Capítulo 7







Na manhã seguinte, Lílian levantou mais animada. Tomou um banho e abriu o armário para escolher a roupa para o almoço, caso decidisse ir, é claro.

Tomou um chá e começou a trabalhar. James só apareceria às onze e meia, e ela ainda tinha muito tempo.

James chegou na hora marcada, vestido de uma maneira bastante esportiva.
Olhou-a fixamente e disse:

- Está maravilhosa esta amanhã.

Era verdade. Lílian estava com uma blusa verde e uma calça bege. O tom realçava a cor dos olhos de uma maneira impressionante. Completou o traje com brincos e colar de topázio, que pertenceram a sua avó.

Ele aproximou-se para beijá-la no rosto.

- Sinto muito, mas não sou eu quem você esperava, não é?

Lílian corou.

- Tenho certeza que Sirius faria bem melhor.

- Bem, tenho certeza que você sabe do que Sirius é capaz.

- Pelo menos tenho certeza que ele não seria tão rude.

- Por favor, acredite. Não tive intenção de ofendê-la.

- Você me surpreende a cada minuto.

- Parece que o nosso acordo está passando por alguns problemas, principalmente desde que suas atenções se voltaram para Sirius.

Ela ignorou o comentário.

- Um acordo de qualquer tipo deve estar baseado em confiança mútua. Primeiro você suspeitou de Karen. E agora suas suspeitas se viraram contra mim. Para ser honesta, estou um pouco cansada dessa história. E, hoje, pretendo resolver essa confusão de uma vez por todas.

- Que dizer que vai contar a Sirius que não há nada entre nós?

- Acho que ele já sabe que não há nada entre nós.

- Como pode ter certeza? Então voltará atrás em sua palavra? Está se recusando a me ajudar?

Lílian soltou uma gargalhada.

- Ajudar você? Como? Se suspeita de mim?

- Pelo menos podemos aproveitar o dia de hoje, nem que seja pelas outras pessoas. Então, que tal? – e lançou-lhe um sorriso sedutor.

- Tudo bem. Trégua até hoje à noite. Se quer saber a verdade, estava decidida a não comparecer a este almoço de hoje.

James ficou perturbado.

- Não tinha idéia que essa situação estava deixando-a tão aborrecida. O que a fez mudar de idéia? O fato de que Sirius estaria lá?

Ela tentou controlar a raiva.

- Não! Simplesmente por que já havia me comprometido a ir. Pensei também em Molly preparando um almoço e a convidada não aparecer.

- É verdade. A casa está impecável para recebê-la. Podemos ir?

Enquanto ele dirigia, Lílian começou a ficar nervosa. Mas era uma boa oportunidade para saber mais sobre a vida de James.

O carro percorreu um maravilhoso caminho a beira do mar, até parar em frente a uma casa cercada por um belo jardim.

Assim que James parou o carro, uma mulher saiu da casa, como se esperasse a chegada dos dois. James fez as apresentações na varanda.

- Lílian, está é a senhora Weasley. Já lhe falei que Molly toma conta de nós. Está é Lílian Evans.

Molly aproximou-se para cumprimentá-la.

- Estou encantada em conhecê-la, querida. James me falou sobre você – ela disse, reparando em cada detalhe de Lílian depois virou-se para James:

- Sirius e a amiga estão na varanda lateral, se quiserem se juntar a eles.

- Vamos deixá-los à vontade – James disse logo em seguida. - Vou mostra a Lílian à vista lá de cima.

- O almoço será meio-dia e meia, na sala de jantar – Molly comunicou. Depois sorriu para Lílian e acrescentou: - Se eu não marcar o horário, ele desce uma e meia e diz que a comida já está fria.

James riu.

- Ela acha que manda na casa – disse a Lílian. Depois virou-se para Molly: - Daqui a pouco vamos tomar um sherry* na sala de estar, e você e Arthur estão convidados.

- Que ótimo, obrigada. Por que não vai mostrar a vista a Lílian?

A vista era belíssima, e abrangia toda a costa. As montanhas ao longe completava o cenário.

A casa era antiga, mas muito bem conservada. No andar superior havia quatro quartos, sendo duas suítes com varandas. Em baixo havia uma espaçosa sala de estar, cercada de varandas por todos os lados.

- Os aposentos de Arthur e Molly ficam na parte lateral da casa – ele explicou. – E agora acho que está na hora de nosso sherry.

Os dois voltaram para a sala de estar. Enquanto James preparava os drinques Lílian se distraiu com a enorme luneta perto de uma parede envidraçada.

- Era o brinquedo favorito de meu avô – James disse, estendendo o cálice.

- Dá para ter uma visão nítida! – Lílian comentou. – Posso ver o jardim em frente à praia, perto de casa.

