ÚNICO



PALÍNDROMO



- Oi, Hannah – disse Neville ficando logo vermelho. – Uma cerveja amanteigada, por favor!
- Olá, Neville. Como andam as coisas em Hogwarts?
- Hum... Como sempre, entende?
- Entendo... – respondi, sentindo minhas bochechas arderem. Droga, Hannah, será que você não pode agir normalmente?

Um cliente, sentado logo na entrada, acena pedindo atenção.

- Eu vou... er... ali e...
- Sem problemas, Hannah.

Anoto o pedido, deixo-o na cozinha, e volto o mais depressa possível para o balcão. Sorrio assim que vejo Neville levantar a cabeça, e ele se engasga com a cerveja.

- Oh, Meu Merlin! – falo dando uns tapinhas nas costas dele.
- Ok, eu estou bem! – ele tenta falar, levantando os braços.
- Tem certeza? Por que eu tenho, quero dizer, tive uma tia-avó que se engasgou com um pedaço de... – aos poucos vou parando de falar, por que Neville está me olhando muito intensamente, apesar de não parecer escutar.
- E ela...? – perguntou constrangido.
- Ah, sim. Mas, já faz muito tempo – digo dando de ombros. – De qualquer forma, poderíamos falar de algo interessante.
- Será que madame Rosmerta não se importaria?
- Não, está vazio hoje. Na verdade, O Três Vassouras só parece ter vida mesmo nos fins de semana e nas férias – falei sentando-me num dos bancos ao lado dele.
- Certo, então...
- O que você costuma fazer aos finais de semana? – me vejo perguntar antes de pensar direito. Ótimo, Hannah, agora ele vai achar que o está convidando e... Não que isso seja uma grande mentira, mas...
- Eu costumo... Er...
- Desculpe. Desculpe, eu não deveria ter perguntado. Provavelmente você tem assuntos pessoais para resolver e... Eu só perguntei por que você não costuma aparecer.
- Bem, mas da última vez que vim aqui no bar você não estava.
- Oras! Eu também mereço uma folga, não? – digo rindo e vendo-o abrir um sorriso.
- Hannah, eu vou dormir – diz Rosmerta surgindo de trás de cortina. – Quando os clientes fecharem as contas você fecha o bar para mim?
- Claro!
- Ei, moça, traz a minha conta aí! – gritou o cliente, muito sem educação.
- Pode deixar – disse minha chefe. Neville e eu esperamos ela e o cara saírem para continuarmos a conversa.
- Sabe, Hannah, eu... – ele ficou bastante vermelho.
- Pode dizer!
- Eu não achava que fosse tão legal quanto... é. Aquela vez em que você usou o distintivo, apóie Cedric...
- Bem, ele era da minha casa. E todos sabem que a Lufa-Lufa não é tão reconhecida quanto merece. Vocês tinham o Potter na sua casa, era bem...
- Entendo. Mas eu vi você em Hogwarts quando Harry precisou.
- Lufanos são justos, certo? Eu não poderia apoiar o outro lado, não depois que minha mãe... e também não poderia me omitir. – Levanto-me para pegar uma garrafa de vinho de salgueiro. Sirvo para mim e Neville e torno a me sentar. – Eu achei fantástica aquela história de você cortar a cabeça da cobra de Você-Sabe-Quem.
- É... Bem...
- Não seja modesto. Foi... incrível!
- Hannah...

Bebo mais um gole de vinho, a língua se amortece em minha boca, a mão segura mais frouxa a taça.

- Diga Neville.
- Sabia que... que o seu nome é um palíndromo? – ele diz baixando os olhos pra taça e bebendo um gole.
- Um palíndromo?
- É. Palavras que dá pra ler de trás pra frente, sabe?
- Ah, bem... eu nunca tinha pensado nisso. Que legal!
- Pois é... Então, vou deixar você dormir. Já está tarde e... – ele se levanta e veste o casaco, que estava pendurado numa cadeira até então.
- Ah, imagina! Não é incômodo nenhum.
- Eu realmente tenho que ir.
- Bem, já que é assim – digo o pegando pelo braço. – Venha, eu te acompanho até a porta.

Minha mão gelada entre seu braço e suas costelas fica quentinha até chegarmos à porta. E ele fica uma graça com as bochechas vermelhas de vergonha e álcool.

- Nesse fim de semana em especial, você vai fazer alguma coisa, professor Neville? – pergunto me virando para ele.
- Eu? Ah... bem... não.
- Por que eu pensei em... ir tomar um sorvete no Beco Diagonal, ou sei lá. Você às vezes me parece tão sozinho.

Ele fica mudo, me encarando com a boca entreaberta. De repente percebo que foi um erro fazer o convite. É óbvio que ele não vai aceitar, sua vida de professor é bem mais importante. Ele iria sair com uma garçonete que nem terminou Hogwarts?

- A que horas eu passo aqui para te pegar, Hannah?
- Que tal às quatro?
- Ótimo.

Ficamos parados, nos encarando. Um vento frio invade o vilarejo e sacode os cabelos de Neville e meu avental. Neville me olha vidrado.

- Hannah, eu posso... te beijar?
- Achei que nunca fosse perguntar – digo me pendurando em seu pescoço e grudando minha boca na dele. Ele segura, com muita cautela, minha cintura. Minhas mãos passeiam na gola de seu casaco e em seus cabelos. E o beijo não é tão tímido quanto eu imaginava. É... muito bom.

- Então eu vou... er... – ele fala todo descabelo e arfando um pouco.
- Boa noite, Neville. E quem sabe, talvez, a gente não vá numa danceteria depois? Ouvi dizer que você é um ótimo dançarino.

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