O desespero de Crabbe
Não havia como negar, Voldemort satisfazia-se em castigar Crabbe toda vez que o via. Talvez porque o Comensal era mole ou talvez porque sempre via Kassandra nos olhos dele. E o ódio que sentia por ela se misturava com admiração, era uma mulher astuta e muito mais inteligente do que imaginara.
— E então, Crabbe, alguma notícia de sua mulher?
— Não... nenhuma, mestre - gaguejou o Comensal.
— Você é um inútil. Se eu não precisasse muito de aliados, já estaria morto, Crabbe. E sua segunda família também! - os olhos de Voldemort brilharam com intensidade.
Crabbe baixou-se numa exagerada reverência e correu o mais rápido possível da presença de seu mestre. Ao sair da casa, branco feito neve, trombou com Malfoy e Snape, que pararam e o encararam indignados.
— Que diabos, Crabbe?! Ainda não encontrou a mulher? - quis saber Malfoy.
— Olhe bem para a minha cara, Malfoy, e diga o que acha! - rosnou Crabbe. - Eu vou matar aquela mulher quando puser as mãos nela... - confessou com os olhos avermelhados.
Era certo, todo mundo sabia, que Crabbe sempre fora obcecado pela esposa, a tratava como se fosse uma rainha, lhe fazia todas as vontades, e mesmo assim ela o repudiava. Agora ele parecia ter caído na real, via bem que perdera a vida tentando agradar uma mulher que jamais fora sua e que jamais o respeitou.
Snape e Malfoy pararam ao lado de Voldemort, na sala, cumprimentando-o com uma breve reverência.
— Alguma novidade, Severo?
— Nenhuma, mestre.
— E você, Lúcio. Nada de incomum no Ministério?
— Não, mestre.
— Começo a acreditar que tenham ido além de um mero esconderijo - falou Voldemort passando a língua pelos lábios.
— Mestre? - Malfoy não havia entendido.
— Quem sabe alguém os esteja protegendo. Alguém de dentro do meu círculo - a língua ferina não tinha medo algum.
Snape ergueu uma das sobrancelhas e desviou o olhar para a janela, por onde via Crabbe apoiado com os dois braços no tronco de um salgueiro.
— Isso mesmo, Severo. Eu creio que Crabbe esteja escondendo algo.
— Kassandra foi muito esperta, mestre.
— Devo admitir, desconhecia os fortes poderes legilimentes e oclumentes dela. Tenho a certeza de que contra mim ela não teve coragem de utilizá-los, mas vocês seriam presas fáceis.
— Devo discorda do senhor, mestre - Snape interveio com certa arrogância.
Voldemort sorriu.
— Certo, Severo, você também pode ser excluído da lista dos enganados - divertiu-se Voldemort ao ver a cara de indignado do Comensal. - Agora vão. Preciso que essa criança seja encontrada. Ela não pode continuar vivendo.
Cada Comensal tomou seu rumo. Snape passou por Crabbe antes de desaparatar e, de certa forma, sentiu-se apiedado. Era nisso que dava querer carregar mais do que se podia. E Kassandra era um fardo pesado para Crabbe, porque ele a dividia com outra família, não queria libertá-la, não desistia da idéia de que conseguiria satisfazer-lhe as vontades de alguma forma, o que exigia dele muito mais capacidades do que tinha. Era bem verdade que ele tentava agradá-la e muitas vezes, quem o via tentando adulá-la sentia que ele poderia conseguir, mas por mais que ele fosse gentil, por mais que ele se humilhasse, Kassandra não se deixava atingir, não se importava com os presentes, com os galanteios ou qualquer outra demonstração de afeto vinda do marido. Ela simplesmente o desprezava.
Na noite seguinte, uma pista do paradeiro dos Potter chegou às mãos de Voldemort. Era um singelo colar, envelhecido pelo tempo, com um grande pingente em forma de gota que se abria e mostrava numa fotografia amarela duas pessoas distintas.
— Sim. É Tiago - Snape inspirou, tentando não tremer ao confirmar a segunda pessoa na fotografia: - e Lílian Potter.
— Há algo de muito interessante nesta foto - o dedo macilento de Voldemort apertou o papel encaixado do pingente. - Que penteados... você tem certeza de que são eles, Severo?
— Tenho, mestre. Um rosto feio como o de Tiago jamais se esquece - ironizou Snape fazendo Voldemort sorrir.