- Lembro de nossos momentos na areia – a voz de James pareceu diferente.

Lílian também se lembrava dos momentos a sós, quando James propôs aquele estranho acordo entre os dois. Mas ela não fez nenhuma menção e continuou a falar sobre a luneta.

- É mesmo impressionante a vista. Posso enxergar perfeitamente todas as árvores, embaralhando galhos e folhas no topo.

- Como amantes? – ele perguntou delicadamente.

- Não, não como amantes – ela respondeu com voz calma. – As pessoas que realmente se amam permanecem firmes em suas posições, e não embaralham-se nas alturas.

- Nem todos os amantes são assim. Alguns abaixam-se para corta grama, limpar o jardim etc, etc.

Lílian percebeu a referencia a Sirius.

- Foi mesmo muita gentileza de Sirius. – Então, para prova que não havia se perturbado com aqueles comentários, mudou de assunto e voltou-se para a luneta.

Logo em seguida o silencio foi interrompido com a chegada de Sirius e Karen.

As duas moças cumprimentaram-se, e depois Sirius deu um beijo no rosto de Lílian.

Ela corou imediatamente, em especial quando percebeu o olhar fulminante de James.

Quase no mesmo instante entraram na sala Molly e o marido. Lílian aproximou-se para cumprimentá-lo.

- Estou encantado em conhece-la – Arthur disse. – Sirius tem me falado muito de você...

Molly cutucou-o imediatamente, para corrigi-lo.

- Não, querido, tenho certeza que Sirius tem falado sobre Karen. É James que fala de Lílian.

Arthur balançou a cabeça.

- Minha querida, tenho certeza do que ouvi. Sirius me falou sobre Lílian e sua horta. Ele me pediu até as sementes.

- É possível – James interferiu. – Isso prova como Sirius é inexperiente com hortas.

- Tem razão – Sirius admitiu, sorrindo.

- Mas você se esforçou ao máximo – James concedeu, com um ar simpático. – Sirius, que tal se passássemos essa tarefa para Arthur? Isso seria bem melhor para a horta de Lílian, não acha?

Lílian disse firmemente:

- Ninguém precisa se preocupar com a minha horta. Meu pai resolvera tudo assim que voltar de viagem, no mês que vem.

- Creio que será um pouco tarde. Podemos perder a primavera. Ficarei muito satisfeito em cuidar de seu jardim.

- Então está tudo combinado – James encerrou o assunto, com um olhar suspeito.

Qual o propósito de James com esse arranjo? Seria apenas impedir que Sirius a visitasse outra vez? Mas resolveu deixar aquelas perguntas de lado, e aproveitar o dia.

Voltou então sua atenção para a luneta outra vez.

Quando se virou, estava a sós com James na sala. Todos já haviam ido para sala de jantar, enquanto Karen acompanhava Molly até a cozinha. James colocou as mãos nos ombros de Lílian.

Ela gelou:

- Parece que você está um pouco confuso e se esqueceu que não há nada entre nós.

O olhar de James faiscou quando ele admitiu:

- É claro, você está absolutamente correta. Apesar de as vezes parecer tão real...

Lílian conseguiu manter a voz fria.

- Por nada nesse mundo serei eu a roubar sua liberdade.

- Liberdade?

- Sim. Não está acima de tudo a sua liberdade? – e depois, acrescentou. – Que belo anfitrião é você, me tratando dessa maneira.

- Não tive intenção de ofendê-la, Lílian. Se você se lembra das palavras de Sirius em seu apartamento, ele se referiu a você como nossa garota, o que me faz imaginar há quanto tempo ele a conhece.

Lílian ficou tensa.

- Ele me conhece há tanto tempo quanto você, ou seja, desde aquele dia que você o encontrou em minha casa.

James lançou-lhe um olhar cético.

- Desconfio de que ele a conhece desde o dia em que foi capaz de chamar um táxi, não tente negar. Agora, vamos nos juntar aos outros.

Lílian sentiu-se totalmente frustrada quando ele a acompanhou até a sala de jantar. James sentou-se na cabeceira da mesa, com Karen a sua esquerda e Lílian à direita. Molly ocupou a ponta da mesa, com Sirius à direita e Arthur à esquerda.

A conversa fluiu amena a partir de então. Molly dirigiu-se a Karen:

- Está cuidando de uma senhora idosa, não é querida? Ela está melhorando?

- Sim, está fazendo muitos progressos.

- Qualquer um faria progressos com Karen ao lado. – Sirius disse.

Karen riu.

Molly comentou:

- Ela deve estar muito doente, não?

- Ela passou por uma cirurgia bastante séria, e precisa de ajudar 24 horas por dia.

- Claro, quando uma mulher está doente precisa de outra mulher ao lado – Molly concordou.


