Em férias



Acordei num estalo, os olhos abrindo de súbito quando o grito estridente atingiu meus ouvidos. Resmungando, levantei-me jogando as cobertas no chão e rumei a passos lentos para o banheiro, de onde saí minutos depois pronta para o café da manhã um tanto tardio.


Eu sempre achei incrível como a Toca consegue ficar tão lotada. Descendo as escadas, trombei com meus primos mais novos, Louis e Lucy, correndo desenfreados até o sótão – tenho para mim que eles foram perturbar aquele vampiro (ele resolvera voltar depois da guerra). No jardim, avistei meus pais e tio Harry travando uma animada conversa à mesa do café; em outro ponto da mesa, tias Fleur e Audrey ajudavam Victoire na escolha de um vestido de noiva; Vovó Molly passou por mim carregando uma bandeja de torradas e me deu um beijo desajeitado na bochecha; tio George arrancava gargalhadas dos meus tios Gui e Percy e do Vovô Arthur; Lily, Hugo, James, Fred e Teddy jogavam uma mini partida de quadribol e eram assistidos por Molly e Roxanne. Por fim, identifiquei perto do pomar a origem do grito que havia me acordado: Alvo, com dezessete anos recém completos, lançara um feitiço nos cabelos de Dominique, tornando-os verde. Ela tentava com empenho avançar nele, mas era fortemente segura por tia Gina, que ralhava com o filho.


Rindo, eu me sentei ao lado da mamãe, dando-lhe um beijinho no rosto; papai me assoprou um beijo e tio Harry me deu um tapinha carinhoso no topo da cabeça. Servi-me de algumas torradas, omeletes e suco – sim, sou uma comilona – e saboreei meu café da manhã calmamente. Lembro até hoje do dia em que Scorpius e Alvo enfeitiçaram os pratos da mesa da Grifinória para que eles saíssem do alcance das minhas mãos quando eu as esticasse para pegar comida; não pude ficar brava quando eles afirmaram que eu estava em ótima forma, mas precisava maneirar. Homens.


Eu estava sentindo uma baita falta do Scorpius naquele fim de férias. Na verdade, eu sempre morria de saudades dele; era meio engraçado. Ele havia ido para a França com os pais e pela data, já deveria ter voltado para passar os últimos dias de férias comigo e Alvo. O que significava que Scorpius não fora nos visitar desde o seu retorno. Fiquei remoendo algumas lembranças divertidas de nós três enquanto tomava meu café e resolvi interligar nossa Rede de Flu e fazer uma visitinha ao meu amigo.


Acabada a refeição mais importante do dia – vovó que o diga – eu me juntei à pequena platéia do jogo de quadribol; àquela altura, tia Gina, tio Harry, Alvo e Dominique assistiam à partida ao lado de Molly e Roxy. James e Teddy executavam uma bela jogada quando um gritinho de puro êxtase chamou nossa atenção: Victoire havia encontrado o vestido de noiva perfeito, porque rodopiava pelo jardim agarrada à revista de moda sacudindo os longos cabelos platinados. Teddy pulou da vassoura e correu para a noiva, com Dominique em seu encalço, deixando uma posição livre para mim; Fred desistiu do jogo e Alvo entrou em seu lugar – ah, Alvo jogava quadribol. Depois do tombo em nosso primeiro ano, ele se esforçou para melhorar e se tornou artilheiro da Grifinória, como tia Gina era. Para falar a verdade, à exceção da nossa batedora Joanne Robinson e Scorpius que jogava como artilheiro, toda a equipe de quadribol da Grifinória era formada por membros da família Weasley: eu e Alvo completávamos o trio da artilharia, Fred formava dupla com Joanne, Hugo era goleiro e Lily era apanhadora. Eu achava maravilhoso ouvir toda a torcida da casa que eu tanto amei gritar nossos nomes; fazia um tremendo bem ao meu ego.


Estávamos jogando há cerca de uma hora quando vovó nos chamou para almoçar. Ofegantes, ocupamos nossos lugares à mesa rindo e conversando bobagens. Eu e Alvo, sentados lado a lado, implicávamos um com o outro fazendo coisas bobas e divertidas.


- Por que você enfeitiçou Dominique? O que ela te fez para você estragar logo o cabelo dela? – perguntei a ele, servindo-me de um pouco de pudim de rins.


