Capítulo 8 - Desmundo




Capítulo VIII - Desmundo


O coração de Hermione bateu com força. Os olhos castanhos se abriram mais que o normal. O cérebro parou de funcionar. O corpo ficara imóvel.


Rose... Lestrange? Rose... Lestrange? Rose era uma Lestrange? Rose pertencia a aquela família diabólica?


Não... Ela negou com a cabeça minimamente. Rose não podia ser uma Lestrange!


Os olhos que estavam parados assustados com a revelação de Tom Riddle se contraíram em conjunto com as sobrancelhas, e um cenho de raiva e inconformação tomara conta da menina. Ela virou os olhos torcidos para a garota que ainda lhe ajudava a ficar de pé.


'L-lestrange?' Rose piscou os olhos azuis e os virou para encarar Hermione. 'Você é uma... Lestrange?'


'Por quê?' Ela perguntou confusa. Hermione engoliu saliva e mordeu os dentes. Sentindo uma fina dor em sua orelha esquerda, impulsivamente colocou a mão sobre a orelha e sem força, com raiva, e tonta se afastou da menina olhando-a assustada. 'Hermione?'


A chuva começara a engrossar, molhando o uniforme e aumentando a dor e a ardência em alguns lugares do corpo. Hermione pensou que talvez estava tendo febre pela coisa quente e forte que tomara a alma.


Não. Não era febre.


Era... raiva.


'Você é uma Lestrange?' Indagou com força, com raiva e alta para menina. Rose novamente piscou os olhos azuis. 'Por que não me disseste?'


Rose franziu as sobrancelhas e apertou a varinha com força. Os olhos azuis da monitora perderam um pouco o brilho. 'Ah e por quê deveria?' Ela perguntou também aumentando a voz . 'Acha que só você tem o direito de saber de tudo? Acha que só você pode ter segredos?'


Hermione cerrou os dentes e fez uma careta de dor pelas reminiscências do feitiço Cruciatus que recebera. "Mas é claro que tem! Puro-Sangue são superiores aos Sangues-Ruins! Sangues-Ruins não são nada. Não podem ser nada! Não no mundo bruxo!"


'Agora faz sentido!' Ela comentou mais para si mesmo. 'Você fazer parte dessa família ridícula.'


'Não fale da minha família!' Bravou Rose com raiva para a Hermione.


'Eu falo o que bem entender da sua família, Lestrange!'


'Ah, agora é Lestrange não é?'


'Sim. Vou tratá-la assim como trato essa sua família ridícula e amoral!'


'Ridícula e amoral?"


'Sim! Ridícula e amoral!'


'Ridícula é você, sua Sangue-Ruim!'


A raiva que Hermione sentira passara um estágio. E por isso, com raiva, deu um tapa forte no rosto de Rose. Os olhos azuis se pintaram de negros, ficando torcidos, também, de raiva. Rose devolveu o tapa em Hermione.


'Você não pode me bater!' Esbravejou Rose.


As bochechas de Hermione arderam. 'Ah não? E por quê? Por que sujo você com meu sangue? Não se preocupe, se você não percebeu, está chovendo, assim você pode se lavar!'


Rose empurrou Hermione com força fazendo com que ela caísse no chão molhado, sujando mais o uniforme. Hermione se levantou do chão. Cerrou os punhos com força com a raiva latente crescendo dentro do peito. Tremendo, também empurrou Rose.


'Parem com a violência!' Disse Leslie para as duas.


'Ora essa... EU SALVEI SUA VIDA!'


'É? E NÃO PEDI PARA VOCÊ ME SALVAR!'


'STUPEFY!' Gritou Rose. Um jato vermelho saiu de sua varinha e atingiu Hermione, fazendo-a rodopiar e cair no chão molhado daquele cemitério.


Hermione piscou os olhos e encarou o céu completamente nublado. Os pingos d'água caía em seu rosto e a incomodava de certa forma. Alguns zumbidos surgiram em seu ouvido. A chuva escorria pelo rosto, pescoço e pernas de Hermione. A saia cinza estava escura e a camisa branca oxford, graças aos feitiços dos elfos domésticos, não se tornava transparente. Os lábios estavam um pouco roxos pelo frio e ela tremia de raiva, frio, fraqueza e impotência.


"Eu matei Sirius Black... Eu matei Sirius Black!" Cantarolava uma certa Lestrange na sua cabeça. Hermione escutou passos e logo seus olhos castanhos se encontraram com antes azuis, agora negros, de Rose. "Os Lestrange causaram a loucura dos Longbottom. Bellatrix, Rabastan e Rodolphus Lestrange torturaram Frank e Alice Longbottom até ficarem loucos."


Rose encarou o rosto de Hermione. Os dentes da morena rangiam também pelo frio que a noite e a chuva causavam. O uniforme já completamente molhado pesando sobre o corpo da monitora.


'Quê? Vai me torturar até me deixar louca, Lestange?' Ela perguntou com uma careta no rosto. Rose apertou os olhos e segurou com mais força a própria varinha. Hermione piscou os olhos ao ver Tom Riddle observá-la por trás de Rose. O brilho avermelhado ainda se fazia presente em seus olhos grafites.


'Mudblood.' Ele disse com uma voz arrastada. Hermione sentiu o coração na boca. 'Em pensar que eu já a olhei como uma igual...'


Hermione viu um sorriso no rosto de Tom. Ela olhou confusa pra ele. Tom encarou o rosto em perfil de Rose, que engolia em seco e parecia tremer de frio mais do que qualquer pessoa ali presente no cemitério. 'Você quer torturá-la, Lestrange?'


Rose não respondeu. Ela mordeu os dentes e piscou os olhos mostrando a própria raiva nas pupilas negras. Hermione franziu a testa ao ver Rose apontar-lhe a varinha. Ela realmente iria torturá-la?