— Lúcio, esclareça-nos sobre as chaves de portal.
— Cha... chaves de portal, mestre?
— Quem cuida das autorizações?
Lúcio sorriu e disse:
— Vou tratar de descobrir se utilizaram alguma sem permissão, milorde. Não irei demorar com a resposta.
— É assim que eu gosto, Lúcio - agradeceu Voldemort como se estivesse passando a mão sobre a cabeça de um cachorro.
Malfoy saiu entusiasmado, mas Snape não parecia tão confiante.
— Se ainda estiverem com a chave, mestre, será um grande triunfo para o senhor. Mas eu duvido, apesar de saber que o cérebro de Tiago Potter não deva ter tamanho maior que um amendoim, que Lílian não se precavesse.
— Vamos esperar que Lúcio nos traga uma boa notícia. Por hora, vá até este endereço, Severo, é onde encontraram o colar.
O colar fora encontrado num apartamento trouxa a poucos metros do Beco Diagonal, onde uma construtora derrubaria um velho conjunto habitacional. A obra estava interditada agora porque houvera um incidente poucos dias atrás, um homem despencara do segundo andar, estatelando-se no hall de entrada. O companheiro de trabalho alegou à polícia que vira um vulto empurrar o homem lá de cima, mas ninguém foi encontrado. O que levou à abertura de um inquérito e o embargo da obra.
Snape subiu com cautela pela escadaria. O lugar era escuro e sujo, indicando que há muito ninguém deveria morar ali.
— Tom Riddle? - era a voz de uma mulher indagando.
Snape sentiu sua língua se prender por alguns instantes enquanto um frio o invadia. E quando finalmente pôde responder, percebeu que um vulto levantava do chão e esvoaçava em sua direção.
— Não. Severo Snape! - respondeu dando alguns passos para trás. Mas o que viu o fez engasgar: um rosto sem olhos e expressão, ossudo, envolto por longuíssimos cabelos ruivos se aproximava com rapidez. Snape tropeçou e caiu sentado a centímetros do parapeito por onde o trouxa havia se acidentado. O vulto passou sobre sua cabeça e desfez-se ao tocar no lustre de cristal. - Lily - murmurou fitando a porta a sua frente. Aquilo significava apenas uma coisa: Lílian Potter estava morta e alguém lançara na casa um feitiço contra invasores.
Snape ficou de pé, bateu o pó de sua roupa e foi até o quarto de onde saíra o vulto. Estava revirado, o Ministério estivera por ali com toda certeza, mas Lúcio Malfoy, que fora astuto o bastante para conseguir apoderar-se do colar, também deveria ter lançando um feitiço desilusório na casa. Girando duas vezes a varinha e murmurando algumas palavras Snape percebeu pequenos detalhes que antes não estavam à vista. Um deles era um penhoar acinzentado pelo tempo, jogado ao chão. Ajuntou-o e o tecido quase se esfarelou em sua mão. Sentiu algo firme no tecido, ao colocá-lo sobre a cama, e encontrou num dos bolsos outra fotografia. Snape se abalou ao ver Lílian segurando um menino nos braços, tinha cinco ou seis anos. Ao lado dela estava o detestável Potter e ao fundo uma grande placa anunciava o primeiro metro do mundo.
Guardou a foto no bolso do paletó e passou os olhos pela cômoda, um vidro de perfume quebrado, um laço de fita e uma caixinha de madeira aberta, e muito pó. As gavetas ainda continham as roupas da família, mas nada mais. Ele continuou buscando por alguma coisa, sem saber o que, mas as horas passaram e tudo parecia normal. Uma casa trouxa normal, sem segredos ou encantamentos.
Os Comensais se encontravam regulamente na casa de Voldemort, uma antiga mansão nas colinas de Epping Forest, onde uma vasta floresta existiu há muitos anos atrás. Era uma propriedade afastada do mundo por uma muralha de centenárias árvores.
— Achei que você não viesse mais, Lúcio.
— Desculpe, milorde - mas fui pego de surpresa por alguns funcionários e tive de despistá-los.
— Conseguiu alguma coisa?
— É impossível localizar o objeto utilizado pelos Potter, provavelmente foi destruído - informou Malfoy com os olhos no chão.
Voldemort juntou as mãos e cruzou os dedos, recostando o queixo neles.
— Alguém vai pagar pela incompetência - sibilou o Lorde das Trevas.
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