Problemas



Problemas

-Hermione?
-Draco, onde você está?
-Saí da prisão. Estou te ligando de um orelhão.
-Venha até aqui, Draco. Pode ficar aqui, se quiser.
-To indo. Mas antes eu vou pegar umas coisas. Tchau.
Parecia tão melancólico. Eu cometi um erro. Não precisava de Draco e sim de um caixão.

Draco ficou sentado na minha cama só me observando, dia e noite. Estava ressentido comigo, por ter pago a sua saída da prisão. E as coisas na cama não era mais como eram antes. Nas primeiras três semanas, fizemos sete vezes e tive apenas três orgasmos. Dois mil e trezentos dólares é muito dinheiro para apenas três orgasmos.
Ele desaparecia durante horas, ás vezes por dias. Não tinha hora para voltar e chegava comendo chocolate, fumando, resmungando e emagrecendo. E falava o tempo todo em ir para o Canadá. Era assustador. Ficava lá, sentando na minha cama, só esperando eu partir, como um abutre. Ele se sentia em divida comigo, mas quando eu me fosse, eu tinha certeza que ele ia achar que fez o melhor que pode.

Sabem o que eu consegui tirando o Draco da cadeia? Um monte de chateação.
-Gostaria de ter sua coragem, Hermione. Gostaria de ter coragem para me matar.
-Mas que coragem? Não é preciso coragem, só exaustão. Estou cansada demais para viver.
E ele acendia outro baseado, ainda deitado na minha cama. Meu negócio não era maconha e Draco não era mais o meu negocio também. Porra, que merda, como eu seria achada morta sob a minha cama se ele não se retirava?
Eu não tinha como ajudá-lo. Por exemplo, se eu dissesse “Draco, não acha que já se drogou o bastante?”, ele ia me achar parecida com Pasny, a ex maluca e essa era a última coisa que eu queria.
E eu não podia mandar ele embora. Fui eu quem pediu para ele vir.

Eu tinha que arranjar um rabino cool. Eu escrevi aqui sobre o que aconteceu com a minha tia avó Arabella. Não queria palavras idiotas sob o meu corpo. Que, aliais, já está bem morto. Draco está aqui, mas acho que toda aquela maconha foi toda para os instrumentos dele. Não é o que costumava ser.
Eu tinha que encontrar um rabino. Vou ter que ter um, não é verdade? É melhor encarar os fatos. Se eu não achar um, o Sr. e a Sra. Granger acharão. E vão chamar o velho e amigável rabino da vizinhança, que vai dizer a todos que eu era uma boa moça e que ia a todos os cultos religiosos. É essa a imagem que eu quero deixar para as pessoas? Não. Quero um rabino que diga os fatos tais quais são. (ou eram?)

HERMIONE GRANGER SE MATOU PORQUE NÃO HAVIA HOMENS O SUFICIENTE NESTE MUNDO. ELA TENTOU POR DEZ ANOS SE CASAR, MAS NÃO CONSEGUIU. NINGUÉM A QUIS PARA SEMPRE. HERMIONE GRANGER MORREU PELOS NOSSOS PECADOS.

Onde eu ia arranjar um rabino que expressasse esses sentimentos? Algum recém formado? Alguém do Village?
O Village, é claro.

-alo, é do templo?
-Sim.
-Meu nome é Hermione Granger. Gostaria de falar com o rabino, por favor.
-E quem não gostaria? O Rabino Black está em... Não está aqui. Está em toda a parte. Nós nunca o vemos, ele não se senta nem por um minuto. Eu posso lhe dar o seu nome, mas não faça idéia de quando ele vai te ligar. Espere, me deixe pegar uma caneta. E posso perguntar qual a natureza do assunto que deseja tratar com ele?
-Meu nome é Hermione Granger é meu telefone é 555-4394.
-Deixa eu anotar... – seu tom era frio, frio demais para quem trabalha para um rabino. – E qual é a natureza do assunto que deseja tratar?
-É algo particular... Sobre um elogio fúnebre.
-Eu estou perguntando apenas porque ele é muito ocupado. E seu eu posso ajudá-lo de alguma maneira, costumo fazer isso. Karen, leve isso ao escritório da frente.

Fiquei sentada, aguardando que o ocupado Rabino Black me ligasse. Na verdade, não exatamente sentada. Fiquei deitada, com Draco em cima de mim. A média ainda era 2.300 dólares por três orgasmos, mas era melhor um pássaro na mão do que dois voando.

Passaram três dias e voltei a telefonar para o Rabino Black, que estava lá e ainda por cima, no seu escritório. Tive que esperar por vinte minutos.
-Alo. – eu sabia que era ele por causa da voz apressada, então falei o mais rápido possível. Não queria desperdiçar o tempo dele.
-Alo, meu nome é Hermione Granger. Gostaria de marcar uma hora com o senhor sobre um elogio fúnebre... O meu elogio. Qual o dia e a hora mais conveniente? – eu esperava uma voz com compaixão dissesse que iria até a minha casa para conversamos a respeito.
-Vou colocar a minha secretária na linha. Ela pode marcar a hora. – clique. Prefiro pensar que ele desligou por acidente.
-Alo, meu nome é Hermione Granger. Estava falando com o rabino Black e ele me pediu para aguardar e marcar hora com a secretária. É a secretária?
-Quinta ás seis. E por favor, seja pontual. O rabino tem que dar uma aula ás seis e meia. Não sei como é que ele consegue.
-Obrigada.