'Rose, o que está fazendo?' Perguntou Leslie assustada.


'Vamos, você pode fazer isso...' Hermione prendeu a respiração e levantou as sobrancelhas assustada ao ouvir a voz de Riddle ' Você tem a raiva. Você sabe o feitiço. Você tem a varinha.' O coração de Hermione batia quase na boca pela voz de Riddle e sua persuasão. Rose apertou os olhos e pareceu prender a respiração. O próprio rosto tremia, como se estivesse sentido alguma dor por dentro. A menina não parecia bem. 'O que a impede? Tem algo no meio que te faça proibi-la fazer isso? Ela desrespeitou sua família... Ela é uma Mudblood, Lestrange. Ela não merece a compaixão de um Puro-Sangue.'


Rose apertou forte a varinha enquanto apontava para o coração de Hermione. A castanha tinha a visão embaçada e as gotas da chuva atrapalhavam a sua própria visão enquanto deitada fracamente no chão do cemitério. Ela encarou os olhos da morena. O pescoço de Rose se inclinou um pouco para o lado enquanto os olhos azuis também se pintaram de vermelhos. Ela cerrou os punhos e virou o rosto para encarar os olhos de Tom Riddle.


Hermione piscou os olhos assustada quando percebeu Rose dar um soco no rosto de Voldemort. Tom cuspiu saliva e com expressão séria apontou a varinha para a monitora da Grifinória. Rose fez o mesmo. Hermione se forçou a levantar do chão e se pondo ao lado de Rose, encarou Voldemort. Ele viu a sombra de um sorriso se formar no canto dos lábios.


'Você acha que pode me derrotar?' Ele indagou a Rose desdenhoso.


'Do que está rindo, Marvolo?' Perguntou Hermione curiosa. Tom desviou os olhos para Hermione e o sorriso dele se alargou. Hermione sentiu as pernas tremerem. 'Agora tenho um bom motivo para matá-la, Mudblood.'


Hermione, pela primeira vez, notou que Mudblood suava muito diferente vindo de Tom Riddle. Ele conseguia colocar todo o nojo e desprezo naquela palavra, o que fazia Hermione se sentir realmente inferior.


'Não gosta quando eu a chamo de Sangue-Ruim, Mudblood?'


Hermione cerrou os dentes enquanto respirava forte. 'E você é muito limpo, não é, Marvolo?'


Tom Riddle franziu a testa confuso. Hermione se aproximou mais de Riddle. 'Pelo que sei, seu papai também era sangue-ruim, e isso não impediu da sua querida mamãe se apaixonar perdidamente por ele.' Hermione notou que Tom havia prendido a respiração. Hermione deu mais um passo a frente, seus corpos quase colados um no outro.


'O quê?' Ele indagou com os olhos grafites um pouco abertos. Hermione franziu as sobrancelhas um pouco confusa. 'O que está dizendo?'


'Você é mestiço por parte de seu pai, não? Você tem sua parte sangue-ruim...'


'Está...dizendo que... meu pai é... Trouxa?' Ele indagou com os olhos torcidos. Hermione piscou os olhos. Ele não sabia? Tom Riddle não sabia que seu pai era Trouxa?


'Você não sabia?'


Hermione percebeu que ele havia voltado a respirar, mas estava um pouco alterado. Ele negava com o rosto e tinha uma expressão dura. 'Achei que minha mãe fosse a Trouxa! Ela morreu de uma forma tão patética...'


'E o que tem? Só porque ela é bruxa não pode morrer?' Perguntou Rose levantando as sobrancelhas negras.


'Bruxos não morrem daquela forma! Bruxos são.. superiores! São.. melhores...' Ele disse olhando para o chão. A chuva escorrendo pelo rosto. Então era isso. Tom Riddle tinha a tola ideia de que bruxos poderiam evitar a morte. Riddle tinha a tola ideia de que bruxos jamais pudessem morrer de forma patética. 'Aquele... desgraçado!' Xingou o garoto com raiva.


Hermione fechou os olhos com força e sentiu uma fina dor de cabeça. Ela gemeu de dor e apoiou a mão direita sobre o lado temporal do crânio. "Droga! O que é isso agora?"


'Hermione, você está bem?'Perguntou Leslie ainda amarrada na lápide grande do cemitério. Rose virou o rosto e com um feitiço tentou afrouxar as correntes que prendiam a loira, mas não adiantara.


Quando a fina enxaqueca finalmente passara, Hermione respirou forte. Ela levantou o rosto e percebeu ainda a expressão de ódio de Riddle em saber que seu pai era o Trouxa. Ela viu os olhos se desviarem para o dela. 'Como sabe disso?' Hermione não respondeu. 'Como sabia do meu pai?'


'Quê? Achou que só você se divertia em Hogwarts espionando os outros, Riddle?' Tom manteve a expressão dura no rosto. 'Não me subestime, Marvolo. Sei mais coisas sobre você do que pode imaginar.'


Hermione aproximou-se do ouvido direito de Riddle.
'Não gosta de lembrar da sua natureza, Marvolo? De ser filho de um Sangue-Ruim que abandonou sua mãe? Que tem que viver naquele orfanato rodeado de trouxas? Que -'


'CRUCIO!' Tom Riddle gritou repentinamente. O feitiço atingiu Hermione com força e ela caiu no chão gritando e se contorcendo. As mãos trêmulas sangravam e mais alguns cortes no esôfago e nos pulmões pareceram existir. Os zumbidos voltaram em seus ouvidos e cãibras nas pernas fizeram Hermione torcer o rosto de dor. As agulhas e facas se misturavam com a força das gotas da chuva e mais forte parecia o efeito do feitiço. Os olhos castanhos exalaram lágrimas.