- Ela já vinha me irritando há algum tempo, aquela pirralha, ameaçando contar à mamãe o que eu fiz com o namorado da Lily. – disse ele, dando de ombros. – E depois, ela colocou uma aranha na minha cama.


- Isso é tão Rony Weasley... – Alvo olhou para mim sem entender. – Você sabe, com toda essa coisa das aranhas. – meu primo tem pavor de aranhas (até hoje, vale ressaltar) desde que uma subiu na cabeça dele durante um piquenique quando tínhamos três anos. – Eu aposto que era uma aranha de plástico.


- Não era de plástico. Era uma das Gemialidades Weasley, de brinquedo. – resmungou ele, carrancudo. Soltei uma gargalhada. – Ela era bem real, ok? Tinha pêlos e tudo mais e andava com aquelas patas peludas... – Alvo estremeceu e arrancou mais uma sonora gargalhada de mim. – Cala a boca, Rose! Toma essa! – completou jogando um pedaço de torta em mim.


- Alvo! – eu gritei, sentindo algo entre a irritação e o divertimento. Enfiei as mãos na tigela de sorvete e joguei algo como duas bolas na testa dele. Foi o que bastou para que uma belíssima guerra de comida tivesse início. Nós dois mirávamos um no outro e jogávamos qualquer coisa que estivesse na nossa frente. Se fosse bem melequento, melhor ainda. Mamãe e tia Gina tentavam nos conter, gritando conosco a plenos pulmões, mas sem sucesso. Mas eis que um pedaço de pudim passou zunindo pelas orelhas de vovó Molly.


- Chega! – gritou ela. Muito bem mandados, eu larguei o pedaço de torta que segurava e Alvo soltou a taça de suco de abóbora que ia virar em mim. Nós dois olhamos para a bagunça que havíamos feito: tinha torta, pudim, sorvete, suco e mais tudo que se possa imaginar no chão, na mesa, nas nossas roupas, cabelos, rostos... Todos os adultos, à exceção de tio George e vovô Arthur, olhavam-nos com reprovação e nossos primos e irmãos prendiam o riso. – Os dois para o banho, AGORA! – não esperamos segunda ordem e corremos casa adentro. Meia hora e consideravelmente mais limpos depois, nós voltamos ao jardim já arrumado e em ordem. Bom, mais ou menos: mamãe e tia Gina vinham marchando até nós, furiosas.


- Vocês dois estão de castigo! – exclamou mamãe, com o dedo em riste. Tia Gina assentiu vigorosamente com a cabeça e deu um puxão de orelha em Alvo, que soltou um sonoro AI!. Eu ameacei rir, mas mamãe me lançou um olhar tão gélido que eu engoli a risada na hora. Tia Gina fez questão de assumir o papel de algoz:


- Para dentro agora. Sem quadribol, sem noites em claro, sem doces E sem conexão com a lareira dos Malfoy. Por duas semanas! Espero que estejamos entendidos. – Merlin! Duas semanas sem minhas coisas favoritas. Duas semanas para o fim das férias, sem ter NADA o que fazer. O que seria de nós?


- Mas, mãe! Isso não é justo! – começou Alvo. – Eu já sou maior de idade e...


- E enquanto viver sob o meu teto, vai me obedecer. – completou minha tia. – Fui clara?


- Como água. – Alvo resmungou irritadíssimo. Eu apenas dei de ombros e suspirei derrotada quando vi dez corujas riscando o céu de fim de tarde.


- Cartas de Hogwarts! – anunciei com animação e todos se puseram a postos. Mamãe deu um gritinho feliz – não sei por que ela ainda se dava ao trabalho de esperar alguma coisa – e bateu palmas: desde a minha primeira carta que ela ficava extasiada ao avistar corujas de Hogwarts. Foi bastante chato encarar sua careta de decepção quando eu não recebi o distintivo da Monitoria no quinto ano. A primeira coruja tinha sua carta endereçada a mim; finalmente eu poderia comprar os materiais para aquele que seria meu último ano. Rasguei o envelope e li minha lista: 1 caldeirão e 1 balança de estanho, 1 exemplar do novo livro de DCAT, blá blá blá... é, nada de diferente. Até que eu percebi que o envelope que eu ainda segurava pesava mais que o normal: virei-o sobre a minha mão e uma coisinha reluzente caiu na palma. Dei um berro estridente quando vi o que era e todos voltaram sua atenção para mim. – Eu não acredito!


