Casamentos e Dietas



Casamentos e Dietas

Voltamos a Fire Island no verão seguinte e no próximo. Três verões em Fire Island. Éramos nós, então, que dizíamos: “A ilha estava muito mais divertida no ano passado”.
Não voltamos no quarto ano. Estamos envelhecendo. E por isso seguimos o padrão dos outros nova-iorquinos: fomos para East Hampton.
Gina conseguiu uma ótima casa e um grupo interessante. Eu me limitei a ir e passar todos os finais de semana em East Hampton fugindo da praia. Os tamanhos dos biquínis estavam cada vez menores e eu, cada vez maior.
Foi um agradável e relaxante verão, com pouca coisa para fazer. Neville foi até East Hampton umas duas vezes e ficou ridículo com os Jeans que EU comprei para ele, tentando fazer ele se parecer com todo mundo. Mas Neville nunca ficaria parecido com todo mundo.

O sinal do celular não pega muito bem em Fire Island, o que é ótimo quando se tem uma mãe como a minha.
-Não tem como eu te ligar? Hermione, querida, mas o que vai acontecer se eu precisar falar com você?
O sinal funciona muito bem em East Hampton, o que foi um alívio para ela. Assim, podia me ligar nos fins de semana para me lembrar que eu ainda não tinha me casado. Eu a fiz jurar por Deus que não me telefonaria a menos que fosse uma emergência.
-E se eu tiver que te avisar que eu e seu pai não vamos estar em casa o dia inteiro?
-Mamãe, isso não é uma emergência.
-E se eu não estiver me sentindo bem?
-Não é uma emergência.
-E o que você chama de emergência?
-Morte. Isso é uma emergência.

Era um domingo à noite quando meu celular tocou. Estávamos tirando do forno a minha famosa lasanha.
-Sim, mamãe? – eu estava assustada. Tinha dito “só em caso de morte”.
-Tenho novidades para você. – pelo jeito que ela falou, pensei que houvera um assassinato em massa no quarteirão e ela era a principal suspeita.
-Diga.
-Sua irmã ficou noiva e vai se casar em outubro.
Pior, muito pior que assassinato. Como é que Amy Kati pode se casar antes de mim? Eu não vou. Vou me esconder, vou para a Califórnia me esconder lá e ninguém vai conseguir me achar. Não vou desejar felicidades. Espero que alguma coisa horrível aconteça e ela não se case. Vou contar ao futuro marido que há casos de loucura na família e que por certas coisas que Amy Kati andou fazendo, estamos certos que ela herdou a loucura.
Mamãe, como pode fazer isso comigo? Não deixe que isso aconteça comigo. Não me obrigue a ir ao casamento com todas aquelas pessoas me perguntando quando é que EU vou me casar. Eu vou responder: nunca vai ser a minha vez. Mamãe, não deixe Amy Kati se casar primeiro, não a deixe fazer isso, por favor!

Quando eu me recuperei da histeria inicial, pude pensar com mais clareza e cheguei à seguinte conclusão:

Amy Kati é magra e vai se casar. Portanto, pessoas magras se casam.



E eu comecei a ouvir a mesma voz que Joana D’Arc ouviu, só que em vez de me dizer para salvar a França, a voz me dizia para perder pelo menos uns dez quilos. Era tudo tão simples. Mesmo que eu não me cassasse no mesmo instante em que eu ficasse magra, pelo menos eu iria magra ao casamento.

-Mamãe, estou fazendo dieta...
-Será que você está se alimentando direito?
Sim, mamãe, estou certa que sim. Estou certa que eu como mais do que o suficiente. Se eu parasse de comer durante um dia apenas, aposto que toda a população faminta da Índia seria alimentada. E você me pergunta isso agora, mamãe? Por que não me perguntou quando eu era um bebê e você me obrigava a comer? Quando eu era bebê, você chorava se eu não comesse e também chorava no médico porque dizia que eu era magra demais.
Você não só chorava, como também organizava um show completo para me obrigar a comer. Enquanto me dava colheradas, ia fazendo que eu comesse para a família inteira. “Essa é para a mamãe, essa é para o papai, essa é para a vovó...” até que o apetite da MINHA MÃE ficasse satisfeito. E quando eu comia tudo, a alegria era grande. Havia comemorações nas ruas. Batam palmas, Hermione comeu todo o pratinho.
Quando eu era criança, você fazia chantagem comigo. “Há crianças morrendo de fome, por isso você tem que comer”. Quando eu cresci mais um pouco, você consolava minhas frustrações com comida. “Toma, querida, não se preocupe com matemática, vai ficar tudo bem. Coma um biscoitinho e tudo vai melhorar”.
Sabe o que é mais engraçado, mamãe? Foi como você mudou de atitude. Quando Amy Kati nasceu, você disse “Hermione me deu tanto trabalhou que eu vou deixar essa por conta própria. Se quiser comer, que coma. Se não quiser, muito bem também.”
Não foi justo. Por que não encheu Amy Kati também? Por que não me deixou sem comer também?
Muito bem. Sabem o que dizem sobre mim? “Tem um rosto tão bonito. Se ao menos perdesse uns oito quilinhos, seria linda”. Durante a minha vida, já perdi esses oito quilos umas sete vezes, o que dá mais de 50 que insistem em voltar, porque espero que alguém bata palmas toda vez que eu como.
O excesso de peso é uma das razões pelas quais eu vou me matar. Estou cansada de dietas, cansada de olhar todas as outras mulheres em biquínis minúsculos. Seria capaz de enfiar uma faca em meu peito, mas provavelmente ela nunca conseguiria atravessar toda a gordura até o coração.