No entanto, sentiu um feitiço a atingir. Ennervate talvez? Outra vez sentiu um feitiço a atingir. Seu coração começava a entrar no seu ritmo normal. Os sentidos que antes se dissipavam agora haviam voltado com alguma força. Hermione abriu os olhos e viu que Riddle estava de pé e apontava a varinha para alguém á sua frente.


'Hermione, você está bem?' Perguntou Lestrange. Hermione sentiu uma onda de ódio ao lembrar aquilo. Ela reuniu a maior quantidade possível de força e tentou levantar. Respirando com dificuldade, ela apoiou a mão esquerda na chão do cemitério e forçou as pernas, as costas e o corpo subir para ficar de pé. Suas pernas tremiam pelo cansaço e o frio causado pela chuva estava deixando seus lábios arroxeados. Tom Riddle estava á sua frente, apontando a varinha para Rose.


'Você é fraca, Lestrange, por isso seus pais a desertaram.' Rose franziu as sobrancelhas irritada. 'Não irá fazer diferença se você morresse, não é?'


Hermione por um momento pensou que não seria tão mal. Menos uma Lestrange no mundo. Ela arregalou os olhos castanhos. O que estava pensando? Ficaria feliz se Riddle a matasse?


'Avada Kedav...'


Tom Riddle estancou repentinamente. Algo quente e desconhecido inundou seu corpo e o coração bateu forte.


Hermione tinha os braços encaixados sobre o corpo dele. O braço direito da menina apoiava-se sobre o tórax e o esquerdo estava um pouco mais embaixo, no abdômen. A respiração quente da menina perto do seu ouvido esquerdo fazia os pêlos da nuca se arrepiarem. Embora estivesse chovendo forte, Tom sentiu seu corpo todo se aquecer.


Hermione tinha o coração batendo desesperado dentro do peito. Seus braços estavam tão bem encaixados no corpo de Tom que ela tinha a impressão que se os tirasse, doeria. Sua circulação sanguínea estava incrivelmente fora do ritmo, e ela sentia todo o sangue percorrer pelo seu corpo. Ela viu gotas molharem o rosto de Riddle e acompanhou uma descer até o queixo e pingar na gravata verde-prateada de Hogwarts. O seu próprio sangue manchara um pouco as vestes do garoto e pela aproximação dos corpos, manchava também um pouco o rosto.


'Pare...' Pediu Hermione fracamente no ouvido dele. 'Não faça isso...'


Hermione tirou o braço direito de cima do tórax de Tom e sua mão alcançou a dele, entrelaçando-a. Ela foi abaixando a mão dele lentamente até que ele ficasse com a varinha apontada para o chão. Ela percebeu que Tom tinha a respiração acelerada. Hermione sentiu seu corpo entrar em torpor.


'Tire... suas mãos...imundas...de mim.' Mandou Riddle.


Hermione piscou os olhos e só então percebeu o que havia feito. Havia abraçado Voldemort. Abraçou Voldemort para impedir que ele matasse Rose! Ela sentiu a inércia ir embora. O que diabos deu nela pra ela abraçar Tom Riddle? Ela tirou os braços dele e se afastou. Ele virou e encarou os olhos castanhos dela.


Ela se perdeu nos olhos cinzas de Tom. Sua mente estava em branco, não pensava em nada, e só o que conseguia fazer era fitar os olhos de Voldemort. Voldemort... Voldemort! Ela piscou os olhos novamente e engoliu em seco. Outra vez, sua visão ficara turva.


Tom apontou a varinha para a de Hermione que estava no chão. Ele disse Accio e a varina de Hermione foi até a mão de Riddle. Ele a entregou. Hermione entendeu o que aquilo representava. Um duelo. Mais um duelo. Mas aquilo era muito perigoso. Ele poderia matá-la a qualquer momento, o que o impedia de fazê-lo antes era a vaga idéia de ela ser uma bruxa puro-sangue. E bem sabia que Riddle não teria compaixão dela, se logo antes já havia conjurado dois Cruciatus em seu peito.


'Ah, está com medo.' disse Tom sério.


'Não tenho medo de você, Marvolo.' respondeu Hermione olhando-o nos olhos. 'Quer duelar?'


'Vocês não vão duelar, têm que voltar a Hogwarts!' disse Rose de uma vez próxima a Leslie.


'Não, Lestrange! Só voltamos a Hogwarts quando salvemos Leslie, e se para salvá-la terei que duelar contra Riddle, assim seja.' Respondeu Hermione ainda encarando o garoto.


Riddle soltou um sorriso. 'Seu labirinto está afetado pela maldição Cruciatus, o que prejudica seu equilíbrio e sua visão. Sua mão direita está tremendo, o que faz os seus movimentos da varinha ficarem lentos, e suas pernas estão quase dormentes, o que a faz ser incapaz de desviar dos feitiços.'


'É? Então por que não aproveita esta maravilhosa chance para me matar, Riddle?' perguntou Hermione tentando não soltar gemidos de dor.


'Cheguei a conclusão que és masoquista, Mudblood.' disse Tom sorrindo. 'Quer duelar, não é? Então vamos. Só nós dois. Se sua madrinha interferir, ela morre; se os seus amigos interferirem, morrem; se Malfoy interferir, ele morre. Justo, não é?'


Hermione arregalou os olhos. Duelar valendo vidas não era exatamente o que ela queria. Hermione olhou para o cemitério em volta. Percebeu que Hugo estava caído no chão desacordado, bem como Fenrir. Fox e Presto estavam presos pelo feitiço Incarcerous de Malfoy. Abraxas provavelmente não interferiria, Rose também não, mas tinha Hugo e Fenrir, que Hermione não sabia o que iriam fazer se acordassem. E de certo modo, Riddle estava certo, ela estava fraca pra um duelo intenso e qualquer feitiço muito forte poderia ser capaz até mesmo de matá-la.