- O que é isso, Rose? – perguntou mamãe, olhando-me desconfiada. – Não é um distintivo de Monitora-Chefe, é?


- Não! É milhares de vezes melhor! – certo, agora eu tinha mesmo atraído toda a curiosidade deles.


- Meu Deus, Rose! Diga logo o que é! – disse James, pondo em palavras o pedido dos demais.


- Tudo bem! – eu disse sorrindo e prendi o broche na minha roupa. – Vocês estão olhando para a nova capitã da equipe de quadribol da Grifinória!


Em menos de dois segundos, vários pares de mãos me ergueram do chão e me lançaram para o alto seguidas vezes. Pude perceber que todos largaram suas cartas para me congratularem e me jogarem para cima. Papai parecia chocado demais para esboçar qualquer tipo de reação e tio Harry dava tapinhas em suas costas; mamãe sorria meio abobada, parecendo tão feliz quanto se eu tivesse ganhado o distintivo da Monitoria, enquanto vovó e minhas outras tias conjuravam cervejas amanteigadas para comemorarmos. Tia Gina correu para dentro de casa, de onde saiu com seu primeiro uniforme das Harpias de Hollyhead, no segundo em que eu era posta no chão novamente. Dando-me um abraço ela me entregou a vestimenta e disse que era minha. Eu perguntei o que ela daria à Lily depois, mas ela me garantiu que daria seu uniforme especial para a filha, então eu aceitei o presente e agradeci.


Quando os nervos enfim se acalmaram, todos puderam voltar às suas respectivas cartas, mas novas surpresas vieram: além das admissões de Louis e Lucy em Hogwarts, Lily e Hugo foram nomeados monitores da Grifinórias. Pronto! A festa estava armada; meus pais, meus avós, tia Gina e tio Harry, tia Fleur e tio Gui e tia Audrey e tio Percy comemoravam com uma animação sem tamanho. Tio George até fez uma faixa bem cafoninha, que dizia em letras garrafais:


“Parabéns à nova geração de astros Weasley: Capitã, monitores e novos alunos!”


De todo modo, ele estava certo; éramos, mesmo sem querer, a geração de estrelas da família Weasley.


No dia seguinte, mamãe e tia Gina esqueceram os castigos e junto com a família, programaram uma festa para aquela noite.


- Rose, aonde vai? – perguntou papai, baixando o Profeta Diário para olhar bem para mim, quando eu entrei na cozinha de manhã e peguei o saquinho de Pó de Flu.


- À Mansão Malfoy. – respondi. Ele levantou a sobrancelha e eu lhe respondi o óbvio – Vou chamar o Scorpius para a festa, qual o problema disso?


- Eu não gosto desse moleque. – ah, Deus, a mesma conversa de sempre. Não era como se ele não estivesse conformado com a minha amizade com Scorpius. Então, eu apenas revirei os olhos. – Você era uma menininha tão boazinha, tão quietinha, e depois que conheceu esse garoto passou a ganhar detenções com a mesma freqüência que troca de roupa.


- Ah, papai, mas isso não é verdade! Eu não ganho detenções na mesma freqüência das trocas de roupas. – papai me olhou como se dissesse “Certo, conta outra!” e eu ri. – Definitivamente, eu ganho muito mais detenções do que troco de roupa. – ele não conseguiu conter um sorriso e eu lhe pisquei um olho, jogando o pó verde na lareira. Gritei o endereço em alto e bom som e girei pelas chamas, vendo vários cômodos passarem por mim, até parar e cair de joelho no tapete da bela sala de estar dos Malfoy.


Era uma sala imensa. Linda, magnífica, suntuosa! Um pouco fria, talvez, mas mesmo assim... Eu mal me levantei e dei de cara com Mika, o elfo doméstico da família.


- Srta. Weasley! – ele exclamou fazendo uma profunda reverência. Eu conhecia Mika das outras vezes em que fora visitar Scorpius e ele sempre fazia o mesmo gesto quando eu chegava. Mas eu sou adepta das idéias da mamãe quanto ao F.A.L.E, então levantei o elfo pelos ombros e olhei em seus olhos.


