Acabou a luz!



Acabou a luz!


 


Estava começando a escurecer, era sábado, já era noite e ninguém tinha o que fazer, a não ser que alguma mente bastante fértil sugerisse algo, mas pelo visto eles estavam deixando para usar essa imaginação na hora do vestiba.


Tinha uma “urubuzada” esparramada no sofá com cara de quem não comeu e estava com fome.


-Seria uma ótima idéia se eu não tivesse que intimar alguém para vir lavar a louça – falou Lílian em alto e bom som para os urubus em massa que estavam apinhadinhos.


-Eu esperava uma idéia mais criativa. – reclamou Sirius


-Idéia criativa uma ova, eu me recuso a fazer comida com toda essa louça suja – cruzou os braços e sentou em uma cadeira.


-Eu faço a comida então. – Sirius se prontificou indo à cozinha, mas os colegas fizeram um alvoroço de reprovação.


<i>Entrevista:


 “A comida do Sirius era uma espécie de “gororoba” bem “gororobenta”. Nem cachorro comeria aquilo” Genevieve.


“Aquela comida te dá uma soltura que arranca até sua alma” Remo.


“Aquela comida te dá uma intoxicação intestinal que só exorcizando” James, melhor amigo.


“Aquilo é uma imitação de Ghost Chip” Susana.


“É a comida do capeta” Athena.


“Aquilo não serve nem para lavagem” Glenda.


“Eu prefiro passar fome” Lílian.


Fim da entrevista</i>


-Mesmo que você fizesse uma boa comida, o que você não faz, precisaria de louça, e limpa de preferência. – Lílian fez uma observação um tanto quanto inteligente, que botaria qualquer um pra dormir, menos Sirius Augusto Black.


-Você tem um talento para a rude franqueza, mas eu o dispenso, obrigado.


-Suma daqui Sirius. Agora! – Lílian falou baixinho, porém muito ameaçadoramente e, não podia ignorar que segurava uma faca bem grande.


-Calminha, não se estresse! – Sirius andava para trás à medida que Lílian avançava com a faca.


-Fora! – disse Lílian com a voz numa nota aguda horrível e Sirius saiu que saiu, correndo. – Alguém vai lavar a louça, ou não?


Luiz e Fernando se prontificaram para lavar e secar, Lílian pareceu satisfeita consigo mesma, resolveu não largar da faca.


-Bom o que acham de um DVD? – perguntou Sirius que já achava seguro se pronunciar, e imaginava algumas coisas <i>muito</i> interessantes para ver.


-Varra todo e qualquer pensamento de filmes pornô e de terror dessa sua mentezinha limitada – Athena literalmente o mandou fazer, e isso sem qualquer tipo de negociação.


-Vamos James? – perguntou Sirius sem dar muita atenção para o que Athena disse.


-Bora – disse James colocando a japona, os dois saíram e foram para uma locadora, não muito longe dali.


O sol já havia partido, e começava a ficar frio. Os dois entraram na locadora e ficaram escolhendo o que levar para a casa. Nesse meio tempo começara a chover, e ficava cada vez mais forte. Quando estavam saindo da locadora viram o “toró”, esperaram um pouco para ver se passava, mas um raio atingiu o poste e acabou a luz das redondezas.


-Putz, a gente vai ter que ir nessa chuva mesmo.  – disse James não gostando da situação em que se encontravam.


-Tenho idéias, a gente não vai entrar pela porta, meu amigo James. – disse Sirius com o olhar fora de foco.


  -Eu ainda não adquiri a habilidade de voar, Sirius, se você já, vá em frente. Mas não vejo o que isso tem haver com nós irmos para casa nessa chuva. – olhou o amigo de canto.


-Sarcástico como sempre – disse Sirius com um leve sorriso esboçado no rosto e balançando a cabeça.


-Isso não foi um sarcasmo, foi um sentimento “aversivo” à sua idéia.


-Você até parece que não me conhece.


-Se eu te conheço bem, e sei que conheço, isso é mais um atentado terrorista seu às meninas.


-Você me conhece.


-Anda logo antes que eu desista. – disse James empurrando Sirius para a chuva e irem para casa.


[...]


-Acabou a luz! – gritou debilmente Susana.


-É, é assim que a gente chama quando a lâmpada não está com aquele brilho que ilumina. Você aprendeu.  – sentenciou Fernando.


-Bom, temos gerador aqui. – disse Lílian antes que Susana retrucasse.


-Gerador? – exclamou Genevieve com um toque de histeria na voz – Quero dizer - se recompôs no ato – Casas não têm gerador, não é mesmo? Hospitais e genéricos <i>têm</i> geradores. – comentou como se os outros entendessem o seu medo. Todos olharam pasmos para Lílian, eles entenderam.