'Importando-se com seus amigos, não é?' Indagou Tom para Hermione. 'Por isso não compartilho amizade. Ela se torna nossa maior fraqueza e nos impede de ser quem gostaríamos de ser. Olhe pra você, Mudblood, tem um raro talento para magia, mas sua integridade, moralidade e generosidade impedem de ser quem poderia se tornar.'


'Você é vil, Riddle, pensa dessa forma porque deixa a maldade te corromper...' Ela respondeu engolindo saliva.


'Não existe o bem e o mal, só existe o poder.' Respondeu calmo. 'Bem e Mal são os nomes que colocamos para designar nossas próprias ações de acordo com o que os outros acreditam.'


'Não é verdade! Existe o bem e o mal, você só se deixou levar pela ganância de poder e isso o impede de ver as coisas tais quais elas são!'


'Acredita realmente que há o bem e o mal?' Perguntou Riddle para Hermione curioso. 'Sabe, na verdade, o bem é apenas algo abstrato que precisa do mal para existir. E a maldade só existe para que o bem triunfe sobre ela!'


Hermione continuava apenas mirando o garoto. Ela achava curioso o fato de que Riddle parecigostar de conversar com ela. Ele parecia querer dividir com ela sua filosofia e suas visões. Hermione não soube dizer o porquê, mas ela realmente achava que o garoto ainda era um garoto. Não Lorde Voldemort. Era apenas um garoto tendo um embargo de uma filosofia extremista. Um garoto que passara a vida inteira sozinho e que achara forças nas trevas e escuridão porque ninguém realmente tentou mostrar que se importava com ele. Era apenas um garoto que tinha medo de morrer...


'Eu estou além do bem e do mal, Mudblood...'


'Tom, deixe-me duelar com a sangue-ruim.' Pediu Malfoy do outro lado. Hermione viu Riddle olhar pesadamente para o loiro.


'Ah, quando ela está fraca demais, você quer enfrentá-la, não é, Malfoy? Não me lembro de você parecer forte quando ela está em inteiras condições de duelar..'Falou para o loiro desgostoso. 'Sempre tão corajoso...' Ironizou Riddle.


'Fale o que quiser, Riddle. Palavras não me ferem.'


'Não se preocupe, Malfoy, o que usarei para ferir você não serão palavras...' Ele apontou a varinha para Malfoy.


Hermione, automaticamente, encostou a varinha no coração de Tom. Ele a olhou curioso. 'Não se distraia, Marvolo, pode morrer a qualquer segundo.'


Ele sorriu parecendo divertido. Hermione não entendeu a graça que ele sentia. 'Ah, vai me matar, Mudblood?' Indagou Riddle sorrindo. Hermione sentiu seu sangue esquentar ao ouvir mudblood. 'Você não tem a coragem para me matar...mesmo se soltar um Avada Kedavra não será capaz de me matar pois não tem o ódio necessário para realizar tal feitiço. Se não fosse tão previsível, talvez, me sentiria desconfortável nessa situação, mas na verdade, não estou. Nem um pouco.'


Hermione trancou os dentes. Como ele conseguia? Como ele conseguia manter-se tão calmo e frio diante daquilo? Como ele era capaz de saber que ela não o mataria? Ela tinha que matá-lo! Prometera a Harry! Prometera a Ron! "Por favor, Hermione!" Talvez aquela fosse a hora. Na verdade, era a única chance que ela teria! Havia percebido isso! Nunca conseguiria outra oportunidade daquela. Estava em Glast Heim, uma cidade sem vestígios de magia … Mataria Tom Riddle, livraria Leslie, voltaria para Hogwarts e voltaria para a sua época, viveria com seus amigos e Harry teria seus pais de volta! E todos aqueles que Voldemort matou estariam vivos...


'Viu? Você não consegue..' Hermione abaixou os olhos castanhos. Por quê? Por que ela não conseguia? Qual era a verdadeira diferença de um Aspersio para um Avada Kedavra? 'Você tem medo de matar... e o medo é o pai da moralidade.'


Hermione abaixou a varinha. Ele tinha razão...ela não conseguia. Não tinha raiva suficiente para matá-lo. Ele teria que fazê-la ficar com ódio necessário. Mas para isso precisava aborrecê-lo também, mas se ela o aborrecesse, ela que poderia morrer. Mas...se todo aquele tempo ele não foi capaz de matá-la, então ele realmente não a mataria. Não naquela hora. Hermione abriu um sorriso. Tom franziu a testa.


'Vê a si mesmo como o melhor bruxo de todos os tempos, não é, Tom?' Indagou Hermione olhando para ele. 'O que é capaz de fazer?'


Ele piscou os olhos confuso. Hermione soltou outro sorriso. 'O que é capaz de fazer? Digo, além de matar ou soltar crucius? O que realmente de grande você faz?'


'O que quer dizer?'


Hermione respirou fundo. Seu peito doeu um pouco. 'Você é um animago?' Perguntou gentilmente para ele.


'Não...'


'Você é capaz de inventar feitiços próprios?'


'Não...'


'Você consegue realizar feitiços sem o uso da sua varinha?'


'Não...'


'Você é imortal?'


'Não...'


'Então o que faz você achar que é o melhor bruxo de todos os tempos?' Perguntou curiosa e meio divertida. 'Sabe, há tantos bruxos melhores do que você!... Merlin, Morgan Le Fay, Alvo Dumbledore, Nicholas Flamel, Paracelso, Rowena Ravenclaw, Helga Hufflepuff, Godric Gryffindor e seu ídolo, Salazar Slytherin. Todos eles são e foram mais poderosos que você. Só porque é capaz de matar, não quer dizer que seja realmente um grande bruxo.'


