Como na primeira vez
— Há quanto tempo estou aqui? - rosnou Snape assim que percebeu ser Kassandra quem entrara no quarto.
— Duas semanas. Mas não se preocupe, você pode remediar a situação a qualquer minuto, e seu mestre nem irá perceber o que aconteceu.
Surpreendentemente, ela se aproximou, descobriu-o e o ajudou a sentar.
— Está mais do que na hora de você se exercitar - murmurou.
Contrafeito, ele se apoiou em Kassandra e se pôs de pé.
— Por que está me ajudando? - perguntou Snape, enquanto caminhavam lentamente pela varanda.
— Porque eu gosto de você e sei que não faria mal a ninguém.
— Você não me conhece, Kassandra.
— Severo - disse ela, fazendo Snape estancar -, você queria proteger Lilly, por que então está à procura dela? Você a ama, não é? Então por que quer entregá-la a seu mestre?
— Não quero entregá-la, quero entregar o filho dela...
— E não é a mesma coisa?
— Nunca.
Kassandra riu e puxou Snape para que ele continuasse a andar. Não caminharam muito, somente até o banco de uma árvore ao lado do estábulo.
— Você acha que entregando Tiago e o filho dele ao seu mestre, Lilly ficará com você? Seu mestre lhe prometeu isso?
Snape não responde, nem ao menos a fitou.
— Deixe-os... eu sei que você pode encontrá-los... mas deixe-os, por favor.
— E deixar que o menino cresça e destrua tudo o que nós construímos?
— O que construíram? Um mundo de ódio e medo? De oprimidos e sufocados, Severo?
— Você se acha no direito de me aconselhar... era sempre a primeira ao lado dele... Sempre disposta a tudo...
— Não.
— Sim. Sim, senhora.
— Não – murmurou olhando para o vestido florido, algo que ela jamais pensara que pudesse usar. - Foi comigo como é com você.
— Ah - ele gargalhou alto e sentiu uma fisgada no peito. - Como é comigo?
— Severo - disse com gentileza -, ele tem muito poder sobre você, mas em se tratando de amor, o lorde não pode vencer. Por isso lhe peço outra vez, não busque por vingança. Esqueça o passado e deixe que a profecia se cumpra.
— E quer que eu fique aqui com você - ironizou.
— Mesmo que fosse meu maior desejo, jamais lhe pediria isso. Eu sei que o que tivemos foi apenas atração...
Snape ergueu a mão, impedindo que ela continuasse.
— Ande logo e me ajude magicamente, Kassandra, e me deixa terminar o que vim fazer.
— Matar todo mundo por causa de uma mulher? É isso mesmo que você quer?
— PARE! - berrou e gemeu, segurando o peito. - Eu tenho vontade de matá-la, mulher. Você estragou tudo.
— Não estraguei. Você quem estragou ao se unir àquele homem.
Ela levantou e caminhou para longe, deixando-o sozinho naquela imensidão árida.
Gregory chegou à tardinha, o sol queimava sem piedade, e antes de entrar em casa, ele deu de beber para o cavalo.
— Você veio buscá-la? - perguntou Gregory a Snape, ainda sentado sob a árvore.
— Não. Estou procurando outras pessoas e Kassandra sabe onde estão.
— E essas pessoas fizeram algum mal a você? - quis saber Gregory. - Por isso as persegue? Por isso a violência?
Snape balançou negativamente a cabeça.
— Então por que ia matar meu filho? O que foi que ele fez?
Snape fechou os olhos, fechou as mãos sobre o rosto e em seguida correu-as pelos cabelos.
— Você pode ficar mais esta semana e então deve partir. Se quiser, leve a mulher com você. Mas não toque em nenhum dos meus filhos - advertiu dando as costas e seguindo para dentro de casa.
Kassandra não demorou a aparecer; calada, ajudou Snape a retornar à casa, mas quando estavam a sós no quarto, ele a deteve, segurando com firmeza o braço dela.
— Onde está ela, Kassandra?
— Prometa que não fará mal algum a eles...
— Não posso.
— Severo - sussurrou, e lágrimas verteram sem controle. Snape respirou fundo, franzindo a testa, a raiva desaparecendo aos poucos.
— Nós somos o que somos, malvados desde o princípio.
— Não, ainda há tempo...
— Sim, há tempo... tempo de despertar... - e deixando a frase no ar, Snape a beijou com firmeza, do jeito que, sabia ele, seria irresistível a Kassandra.
Ao se afastarem, porém, os olhos dela imploraram para que Snape mudasse de idéia, no entanto, ele apenas girou a varinha e disse:
— CRUCIO.
Gregory não conseguiu dormir, tinha se arrependido do que havia dito ao maldito forasteiro, não era verdade que ele poderia tirar Kassandra daquela casa. Desceu a escadaria, abriu a porta do quarto onde estava Snape e viu a cama ainda feita. Olhou em volta e não viu ninguém, mas num segundo momento, ao percorrer os olhos pelo aposento, viu pés com a sola para cima, atrás da cama. Era Kassandra. Ela estava muito machucada, mas consciente, e assim que Gregory ajudou a erguê-la, ela se pôs a andar, cambaleante, até a cômoda, de onde tirou uma garrafa. Tirou a rolha, tomou alguns goles e fechou os olhos, o gosto era amargo, mas o efeito seria rápido.
— Não é hora de beber, Kassie - repreendeu Gregory. - Onde está seu amigo?
Kassandra largou a garrafa que continha medicamento bruxo revitalizante e rumou para a cozinha.
— Aonde é que você vai? - quis saber Gregory seguindo-a.
— Quando vierem me procurar, mande que me encontrem neste local - e entregou a ele um papel com um endereço rabiscado.
— Quem virá procurá-la?
— Não faça perguntas. Apenas entregue o bilhete. E Gregory... mande sua família para longe daqui por algum tempo. Ou não vai gostar do que irá acontecer.
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