Capítulo 14



***FLASHBACK***

Harry estava em seu quarto, na Rua dos Alfeneiros nº. 4, com o nariz grudado na janela. Fazia um belo dia de sol, mas isso não era o bastante para animá-lo. Sua cabeça estava fervilhando de pensamentos e planos de como agir. Recebia corujas com freqüência, todas informando aquilo que já sabia: nada, nenhum sinal de Voldemort. Seus comensais continuavam atacando, mas o seu mestre continuava escondido. Snape também não aparecera, mas Harry estava disposto a encontrá-lo e iria fazer com que pagasse pela traição. Ao menos seus amigos estavam bem, era o que diziam nas cartas com textos rápidos. MAS por quanto tempo?

Ele não queria estar ali, queria estar buscando as horcruxes, mas sabia que era o desejo de Dumbledore que continuasse mais alguns dias na casa de seus tios onde estaria protegido até sua maioridade. Proteção... Dumbledore... O maior bruxo dos tempos modernos, o mais sábio, o mais humilde, o mais bem-humorado, o único a quem Voldemort temia... Estava morto. Harry sacudiu a cabeça na tentativa de desviar sua atenção destes pensamentos, eles só lhe traziam duas coisas: uma tristeza escura como o lago vítreo onde encontraram a falsa horcrux (que o garoto mantinha sempre junto de si) seguida de um ódio profundo do homem no qual seu mestre, amigo e protetor confiava plenamente, Severus Snape.

Pôde ver quando seu tio saiu com Duda, provavelmente ia lhe comprar uma nova luva de boxe ou algo aparentemente inofensivo do qual seria extraído um potencial mortífero nas mãos do garoto e sua turma. Tudo estava aparentemente normal para os trouxas e eles prosseguiam com suas vidas calmamente. Harry havia se levantado e estava alimentando Edwirges, sua coruja branca como um floco de neve. De repente ouviu batidas vindas da porta e uma voz tímida perguntar:

- Harry, posso entrar?

- Tia Petúnia?! – respondeu um tanto quanto surpreso. O que ela queria com ele? Tinha certeza que não havia feito nada para desagradá-la, afinal, mal aparecia na frente da família – Claro...

- Será que podemos conversar? – ela estava fechando a porta atrás de si, Harry ficou parado, olhando para ela com a testa franzida e a boca entreaberta – Sei que pode parecer estranho pra você eu estar aqui... Bem... E.. Você está bem? – Disse as últimas palavras num fôlego só.

- E desde quando vocês se preocupam com meu bem –estar – Respondeu o garoto com desdém

- É... Que... Sabe... Tudo o que está acontecendo... Primeiro o Sírius e agora o Dumbledore...

- C-como... – a cabeça de harry dava voltas, sua tia falando de bruxos assim... Como se fossem conhecidos de longa data?

- Eu os conheci Harry. Dumbledore em pessoa levou sua mãe a Hogwarts. Éramos trouxas, nossos pais não faziam idéia do que esperava por Lílian, por isso Alvo Dumbledore foi até nossa casa nos explicar o que estava por acontecer. Passou um dia inteiro conosco e... Devo admitir que ele era divertidíssimo, além de parecer muito sábio...

- Ele não parecia, ele era!

- Eu sei Harry... Era também um cavalheiro, pois não me deixou constrangida lembrando esses acontecimentos, quando esteve aqui o ano passado para lhe buscar. Quanto a Sírius – acrescentou ela antes que Harry tivesse tempo de falar algo – Bom, após a formatura deles, Lílian trouxe seu pai para apresentar à família, Sírius Black veio junto e ficaram duas semanas conosco... Outro cavalheiro... Bom, não que eu gostasse deles, mas não mereciam morrer...

- Claro que não! O que você quer com isso? Por que está me dizendo essas coisas? Nunca se importaram comigo! - O garoto não podia acreditar que ela estava ali. Estaria com pena dele? Este pensamento o deixou profundamente irritado.

- No natal Dumbledore nos enviou uma carta, pelo correio, avisando que estas são as últimas férias que você passa conosco. Quando você fizer 17 anos vai embora?

- Obviamente, nada mais me prende aqui.