'Você também não é capaz de realizar as coisas das quais falou...' Comentou Tom apertando os olhos.


'Eu nunca me achei a melhor bruxa de todos os tempos.' Respondeu normal.


'Se não se achar grande, nunca será.'


'E se eu nunca quiser ser?'


'É mais medíocre do que pensei'. Respondeu. Hermione cerrou os punhos. 'Talvez, tenha um pouco de razão...eu ainda não sou o maior bruxo de todos os tempos porque ainda não sou completo. Mas o fato de haver bruxos mais poderosos do que eu não significa que não posso tentar ultrapassá-los.'


'Pode tentar o quanto quiser, nunca será melhores do que eles. Esses bruxos passaram todas suas vidas em prol da magia e fizeram contribuições que você não fará. Sua ambição de ser o melhor bruxo do mundo chega a ser ridícula.'


'Não existe ambições ridículas... Só o que existe são pessoas ridículas que não são capazes de lutar pelo que acreditam. E você parece ser uma delas... o que é patético, senhorita Granger.'


Hermione sentiu seu coração bater forte. Fazia tempo que ele não a chamava de senhorita Granger. Ela piscou os olhos e inexplicavelmente, viu que ele tinha razão. Se as pessoas não lutarem pelo que acreditam nunca serão capazes de serem que gostariam de serem. Se ela não tivesse lutando com o F.A.L.E contra a escravidão dos elfos domésticos, estaria aceitando sistemas podres e injustos. Estava sendo, de fato...patética.


'Vamos, Senhorita Granger, mostre-me o que é capaz de fazer de verdade.' Hermione levantou os olhos castanhos. O corpo todo ardia e uma febre parecia se instalar. Hermione tinha o coração batendo forte e arrítmico. Ela não podia duelar com ele. Estava fraca demais e poderia ser perigoso.


Tom sorriu para ela. 'A verdadeira coragem não está em não ter medo de nada, mas em superar seus medos.' Hermione abriu os olhos e o corpo enrijeceu.


'O quê?'


'Não foi isso que disseste ao seu amigo grifinório? Se o induz a ultrapassar seus medos, porque não faz o mesmo consigo?' Hermione recuou um passo engolindo em seco. De nada adiantara, pois Riddle avançara um passo novamente. 'Sente-se bem em manipular os outros, Mudblood? Sente-se bem em forçá-los a passarem seus medos enquanto você se protege numa moralidade anônima? Não parece justo, não é?'


Hermione respirava forte e ofegante com o coração batendo quase entre as tripas. O quê? O que ele estava dizendo? Ela não era manipuladora! Ela não se escondia numa máscara de moralidade! 'Está engando, Riddle! Você não me acuse de manipuladora...Você não me conhece!'


'Sim, é verdade, não lhe conheço. Embora seja uma das coisas que mais quisera, senhorita Granger.'


Uma tontura a embriagou; os olhos castanhos ficaram imóveis; e a partir dos dedos das mãos fora capaz de sentir a circulação sanguínea forte. Tom deu um sorriso torto e apontou a varinha em direção a Rose. Hermione franziu a testa.


'Quero ver até que ponto você é capaz de chegar.' Ele desafiou sorridente. 'CRUCIO!'


'NÃO!' Gritou Hermione.


Rose gritou e caiu no chão se contorcendo. Hermione arregalou os olhos. Ela negava com a cabeça e recuou alguns passos. 'Não... Pare! Riddle, PARE COM ISSO!' Ela mandou.


'Por que deveria?' Indagou normal para ela. Hermione cerrou os punhos. 'Leve isso para o pessoal, Mudblood.'


Hermione caminhou até ficar mais perto dele. 'Não pode fazer isso! Deixe-a em paz!'


'Você se importa? Se bem me lembro você pareceu ficar com raiva dela quando descobriu que ela era Lestrange...'


'É diferente, Riddle! Pare com isso!' Pediu Hermione ao ver que Rose gritava e se contorcia de forma violenta contra o chão do cemitério.


'Não.'


Ódio.


Foi o que sentiu. Esse ódio resultou num soco no rosto de Riddle. Sua mão direita ainda estava no ar, com o punho cerrado e uma dor nos ossos a incomodava. Seu peito subia e descia num ritmo frenético. Riddle estava com o rosto virado para a esquerda, e um filete de sangue descia do canto direito da boca. Hermione puxou Riddle pela gravata de uma vez e o olhou nos olhos.


'Não queira me ver com raiva, Marvolo, pois verá o demônio. Desfaça esse feitiço ou vai encontrar sua mãe no inferno! E acredite, minha moralidade foi lá para baixo.'


Hermione viu um sorriso no rosto de Riddle. 'O ódio é um dos mais belos sentimentos! Ele reergue suas pernas e faz você caminhar por caminhos de vidro e brasa. Vamos, Mudblood, mostre-me seu ódio.'


'CRUCIO!' Disse Hermione de repente. Ela deu as costas a Riddle e correu em direção a Rose que ainda se contorcia no chão do cemitério. 'Você está bem?' Ela perguntou preocupada. Rose não respondeu por ainda se contorcer.


'Hermione, precisamos sair daqui!' Disse Leslie com a voz dura. Hermione olhou para a loira e viu que a menina havia exalado algumas lágrimas. 'Precisamos voltar a Hogwarts!' Hermione olhou em volta do cemitério procurando por algo que ela nem sabia o que era exatamente. Viu Abraxas Malfoy com os braços cruzados enquanto apoiava as costas em uma árvore grossa. Ele parecia ter um sorriso no rosto.


Hermione levantou-se e apontou a varinha para o garoto. 'Solte a Leslie, Malfoy!' Ele parou de rir e olhou para a ponta da varinha de Hermione parecendo um pouco preocupado. Ele desviou os olhos verdes para Leslie presa à lápide e com um feitiço não-verbal, as correntes que prendiam Leslie se soltaram. Ela correu e ficou ao lado de Rose tentando ajudá-la a se levantar.