- Olá, Mika. Como vai? Já disse que não precisa me reverenciar. – ele assentiu com a cabeça e eu sorri. – Scorpius está em casa?


- Está sim, senhorita! Está no quarto. Mika vai chamá-lo!


- Não precisa, eu mesma vou. Aproveito e faço uma surpresa. Não se preocupe, eu conheço o caminho. – Mika balançou as grandes orelhas e saiu para completar seus afazeres. Subi as escadas e fui acompanhada pelos olhares dos quadros pendurados nas paredes. Alguns eram bastante simpáticos, mas outros nem tanto assim. Percorri o longo corredor e bati à porta do último quarto à direita.


- Um segundo, Mika! – Scorpius gritou do lado de dentro, a voz abafada. – Já vou! – eu esperei em silêncio, sem mencionar que não era Mika. A maçaneta girou e a porta abriu, revelando o rosto bonito do meu melhor amigo. Que pareceu genuinamente surpreso ao me ver. – Rose? O que faz aqui? – eu reparei que ele estava apenas de toalha e senti minhas bochechas queimarem. Não era como se eu nunca tivesse visto nenhum homem sem camisa, considerando que há vários deles na minha família, e Scorpius mesmo já havia aparecido despido da cintura para cima na minha frente, mas daquela vez foi diferente. Principalmente porque ele estava corado do sol que havia pegado na Riviera Francesa e isso realçava escandalosamente seus olhos azuis. Eu achei um crime, inclusive, porque eles ofuscavam minha visão. Bom, o fato é que eu pigarreei para espantar o desconforto, sorri abertamente e entrei no quarto enquanto ele ainda me encarava parado à porta. Joguei-me em sua cama perfeitamente arrumada e disse:


- Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. – ele me encarou sem entender e eu ri. – É um ditado trouxa que minha avó me ensinou. Algo como: se você não vai me visitar, eu venho te visitar.


- Ah, entendi. – Scorpius assentiu e me deu um beijo na testa. – Senti sua falta. – completou. Pegou uma muda de roupa e seguiu para o banheiro.


- Eu também! – gritei para ele. – Mas já que você, que se diz tão bom amigo, não foi me visitar como tinha prometido, eu tive que vir! – sua risada foi abafada pela porta de carvalho. Logo depois ele estava esparramado na cama ao meu lado.


- Então, além da saudade, o que lhe traz aqui? – eu sorri radiante e ele me olhou curioso. – O que aconteceu, baixinha?


- Baixinha é sua mãe, ok? – respondi feito criança, dando o um soquinho no braço dele. Scorpius me agarrou num abraço apertado. Sinceramente, acho que todo mundo aprendeu a abraçar como minha avó. Quando ele me soltou, eu disse: - Tenho uma novidade enorme!


- O que é?


- Ganhei um distintivo!


- De monitora? – ele perguntou desconfiado. Por que todos achavam que era da Monitoria? Eu arranjava encrencas e não bancava a nerd pelos corredores.


- Não. – peguei o broche e coloquei na palma da mão dele. Scorpius mirou o objeto por dez segundo e finalmente registrou o que aquilo significava.


- Capitã? – as sobrancelhas dele estavam perdidas em meio ao cabelo loiro que caía displicente na testa. Eu assenti animadíssima, mal contendo outro gritinho de felicidade. Ele me olhou ainda surpreso e enfim, sorriu. – Aêêêê! – gritou e me deu cascudos na cabeça. Depois me puxou e me rodopiou pelo quarto, enquanto eu tentava desesperadamente respirar. E parar de rir, é claro.


- Scorpius, chega! – ele me largou e riu do meu rosto inchado e do cabelo despenteado. – Eu sei que você está com inveja, mas cometer um assassinato? Isso não é coisa que se faça.


- Uau, Rose, você está uma piadista hoje. De qualquer forma, nós temos que comemorar.


- E vamos. – eu disse e peguei um biscoito do pratinho que estava ao lado da cama. Respondi, então, de boca cheia. Nojento, eu sei. – Mamãe e tia Gina estão organizando uma festinha para nós, porque além do meu distintivo, Hugo e Lily foram nomeados monitores e Louis e Lucy receberam as cartas de admissão. Então, hoje à noite na Toca. E se você não for, eu juro que venho aqui te estraçalhar até a morte. Não sem antes cortar seu cabelo, é claro.