-Bem, como fui eu que vi o aluguel, eu peguei a mais em conta...


-Direto ao assunto, por favor. – pediu Athena.


-Essa casa era um hospício. – disse em tom de desculpa.


-Quanto é mesmo? – perguntou Susana.


-R$150.00 por mês. – deu um sorriso totalmente sem graça.


-Tem algo mais aí. – disse Genevieve calculando.


-A casa é muito grande, é barata demais.. – falou Glenda.


-Essa parte eu preferia não contar.


-Anda! – apressou Athena.


-Bom, houve dois assassinatos aqui.


-É? – perguntou Glenda com a voz no seu mais agudo tom.


-E o que mais? – perguntou Genevieve tentando se controlar.


-Uma pessoa se enforcou aqui. – com isso Lílian fechou os olhos e esperou a gritaria.


-O jeito é benzer a casa. – riu Susana tentando descontrair o clima. Todo mundo a olhou, assim ficou quieta.


-Então – começou Fernando que até agora só escutara a conversa – Se temos um gerador, porque não temos luz?


-Nós na verdade não precisamos de um gerador, por esse motivo não o temos ativado. Mas temos combustível para ativá-lo. - disse Lílian agradecida pela troca de assunto.


-E quem vai lá? – Glenda tremia.


-Você tem medo de escuro? – riu Luís.


-Se você é tão macho assim, deixa de ser inútil e vai lá resolver o problema. – guinchou a garota olhando torto para ele.


-Calma gente – apaziguou Susana.


-Eu vou lá – avisou Lílian – Afinal só eu sei mexer. – ninguém contestou, ela sabia que isso aconteceria.


Lílian pegou uma lanterna na gaveta da pia e saiu. A frente da casa era grande, muito grande, com um belo gramado, havia um caminho de pedras no chão para chegar à garagem e ao portão, o gerador se situava no porão da casa, na parte de trás. A casa só tinha uma saída e esta era na frente, Lílian teria que dar uma volta e não havia caminho de pedra até o porão, era apenas gramado, um gramado que se estendia até uma piscina, de poste grande e mais distante encontrava-se um pequeno “bosque”. O terreno era realmente grande, e essas alturas já estava totalmente alagado e altamente escorregadio. Ela pisou com cuidado para não cair, ouviu um barulho em cima da casa, e não era chuva, apontou a lanterna, viu um pé sumindo dali a poucos instantes, tinha certeza que era um pé, e outra certeza é que ninguém não teria deixado uma escada encostada na casa. Virou para sair correndo, mas tropeçou na mangueira, que alguém não havia guardado, caiu e bateu a cabeça na parte calçada que ia à garagem e ficou desacordada.


Dentro da casa, Glenda e Susana não paravam de reclamar, pareciam que tinham fobia ao escuro.


-A Lílian está demorando – comentou Susana que levava os dedos à boca, mas não roia, era apenas de nervosismo.


-Calma, Su. – amenizava Genevieve.


-Vou subir. – avisou Glenda, já subindo as escadas.


-Aqueles dois idiotas estão demorando demais. – reclamos Susana impaciente.


-Quer ficar quieta e nos poupar de seus comentários incômodos? – pediu Fernando já com a quase inexistente paciência.


-É só uma caída na energia e uma chuva forte, não Pânico, nem Madrugada dos Mortos.  – comentou Luís sentando-se no sofá e se esticando.


Ficaram alguns minutos em silêncio, apenas Susana que estava com uns tiques nervosos, que a essas alturas ninguém notava mais. Glenda desceu desesperada às escadas.


-Alguém entrou no nosso quarto. – disse num fio de voz, estava tremendo de cima a baixo.


-Deve ser só imaginação sua. – disse Fernando não dando atenção à menina.


-Vá lá ver então – contestou a garota nervosa.


-Vamos todos nós, por via das dúvidas peguem alguma coisa para se defender. – interferiu Athena.


Subiram ao quarto das meninas, a janela estava fechada, mas havia vestígios de água pelo quarto. Athena foi à direção do corredor, viera um barulho do armário de tranqueira, ela abriu a porta devagar e bateu em um vulto com um remo. Este desabou no chão, ela foi bater em outro vulto, quando alguém grita:


-PÁRA ATHENA! – colocando as mãos no alto em ato de rendimento.


 Athena reconheceu, era James.


-Seu tapado! O que você tem na cabeça para fazer uma coisa dessas? Você merece umas remadas bem dolorosas.


