vêem para achar que eu e a Weasley somos um casal?” Draco perguntou-se com raiva.
-Nós não somos um casal! –Draco disse com os olhos faiscando perigosamente –E dinheiro não é problema.
-Sinto muito, mas é o que temos a oferecer. A propósito, um almoço de natal está sendo servido nesse instante. –o recepcionista disse não abalando o seu tom profissional –Vão alugar o quarto?
Draco olhou para Gina antes de responder:
-Ficaremos com a suíte então. –ele respondeu e o recepcionista entregou-lhe a chave.
-É na cobertura, na Ala B. –o recepcionista informou.
-Obrigada. –a Weasley agradeceu.
Gina e Draco deixaram suas malas na suíte e depois foram almoçar no restaurante do hotel:
-Quanta comida! –Gina exclamou.
-Não vã faltar escolhas. –Draco disse começando a se servir no buffet.
Sentaram-se à uma mesa:
-Tem certeza que agüenta comer tudo isso, Malfoy? Parece ter pegado de tudo.
-É claro que sim. Tenho um apetite enorme em banquetes de natal.
-Mas ontem você nem repetiu a comida da mamãe.
-Eu não costumo repetir. Prefiro pegar tudo o que quero de uma só vez, foi o que eu fiz ontem Caso você não tenha percebido. E você não tem fome? Colocou pouca comida no prato.
-É lógico que sinto fome e não encher o prato não significa comer pouco. Apenas como o suficiente, sem exageros. Sabe-se lá quando a minha tendência para engordar pode se manifestar.
-Mas você não é gorda, Weasley.
-Obrigada...
Draco cortou-a:
-Isso não é um elogio, é uma evidência.
-Seja lá como for, mas mudemos de assunto então.
-Mudar de assunto? Acho melhor não conversarmos, a não ser que queira brigar.
-Tudo bem, não nos falaremos. –ela concordou.
Voltando do restaurante, eles encontraram um tipo de jardim. Gina não disse nada, sem hesitar foi até um dos balanços do jardim e sentou-se. Draco revirou os olhos e decidiu ir sentar-se no balanço ao lado do de Gina.
Longos minutos silenciosos passaram-se, até que Draco perguntou:
-O que estamos fazendo aqui?
-Você eu não sei, mas eu estou pensando.
-Pensando em quê?
-Não te interessa. Mas se quiser tentar descobrir, fique à vontade.
-Engraçadinha, você sabe que quando quer pode esconder muito bem os seus pensamentos. Ainda assim, vou tentar descobrir. Não tenho mais nada o que fazer mesmo.
Draco levantou-se e se posiciona na frente de Gina, ele pegou o queixo da ruiva e a forçou a olhar para si.
“Será que eu conto?” Gina pensou olhando para os olhos azuis dele que pareciam estar tirando um raio-x dela, então ela fraquejou e baixou os olhos.
-Contar o que Weasley? –Draco perguntou.
-O que você disse? –Gina perguntou com confusão e surpresa.
-O que você ouviu. Responda! Contar o quê?
-Contar o que eu estava pensando antes Mas como você conseguiu ler esse pensamento?
-A sua técnica de Oclumência deve estar decaindo. Diga o que estava pensando antes então.
“O que eu digo?” Gina pensou olhando para o gramado e depois para Draco.
Foi ao olhar para Draco que percebeu que ele colocara a blusa ao contrário.
-É que você vestiu a sua blusa ao avesso. –Gina disse.
O loiro olhou para a própria blusa e viu que Gina tinha razão:
-Mas como é que não percebi antes? Tem certeza que era isso que estava pensando, Weasley?
-Tenho! –ela respondeu decidida.
-O que vamos fazer agora?
“Que bom que ainda consigo mentir pro Malfoy”. Gina pensou aliviada.
-Eu sugiro que arrume algo pra fazer a uma boa distância. Hoje é natal, estou tentando não brigar com você.
-E esse é o jeito que arranjou?
-É. Por quê?
-Você tem que aprender a não brigar comigo convivendo por perto e não à distância. Agora me diga, o que vai fazer?
-Eu vou pra piscina. E você?
-Gostei de sua idéia, eu vou também.
-Tudo bem, desde que não me irrite.
Os dois foram até a suíte buscar as coisas necessárias.
Gina saiu do vestiário enrolada em uma toalha e Draco já estava na piscina:
-Vai demorar muito, é? Está com medo da água? –Draco perguntou.
-É que hoje é um dia frio. A água está bem quentinha?