- Não, não, não! – Scorpius saiu de perto de mim, com as mãos na cabeça. – O meu cabelo não, Rosie!


- Está avisado, Scorpius Hyperion Malfoy. Nos vemos mais tarde. – disse e saí fechando a porta atrás de mim.


No saguão da Mansão, encontrei a Sra. Malfoy, que me foi simpática como sempre. Eu a convidei para a festa, mas ela recusou educadamente, afirmando que o Sr. Malfoy e minha família ainda não estavam exatamente prontos para ficarem horas no mesmo lugar, mesmo depois de todos os anos da nossa amizade com Scorpius. Assim, eu me despedi dela e joguei o Pó de Flu na lareira, aterrissando em seguida no tapete da cozinha da Toca, que já estava sendo arrumada. Na verdade, não era uma festa propriamente dita, era mais uma reunião com os amigos íntimos. Mas se formos juntar todos os amigos íntimos de cada um da família Weasley, qualquer reunião vira festança.


E foi exatamente o que aconteceu: ao cair da noite, a Toca estava lotada – como de costume – de crianças e adolescentes rindo, brincando e se divertindo. A faixa cafona que tio George fizera na noite anterior ainda estava lá, pendurada sobre a porta de entrada, parecendo mais chamativa que antes, se possível.


Eu, Alvo e Scorpius conversávamos alegremente sobre nossos planos para detonar Hogwarts naquele ano quando meu primo me perguntou:


- Então, Rose, quais serão suas primeiras medidas como capitã?


- Para começar, eu vou fazer uma reformulação no time. – respondi séria, parecendo refletir sobre a questão. Eles me olharam sem entender. - Andei pensando no que fazer e acho que, de início, vou cortar alguns jogadores realmente péssimos. Que bom que vocês perguntaram isso, bom mesmo...


- Quem você vai cortar? – perguntou Scorpius. Ele e Alvo estufaram o peito, orgulhosos em saber que eu compartilharia minha decisão com eles.


- Vocês. – respondi com o semblante fechado. Por dentro eu sentia minhas entranhas se contorcerem com o riso que eu tentava – com muito sucesso, diga-se de passagem – conter.


- O quê?! – gritou Alvo, atraindo a atenção de algumas pessoas próximas, enquanto Scorpius tentava inutilmente formular uma frase. – Por quê?


- É! Por quê? – aderiu Scorpius quando reencontrou a fala. Eu não pude mais segurar o riso e explodi numa gargalhada.


- Meu Deus, vocês são tão crédulos! – suas expressões de alívio me fizeram rir mais ainda. Mas não acho que eles tenham ficado felizes com a minha brincadeirinha. – Relaxem, eu só estavam de gozação com vocês. Precisavam ver suas caras! Hilárias!


- Eu odeio quando ela faz isso. – Alvo resmungou para Scorpius, que permanecia de cara feia. Eu subi na ponta dos pés e plantei um beijo em sua bochecha. Ele sorriu.


- Ridícula. – disse ele.


- Bobão! – eu rebati e saí para falar com meus pais.


- Princesa, está se divertindo? – perguntou papai, abraçando-me pelos ombros.


- É claro que sim. Impossível achar uma festa na Toca remotamente monótona.


- Hum, você tem razão. Eu me lembro das comemorações que eu, sua mãe e seu tio tivemos aqui. Não foram muitas, mas bastante satisfatórias... Ah não! Percy está me chamando. Aposto que quer me alugar com mais uma conversa enjoada sobre qualquer porcaria do Ministério. – ele me colocou em sua frente e completou – Rápido! Inventa alguma coisa interessante e importante que só possa ser tratada agora, filha!


- O que pode ser tão importante que tenha que ser tratado numa festa, pai?


- Sei lá, a diretora da escola acabou de dar à luz e não tem substituta para ela, então Hogwarts não vai abrir esse ano.


- Pai, a diretora da escola é a McGonagall. Tem certeza que essa é sua melhor desculpa? – eu falei com as sobrancelhas levantadas.