-Não, não, obrigado, nocautear o Sirius já me serviu de exemplo. – disse enquanto pegava Sirius e tentava carregá-lo para o quarto dos garotos. Os dois estavam totalmente molhados, James estava até espirrando, Sirius estava com um vermelho na testa.


-Idiota, é isso que você é! Os dois inclusive. – Susana xingou.


-Quem sabe com isso vocês aprendem a não fazer mais besteiras. – falou Genevieve se controlando.


-Ou ao menos o Sirius – observou Glenda, todos riram.


-Cadê a Lílian para brigar comigo? – perguntou James que não ouviu nenhum grito ou ato de nervosismo ou histerismo.


-Ela saiu para ligar o gerador e não voltou até agora – disse Genevieve preocupada olhando pela janela aquela chuva forte.


-Vou verificar então – falou James saindo do dormitório, estava preocupado, porque sabia que Lílian os vira, e talvez tivesse acontecido alguma coisa por causa disso.


-Vou junto com ele – avisou Luiz.


-Você fica aqui! – falaram Susana e Glenda juntas quando Fernando fez menção de mexer a boca.


James havia saído da casa com Luís em seu encalço, ele não avistou nem sinal de Lílian, mas com uma olhada mais atenta viu a luz da lanterna que refletia na garagem, foi correndo investigar o que era aquilo. Lílian estava ensopada e havia muito sangue em sua face, Luiz veio correndo, mas não tinha a mínima idéia do que fazer.


-Vamos levá-la para dentro – disse James sério, estava muito preocupado com o que podia acontecer com Lílian.


James e Luís tomaram todo o cuidado possível, entraram na cãs e a colocaram em cima do sofá.


-Athena! – gritou James para Athena que ainda estava lá em cima – Desce logo, chama a Susana também. – ele deu uma olhada de canto para Lílian, se acontecesse alguma coisa com ela, a culpa seria sua...


As duas garotas desceram correndo as escadas para ver qual era o motivo de tanto barulho, Athena colocou a mão na boca em sinal se alarme, Susana foi correndo ver a temperatura da amiga, testou seu pulso também, fez uma expressão muito preocupada.


-Vamos logo, ela está em estado de hipotermia e perdeu muito sangue, precisamos levá-la para o hospital o mais rápido possível. – falou tentando controlar a voz.


-Athena a culpa é minha, acho que ela me viu, quando eu subi no telhado...


-James – começou Athena em tom ameaçador antes que Susan falasse alguma coisa – Se acontecer, qualquer coisa, mínima que seja que prejudique a Lílian, eu te mato. Juro. – Athena saiu correndo para pegar roupas secas e uma toalha. Fernando pegou uma coberta para manter a temperatura de Lílian.


Athena voltou com algumas roupas, tirou as molhadas e colocou as secas, James estava andando de um lado para o outro esperando aprontarem Lílian para ele leva-la logo para o hospital. A envolveram com o cobertor, James a pegou no colo e foi às cegas para onde achava que era a porta, porque a luz ainda não havia voltado, e a levou para o carro.


James, Athena e Susana a levaram para o hospital, o resto do pessoal ficou em casa, afinal Sirius não estava muito melhor que Lílian, a remada que Athena deu em sua cabeça fora relativamente forte.


O caminho para o hospital estava complicado, a chuva e o vento estavam castigando as ruas, galhos grandes haviam sido arrancados brutamente das árvores e atrapalhavam o caminho, em alguns pontos haviam até árvores arrancadas, boa parte da cidade estava sem luz, o que não lhes servia de consolo.


Durante todo o percurso James estava abraçado em Lílian, tanto para se reconfortar e para esquentá-la também, o que fez diminuir a tremedeira de Lílian. Mas ela já havia perdido muito sangue, mesmo Susana tendo colocado um pano para estancar o sangue.


Ao chegarem à emergência já os atenderam, mesmo com tanta catástrofe não havia tanta gente ferida, Lílian foi atendida pelo plantão, lhes disseram que não tardariam a dar uma notícia sobre a situação de Lílian. O médico que ficara disse que se demorassem um pouco mais talvez ela pudesse entrar em coma, e que ela não podia esperar um segundo a mais ela perdera muito sangue, precisava de um doador. Todos ali se dispuseram a doar, iriam passar por uma bateria de exames para ver se o exame era compatível, mas ainda esperavam notícias de Lílian. Logo o resultado chegou: nenhum tipo era compatível com o de Lílian.


-O que nós vamos fazer agora? – perguntou Athena que sentara no banco e apoiara a cabeça nas mãos.


