Feliz Natal. Ou não.
Conseguir dividir minhas escassas férias de Natal em três locais diferentes e minha atenção para várias pessoas não foi absolutamente nada fácil. Mas devo dizer que me saí bem. Bem até demais, preciso ressaltar.
Foi interessante encontrar Samantha Malfoy depois de tanto tempo: fazia cinco anos desde a última vez em que nos vimos, no aniversário de doze anos de Scorpius. A menina baixinha, agora com dezesseis anos, ainda conservava as feições inocentes de criança, que de certo modo destoavam do corpo maduro de adolescente. Ali na estação, enquanto todos ainda trocavam abraços e cumprimentos, eu pude ver o quão desconfortável Samantha parecia. Ela carregava debaixo do braço um enorme livro, que foi ao chão quando Scorpius a ergueu num abraço saudoso. Como eu estava perto, consegui ler o título do exemplar quando ele caiu: Defesa Contra as Artes das Trevas – Nível Máximo. Uau, pensei comigo, que menina inteligente. E tímida, pois quando Scorpius a colocou no chão novamente, Samantha olhou para os lados, apreensiva, para conferir se alguém estava olhando para eles.
- Mãe, - chamei e ela desviou o olhar de Peter, com quem conversava com enorme animação. – volto num instante, ok? Vou falar com os senhores Malfoy.
- Tudo bem, querida, mas não demore. Sua avó está nos esperando para jantar. – concordou ela e me despachou tornando a conversar com meu namorado. – Janta conosco, Peter?
- Rosie! – exclamou Scorpius, falsamente animado, quando eu me aproximei. Revirei os olhos e o ignorei.
- Olá, senhores Malfoy. – cumprimentei.
- Oi, Rose. – disse Astoria Malfoy, sorrindo enquanto me abraçava. Draco Malfoy sorriu e acenou. Eles não eram tão ruins quanto todos pensavam, mas acredito que a recíproca era verdadeira. Os dois lados se aturavam por nossa causa e isso já me deixava feliz; era melhor que nada. O Sr. Malfoy um dia disse que não acreditava que eu fosse filha de Hermione Granger e Ronald Weasley, e sobrinha de Harry Potter, porque eu era legal demais para pertencer à mesma família que eles. Acho que ele quis me elogiar, mas sem muito sucesso. – Lembra-se de Samantha?
- Mas é claro! – exclamei animada. Algo sempre me atraiu aos Malfoy e papai não me perdoa por ter ligado nossa família a eles até hoje. – Como vai, Samantha?
- Bem. – respondeu ela, baixinho, olhando o chão. Tão tímida quanto Scorpius havia me advertido. Abracei-a daquele jeito Weasley, mas achei melhor soltá-la quando senti que não era correspondida, e vi seu rosto mais vermelho que uma plantação de pimentas. Definitivamente uma criança.
- Você se lembra de mim, certo?
- Lembro. – murmurou. Samantha parecia cheia de respostas curtas e isso era irritante, porque eu adoro conversar. Olhei Scorpius, pedindo ajuda, mas ele estava distraído procurando por Izzy. Grande apoio. Os senhores Malfoy também não estavam ali; havia pedido licença para conversar com conhecidos quando perceberam que a filha não ficaria desacompanhada. Ou seja, eu praticamente falava sozinha.
- Você está linda, Samantha. – elogiei com um sorriso. Mas se minha intenção era fazê-la rir, devo dizer eu falhei miseravelmente.
- Não precisa me agradar, sei que não estou. – proferiu num sussurro, sem me olhar. Parecia frustrada, como se eu tivesse dito uma grande mentira. Olhei-a espantada; ela era tão bonita! Grandes olhos azuis e cabelos loiros enfeitavam o rosto fino e aristocrático, mas de forma inocente. Toda a sua inocência lhe dava uma beleza maior, diferente de todas as meninas que passavam por nós, cheias de maquiagem e atitude. Era diferente de mim, inclusive, com seus cabelos amarrados em duas tranças displicentes, que a deixavam ainda mais, na falta de palavra melhor, fofa. Samantha Malfoy era tão insegura que chegava a ser cega, porque só ela não enxergava o quão bonita era.
- Como assim, “sei que não estou”? – perguntou Scorpius, finalmente desistindo de procurar a namorada naquela multidão. – Sam, você é linda!
- Linda! – aderi, assentindo vigorosamente com a cabeça. – Aposto que fez sucesso com os franceses. – instiguei, brincando. Mas Samantha olhou para mim, assustada, azul de vergonha, e Scorpius me fuzilou furiosamente com os olhos. Eu devia parar de tentar ser engraçada, repreendi-me mentalmente. Só dava mancada. – Desculpe, vamos mudar de assunto.
Mas antes que pudessemos nos estender na conversa, Alvo chegou rebocando Peter e Izzy. Eu e Scorpius demos as mãos aos nossos respectivos namorados e todos esperaram pelas apresentações.
- Sam, esta é Izzy Lancelot, minha namorada. – disse Scorpius. – Izzy, esta é minha irmã.
- Então você é a famosa Samantha Malfoy? – cumprimentou Izzy, com um sorriso reluzente estampado na face. Abraçou a cunhada brevemente, provavelmente sabendo que ela não lhe retribuiria.
- Oi. – respondeu Samantha, falando muito baixo. Eu podia ver que ela ansiava pela hora das despedidas.
- Ok, continuando. – prosseguiu Scorpius, tentando fazer a irmã relaxar. – Este é Peter McCarter, namorado da Rose... – Peter apenas a cumprimentou de longe, o que foi alívio para a menina. – e este aqui é Alvo Potter, meu melhor amigo. Lembra-se dele?
- Na verdade, não.
- Ah, tudo bem, ele também não se lembrava de vo... – ia dizendo Scorpius quando lhe dei uma forte cotovelada nas costelas. Sua irmã já parecia se sentir a mais inferior das criaturas, então dizer que ela fora esquecida por alguém não seria de grande ajuda para o moral dela. - ...cê jogando Quadribol! – consertou antes que piorasse a situação. Revirando os olhos, eu virei para Alvo, esperando que ele dissesse alguma coisa, mas ele parecia distraído demais encarando Samantha de forma despudorada. Assim como fizera com Scorpius, eu lhe dei uma cotovelada e ele piscou os olhos, aturdido. Pigarreou e estendeu a mão para a menina.