Hermione franziu a testa quando ouviu uma risada. Ela virou o rosto e percebeu Tom Riddle Jr rindo enquanto se levantava do chão. Os olhos grafites novamente se pintaram de vermelhos e o filete de sangue estancara no canto da boca. Tom ria. Não como uma risada divertida. Era uma risada quase de satisfação. Alta, fria e sínica. "Ele é louco..." Pensou Hermione.


'Sua moralidade foi lá para baixo?' Ele riu ainda passando a boca nas costas da mão direita, limpando o sangue. 'Vamos, Mudblood, faça sua moralidade desaparecer.'


Ela franziu as sobrancelhas. 'Quer que eu mate você?'


'Quero ver você tentar.' Ele instigou.


'Hermione?' Chamou Leslie e a castanha olhou para ela. 'Faça-os parar... HERMIONE CUIDADO!'


Hermione virou o rosto e viu Abraxas conjurando um feitiço não-verbal. O feitiço a atingiu um pouco abaixo do peito e ela caiu mole no chão. Como se facas invisíveis machucassem Hermione, ferimentos na testa, rosto, mãos, pernas, costas, peito pareciam ser feitos. A camisa branca oxford logo se tingiu de vermelho no vale dos seios. No rosto, sangue escorria por um ferimento sobre a testa no canto superior esquerdo. As narinas também sangravam, assim como os ouvidos. Parecia que Hermione sangrava por todos os poros possíveis do corpo. Um sangue vermelho escuro.


Quando o feitiço finalmente cessou, Hermione se surpreendera por ainda estar viva. Ela nunca havia sentido tão fraca e tantas dores antes na vida. A vista estava embaçada e algumas bolinhas brancas existiam em conjunto. Ela respirava fracamente enquanto tinha as forças restantes para encarar o rosto humano de Voldemort. Iria morrer ali? Iria morrer sem ver Harry e Ron de novo?


'Está morrendo, Mudblood.' Ele disse com uma voz diferente. 'Seu corpo está muito desgastado pelos feitiços. Mesmo que queira se levantar e duelar, seu corpo não a obedece pela fraqueza. Se continuar a forçar seu corpo a receber feitiços bruscos pode morrer.' Disse friamente olhando para os olhos âmbares de Hermione. 'Não tem medo de morrer, Mudblood?'


Hermione sentiu algumas gotas de chuva entrar no seu ouvido. A visão dela se embaçou mais. "Não tem medo de morrer, Mudblood?" Mais uma lágrima desceu de seus olhos castanhos, se misturando com o sangue, escorrendo para os cantos do rosto de Hermione. Ela respirou, sentindo dor, mas fez um sorriso simplório.


'Não.' Respondeu fracamente. A respiração diminuía vagarosamente enquanto os olhos pesavam.


'Por quê?' Perguntou Riddle franzindo as sobrancelhas negras.


Hermione esboçou um sorriso singelo. Depois de alguns segundos, seus olhos cor de mel brilharam intensamente.'É a vida... não é?' Ela indagou fazendo o máximo para não fechar os olhos. 'Nascer... para viver... sem saber...como ou quando... morrer...' Ele se calara, pensativo. 'É.. a única.. certeza da vida...'


'Única certeza da vida?'


'A única... certeza da vida humana... é... sem exceções... a morte.'


Ele cerrou os dentes parecendo inconformado com aquilo. 'Como pode aceitar a morte desse jeito?'


'E por que não... aceitar?'


'VOCÊ ESTÁ MORRENDO, MENINA!' Ele gritou com os olhos negros assustados. Ele não entendia. Não fazia sentido alguém aceitar tão pateticamente a morte!


'Não é ruim... Tom...' A voz saíra fraca, leve e gentil. O nome Tom soara, de alguma forma... bonito. Hermione se perguntou porque as pessoas o chamavam de Riddle e não somente de Tom. Ele piscou os olhos e o tom negro que existia desapareceu. Os olhos grafites retornaram e Hermione, sem saber o porquê, sorriu.


'Não é ruim?'


'Encontrarei... as pessoas que... me ajudaram a ser quem...eu sou. Mamãe, papai... Ron... Harry... Luna.. Gina... Bichento...' Ela disse quase inaudível. 'E você, Tom... quem encontraria?'


Hermione percebeu que ele ficou mirando o chão do cemitério. Parado. Talvez pensando em alguém que poderia encontrar. Ele encontrou os olhos castanhos. 'Ninguém...' Respondeu friamente levantando as sobrancelhas.


'Ninguém? Hm...' Respondeu timidamente. 'E-espero que... encontre alguém.' E aquilo foi sincero. Ela realmente esperava que ele encontrasse alguém.


'Onde vai encontrá-los?' Ele perguntou curioso.


'Talvez em um campo de lírios... ou um jardim...' Os pingos de chuva machucavam Hermione e pela força dos feitiços que levara a fazia pesar os olhos.


'O campo de lírios que você fala é o céu?' Perguntou com uma voz baixa, misturada de curiosidade e informalidade.


'Não... é só o meu céu.' Disse sorrindo. Hermione pode-se ver num campo de lírios brancos. Ela esboçou outro sorriso. Viu dentes-de-leão voarem calmamente sobre o campo enquanto alguns borrões apareciam a ela. Poderiam ser seus amigos. 'Como seria o seu?'


Hermione ficou esperando a resposta de Riddle, mas ela não veio. Ficara um silêncio entre eles. Hermione pôde sentir que, naquele silêncio bruto, escondia-se a bruta vontade de Riddle de gritar. 'Você... está acima...do bem e... do mal... que não consegue ver... nada de bom... ou mesmo de ruim... é só um vácuo, não é? E estás sozinho, sem ninguém...'