Deixe me falar do Rabino Black: ele é deslumbrante. Olhos azuis lindos de morrer e cabelos negros perfeitos. E ele não é casado. E por que eu estou tão animada? Não vou num encontro com ele. Ele vai apenas estar no meu funeral, onde meu coração não vai mais bater apressado. Esqueça-o, Hermione. Ele é tem sete palmos de altura e você vai estar a sete palmos debaixo da terra.
Nós nos encontramos sozinhos no templo e um de nós tinha pensamentos sujos.
-Rabino, estive recentemente em um velório... Isso não é importante. Gostaria que me ouvisse antes de dizer alguma coisa.
-Estou ouvindo – o rabino Black é arrogante e lindo. Que tal a combinação?
-Rabino, estou planejando me matar no dia 3 de julho e ser enterrada no Quatro de Julho. Estou fazendo isso porque queria me casar e minha mãe também queria que eu me casasse, mas nunca fui bem sucedida e estou cansada de toda essa humilhação. Gostaria que fizesse meu elogio fúnebre do jeito que eu quero, ao contrário de algum rabino desconhecido que vai dizer coisas sem nenhum sentido para mim e ninguém presente na capela do Snape Memorial Park vai saber por que eu morri. E quero que saibam. É muito importante para mim.
-Hermione, você parece muito decidida. Será que eu não poderia, de alguma forma, fazê-la mudar de idéia?
-Só se casando comigo. – e olhei para o outro lado, pois estava com medo de chorar.
-Nesse caso eu faço!
-Faz o que? – casar comigo???!!!
-Vou dizer a eles porque morreu, Hermione. Todo mundo no Snape Memorial Park vai ficar sabendo porque Hermione Granger se matou.
-ótimo.

-Draco, o rabino Black vai fazer o elogio fúnebre.
-Sinistro – ele respondeu em tom melancólico.
-Draco, sabe que não tem que ficar aqui se não quiser. Não quero que fique aqui contra sua vontade.
-Não quer que eu fique?
-Claro que quero, se você quiser, mas não quero que se sinta obrigado a ficar.
-Fico por que quero ficar – e começou a chorar.
-Draco? Draco? O que está acontecendo? Vamos, Draco, me diga.
-Não há nada, Hermione, só queria que você me fizesse um favor.
-Claro, Draco.
-Quero que você vá até o East Village me arranjar um pouco de cocaína. Eu mesmo iria, mas estou me sentindo tão esquisito, Hermione.
-Meu Deus, Draco, mal acabei de descobrir a maneira de arranjar maconha e agora quer que eu arranje cocaína? Draco, escute... Eu até iria, mas, Draco, pelo amor de Deus, será que não dá para telefonar para eles e mandar entregar em domicilio ou coisa assim?
-Sua patricinha estúpida de classe média. Não se pode encomendar cocaína. Tem que ir lá, freqüentar o submundo para poder comprar.
-E você quer que eu “freqüente o submundo” e arrisque a minha vida para comprar cocaína para você?
-Arriscar sua vida? Ora, Hermione, arriscar sua vida? Você vai se matar. O que quer dizer com arriscar sua vida?
-Ta bem, Draco, eu vou. E por que não compro logo veneno para você tomar? Será que não entende, Draco, que está se matando?
-E você também.
PORTA BATIDA COM VIOLENCIA.

Ir até o East Village e seguir as instruções. A melhor coisa sobre saber que não vai durar muito é andar de táxi, gastar enquanto se pode. Nunca se sabe o que vai acontecer: escorregar no chuveiro, ser atropelada por um carro, cortar os pulsos acidentalmente. Passei elo Washington Square Park, o que reafirmou minha fé no suicídio. Adoro aquele parque, mas não há nenhum lugar para sentar. Os estudantes ficam em torno da fonte. Os viciados em torno da estatua. Os velhos em volta das mesas de jogos e as jovens mamães estão com as crianças nos balanços e gangorras. Não há um único lugar em que uma mulher solteira possa sentar.
Subir as escadas e entrar em um apartamento sujo. Draco me mandou pegar a mercadoria. Por mais banal que possa parecer, era a mesma cena de todos os filmes: colchões esparramados pelo assoalho, uma garota magrinha de voz doce e dois caras fumando maconha. Igualzinho aos filmes. E era soa um quarteirão de distancia de onde Hermione e Gina queriam alugar um apartamento – há um século atrás.
Paguei a cocaína.
-Hã, desculpe. Será que saberia me dizer qual é a melhor coisa que eu posso tomar para me matar? Bem, será que existe uma pílula que faça isso rapidamente e sem dor? Entende o que eu quero dizer?
-E para que você quer saber disso.
Achei melhor ir embora.
Sabe o que eu entendi nesse dia? Que eu estava muito, muito velha.



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