- Olá, Samantha. – disse, com a voz baixa e rouca. Todos o olharam desconfiados, achando seu comportamento esquisito. Samantha, porém, apertou a mão que ele lhe oferecia e levantou os olhos para fitá-lo, fixando o olhar exatamente nos grandes orbes verde-esmeralda do meu primo. Ambos ficaram imóveis por um segundo até que Sam despertou e sacudiu a mão levemente, apresentando-nos o esboço de um sorriso.
- Oi, Alvo. – disse ela, a voz se elevando numa oitava. Eu olhei de um para o outro, compreendendo tudo. Alguma coisa estava acontecendo ali, realmente. O modo como ambos se olhavam e suas vozes diferentes do que normalmente eram diziam que, em breve, Scorpius teria muita dor de cabeça com sua irmãzinha. Parecendo compreender tanto quanto eu, ele pigarreou irritado, tentando dispersar o clima esquisito. Para ajudá-lo, eu me virei para Peter e disse:
- Onde estão seus pais? Pensei que fosse conhecê-los.
- E você vai, mas não hoje.
- Por quê?
- Meu pai recebeu um caso hoje no St. Mungus, vai trabalhar até tarde. – fingindo compreensão, eu sorri amarelo; aparentemente, o pai dele era medibruxo e eu havia perdido essa informação. – E minha mãe está passando a semana em Liverpool, ajudando minha tia com o bebê recém-nascido.
- Como sabe disso?
- Jullianne recebeu uma coruja enquanto estávamos no trem, mas só agora se lembrou de avisar.
- E como você vai para casa? – intrometeu-se Izzy. Pelo visto, Scorpius não queria beijá-la na frente da irmã e ela não queria ficar admirando os olhares esquisitos que Alvo e Samantha trocavam.
- Já tenho licença para aparatar. Mas não vou para casa.
- Vai para qual lugar então? – perguntei, franzindo a testa. Não me agradava a ideia do meu namorado zanzando por aí.
- Acho que vocês o chamam de A Toca. – ele respondeu sorrindo.
- Ah! – exclamei. – Vocês vão para a casa da vovó!
- Ei, cara. – disse Alvo para Scorpius, finalmente desgrudando os olhos de Sam. – Já que Peter e Jullianne vão para A Toca, será que vocês dois não podem ir também?
Samantha arregalou os olhos, assustada, enquanto via Alvo e Scorpius correrem para os pais para pedir permissão. Os dois voltaram sorrindo.
- Tudo ok. – disse Scorpius. – Mas só vamos jantar lá. Não passaremos a noite.
- Certo. Mamãe disse que vovó já suspeitava que nós levássemos vocês, então está preparada. – respondeu Alvo. Samantha continuava a olhar desesperada para Scorpius, num pedido silencioso que ele fazia questão de ignorar.
Parecendo preocupada, Izzy subiu nas pontas dos pés e cochichou algo no ouvido de Scorpius.
- Izzy pode ir conosco, certo? – ele perguntou e todos nós fitamos a menina curiosamente. – Os pais dela estão na China e ela vai ficar lá em casa durante o feriado.
- Acho que não tem problema. – disse Alvo, dando de ombros. – Vovó adora ver a casa cheia e vai ficar feliz da vida quando você e Rose apresentarem os namorados. Não vai sair do pé de vocês a noite inteira. – completou rindo.
- É verdade. – confirmei. – Ainda me lembro de quando Victoire apresentou o primeiro namorado. Coitado do menino, deve estar sem comer até hoje por causa do tanto de comida que vovó lhe deu. – Peter e Izzy arregalaram os olhos. Eu ri e completei, tentando parecer macabra. – Preparem-se.
Enquanto nós ríamos, Jullianne finalmente juntou-se a nós. Conferi se não faltava ninguém e acenei para mamãe, avisando que estávamos prontos.
- Então, vamos. – disse ela, fazendo sinal para que a seguíssemos. – Todos já foram, só nós estamos aqui. Sua avó deve estar louca de ansiedade.
Vovó abraçava cada um da família quando chegamos e gritou extasiada ao nos ver. Abraçou e beijou cada um de nós com igual entusiasmo. Principalmente as visitas. Quase matou Peter sufocado: “Que rapaz lindo, Rosie! Ora, você sempre teve bom gosto! Seja bem-vindo, querido!” exclamava ela. Izzy foi afagada e abraçada: “Só mesmo uma menina linda e adorável como você para namorar nosso Scorpius!” elogiava a velha. Samantha foi esmagada e beijada: “Sua irmã, Scorpius? Oh, mas é claro que sim, tão linda quanto você, querido!” ria vovó. Rindo, nós assistíamos de longe à demonstração de afeto aos recém-chegados. Era divertido, mas um pouco constrangedor. Mas não se pode reclamar.
Meia hora depois, nós todos nos reunimos no jardim para jantar. Vovô se sentou à cabeceira da mesa, com vovó ao seu lado. Eles pareciam realmente felizes.
- Seus avós gostam de festa, não? – perguntou Peter amavelmente. Percebi que ele falava com certo carinho e fiquei feliz de saber que ele havia gostado da minha família.
- Da festa propriamente dita, não. Mas eles adoram ver essa casa cheia e, bom, qualquer lugar que tenha Weasley, tem festa. – respondi sorrindo.
- Eu reparei. – ele riu e eu me inclinei para lhe dar um beijinho. Um pigarro me parou no meio do caminho e eu vi papai nos vigiando com os olhos estreitos. Suspirei derrotada e preferi chamar Jullianne.
- Hei, Julles! – ela interrompeu sua animada conversa com James e se virou para mim, jogando os longos cabelos castanhos para trás. – Está se divertindo?