- Inventa alguma coisa então, Rose! Fala que o Malfoyzinho te xingou de “você-sabe-o-que” e que eu preciso dar uma surra ne... Ah, oi, Percy! – com um sorrisinho falsamente animado, papai me largou e saiu com tio Percy em seu encalço gesticulando freneticamente. Mamãe se aproximou rindo.


- Seu pai sempre foi péssimo mentiroso e um inventor de desculpas pior ainda. – disse ela.


- Eu sei. Como Scorpius poderia me chamar de Sangue-Ruim? Isso não existe há tanto tempo. E ele não seria tão cruel de fazer isso, nem tio Percy seria tão imbecil de acreditar.


- Concordo. Mas seu pai continua sendo o mesmo legume insensível com a amplitude emocional de uma colher de chá. – mamãe suspirou ridiculamente apaixonada quando disse isso.


- E é exatamente por isso que você o ama!


- Você tem razão. – anuiu ela e nós duas rimos cúmplices. De repente, ela ficou séria e disse – Querida, eu estive observando você e os meninos...


- E? – mamãe e eu tínhamos uma boa sintonia, então eu sabia que ela diria algo com relativa cautela e com que eu provavelmente discordaria.


- O que há entre você e Scorpius? – só conseguir rir depois dessa pergunta. Como assim o que havia entre mim e Scorpius? Não havia coisa alguma entre nós dois.


- De onde saiu uma pergunta dessas, mãe?


- Ah, filha, vocês tem uma cumplicidade enorme, são extremamente carinhosos um com o outro, mais até do que com Alvo. O tempo todo vocês se abraçam, dão beijinhos...


- Mãe, não há nada entre nós dois. Nós, eu e Scorpius, não vamos acontecer. Somos apenas grandes e melhores amigos. E estamos satisfeitos assim.


- Ok. – mamãe pareceu desconsertada, mas logo completou. – Mas ele daria um ótimo genro.


- Mãe!


- Certo, certo. Não está mais aqui quem falou. – ela levantou as mãos como se estivesse se rendendo.


- Hermione! – papai gritou do outro lado do jardim. Tio Percy ainda falava sem parar ao seu lado e aquele chamado era um claro pedido de ajuda. Mamãe suspirou cansada e baixou os ombros.


- Deus, Percy não consegue se controlar. É assim desde os quinze anos e olha que isso faz tempo! Bom, querida, volte para a companhia deles. Eu preciso salvar seu pai. – ela fez um afago no meu ombro e se afastou. – Estou indo, Rony! Estou indo!


Alvo e Scorpius estavam, pelo o que eu pude ver, tentando contrabandear uma garrafa de uísque de fogo. Parei atrás deles e disse:


- Bonito! – os dois saltaram com o susto. – Vocês estavam bebendo?


- Nós? Nã-não, claro que não. – gaguejou Scorpius e Alvo balançou a cabeça avidamente em concordância.


- Meu Deus, vocês são dois idiotas. – disse eu, girando os olhos e pegando a garrafa de uísque da mão de Alvo. – Andem, vamos! – os dois concordaram e me seguiram pelo bosque que ficava nos terrenos da casa. Sentamo-nos debaixo de um carvalho e nos pusemos a beber e conversar. Estávamos alegres quando escutamos vovó Molly gritar que já era tarde e nos mandar entrar. Demos um fim na garrafa e fomos cambaleantes para nossos quartos – Scorpius dividiria o quarto com Alvo, James e Hugo.


As férias estavam divertidas. Quadribol, compras no Beco Diagonal, xadrez, conversas noites adentro. Ah, eu amava as férias de verão, mas nada me deixava mais feliz do que voltar para o lugar mais maravilhoso que existe no mundo: Hogwarts.


Nessa rotina, o mês passou e logo o dia primeiro de setembro estava a apenas um fim de semana de distância. Meus pais e meus tios deixaram que eu e Alvo fôssemos para a Mansão Malfoy passar os últimos dois dias de férias com Scorpius, que nos recebeu irritadíssimo.


- O que aconteceu com você? – eu perguntei enquanto puxava minha mochila pelo ombro e subia as escadas da mansão.