-Bem, vocês têm que achar alguém com o tipo dela, que é do tipo O. - aconselhou o médico. – Se vocês conhecem alguém desse tipo melhor, porque precisamos o mais rápido possível.


Athena e Susana estavam nervosas, James era o mais são entre eles. O médico os deixou para acertarem o que iriam fazer.


-Bom. – disse James recomeçando a andar de um lado para o outro – Nós temos que avisar o pessoal para ver se eles são compatíveis. Ele olhou para Athena, mas ela não estava em condições para dirigir.


-Eu vou buscá-los. – informou para as amigas. As duas o olharam preocupadas.


-Mas você não tem carteira! – exaltou-se Athena que estava tremendo de nervosismo.


-Eu sei dirigir e você vai acabar causando um acidente se dirigir nesse estado. E vou, dá as chaves! – pediu estendendo a mão. Athena o olhou e viu que não adiantava resistir, jogou as chaves e o garoto foi embora.


-Espero que ele consiga. – falou uma Athena tremula de nervosismo e frio.


James estava dirigindo, mesmo não tendo uma carteira e sabendo do risco de cair em alguma blitz. Para ele pareceu que quando estava voltado estava sendo bem mais rápido. Conseguiu pegar um bom caminho, que não havia resquício de ter tido chuva ou vento. Chegando à república deixou o carro na frente e entrou na casa. 


-James! – exclamou Genevieve quando viu o garoto entrando. – A Lílian, como está? – perguntou segurando o garoto pela roupa.


-Calma. – ele disse se soltando da garota – O médico disse que se demorasse mais um pouco poderia ser mais grave, mas agora eu preciso que todos vocês venham comigo. – falou em um tom apreensivo.


-Para quê? – perguntou Sirius que mal sabia o que estava acontecendo, acabara de levantar e estava com muita dor na cabeça.


-Para ver se o sangue é compatível com o da Lílian – informou. Todos ficaram olhando para ele. – Será que dá para ser para hoje? – perguntou sarcástico já que ninguém moveu um dedo.


Genevieve estava trancando o portão quando ouve uma voz.


-Alguém pode me explicar o que está havendo? – perguntou uma voz entediada.


-Remo! Bom eu até explicaria... – ficou em dúvida se explicava ou entrava no carro, já que James buzinava feito um maníaco. - ...Mas é melhor você entrar e te explico no caminho. – os dois entraram na van e James meteu o pé no acelerador.


-Calma aí, quer ver mais alguém no hospital é? – alterou-se Glenda, James se limitou a encará-la pelo retrovisor, e com isso ela se calou.


Genevieve explicou a situação para Remo durante a trajetória, o qual ficou bastante preocupado, embora sempre soubesse que os amigos não batiam bem. Remo estu7dara com James e Sirius durante a vida inteira, não que fosse muita coisa, mas estudou, e conhecia as figuras que tinha como amigos. Procurou não censurar James, porque via que o amigo estava tentando se redimir, e sabia que estava sentindo remorso, então resolveu ficar quieto. Pelo que soubera também, Sirius levara uma remada, então este também estava pagando à sua maneira.


Chegaram ao hospital e foram levados direto para fazer a coleta de sangue e ver se era compatível. Após o teste foram para a sala de espera, esperar o resultado da coleta de sangue e notícias de Lílian. Athena estava tremendo cada vez mais, Remo pediu para Susana arranjar um calmante, misturou o calmante que Susana lhe entregara no suco e deu para Athena que em cinco minutos estava dormindo no seu ombro. James continuava andando de um lado para o outro, e agora se entupindo de café, seus olhos, que ele fazia o máximo para esconder, estavam vermelhos, seu cabelo mais desarrumado que o normal, Sirius estava ficando irritado.


-Cara, senta aí. Vai dar tudo certo. – falou, ele estava recostado na parede de braços cruzados, com uma cara de sono e de cansaço. O resto do pessoal havia cochilado, só James, Sirius e Remo estavam ativos. James apenas balançou a cabeça em sinal de negação.


-Se acontecer alguma coisa com Lílian, um coisinha sequer eu nunca vou me perdoar. – sua voz estava embargada. Ele foi e encostou a cabeça na parede, começou a chorar de raiva de si, de medo, Sirius deixou a parede de lado e foi dar umas palmadinhas no amigo, Remo fizera o mesmo, encostou Athena no sofá e foi dar uma força para James.


-Nós estamos juntos em todas, ok? A Lílian vai melhorar. – confortou Remo – E quem vai ralhar com você se não for ela? – perguntou com uma risadinha trêmula. James deu um sorriso vacilante, sabia que tinha os amigos por perto sempre que precisasse.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.