- Rose, está brincando?! Estou me divertindo como nunca! – exclamou ela. – Sua família é ótima! Todos são tão legais e animados e parecem se amar tanto que quase podemos sentir o carinho no ar! – rimos cúmplices e eu deixei que ela voltasse a conversar com James. Percebi que vovô havia escutado o que havíamos dito; havia lágrimas em seus olhos, as quais ele secou rapidamente. Pisquei-lhe um olho e ele me mandou um beijo em resposta.
Após a saborosíssima refeição que vovó preparara com esmero, eu, Alvo, Scorpius, Samantha, Peter, Izzy e Jullianne sentamos a um canto do jardim e nos pusemos a conversar.
- Sam, - chamou Alvo e a menina o olhou. – gostou do jantar? – revirei os olhos ao ouvir a pergunta; esperava algo mais pertinente.
- Adorei. – respondeu ela um pouco mais alto do que um sussurro. – Scorpius, vamos para casa? Já passa da meia-noite.
- Ah, Sam! – exclamou Scorpius. – Vamos mais tarde! – todos nós vimos a agonia nos olhos dela, mas Scorpius a ignorou veementemente. Ele queria, tanto quanto qualquer um de nós, fazê-la falar. Lentamente, Samantha assentiu com a cabeça, arrancando um sorriso do irmão. – Obrigado, maninha.
- Hei, Sam. – dessa vez quem chamou foi Izzy. Arrancaríamos algumas palavras dela àquela noite, com certeza. – Há quanto tempo está de volta à Inglaterra?
- Desde o fim de novembro.
- Por que voltou? – perguntei, aconchegando-me mais a Peter.
- Saudades. – de novo com as respostas curtas. Olhei para Scorpius, pedindo ajuda, mas ele apenas deu de ombros.
- Eu acho que a pergunta é: por que você foi? – Alvo perguntou, deixando a curiosidade aflorar de vez.
- Eu briguei com papai. – suspirou Samantha.
- Por quê? – perguntaram todos, mandando a cautela de vez para as cucuias.
- Foi besteira. Quero dizer, eu realmente fiquei chateada, mas não precisava fazer aquele escarcéu todo e me mudar para a França. – ela parou e sorriu fracamente. – Desde criança, eu tinha adoração por trouxas. Queria saber como viviam, o que faziam... tudo, eu queria saber tudo sobre eles. Mas papai não deixava eu me aproximar. É claro que ele não tinha mais aversão aos trouxas, mas mesmo assim me proibiu de chegar perto deles. Hoje eu entendo que não podia correr o risco de nos expôr, mas naquela época eu não me importava com isso. Eu tinha dez anos e fiquei com raiva do meu pai por causa da proibição, então depois do aniversário de Scorpius, eu fui para a França. Recebi a carta de Hogwarts pouco depois, mas minha tia escreveu para a diretora dizendo que eu estudaria em Beauxbatons. E foi isso. – concluiu em bem mais do que apenas uma palavra.
- Você gostava de lá? – perguntou Peter.
- Adorava. A França é um país lindo e acho que todos devem visitá-la se tiverem a chance. Eu recomendo. – ela respondeu sorrindo e nós rimos com a pequena propaganda gratuita. Ela parecia mais confortável, mas ainda mantinha a voz baixa.
- E seus amigos? – Jullianne perguntou também.
- Não fiz muitos amigos. Quero dizer, só tive uma amiga de verdade. Nossa prima Charlotte. Mas em Beauxbatons, geralmente andamos em dupla. Acho que nunca vi um grupo tão grande como o de vocês. – sorrimos acalorados e cheios de orgulho. Realmente, nosso grupo era ótimo.
- Em que casa você acha que o Chapéu vai colocá-la, mana? – perguntou Scorpius, empolgado em ver a irmã conversando normalmente. Queria fazê-la falar mais.
- Chapéu? – perguntou confusa. – Que Chapéu?
- O Chapéu Seletor, oras. – respondeu Alvo. Sam continuava a olhar de um para o outro sem compreender. – Quando chegamos em Hogwarts, somos selecionados para qualquer uma das quatro casas pelo Chapéu Seletor. Ele “lê” nossa mente e, através das nossas aptidões e características, nos coloca na casa em que nos daremos melhor.
- Chapéu? Somos selecionados por um chapéu? – ela perguntou, parecendo brava.
- Sim. – respondi rindo. – O que achou que fosse?
- Ah, só um duelo mágico entre os alunos. Certo, Scorpius? – Sam respondeu, olhando tão incisivamente para o irmão que até me assustei.
- Ops. – começou Scorpius, sorrindo amarelo. – Não mencionei que era brincadeira?
- Não!
- Ah, era meu papel de irmão mais velho. Eu tinha que te assustar antes que você fosse para Hogwarts. – ao dizer isso, ele apontou para Alvo – James, o irmão mais velho de Alvo, fez a mesma coisa. Você devia ver, ele tinha pavor dos testrálios.
-Ei! É mentira! – gritou Alvo, indignado.
- É verdade! – gritamos eu e Scorpius juntos, arrancando risadas gerais. Alvo amarrou a cara, mas não respondeu. Scorpius, porém, achou que havia convencido a irmã.
- Viu? Todos fazem isso. – disse ele.
- Você me enganou há mais de quatro anos e nunca se deu ao trabalho de me contar a verdade?
- É, algo assim.
- Seu idiota! Eu realmente acreditei! – ela gritou, repreendendo-o. Mas sorria. – Eu já estava com medo de passar vergonha! – completou. Nós todos rimos, satisfeitos em ver que ela começava a se soltar. Mas Samantha também percebeu que estava mais desenvolta e sentiu todos nossos olhares sobre ela. Foi o que bastou para um forte rubor subir pelo seu rosto e seus olhos baixarem para o chão. Scorpius, reparando o desconforto da irmã, pigarreou alto.
- Acho que está na hora de irmos para casa. – disse ele. Sam se levantou num pulo e Izzy rapidamente a seguiu. Nós as imitamos e logo nos pusemos de pé. Seguimos para a cozinha e eu peguei a sacolinha do Pó de Flu. Scorpius pegou um punhado e jogou na lareira.