-Está ótima. Não vê a fumaça que sai da água?
Antes de entrar na piscina, Gina deixou a toalha em cima de uma cadeira de praia que estava perto. Ao fazer isso Draco viu que ela usava um biquíni preto e então resolveu assoviar:
-Pare com isso Malfoy! –ela disse vermelha de vergonha –Por acaso está tirando sarro de mim?
-Como é que você adivinhou? –ele perguntou com o sorriso desdenhoso que Gina tanto odiava nele.
-Hunf. –ela bufou.
“Isso não vai ficar assim”. Pensou e pulou na piscina bem em frente de Draco, dando um caldo espetacular no loiro.
-O que é que você está pensando, Weasley? Quando eu quiser beber água não será da piscina, ou seja, eu não preciso que esguiche água em mim.
-E eu não preciso que fique zoando comigo Malfoy.
-Tô nem aí para o que você acha. –ele disse dando de ombros e nadando para longe dela.
Gina submergiu e ficou um tempo debaixo d’água.
“Isso é relaxante, apenas duas pessoas na piscina. Seria melhor se a outra pessoa além de mim não fosse o Malfoy. Mas não vou deixar ele me chatear”. Ela pensou e então emergiu.
-Mas que decepção! Ficou tanto tempo debaixo d’água, achei que tivesse morrido. –Draco se lamentou.
Gina o ignorou, ficou boiando olhando para o teto perdida em pensamentos. Estava tão absorta que nem se deu conta de quanto tempo passara ou se estava imóvel ou em movimento. Acabou descobrindo tarde demais que não estava nem no mesmo lugar que antes.
Draco estava nadando e de repente viu Gina boiando em sua frente. Então pegou-a nos braços como se fosse carregá-la, levantou-a até uma certa altura e jogou-a para o lado (de volta na água):
-Pra que fez isso Malfoy? –Gina perguntou irritada ao subir de volta a superfície.
-Você estava na minha frente e do meu lado da piscina. –ele explicou.
-Seu lado da piscina? Mas que absurdo! Desde quando esse lado ou qualquer outro dessa piscina é seu?
-Desde quando você entrou nessa piscina, porque você sabe que o aconselhável é mantermos a máxima distância possível.
Gina revirou os olhos:
-Não tem mais nenhuma reclamação? –o loiro perguntou e Gina nem se deu ao trabalho de responder –Então, com licença.
Ao dizer isso Draco puxou Gina contra si e beijou-a enquanto a puxava para baixo até os dois estarem completamente cobertos pela água. Ela ficou muito surpresa quando Draco fez isso e então deu um tapa nele, mas ela não viu nem aonde pegou porque estava com os olhos fechados. Mesmo assim continuaram o beijo.
“O Malfoy realmente é um idiota! Se ele não parar logo com isso eu vou morrer afogada. Não posso respirar! Por que estou beijando esse idiota?” Gina pensou já com uma boa dose de desespero, apesar de ainda estar correspondendo o beijo.
Para o alívio dela (ou não?), logo após esse pensamento, Draco levou-os de volta a superfície e separou seus lábios dos de Gina. A ruiva encarou zangada os olhos de Draco enquanto respirava profundamente o oxigênio que seus pulmões necessitavam.
“Sempre quis saber como era beijar debaixo d’água. Puxa, como eu queria fazer isso de novo”. o loiro pensou olhando para os profundos olhos castanhos de Gina.
A próxima coisa que Draco viu foi a mão de Gina voar em direção ao seu rosto e acertar um tapa bem estalado.
-Isso é por você pensar em fazer de novo! –ela disse de cara fechada.
-Eu não estava pensando nisso! –Draco tentou mentir, mas era inútil.
-Ah! Não me faça rir, largue de ser mentiroso. Queria fazer de novo sim! Eu li esse pensamento.
-Está bem. Eu queria, mas não quero mais. O que quero é saber como pôde ler um pensamento meu.
-Agora pe a minha vez de dizer: A sua técnica de Oclumência deve estar decaindo. –ela disse virando-se para ir embora.
Draco segurou-a pelo braço:
-Espere Weasley! Como é que você explica de repente perdermos a capacidade de ocultar pensamentos um do outro?
-Não sei! Eu não explico...é muito estranho pra mim também. Agora me deixe ir. –Gina respondeu fazendo com que ele soltasse seu braço.
Draco observou-a partir:
“Preciso tomar mais cuidado com o que penso. Mas como farei isso? É impossível controlar pensamentos!” ele pensou inconformado.
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