Ouvi falar de um médico chamado Dr. Gilderoy Lockhart que dava moderadores de apetite para garotas como eu, disposta a torrar o salário em remédios para emagrecer.
O casamento era daqui a treze meses. Telefonei ao médico e marquei uma consulta o mais rápido possível, terça ao meio dia. Portanto, segunda era a Noite de Despedida Alimentar. É quando eu como tudo o que eu consigo [e que tem em casa] porque eu vou começar uma dieta no dia seguinte. Comi salada de batata, farofa, sanduíche de mortadela, meio pote de sorvete sabor crocante e um pacote de marshmallow. E um pote inteiro de Nutella.

-Não consigo entender – eu disse a enfermeira – quero dizer, não tenho a mínima idéia de como eu engordei tanto de repente. Deve haver alguma coisa de errado com as minhas glândulas ou é hereditário ou coisa assim. Não sou de comer muito.
-Sra. Granger – eu a odiei – tire os sapatos, por favor, e suba na balança para podemos verificar seu peso.
Subir na balança!? Bem no meio da tarde e de roupa? Não! Não pode fazer uma coisa dessas comigo. Sou uma cidadã americana e tenho meus direitos! Subi na balança sem olhar para os pesinhos. Vi que ela movia dos cinqüenta para os setenta quilos. Eu estava com mais de setenta, com apenas 1,60 de altura. Ai Meu Deus, se ao menos eu não tivesse comido o pote de Nutella!
-Setenta e cinco. Muito obrigada. – Obrigada por quê? Por estar com modestos 75 quilos e ir procurar o Dr. Lockhart?
Ela anotou dados numa ficha médica, minha pressão e me perguntou se havia casos de obesidade na minha família. Eu não era obesa. Tinha ainda uma gordurinha infantil... Ou quem sabe pré-gravidez?

Fiquei esperando numa pequena sala de espera. Sentadas lá havia um monte de pessoas obesas [algumas ocupavam duas cadeiras]. Eu era a mais magra do grupo. Que alívio! Foi a primeira vez que eu me senti a mais magra de algum grupo. Uma mulher quis saber o que eu fazia lá com um corpo como o meu.

Ouvimos uma palestra de como comer peixe e frango sem a pele e não comer nada que não estivesse na lista [eu comia TUDO que estava na lista] e levantar a mão quem retese líquidos [eu não sabia se eu retia ou não, então não levantei a mão]. A mulher que dava a palestra tinha 67 anos e corpo de modelo. Eu ia fazer direitinho tudo que ela disse. Cada mulher presente recebeu uma caixa com pílulas vermelhas, marrons, cor-de-rosa e verdes.

Adivinhem. Tenho tendência a reter líquidos. Quando voltei uma semana depois para me pesar, eu usava roupas mais leves e tinha cortado uns dois dedos do cabelo. Eu tinha tomado fielmente as pílulas e eu perdi um quilo e meio, o que não era bastante para o Dr. Lockhart. Por falar nisso, onde diabos andava o grande Dr. Lockhart? Eu já tinha ido duas vezes ao consultório e não o vi nenhuma vez. Talvez ele sofresse de excesso de peso.
A Sra. Modelo-de-67-anos me deu pílulas amarelas, porque eu retia líquidos. As pílulas amarelas me faziam ir ao banheiro o tempo todo e eu mal podia esperar para voltar ao consultório.

Deixe eu dizer umas coisinhas sobre pílulas para emagrecer. Provocam uma reação psicológica na gente. Se por acaso vocês são parecidas comigo, tomem uma pílula e tentem desafiá-la um dia inteiro. A gente fica repetindo “pílula, você não vai conseguir mudar a minha vida nem meus hábitos alimentares. Vou provar ao Dr. Lockhart e a todos os fabricantes que vocês não funcionam. Vou tomar, vou comer e ponto final”.
Elas funcionam – me deixam maluca, completamente maluca. Eu subia pelas paredes, gritava com a Sra. Sprout, chutava carteiros e batia a porta de propósito nos dedos do porteiro.

-Mione, detesto me meter, mas há alguma coisa errada com você?
-NÃO, GINA, POR QUE ISSO AGORA??? POR QUE ESTÁ SEMPRE ME FAZENDO ESSAS PERGUNTAS CRETINAS??? ESTÁ SEMPRE SE METENDO E FUNÇANDO MINHA VIDA!!!! ME DEIXA EM PAZ. VÁ EMBORA E ME DEIXA EM PAZ.

-Hermione, posso ir até ai hoje a noite?
-CALA A BOCA, NEVILLE, CALA A BOCA E ME DEIXA EM PAZ.

-Hermione, querida, é a mamãe. Como vai?
-PORRA, MÃE, POR QUE INSISTE EM FAZER ESSAS PERGUNTAS PESSOAIS???

Na quarta consulta, eu tinha perdido seis quilos e cinco amigos. Eu alisei o cabelo e todas as pontas quebraram, mas eu gostei mesmo assim. Eu comprei unhas postiças, mas elas descolavam. E ai, o que aconteceu?
Qual é a primeira coisa que uma garota faz quando perde peso? Vai fazer compras, é claro.
Comprei um guarda roupa novo inteiro. No caminho entre as lojas, comi quatro ou cinco pretezels e engordei um quilo.
Gina achou tudo o que precisava... E nas liquidações. Eu tive que procurar sem parar por calças jeans e pretas. Gina comprou o que a agravada e eu apenas o que precisava. Um chapéu que disfarça a neve, um suéter que eu não exatamente gosto, mas que é lavável. Gina parecia ter saído de um desfile, eu de uma maquina de lavar.
Bem, logicamente eu não consegui manter o peso. Duas semanas mais tarde, a única coisa que servia era o chapéu.
Se podem mandar homens à lua, sondas a Marte e mensagens para outros sistemas solares, por que não podem curar a obesidade aqui mesmo na Terra?
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