- Boa noite, pessoal, e obrigado pelo jantar. Amanhã, às oito, lá em casa, para comemorarmos a volta da Sam. – disse e entrou na lareira. As chamas verdes lambiam o corpo dele quando ele completou – Mansão Malfoy! – e rapidamente desapareceu.
Izzy também se despediu de nós e gritou o mesmo destino, sumindo logo depois. Sam, que estivera distraída olhando o velho relógio da vovó, viu-se sozinha e correu para pegar um punhado de Pó de Flu. Não deixei que fosse tão facilmente depois de todo o trabalho que tivemos para fazê-la falar, por isso a puxei para um abraço.
- Boa noite, Sam! Foi um prazer vê-la de novo. Até amanhã. – eu disse e dei espaço para Peter se despedir, mas ele apenas lhe estendeu a mão, que ela apertou de bom grado. Jullianne fez o mesmo, mas quando Alvo se aproximou para se despedir, nós três demos um passo para trás e nos escondemos nas sombras da cozinha, tentando deixá-los sozinhos.
Certo, como se isso fosse possível.
Alvo, parecendo mais relutante do que eu jamais vira, a abraçou rapidamente, sem dar tempo para que Sam retribuísse.
- Tchau, Sam. Vejo você amanhã. – ele disse, com a voz rouca novamente.
- Boa noite, Alvo. – Sam respondeu, sua voz aguda a denunciando. Rapidamente, ela jogou o pó na lareira e em segundo já não estava mais ali.
Uau, atração relampajava seriamente ali. Quase pesava no ar. Alvo ficou parado um instante olhando a lareira vazia e depois passou por nós despendindo-se rapidamente.
Jullianne riu, mas nada disse, e pegando um pouco do pó, jogou-o na lareira e, acenando um tchau para mim, desapareceu, deixando eu e Peter sozinhos.
Aproveitando o vazio e a escuridão parcial da cozinha, Peter me puxou para um beijo ávido, que eu retribuí calorosamente. Quando finalmente pareceu satisfeito para descolar sua boca da minha, ele me abraçou e disse as palavras mais bonitas e assustadoras do mundo.
- Eu te amo.
Ops. Eu realmente não esperava nada daquilo. Eu gostava de Peter, gostava mesmo, mas ainda era muito cedo para dizer que era amor. Mas, se eu não respondesse, ele ficaria magoado. Se agradecesse e ficasse por isso mesmo, ele ficaria magoado. Resumindo, qualquer outra resposta que não fosse a que ele esperava, acabaria magoando-o. Por isso, respirei fundo e sorri.
- Eu também te amo, Peter. – e ele sorriu. Sorriu tão feliz que eu não pude evitar sorrir verdadeiramente. Peter me beijou novamente, dessa vez mais apaixonado que antes. Logo depois ele entrou nas chamas da lareira e gritou o endereço de sua casa em Upper Flagley. Antes de pegar no sono, perguntei-me se havia feito a coisa certa ao dizer a Peter que o amava também, mas ao lembrar do sorriso feliz dele, convenci-me de que, sim, eu estava certa.
A noite seguinte caiu e nós nos vimos no suntuoso saguão da Mansão Malfoy. Scorpius e Izzy nos receberam como perfeitos anfitriões, afirmando que Samantha não demoraria a descer. Fomos para uma das salas e nos acomodamos nos sofás e poltronas espalhados: havia uma mesa com comidas e bebibas e um velho rádio bruxo já sintonizado para tocar nossas músicas preferidas. Tudo muito simples se comparado ao esplendor ao qual os Malfoy estavam acostumados.
Não demorou muito e Samantha se reuniu a nós. Alvo, sem surpreender ninguém, foi o primeiro a se levantar para cumprimentá-la. Eu, Peter, Jullianne, Lily e seu namorado, Seth, a cumprimentamos em seguida. Sam, apesar de estar tão simplória quanto o resto de nós, ainda atraía o olhar fascinado de Alvo, mas ela preferiu ignorá-lo e apenas pegou um baralho encantado.
- Então, o que vamos jogar? – perguntou ela, revirando as cartas nas mãos.
- Pôquer Mágico. – respondi sorrindo. – E quem perder, terá um castigo. Se não cumprir, coisas piores acontecerão. Concordam? – todos assentiram e nós nos sentamos ao redor da mesinha de centro.
Scorpius foi o primeiro a perder e se recusou a correr pela casa só de cueca. Sabendo que ele recusaria qualquer coisa que propuséssemos, nós já estávamos devidamente preparados.
- Você sabe que será pior, não sabe? – perguntou Alvo.
- Sei. – ele respondeu com indiferença. – Qual é o meu castigo?
Eu sorri para Alvo, Peter, Jullianne e Izzy, e disse:
- Prontos?
- Prontos. – responderam em uníssono.
- Então... – eu comecei e nós quatro erguemos as varinhas (já havíamos atingido a maioridade). Scorpius arregalou os olhos, assustado. Mas antes que pudesse se pronunciar, eu gritei: – já!
Jatos de luzes atingiram Scorpius no peito quando nós lançamos diversos feitiços de Transfiguração Humana. Em segundo, Scorpius se tornou a coisa mais feia e cabeluda que já havíamos visto: suas sobrancelhas ficaram três vezes maiores e uma era vermelha e a outra azul; um enorme bigode roxo trançado cresceu em seu rosto; e os cabelos, agora na altura da cintura, oscilavam entre o laranja e o rosa.
Explodimos em risos. Alvo caiu no chão, gargalhando alto; eu segurava a barriga, sentindo dores nos músculos, sem conseguir me conter; Lily, Seth, Peter e Jullianne riam tanto que choravam; e Izzy tentava, em vão, parar de rir em solidariedade ao namorado. Samantha, porém, correu escada acima e voltou com uma câmera nas mãos. Ainda gargalhando, nós nos formamos ao lado de Scorpius, emburrado e irreconhecível, e posamos para a foto, enquanto a máquina dizia “digam xis”. E assim se passou a noite até que nós caíssemos dormindo pelos colchões conjurados na sala.