- Eu sei... Harry... Só gostaria de lhe dizer que... Por favor, não deixe o desejo de vingança superar a nobreza de sua missão...

- Eu sei exatamente o que devo fazer... Ei, o que você sabe sobre minha missão? Desde quando você sabe o que está acontecendo comigo?

- Eu posso não ter sido uma boa guardiã, mas era necessário que eu soubesse tudo sobre quem eu estava abrigando...

- Então...

- Exatamente, Dumbledore me deixou a par de tudo o que estava acontecendo e eu sei que a continuação do mundo como conhecemos depende daqueles que se unirem contra Voldemort.

Harry estava estático. Tentava assimilar tudo o que ouvia, era fantástico demais...

- E eu confio em você – continuou ela – para liderar a batalha contra o Bruxo das Trevas. Você é forte, Harry. Fisicamente é idêntico ao seu pai, mas...

- É, tenho os olhos da minha mãe, verdes como os dela! – Estava acostumado a ouvir isso, mas de sua tia Petúnia era muito estranho.

- Não são apenas verdes como os dela. Como ia dizendo, você é fisicamente idêntico ao seu pai, mas sua essência... Suas atitudes, sua determinação... Nisso você é igual a sua mãe... É isso que está nos seus olhos, o mesmo brilho que ela tinha nos dela, a mesma força, algo que eu nunca tive... Bem, estou aqui pra dizer que tudo poderia ter sido diferente, mas não foi. Nunca quis por em risco a minha vida perfeita. O que posso fazer agora é desejar boa sorte e dizer mais uma vez, eu confio em você. – e foi saindo do quarto

- Tia Petúnia... – Chamou o garoto – Eu farei o possível para que sua vida, e de todos, continue como está.

- Eu sei, porque você é Harry Potter.

E antes que a porta se fechasse ele pensou ter visto um esboço de sorrido no rosto cavalar da tia.


Harry fechou os olhos e suspirou diante desta lembrança. Tinha sido uma conversa tão estranha com tia Petúnia! Tia. Tia. Ela era sua tia. Irmã da sua mãe. Ela era sua família.

Ele soltou um risinho... Família! Sua família o odiava... E ele não ficava muito atrás.
Mesmo assim, havia prometido proteger sua família. Irônico não?

Por que toda essa guerra tinha começado? Ódio. Ódio de bruxos contra trouxas. Só então ele teve um estalo: era por isso que os bruxos mantinham sua identidade desconhecida! Não porque os bruxos os odiavam, mas porque o sentimento era recíproco! Sua tia odiava sua mãe... Sua família o odiava porque não era “normal”. Ser
diferente era a razão de ser odiado... Mundo injusto ! Pessoas injustas. Sociedade injusta!

Olhou para cima e viu a copa verde da árvore onde havia subido horas antes. Precisava ficar sozinho e aquele galho parecia perfeito para isso. Sempre que brincavam de esconde-esconde, quando menores, era ali que ele ficava... Ninguém o achava. Mas já era hora de descer e voltar para dentro da casa. Não queria preocupar mais ninguém.

Olhou para baixo a fim de encontrar apoio na descida, mas seus olhos se depararam com a figura dela. Gina estava sentada na beira do lago olhando para o nada. Não tinha percebido onde ele estava. Ele deu graças por isso. Mas não podia descer, ou chamaria a atenção dela e seu esconderijo seria descoberto. Não podia aparatar, já que um feitiço antiaparatação havia sido colocado na região por McGonagall.

Maldito feitiço!

Gina abraçava as pernas e encostava o queixo nos joelhos. A coisa mais linda que Harry já vira. Os cabelos vermelhos balançando ao vento... No que estaria pensando? Talvez, no que havia acontecido ontem à tarde. Na explosão de sentimentos depois da travessura que ele havia armado para Rony. Talvez não fosse sobre isso...

Ele não suportou mais e desceu. Aproximou-se e ficou de pé diante dela. Ela levantou os olhos para ele, séria. Ele sorriu e lhe estendeu a mão. Ela parecia confusa mas esboçou um sorriso e segurou na mão dele, usando-a como apoio para levantar. Ele a puxou para si capturando os lábios dela em um beijo apaixonado.