'Não tenha pena de mim...' Ele rebateu a interrompendo. 'Eu não me importo de estar sozinho!' Disse cerrando os punhos.


Hermione sentiu os olhos começarem a se fechar. 'Se importa...sim. Todos se importam... Ninguém gosta...da solidão... da indiferença... da rejeição...' Os olhos embaçados de sangue e lágrimas fitaram os grafites. "São bonitos".


'E se não for como imagina?' Ele perguntou parecendo preocupado com aquilo. Os olhos de Hermione fechavam-se vagarosamente. 'Se não tiver lírios e não encontrar ninguém? Nem seus amigos ou o Bichano?'


'É... Bichento.'


'E se não encontrá-lo? Se o seu céu também for só um vácuo?'


Um vácuo? Seria só um vácuo também? 'Então não sou muito diferente de você... Tom.'


Hermione sentiu seu coração entrar em espasmo e doer. E ela finalmente se permitiu fechou os olhos embaçados, sentindo a consciência partir e escuridão profunda intervier em sua mente.




Hermione mexeu seus dedos e sentiu algo sobre eles. Era áspero e parecia estar enrolado em ambas as mãos. Talvez fossem bandagens. Ela respirava tão vagarosamente que o movimento natural de subida e descida do peito era quase imperceptível. Sentia frio. Muito frio. Ela abriu os olhos pesados e quase não foi possível reconhecer algo com a vista tão embaçada.


'Ah, vejo que finalmente acordaste, senhorita Granger...' Disse uma voz melodiosa.
Hermione demorou a reconhecer o teto de Hogwarts. Quando o fez, percebeu que estava de volta à escola e na Ala Hospitalar. A voz melodiosa e conhecida que escutara era proveniente de Tom Riddle que estava sentado em um banco ao lado de sua cama. Ela não precisou falar nada para que ele começasse a se explicar. 'Você ficou por mais de três dias desacordada.'


Hermione desviou o olhar para o teto. Três dias? Estava há mais de três dias desacordada? Sem assistir aulas? Hermione quis falar algo, mas não conseguiu. Deixou-se ficar mirando o teto de Hogwarts. 'Você está bem?' Ele perguntou e ela não respondeu.


'Não se preocupe, senhorita Granger, sua labirintite está curada. Suas mãos estão enfaixadas pelo ferimento que tivera com o feitiço de Malfoy, mas poderá sair dentro de dois dias, segundo o curandeiro da escola. Teve danos maiores internamente, obviamente pelos feitiços recebidos no peito, mas já está bem.'


Hermione pôde perceber que a voz dele estava diferente. Tinha um leve sotaque escocês misturando-se com a rouquidão de um típico garoto daquela idade. Ao mesmo tempo, era calma e segura. Agradava Hermione.


Hermione quis fugir, correr dali. Ela desviou os olhos e fitou os cinzas do sonserino. 'Você devia saber que Malfoy é oportunista e passional, fazendo, ocasionalmente, besteiras.'


Hermione o xingou mentalmente. "Deveria tê-lo matado! Droga, Hermione! Sua burra!".


Ele continuara falando sobre algo que Hermione não se dera a atenção de escutar. Hermione continha os punhos cerrados e os olhos cor de mel sobre o garoto. Alguns segundos depois, seus olhos percorreram todo o rosto de Riddle. O rosto pálido e jovem; o nariz fino; as sobrancelhas negras e grossas; os olhos. Ela pareceu perder a capacidade de piscar os olhos, pois suas pálpebras nem se mexiam. Seus ouvidos não escutavam o que o garoto dizia. Seus olhos apenas encaravam o garoto ali á sua frente, vendo-o abrir e fechar os lábios, sem que um som audível saísse da sua boca.


"E se eu o desse veneno?" Perguntou-se. Era uma boa idéia. Ela o envenenaria, e ninguém saberia que fora ela. Por que desconfiariam dela? Era isso que ia fazer, ela ia esperar os dias até melhorar e faria o veneno, daria a ele de algum jeito, arrumaria um jeito. Pronto. Tudo resolvido. Se ela não tinha coragem de matá-lo com Avada Kedavra então o mataria da forma mais simplória que existia.


Hermione congelou quando ela subiu os olhos e viu os cinzas de Riddle. Ele não estava mais de perfil e sim com o rosto de frente a Hermione. A postura ereta e as mãos dentro dos bolsos da calça escura. Ela sentiu o coração bater forte. Medo. Ela piscou os olhos. Não. Não era medo. Hermione já não tinha mais medo de Tom Riddle. Então, porque seu coração estava batendo daquele jeito?


'Não está mais com ódio?' Perguntou Riddle curioso. 'Pena. Você fica interessante quando está com ódio.'


'Como...consegue?' Perguntou Hermione confusa. Ela respirou fundo e descobriu que estava mais com sono do fraca. 'Como consegue...se manter tão... calmo, tão frio?' 'Quero dizer... você sabia que naquela hora eu estava com raiva... e sabia que provavelmente estava no meu limite... e se eu o ultrapassasse... eu poderia matá-lo... Mas você não se intimidou... na verdade, você estava alimentando...propositalmente aquele ódio... por quê?'


'Porque eu quis.' Respondeu normal.


'Eu fiquei...com medo do que poderia fazer.' Disse Hermione olhando para ele. 'Eu sabia o que estava fazendo...mas tinha medo de perder o controle e...'


'Não poder mais se controlar e fazer coisas das quais se arrependeria...'


'Exatamente!' Falou piscando os olhos. 'Mas eu não posso... me arrepender das coisas que faço... E não poderia me arrepender... se eu... matasse você!'


'É pelas suas próprias virtudes que se é mais bem castigado.'