Ao meio-dia, ignorando o vento gelado que soprava, nós formamos times de quadribol. Seth e Peter, os únicos que não jogavam, ficaram no chão torcendo pelo time da Lily e pelo meu, respectivamente. Um time ficou com Scorpius e Jullianne como artilheiros, Lily como apanhadora e Izzy, que, apesar de ser artilheira, tinha habilidade no gol, como goleira. O outro era formado por mim e Sam como artilheiras, Alvo como apanhador e Hugo como goleiro.
Devo dizer que foi páreo duro.
Nós tínhamos Hugo, que era excelente goleiro, mas eles tinham Lily, uma exímia apanhadora. Então, por mais que eu e Sam (ela tinha se mostrado animadíssima com o jogo e era uma grande jogadora) fizéssemos mais gols que Scorpius e Jullianne e estivéssemos na frente no placar, foi Lily quem capturou o pomo e deu mais 150 pontos ao seu time. Perdemos por 130 pontos de diferença, já que antes estávamos vencendo por 20. Foi triste. Agradeci por ter Lily no meu time da escola.
Após o almoço nós nos despedimos dos Malfoy e de Izzy e rumamos para nossas respectivas casas. Eu e Hugo saímos na lareira da sala e encontramos a casa vazia. Segundo o bilhete que achamos, papai havia ido ao Ministério pegar uns papéis e mamãe havia ido à Loja de Penas Escriba comprar uma pena nova já que a sua de Faisão Dourada e Preta havia quebrado depois de quase trinta anos.
Só engatamos uma conversa com nossos pais na manhã seguinte, quando eu entrei na cozinha para tomar café.
- Pai, mãe. – chamei. Papai levantou os olhos do jornal e mamãe parou mexer uma panela.
- Sim, querida. – disse ela, já voltando a cozinhar.
- Eu quero saber o que vocês acharam do Peter. – falei rapidamente. Papai resmungou e mamãe riu. – É sério! Eu quero saber se vocês aprovam.
- É claro que aprovamos, Rose! – mamãe exclamou, sorrindo. – Peter é um ótimo menino, certo, Rony? – completou para o papai, que a mirou com um olhar penetrante. Ela, obviamente, não se deixou abalar e o retribuiu com um olhar de congelar o sangue. – Certo, Ronald?
- É, que seja. – ele resmungou, frustrado, dando-se por vencido. Ele me puxou para o seu colo. – Desculpe, princesa. É difícil acreditar que você já tem dezessete anos, namora, vai sair da escola e, em breve, de casa. Sinto falta da minha menininha ruivinha que caía da vassoura.
- Ah, pai! Eu sempre vou ser sua menininha ruivinha. Só não caio mais da vassoura. E eu deixo você me dar carinho e me mimar quando quiser. – eu disse, rindo. Dei um beijo na testa dele, mas não levantei. Fiquei aninhada no colo dele como se ainda tivesse cinco anos.
- Bom dia. O que está acontecendo? – disse Hugo entrando na cozinha. Então ele me viu abraçada ao papai e mamãe sorrindo bobamente para nós. Imediatamente, Hugo fez uma careta. – Argh, tão cedo nesse mel todo? Mãe, perdi a fome.
- Muito engraçado. – disse mamãe, apontando o dedo para uma das cadeiras. – Agora, sente-se e coma. – ao ver que meu irmão ia desafiá-la, ela colocou as mãos na cintura e olhou para ele de forma perversa. Acho que vi minha avó ali parada. – Tudo bem, Hugo, morra de fome. Aproveite e fique sem a sobremesa depois do jantar de hoje. Eu fiz torta de caramelo que eu creio ser a sua favorita.
- Ok, ok! Merlin, não se pode brincar. – disse ele, tomando seu lugar à mesa. Eu me sentei ao seu lado e mamãe, depois de nos servir, sentou ao lado do papai, que, ao olhar o prato, soltou um resmungo.
- Mione, só duas torradinhas? – ele perguntou em tom de súplica, arrancando risadas minhas e de Hugo. Papai estava sempre em ótima forma, apesar dos quase quarenta e cinco anos, por causa do trabalho como auror e dos treinos constantes de Quadribol que ainda praticava com tio Harry e tia Gina. Mamãe revirou os olhos e pegou o prato de torradas que estava sobre a bancada, colocando-o na mesa perto das omeletes. Rapidamente, papai pegou mais duas torradas e uma omelete.
- Rony! – exclamou mamãe. – Pelo amor de Deus, que exagero! Para que tanta comida?
- Eu preciso de muitos nutrientes, querida. – ele respondeu inocentemente, enchendo a boca de comida.
- Meu bem, olha o exemplo que você dá às crianças. Rose, diga ao seu pai como isso é feio... – então ela olhou meu prato cheio de torradas e omeletes. – Rose! Você também? – e então deu uma olhadela no prato do meu irmão – Hugo! Crianças!
- Nós precisamos de muitos nutrientes! – dissemos em uníssono, fazendo coro ao papai.
- Certo, eu desisto. Morram com as artérias entupidas e problemas no coração. – quando viu que não ligamos realmente para o aviso letal, mamãe deu de ombros e soltou uma gargalhada. – Bom, o que vocês dois vão fazer hoje? Você vai sair com Peter, filha? E você, querido, vai sair com alguém?
- Não. – respondemos juntos. Nossos pais se entreolharam sorrindo.
- Se meus filhos não vão sair com os amigos... – começou papai. – O que vocês acham de darmos uma volta? Um passeio em família.
- Vamos! – exclamou Hugo. Nós adorávamos sair com nossos pais, mas fazia tempo que não dávamos uma volta juntos.
- Aonde vamos? – eu perguntei, animada. Foi Hugo quem nos deu a resposta.
- Ei, ei, ei! Que dia é hoje? – perguntou, quase saltando da cadeira.
- 15 de dezembro, por quê? – respondeu mamãe. Mas eu e papai sacamos na hora.