Ela retribuiu o gesto imediatamente. “Eu amo você”, ele murmurava entre beijos e ela sorria, ainda com os lábios colados nos dele...

De repente algo fez com que Harry acordasse de sua fantasia. Gina estava se levantando e esticava o corpo. Ele balançou a cabeça a fim de afastar as sensações que seu devaneio havia proporcionado. De cima daquela árvore, ele viu Gina caminhar lentamente em direção à Toca.

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- Ele o quê?! – Hermione perguntou.

- Ele me beijou ontem... – Gina respondeu.

- Mas...

- Eu provoquei – disse após um longo suspiro – Eu provoquei... Droga! Ele disse que era louco por mim!

- Isso todo mundo sabe...

- Agora tá me evitando...

- Percebe-se.

- Idiota! Idiota! Por que eu fui me apaixonar pelo cara mais idiota da face da Terra?

- Ele gosta de você Gina...

- Eu sei disso! O pior é que eu sei disso! Não duvido dos sentimentos dele... Mas as atitudes dele machucam sabia?

- Oi! – disse Ron colocando a cabeça para dentro do quarto

- Dá o fora Ron!!! – gritou Gina.

- Eu só vim chamar vocês a pedido da mamãe – ele reparou que a irmã estava chorando – o que aconteceu?

- Dá o fora!!! – repetiu a ruiva.

- Vai Ron, a gente chega daqui a pouco – Hermione interveio.

- Foi o Harry?

Gina se levantou e começou a empurrar o irmão para fora do quarto. Hermione ficou entre os dois, ou ia “rolar fight”.

- Vai Ron... – a morena pediu novamente.

- Ele não pode fazer isso com você – ele falou suavemente e Gina parou onde estava, não mais se importando com a cachoeira que brotava de seus olhos.

- Sai Ron – pediu – E não fala no nome dele perto de mim...

Ron se virou e saiu.

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Rony encontrou o amigo na porta da cozinha. Segurou seu braço com força e o conduziu para perto de uma árvore fazendo com que ele sentasse no chão e murmurou um feitiço para abafar o som.

- O que você pensa que está fazendo?

- Do que você está falando?

- Da minha irmã! O que você pensa que está fazendo com ela?!

Harry olhou para o amigo. Sentia raiva dele, mas não podia culpá-lo, não podia tirar a razão dele. Queria não ter que ter aquela conversa, mas agora não podia mais fugir.

- Estou protegendo ela...

- O quê? Ficou maluco!

- Se continuarmos juntos, ela vai ser um alvo...

- Se liga cara! Se você ainda não percebeu ELA JÁ É UM ALVO!!!! Todos nós somos alvos cara! Não há nada que você possa fazer em relação a isso.

- Eu sei, mas o fato de ela ser minha namorada... O fato de eu ser perdidamente apaixonado por ela...

- Será que você não pensa? Snape sabe. Draco sabe. Consequentemente todos os Malfoy sabem... É lógico que Voldemort sabe!

- Mas... Eu não sei quanto tempo essa guerra vai durar! Não quero que ela espere por mim.

- Tem certeza que não quer? – Harry não respondeu, apenas baixou os olhos – Ela esperou por 5 anos cara! 5 anos!!!

- E se eu não voltar? – Rony abriu a boca para responder, mas Harry o interrompeu – Pode acontecer qualquer coisa comigo! Eu posso simplesmente não voltar. E como ela vai ficar? EU NÃO QUERO QUE ELA SOFRA!

- Ah não? Tem certeza? Porque essa sua atitude está fazendo a Gi sofrer muito. Sabe... Eu não tô te reconhecendo...

- Ah, não Ron...

- Ah, não uma ova! Você vai me ouvir. Ela vai sofrer de qualquer jeito! POR QUE ELA AMA VOCÊ!

- Então a solução é fazer com que ela deixe de me amar... – Harry murmurou mais para si mesmo.

- Ficou realmente doido...

- Como eu vou prendê-la ao meu lado? Ia ser egoísmo...

- Egoísmo é o que você está fazendo agora! Deixa de ser burro e aproveita! Aproveita cada minuto seu com ela. Aproveita para ser feliz um pouco, para fazê-la feliz. Não é difícil cara... Basta um sorriso, um passeio à tardinha... Um abraço... Eu não acredito que vou dizer isso... Um beijo... Um “eu te amo”...

