A Verdade sobre NY



A Verdade sobre NY

Eu e a minha companheira de quarto em Syracuse, Gina, decidimos, ainda enquanto estávamos lá, que se não estivéssemos casadas quando nos formássemos, estaríamos ao menos noivas, indo viver juntas em Manhattan. E por que não? Em tantos filmes a garota se formava na faculdade e ia viver com a amiga num aconchegante apartamentinho de dois quartos, decorado em amarelo e azul claro. Nada de pretensioso – apenas um modesto apartamento de 150 dólares por mês em uma linda casa antiga. Só os lençóis e os pijamas combinando deviam custar uma fortuna. Quatro anos de faculdade cada uma, e Hermione Granger e Gina Weasley não sabiam que Hollywood as enganara durante todos esses anos. Nós achávamos que se fossemos bem comportadas e procurássemos bastante, conseguiríamos um desses apartamentos – com os pijamas e os lençóis combinando.
Em agosto, Gina arranjou um emprego também. Ela era formada em Belas Artes, que, como o curso de Teatro, não prepara ninguém para porra nenhuma. Essa era a tendência, então. Havia toda uma nova safra de universitárias preparadas para porra nenhuma. Depois da formatura, Gina deixou os pinceis e as telas de lado e tornou-se funcionaria do Departamento de Assistência Social de Nova York. Não conseguiu através de seus contatos judaicos. Limitou-se a ir lá e candidatar-se. Mas quando ela já estava trabalhando lá, o filho do amigo do cunhado de vizinho de porta dela conseguiu colocá-la num bairro nobre. A Sra. Weasley não se importava de ter sua filha trabalhando na Assistência Social, deis que não fosse na periferia.
Gina realmente se esforçou. Era uma funcionaria de bom coração. Durante o 3 primeiros meses, conseguiu leite em pó para 22 famílias, criados mudos para outras seis e enviou uma jovem mãe e seus nove filhos ilegítimos para passar férias na Florida. Nunca voltaram, o que encantou tanto seu supervisor que ele a convidou para um café e tentou apalpar seus joelhos por baixo da mesa.
Marquei um encontro com Gina sob o arco do parque de Washington Square. Era uma sexta quando eu sai para procurar um apartamento em Manhattan e começar uma vida nova. Minha mãe se escondeu atrás de seu Guia da TV e meu pai atrás do New York Times . Eu os ferira.
Durante todo o trajeto do trem, fiquei imaginando a vida maravilhosa que eu teria na cidade grande. Se eu soubesse o que eu sei agora, teria dado meia-volta, desistido do apartamento e permanecido em Franklin Square até ficar louca o bastante para ser trancada no sótão.
“Não, não, crianças, não subam lá em cima. A Maluca da Tia Hermione está lá”.
“Por que ela é louca, mamãe?”
“Porque não se casou. Ninguém achou que fosse bonita o bastante ou gostosa o bastante para se casar com ela. Por isso ficou maluca. Não, não. Não, querida, não suba”.
É isso ai! Se tivesse adivinhado a verdade... Se soubesse a verdade... Nunca teria ido. Algumas pessoas chamam Nova York de selva. Não é. É um enorme aparelho de musculação para os homens. Basta olhar as estatísticas.
Na cidade de Nova York existe um milhão de moças solteiras que usam tamanho 36, tem cabelos lisos e pele sem espinhas. Nenhuma delas é virgem, e todas estão dispostas a ir para a cama com homens nos seus apartamentos conjugados. Todas lêem artigos sobre como arranjar maridos (“Como Se Casar se você tem Mais de Trinta”) . Todas vão, e continuam a ir, a festas para solteiros no Natal, Ano Novo, véspera de feriado ou qualquer outra data imaginável. Algumas mentem sobre a idade. Outras dizem que são divorciadas, pois se a pessoa se divorciou, suas chances de casar são maiores. É verdade. Se você se divorciou, significa que um dia alguém a amou o bastante para querê-la para sempre.
Nova York tem um milhão de garotas com cartões das lojas e que compram suas próprias jóias. É verdade, e se você achar que é muito especial por ter feito universidade, elas também freqüentaram, e também fizeram as mesmas coisas que você fez lá. E são todas grandes cozinheiras. Usam as mesmas desgraçadas receitas.
Ah, e como são politicamente conscientes! Muito liberais. Vão a comícios no inverno e usam camisetas dos símbolos dos partidos. Será que acreditam nas boas causas? Não, vão para achar um homem que acredite nelas.
Mas e então? Somos loucas? Somos todas loucas? Será que não enxergamos que somos um negocio, nós, as mulheres solteiras? Existem revistas só para nós, departamentos em lojas só para nós. Cada prédio construído em Manhattan tem mais de 50% dos apartamentos conjugados. Apartamentos? Fala serio – são celas sem dormitórios para o milhão de mulheres que quase não fazem uso dele.
Todas elas, essas centenas de milhares de garotas, obedecem ao mesmo padrão. Vem para o Village primeiro, dividindo o apartamento entre três, quatro, cinco garotas, todas a procura de namorado. Mudam-se para o Upper East Side, com uma amiga, para apartamentos mais caros e menores. Não gastam dinheiro em decoração. Tudo o que tem é gasto com roupas, porque estão desesperadamente a caça de homens. E acabam sozinhas. Em pequenos apartamentos mal localizados, mais baratos, mas ainda seguros, comprando produtos de beleza e se interessando por planos de aposentadoria. Compram conjuntos de copos, mandam forrar o sofá velho e arranjam um gato. Tem vasos de plantas na cozinha e nas mesas da sala de estar. E nunca desistem de procurar.
Seria errado afirmar que nenhuma jamais se casa. Algumas conseguem, que diabo... Algumas. Umas com o velho namorado deixado na cidade natal e com quem nem sonhariam em se casar quando vieram para Manhattan. Outras com um homem que conheceram numa festa na casa da vizinha. Muito poucas, acreditem. Cidade da diversão. Essa é boa! Nova York não passa de uma dura luta pela sobrevivência, para despertar a atenção, para ser desejada, para arranjar marido.
Cópias desse texto podem ser obtidas com Edward Granger, que terá muito prazer em xerocar para as interessadas.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.