- Hoje tem jogo das Harpias pelo Nacional! – meu irmão exclamou. – E tia Gina vai com o pessoal.
- Vocês querem ir? – minha mãe perguntou por perguntar. Era uma pergunta completamente retórica. Ela não era fã assídua do Quadribol, mas, por nossa causa, largava qualquer coisa que estivesse fazendo para assistir conosco.
- Que pergunta! – gritamos eu, Hugo e papai. Em segundos acabamos de comer e corremos escada acima. Meia hora depois estávamos aparatando no estádio. Tinha um público médio e foi razoavelmente fácil encontrar tia Gina, tio Harry, James, Alvo, Lily e, a tiracolo, Teddy.
Até porque eles estavam na tribuna de imprensa, já que tia Gina escrevia para o Profeta Diário.
As Harpias de Holyhead jogavam com os Tornados de Tutshill. Era ótimo assistir a um jogo de verdade e observar a paixão com que os jogadores voavam. E aprender novas táticas para os nossos próprios jogos, é claro. A partida estava disputadíssima, mas os Tornados levaram a melhor: venceram por pouco, já que estavam perdendo antes. Placar final: 400 para os Tornados, 320 para as Harpias. Tia Gina resmungou ao nosso lado, rouca depois de ter gritado durante o jogo todo. O time das Harpias caíra de produção desde que nossa tia saíra dos campos. Ela havia sido uma grande artilheira e ganhara vários títulos e prêmios.
Depois do jogo, eu, Hugo e nossos pais fomos lanchar no Beco Diagonal. Compramos grandes sorvetes na velha Sorveteria Fortescue sem nos importar com o tempo frio que fazia. Em seguida, mamãe e eu fomos à Floreios e Borrões dar uma olhada nos últimos lançamentos editoriais, enquanto papai e Hugo foram à loja de vassouras. Ao fim do dia, mamãe nos fez um ótimo jantar, seguido da prometida torta de caramelo, e nós fomos madrugada adentro conversando, como havia tempo que não fazíamos.
Na noite seguinte, eu me encontrava parada à porta da casa de Peter em Upper Flagley, pronta para conhecer os pais dele, como havia sido combinado antes. Respirei fundo, coloquei um sorriso no rosto e bati. Segundos depois, Peter abriu a porta.
- Oi, amor! – amor? Isso ainda era novo para mim. Mas sorri.
- Oi, Pete! – exclamei, dando-lhe um beijo. Nós nos largamos e ele me conduziu pela mão até a sala de estar.
Seus pais e Jullianne estavam sentados em grandes poltronas verdes, mas se levantaram assim que nos viram.
- Rose! – exclamou Jullianne, que foi a primeira a chegar a mim, jogando os braços ao me redor, num abraço caloroso.
- Jules! – respondi enquanto a retribuia. Ela então deu espaço para que os pais chegassem até mim.
- Pai, mãe, - disse Peter. – esta é Rose Weasley. Rose, estes são meus pais, Oliver e Madelaine McCarter.
- Como vão, senhores McCarter? – cumprimentei sorrindo o meu melhor sorriso.
- Muito prazer, Rose. – disse a Sra. McCarter, me abraçando. – E, por favor, me chame de Madelaine.
- Eu digo o mesmo. Nada de “Sr. McCarter”. Eu sou Oliver. – disse o pai de Peter, também me abraçando.
Até parece que eu consegui chamá-los pelo primeiro nome.
Sentamos ao redor da lareira e nos pusemos a conversar enquanto o jantar não saía.
- Como vocês dois se conheceram? – perguntou a Sra. McCarter sorrindo. Por que essas perguntas sempre são feitas? Eu sorri, mas deixei que Peter respondesse.
- Nós trombamos quando estávamos descendo do Expresso de Hogwarts em setembro. – começou ele. – E fomos para a escola na mesma carruagem, conversamos, viramos amigos e... pronto. É isso.
- Ora, veja você, Maddie. – disse o Sr. McCarter rindo. – Um simples acaso e agora estamos sentados na companhia dessa linda jovem. – ele me elogiou! Eu estava agradando! Isso! E eu corei. É sério, eu corei com um simples elogio. E isso fez os Srs. McCarter sorrirem mais ainda. Talvez eles tenham achado que eu sou tímida e isso os tenha agradado.
- Não sei porque isso te espanta, Oliver. – respondeu a Sra. McCarter. – Nós nos conhecemos na fila do Gringotts.
- Mãe, pai – disse Jullianne revirando os olhos. – Tenho certeza de que a Rose não quer ouvir as suas histórias de quando eram jovens.
- Não, não! Imagine, Jules. – me apressei a responder. – Eu gosto de ouvir histórias. Na minha família, relembrar o passado é o que mais fazemos.
- Ah, disso nós temos certeza sabendo a qual família você pertence. – riu a Sra. McCarter. – Eu estava duas turmas acima da dos seus pais e não tive contato com eles. Certo, exceto pela vez em que me sentei próxima da sua mãe na biblioteca e vi Vitor Krum convidá-la para o Baile de Inverno do Torneio Tribruxo. Quando ele saiu, eu disse para ela “Garota, você tem sorte, eu mataria só por uma chance de sair com ele”. – ela completou rindo e acabou por arrancar risadas de todos nós.
- Ei! – exclamou o Sr. McCarter, indignado, fazendo-nos rir mais ainda.
- Ah, querido. Eu tinha dezesseis anos, pelo amor de Deus. E o cara era o maior astro de Quadribol do mundo. Mas nenhuma de nós, pobres mortais, tinha chance quando ele só tinha olhos para Hermione Granger. – ela respondeu de brincadeira.
- Essa história eu conheço! – eu respondi rindo. – Meu pai morre de ciúmes do Krum até hoje. Não pode ouvir o nome que já fica nervoso. E olha que ele era um grande fã do cara.
- Ciúmes, querida. Ciúmes. – disse o Sr. McCarter. Nós continuamos a conversar até que um elfo pequenininho, mas bem vestido e limpo viesse nos avisar que o jantar estava pronto. Os Srs. McCarter agradeceram e nos chamaram para a sala de jantar.