'O quê?' Indagou Hermione surpresa.


'Você acredita na bondade e na perversidade. Assim sendo, você é boa. E essa é sua virtude...sua virtude não a deixa fazer as coisas que realmente precisa fazer, e isso se torna sua própria tortura e castigo. Você queria me matar, não queria?' Ele perguntou com os olhos juntos. Hermione não soube o que dizer, mas, por fim, respondeu.


'Queria...'


'Mas não o fez, nem ao menos tentou...'


"Quer que eu mate você?"


"Quero ver você tentar..."


"Quero ver até onde você é capaz de chegar."

'Falaste aquilo porque sabia que eu... não conseguiria. Só queria fazer com que eu pelo menos... tentasse porque se eu tentasse, talvez... eu realmente... pudesse matá-lo. Você só queria ver aonde eu poderia ir...' Falou Hermione para si mesmo.


'Mas de fato, Mudblood, você é previsível.'


Ela fechou os olhos e dobrou os dedos dos pés pelo frio que sentia. 'O que está fazendo aqui?' Ela perguntou tomando coragem para perguntar o que estava querendo desde o momento em que vira ele ali.


'Um bom monitor-chefe deve sempre zelar pelos alunos de Hogwarts.'


'Sínico.' Ela chutou.


'Não, eu não sou sínico, senhorita Granger. Eu salvei você, deveria me agradecer.' Hermione franziu a testa. Ela se forçou e sentou-se sobre a cama. Só então percebeu que também tinha faixas em volta dos seios por baixo da camisa oxford. Ela cerrou os dentes e o encarou.


'O quê?'


'Eu a salvei. Você estava morrendo...'


"VOCÊ ESTÁ MORRENDO, MENINA!"


'E por que me salvou?' Perguntou Hermione olhando para ele.


'Não sei, mas não queria que morresse.'


Hermione prendeu a respiração incisivamente. Seus pêlos do corpo se arrepiaram e sentiu uma pequena sensação de calor. Alguns segundos depois, engoliu duro. Seu corpo estava tenso e não sabia bem o que fazer para ocultar a insegurança que tomava conta da própria alma.


'Por quê?'


'Porque não gostaria.'


'Impulso?'


'Não. Eu não queria que morresse, então, a salvei, propositalmente. Pessoas normais agradeceriam.' Ele disse entre os dentes.


'Pessoas normais não têm a idéia do que você é capaz.'


Hermione viu um sorriso no rosto dele. 'E você tem?'


'Depois do que fez comigo?' Ela indagou com raiva.


'Você pediu por aquilo, Mudblood.' Ele respondeu duro.


'Não faz sentido.' Ela disse negando com a cabeça. 'Você me detesta pelo que sou e pelo que disse. E me salva da morte?'


'Eu a salvei. De propósito.' Repetiu abrindo um sorriso. Hermione juntou os olhos. 'Sei exatamente o que fiz, Mudblood. Você agora tem uma dívida comigo e terá que pagá-la quando eu precisar. E isso não se pode recusar pois é uma dívida bruxa. E você sabe como são as leis bruxas, não sabe?'


Hermione estancou, arregalando os olhos castanhos. Ele tinha razão. Ela agora tinha uma dívida com ele. Ela então não poderia mais matá-lo. Se ela o matasse, ela morreria também! "MERDA!" "DESGRAÇADO!" Hermione fechou os olhos com força e escutou uma risada de Riddle.


'Você pensou nisso?' Ela perguntou com dores no peito. 'Você calculou isso? Calculou para que...'


'Aprendesse a não ser patética.' Ele completou fechando a cara. Hermione olhou para ele. 'Morrer daquele jeito... Ninguém pode morrer daquele jeito!'


Hermione franziu a testa. Seu coração bateu forte. Lembrou-se então de quando havia abraçado Tom em Glast Heim num ato de desespero. Pôde sentir seus pelos se arrepiarem e seu corpo entrar em torpor mental.


'Você me salvou...' Ela disse olhando no fundo dos olhos grafites de Tom. Ela percebeu que os rostos dos dois estavam tão próximos que a respiração de cada um atingiam-lhes. 'Mas não pense que por isso você se livrou de mim... Marvolo...'


Ele sorriu torto. 'Eu não quero me livrar de você...Mudblood...'


Seu corpo enrijeceu ao escutar aquilo. O coração batia estrondosamente fora de ritmo e sua respiração pareceu cansar-se de sentir presa. Hermione apenas deixou-se a sentir e escutar os batimentos cardíacos um pouco exagerados dentro do peito.


De uma vez, repentinamente, Hermione pressionou os próprios lábios nos de Tom. Ela sentiu seu corpo enrijecer e esquentar-se completamente. Hermione sentiu sua língua encontrar a dele e então percebeu o que estava fazendo e empurrou-o de uma vez. Ela respirava de forma paranóica.


Riddle olhou pra ela com uma expressão dura. 'Eu odeio você, Mudblood.' Soltou com uma careta de asco.


Hermione não respondeu. Ela sentiu os olhos castanhos arderem e com força, empurrou Tom, fazendo-o cair no chão da enfermaria. Ela fechou os olhos e correu para fora da Ala Hospitalar deixando algumas lágrimas escorrer pelos olhos.


Riddle ficou a mirar a menina ir embora com o coração descompassado. Ele engoliu em seco e levantou-se do chão, batendo as mãos nas calças, limpando-as da sujeira. Guardou as mãos nos bolsos da calça do uniforme novamente e deixou a enfermaria caminhando devagar cabisbaixo. O que diabos ela fizera? Por que fizera aquilo? Estaria ela fazendo um jogo também? Estaria ela manipulando ele? Ele passou a língua sobre os lábios. Uma coisa ele sabia...


Ele queria Hermione. Todinha pra ele.




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