Arthur balançou a cabeça:

- Como pode saber, Molly! Nunca esteve um só dia doente em toda sua vida. E se ficasse doente, eu cuidaria de você.

- Mas você é meu marido, querido – Molly salientou, e depois virou-se para Karen: - Disse que sua paciente mora com o irmão?

- Exato. São gêmeos, e muito ligados um ao outro.

- E não há mais ninguém na família?

- Só sobrinhos que moram no Norte.

Houve um breve silêncio, e Karen continuou a falar:

- E agora os sobrinhos estão insistindo para que os dois mudem-se para perto deles.

- É uma idéia sábia – Molly disse. – Nada melhor do que estar perto da família. Tenho certeza que Sirius concorda. – ela acrescentou.

- Não há motivo para falar assim, Molly – James disse. Depois virou-se para Karen. – E o que isso significa para você? Vai mudar para o norte?

- Não tenho certeza. Pode ser que vá para casa passar um tempo com meus pais.

- Quer dizer que sua relação com... eles ainda não está definida?

Ela sorriu, depois admitiu.

- Acho que não devo ir mais longe do que isso.

- Seus pais moram também no norte? – ele perguntou, sem esconder a curiosidade.

- Não, eles moram exatamente do lado oposto. Meu pai é médico.

Lílian achou que Sirius não parecia muito preocupado com o fato de Karen deixar a cidade. Talvez, no fundo, não estivesse apaixonado.

Então, como para confirmar os pensamentos de Lílian, Sirius virou para James e disse.

- Podemos ir até Westshore após o almoço? Gostaria de mostrar a Karen o nosso apartamento.

Fez-se um silêncio tenso até Karen se virar para encará-lo.

- O que quer dizer com “nosso” apartamento?

- Meu e de Lílian, é claro... – e parou de repente, como se percebesse o que estava dizendo.

As palavras deixaram Lílian horrorizada. Ela virou-se para reparar na expressão de James, e tentou salvar a situação.

- Quer dizer, o apartamento que era dele, mas agora é meu.

Mas parecia que Karen não estava satisfeita.

- Ele tem visto você? – ela sorriu, mas a voz era fria.

Lílian hesitou, depois admitiu.

- Só de vez em quando.

A expressão de Karen era de reprovação.

- Era lá que você estava quando deveria se encontrar comigo? Fui até nosso banco no jardim da praia e você não apareceu!

Sirius pareceu meio sem jeito.

- E isso importa? Você tem seu amigo do andar de cima.

Karen quase caiu da cadeira.

- Sim, é claro, eu compreendo. – e foi incapaz de continua argumentando.

Lílian percebeu que os sentimentos de Karen estavam entre Sirius e o irmão de sua paciente. Mas continuou insegura, porque não queria houvesse a menor suspeita de um relacionamento entre ela e Sirius.

Como poderia se explicar, depois que Sirius falou em “nosso” apartamento?

- É uma boa idéia, Sirius – James disse. – Vamos até a praia apreciar os veleiros. – e encostou-se na cadeira. – Foi um almoço delicioso, Molly. Se você e Arthur quiserem vir até a praia, serão bem-vindos.

- É muita gentileza sua, James, mas obrigado. Posso olhar a corrida de iate pela luneta.
Molly também inventou uma desculpa para não ir:

- Quero terminar um romance que estou lendo – ela disse. – Engraçado como o amor as vezes causa muita confusão. O casal nesse livro vive brigando, apesar de estarem atraídos um pelo outro por magnetismo invisível.

James lançou um sorriso para Molly.

- É esse o lugar dos romances, Molly: nos livros.

Molly riu.

- Espero que chegará a sua vez, James. O amor vai pegar você algum dia!
James não respondeu.

Pouco depois, Lílian estava sentada ao lado de James no jaguar, enquanto Karen e Sirius conversavam amigavelmente no bando de trás.

O silêncio entre Lílian e James a fez perceber uma barreira entre os dois. Pouco a pouco a barreira foi se impondo e agora a tensão aumentava.

Karen disse então com sarcasmo:

- Vamos direto para praia ou passaremos primeiro em “nosso” apartamento?

Lílian lanço-lhe um olhar gélido.

- Do jeito que você fala soa como se fosse um ninho de amor... – mas logo se arrependeu das palavras.

- Para você é um ninho de amor? – James perguntou em tom manso.

- Não é isso! E Sirius não tinha o direito da falar “nosso” apartamento!

- Bem, para mim é um ninho de amor – Sirius respondeu sem remorso.

Lílian não respondeu a provocação. Era inútil insistir no assunto.





N/A: Respondo os comentarios no proximo capitulo.





* Sherry é um tipo de vinho produzido originalmente em torno da cidade de Jerez, Espanha. (fonte: Wikipedia)


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