- Obrigada por não mencionar que, na verdade, nós nos conhecemos quando você me colocou na detenção. – eu murmurei para Peter.
- Acho que não causaria uma boa primeira impressão. – ele respondeu e me deu um beijinho. Nós nos sentamos à uma grande mesa de jantar e comemos em meio a uma animada conversa. Foi mais divertido do que poderia imaginar.
Após o jantar, Peter me levou até o quintal para que eu conhecesse seu cachorro.
- Apollo! – ele gritou e um grande Golden Retriever apareceu abanando o rabo. Peter fez carinho em sua cabeça e o segurou pela lareira. – Amigão, esta é a Rose. Dê um oi para ela. – deixei que Apollo me cheirasse. Ele aproveitou e me lambeu, arrancando uma risada minha. – Ele gosta de você.
- Ah, eu causo esse efeito. – eu disse rindo. Ficamos brincando com Apollo por meia hora e entramos para continuar a noite agradável. À meia-noite eu me levantei para ir embora.
- Boa noite, Srs. McCarter. – eu disse, abraçando cada um deles. – Foi um grande prazer conhecê-los.
- O prazer foi todo nosso, Rose. Você é uma ótima menina, tenho certeza de que Peter escolheu bem. – disse a Sra. McCarter.
- Minha família disse a mesma coisa quando eu o apresentei. Ele fez muito sucesso lá em casa. – respondi rindo.
- Tchau, Rose. – despediu-se o Sr. McCarter. – Mande um abraço aos seus pais.
- Mando sim. Obrigada pela ótima noite. – eu sorri e me virei para Jullianne. – Tchau, Jules.
- Até, Rose! – ela respondeu e eu saí com Peter. Ele me abraçou e me deu um beijo caloroso.
- Obrigado por vir. – ele disse e me beijou mais uma vez.
- Foi um prazer. Seus pais são ótimos, eu me diverti muito. – e sorrindo eu lhe dei mais um beijinho e aparatei.
Felizmente a semana seguinte transcorreu rapidamente e quando nos demos conta já era véspera de Natal. A Toca estava toda enfeitada e a decoração fora feita nos jardins, onde vovô colocou um feitiço para aquecer os arredores da casa. Vovó convidou o máximo de pessoas que pôde, inclusive os Srs. Malfoy, que foram só para não deixarem Sam sozinha.
Devo dizer que eles estavam imensamente desconfortáveis. Mesmo eu tendo intimado minha mãe a tentar convesar com eles. De vez em quando eu escutava “Malfoy, espere! Astória! Estão precisando de alguma coisa?”. Estava com medo de que alguém se irritasse.
De qualquer forma, havia mais gente do que eu conseguia contar. Pode colocar na soma toda a minha família e só aí eram vinte e seis pessoas, contando com vovó e vovô Granger. Mais os Srs. Malfoy com Scorpius, Sam e Izzy. O número já sobe para trinta e um. Acrescente os Srs. McCarter com Peter e Jules; tia Andy e Teddy; e o namorado de Lily com seus pais. Contagem final: quarenta pessoas.
Era muita gente para uma simples festa, mas minha avó não conseguia se controlar. Havia uma grande árvore de Natal cheia de enormes presentes. Cada embrulho maior e mais brilhante que o outro. Após a ceia farta, preparada com carinho pela vovó, as pessoas se espalharam pelo jardim. Eu estava com Peter, brincando e rindo com ele. Fazíamos gracinhas um com o outro e quando não tinha muita gente olhando, nos agarrávamos com mais vontade.
- Você sabe que foi sem querer! – ele exclamou, emburrado, porque eu ainda estava rindo por ele ter derramado um pouco de suco de abóbora na mesa.
- Eu sei. Mas você é tão cegueta, tsc tsc. – eu impliquei.
- Pelo menos eu não tenho esse cabelo queimado.
- Você não pode falar isso aqui! Toda a minha família é ruiva.
- Eles são ruivos. Você não. Segundo você mesma, seu cabelo é castanho avermelhado. Portanto, você tem cabelo queimado, não eles.
- Isso não é justo. – reclamei rindo e Peter me agarrou num beijo. – Espera um minuto. Eu quero dar o seu presente separadamente, vou lá em cima buscar, ok?
- Ok, vou te esperar.
Entrei na cozinha e já ia subir as escadas quando vi Scorpius parado perto da pia.
- Scorpius? – ele não se virou, mas eu percebi que ele havia reconhecido minha voz porque ficou com o corpo retesado.
- Oi, Rose.
- O que você está fazendo aí?
- Shh. – ele disse se virando para me encarar. – Eu queria um doce, mas sua avó disse que só podia pegar mais tarde. Desculpe, não resisti.
- Tudo bem, quem resiste? – eu disse, sorrindo. Fui até ele e comi o que restava do doce que estava na mão dele.
- Ei, era meu!
- Disse bem. Era, não é mais. – eu pisquei um olho e estiquei a mão para pegar outro doce. Por coincidência, Scorpius tentou pegar o mesmo doce que eu e sua mão cobriu a minha. Até aí, tudo normal: eu já havia perdido a conta de quantas vezes nós dois havíamos dado as mãos. Mas ali, naquela hora, por quaisquer motivos, foi diferente. Quando levantamos os olhos para nos encarar, não foi como em todas as outras vezes; uma conexão nova e, de certo modo, esquisita se estabeleceu e nós dois não conseguíamos quebrá-la. Minhas mãos começaram a suar e meu coração acelerou, mas não me dei conta disso na hora, preocupada demais em olhar para os lábios de Scorpius, como se só tivesse percebido naquele momento que eles estavam ali.
Tinha alguma coisa muito estranha acontecendo, mas nós não estávamos ligando. Devagar e com os olhos ainda presos aos meus, Scorpius enlaçou os braços ao redor da minha cintura e começou a descer o rosto em direção ao meu.
“MELHOR AMIGO, MELHOR AMIGO! NAMORADOS NO JARDIM! PAREM, PAREM!” gritava meu cérebro, mas minha razão fora dar uma longa volta e eu simplesmente ignorei os alarmes escandalosos dentro da minha cabeça.