- Chiara Corner aconteceu. – chiou ele em voz baixa. Eu e Alvo trocamos um olhar de compreensão e começamos a rir. Chiara Corner era uma aluna do sexto ano de Hogwarts e apaixonadíssima por Scorpius. Os dois saíram duas vezes e foi o que bastou para ela se auto-intitular namorada de Scorpius Malfoy. Mas, ele lhe explicou que não era o que ele queria e terminou o que quer que eles tivessem. Obviamente, Chiara não aceitou bem o “rompimento” e passou a persegui-lo, mandar cartas, berradores, presentes, fotos, além de se oferecer descaradamente... Era deprimente.


- O que ela fez dessa vez? – Alvo perguntou. Ele abriu a porta do quarto de Scorpius e se jogou na cama dele.


- Um berrador.


- Ela está ficando sem recursos. É a terceira vez que manda um berrador. – eu falei encarando os resquícios da carta sobre a escrivaninha.


- Ela cantava. – ele afirmou entre os dentes. Passou a mão pelos cabelos despenteando-os; tio Harry uma vez disse que essa era uma mania do seu falecido pai, o que deixou Scorpius meio constrangido. – Aquela música muito, muito antiga da Celestina Warbeck.


- Não?! – eu exclamei perplexa. – Aquela que fala de um caldeirão de amor e paixão? Uau, essa garota chegou finalmente ao fundo do poço. O que você fez?


- Mandei uma carta bem curta e grossa. – começou ele, pegando sua vassoura no armário de equipamentos de quadribol que ficava em seu quarto. Eu adoraria ter um armário daqueles no meu quarto. – Disse-lhe para usar a pouca dignidade que ainda lhe resta e que pare de encher minha paciência. Espero que ela tome vergonha na cara... Por que ainda não pegaram as vassouras?


- Nós vamos treinar? – perguntou Alvo, parando o segundo sapo de chocolate a caminho da boca. – Mas eu estou com fome!


- Comeremos depois. – prometi a ele enquanto abria a minha bolsa (magicamente ampliada, é claro) e vasculhava à procura da minha vassoura. – Agora nós vamos treinar. Quero passar algumas idéias com vocês.


- Sim, senhora. – resmungou Alvo, pegando a própria vassoura e seguindo Scorpius até o jardim. Eu podia considerar Alvo e Scorpius como meus assessores, então devo dizer que aquele pequeno treino foi relativamente produtivo. Nosso fim de semana se resumiu a isso: dois dias divertidos recheados com nossas coisas favoritas (leia-se quadribol, conversas e muitos doces); e domingo à noite, eu e Alvo voltamos à Toca, onde só tivemos tempo e disposição para jantar e dormir.


O dia primeiro de setembro amanheceu nublado, diferente do meu humor: eu tinha absoluta certeza de que teria o melhor ano da minha vida. Desci as escadas pronta e encontrei minha família de zumbis tomando café; desejei-lhes bom dia e enchi meu prato de omelete e salsichas. Alvo sentou ao meu lado resmungando que não queria ir à escola e mal-humorado até o último fio de cabelo. Cerca de uma hora e meia depois, estávamos atravessando a barreira mágica que dividia a plataforma 93/4 do mundo dos trouxas.


A névoa densa e habitual cobria a estação e eu tive um grande sentimento de nostalgia ao me lembrar do dia em que vi Scorpius pela primeira vez no meio daquela neblina: meu primeiro dia de aula em Hogwarts. Era angustiante saber que eu estava para embarcar naquela grande locomotiva escarlate pela última vez a caminho da escola (excluindo o feriado do Natal, é claro), então eu prometi a mim mesma fazer do meu sétimo ano o melhor de todos e torná-lo absolutamente memorável.


Depois das calorosas despedidas, eu, meu irmão e nossos primos embarcamos no Expresso de Hogwarts. Scorpius se juntou a nós logo depois e então todos começaram a assustar Louis e Lucy com falsas histórias sobre a escola, às quais eles ouviam aterrorizados. Ao anoitecer, sentimos o característico solavanco e catamos nossas coisas para deixar a cabine.


Quando descia do trem, eu trombei acidentalmente em alguém. Qual não foi minha surpresa ao ver que era um garoto lindo?

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Hum.........Já começou bem o ano Rose kkkk tô amando a fic muiiiiiiiiiiiito legal *----------*

    2011-10-11
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