Finalmente, como se tivesse demorado uma eternidade, Scorpius encostou sua boca à minha. E foi impressionante. Na mesma hora, nós fechamos os olhos e eu joguei meus braços em volta do seu pescoço, ansiando por mais contato. Tomando isso como um sinal verde, Scorpius me apertou contra seu corpo e aprofundou o beijo. Que se tornou o melhor, mais avassalador, caloroso e faminto beijo da minha vida. Até aquele momento, é claro.
Scorpius me imprensava contra a bancada da cozinha e apertava com força a minha cintura, já sob a minha blusa. Eu, por minha vez, puxava os cabelos dele com mais avidez que o necessário.
Mas então, Scorpius descolou os lábios dos meus e desceu os beijos para meu pescoço. E aí, como um despertador, minha razão se acendeu com força total e dessa vez não tinha como ignorá-la.
- Scorpius. – eu falei baixo, com a voz mais rouca do que eu podia acreditar. Ele não me ouviu e já estava fazendo o caminho de volta à minha boca. Se ele me beijasse de novo, eu sabia que não pararíamos tão cedo. Eu tinha que impedi-lo. – Scorpius! – exclamei mais alto e ele levantou a cabeça abruptamente. E quando a realidade sobre o que tínhamos acabado de fazer o atingiu, ele arregalou os olhos e se afastou de mim tão rápido que eu pensei que estava dando choque.
- Ah, meu Deus. Ah, meu Deus. Ah, meu Deus! – ele começou a dizer sem parar, me encarando como se não pudesse acreditar. – Rose, o que diabos aconteceu?
- Ah, você quer que eu explique? Te juro que estou tão pasma quanto você. Não acredito que acabamos de nos agarrar na cozinha da minha avó. Meu Deus. – eu falei, passando as mãos pelo cabelo, tentando ajeitá-lo. Eu estava completamente desarrumada e Scorpius estava tão ruim quanto eu.
- Aonde isso ia parar, Rose? Me diz! Eu já estava quase te colocando sentada na bancada!
- Eu acho que ambos temos uma boa ideia de onde isso ia parar! – respondi e Scorpius arregalou ainda mais os olhos.
- Você... hum... acha mesmo? – ele perguntou hesitante, parecendo tímido. Tão envergonhada quanto ele, eu fiquei vermelha e baixei os olhos para o chão.
- Eu não sei, Scorpius. Eu não sei, ok? Estou tão confusa quanto você e também gostaria de ter essas respostas.
- Nós temos namorados, Rose! E eles estão lá fora, pelo amor de Deus! Izzy e Peter estão lá fora nos esperando enquanto nós nos agarramos aqui dentro. – eu estava pronta para concordar, mas então...
- Scorpius! – gritou Izzy, perigosamente próxima de onde nós dois estávamos. Eu e Scorpius arregalamos os olhos, em pânico, sem saber o que fazer.
- Rose! – era Peter. Ah, ótimo, flagrante duplo. Tentei pensar em qualquer coisa antes que eles aparecessem.
- Scorpius! – eu murmurei apressada. – Se ajeite! Se Peter perguntar se você me viu, diga que eu passei direto para o quarto. E quando Izzy perguntar o que você estava fazendo, e ela vai perguntar, responda que você estava roubando docinhos, ok? Essa é a meia verdade. E por tudo que é mais sagrado, não se entregue! Não deixe que eles suspeitem.
- Ok. – ele assentiu e eu subi as escadas correndo, mas tentando fazer o mínimo de barulho. Corri para o banheiro enquanto meu cérebro trabalhava loucamente numa desculpa e ajeitei meu cabelo na frente do espelho. Arrumei a blusa, peguei o presente, fiz minha melhor cara animada e desci.
Os três estavam na cozinha quando cheguei. Izzy estava abraçada a Scorpius, que parecia imensamente desconfortável, e Peter estava sentado num dos bancos.
- Oi! – eu disse com a cara mais lavada do mundo. Ainda bem que eu nunca havia contado a Peter como eu era péssima mentirosa.
- Rose, você demorou. – disse ele, me abraçando.
- Ah, se você visse a bagunça que está aquele quarto você ia entender. Fiquei um tempão procurando o presente debaixo das roupas espalhadas, em cima da cama... – sim, essa foi minha melhor desculpa. Eu sou terrível.
- E por que você não usou um Feitiço Convocatório? – ele perguntou rindo da minha ignorância. Eu tinha pensado nessa parte da desculpa também.
- Costume. Só depois de revirar o quarto todo e achar o presente eu lembrei que poderia usar magia. Quase escondi de novo só para que pudesse convocá-lo. – péssima, péssima desculpa, eu sei. Mas foi o melhor que eu pude arranjar.
Scorpius olhou para mim e eu pude ver que ele estava impressionado com a minha cara de pau. Eu ia sorrir, mas desisti no meio do caminho porque estava tão nervosa que acabaria fazendo uma careta.
- Só você mesmo, Rose. – disse Peter. Ele tentou me beijar, mas eu me fiz de boba e virei o rosto para a porta.
- Alguém ouviu minha mãe me chamar? – eu disse feito idiota. – Venha, Peter, vamos voltar lá para fora.
Antes de sair, eu dei uma última olhada para Scorpius, que também estava me olhando. Izzy, graças a Deus, estava de costas pegando um doce e não viu.
Por Merlin. O que havia acontecido ali? Por que havia acontecido aquilo? Scorpius era meu melhor amigo, quase um irmão. Era praticamente um incesto.
Então por que eu havia gostado tanto?
Peter era meu namorado, não Scorpius! Era Peter que eu devia beijar daquele jeito, não Scorpius! Mas por que isso já não parecia certo?
Eram mais perguntas do que minha pobre cabeça de adolescente podia suportar.
O que mais faltava acontecer?
Comentários (1)
Finalmenteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eles ficaram....Mas agora eles estão comprometidos então isso não foi muito legal!
2011-10-12