- Ah é? Então porque você não segue seus próprios conselhos? Se é tão fácil, faz! Você não tem moral para me dar esses conselhos! Sabe, esse negócio de “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” pra mim só cola com poetas e compositores! – Rony olhou para ele confuso – E não se faça de desentendido! Há quanto tempo você e a Hermione estão adiando uma boa conversa? Hein?

- A conversa aqui não é sobre isso! Você está mudando o foco!

- Você não sabe nada Ron!

- Ao menos, nós não ficamos chorando pelos cantos! Ao menos eu tenho o prazer da companhia dela... Ao menos eu tenho o prazer de vê-la sorrindo para mim... Ao menos o olhar dela não é carregado de mágoa. – virou-se deixando o moreno sozinho.

Harry olhou para o amigo que caminhava para dentro da casa. As palavras de Ron haviam despertado uma idéia dentro dele

“Ela vai sofrer de qualquer jeito! POR QUE ELA AMA VOCÊ!.”

Ele já sabia exatamente o que fazer.

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Ronald entrou dentro de casa com a cabeça fervilhando. As palavras de Harry não deixavam de ser verdadeiras. Há quanto tempo ele e Hermione evitavam ficar sozinhos juntos? Mas era tudo tão diferente. Tinham medo. Seus temperamentos fortes podiam acabar com a amizade caso algo mais acontecesse. E ele sabia que não iria suportar perdê-la.

Estariam juntos na guerra, mas toda sua atenção estaria voltada para ela. Para protegê-la. Como podia censurar o amigo se tinha idéias idênticas às dele? Ao menos ele tinha tudo àquilo que dissera a Harry. Embora quisesse mais...

Entrou no seu quarto com a cabeça baixa e fechou a porta. Precisava ficar um pouco sozinho, mas não ia. Ao levantar a cabeça encontrou Hermione sentada em sua cama. Ela tinha a postura reta e o olhar apreensivo. Estava tão Hermione... Ele sorriu por dentro.

Deus, como eu a amo!

- E então? – ela se levantou – Falou com ele? – Rony apenas balançou a cabeça afirmativamente – O que ele disse?

Rony não respondeu. Apenas caminhou até ela e a abraçou forte. Ela estranhou a atitude do amigo, mas não conseguiu conter aquela torrente de sensações que emanavam do ruivo e que brotavam nela toda vez que ele se aproximava. Passou os braços ao redor do pescoço dele e sentiu o cheiro daqueles cabelos... A respiração dele em seu pescoço.

Merlin... Eu amo esse ruivo!

Ele se afastou um pouco e olhou para o rosto dela enquanto o acariciava com os dedos. Inclinou-se e depositou um beijo na testa dela. Ela estremeceu e passou os dedos pelos cabelos dele. Tanta coisa dita em um simples gesto... Ele havia prometido que tudo acabaria bem, que jamais a deixaria e que quando tudo acabasse, eles resolveriam tudo o que estava pela metade. Ela havia dito que acreditava nele... Que ficariam sempre juntos e que esperaria o tempo necessário.

Hermione não suportaria mais tanto tempo dentro do mar que eram os olhos de Rony e se jogou novamente em busca de um abraço. Ele apertou Hermione em seus braços e sussurrou em seu ouvido:

- Eu não posso censurar o Harry... – seus olhos estavam marejados.

- Eu sei... Eu sei... Porque eu também não posso – respondeu apertando o abraço.

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A toca estava agitada naqueles dias. Todos estavam envolvidos com o casamento de Gui e Fleur. Esta morava junto com os Wesley para acompanhar de perto os preparativos. Junto com ela vieram Gabrielle, sua irmã, e Amélie, uma prima. Amélie tinha 17 anos e cursava o equivalente ao sexto ano em Beauxbatons. Era um pouco mais baixa que Harry e tinha longos cabelos louros e olhos verdes escuros. Sua beleza não negava as origens veela.

Entretanto, após a conversa com Rony, Harry havia mudado um pouco. Tentava ser mais sociável e sorria mais. Conversava mais com Amélie e Gabrielle. Ria da situação do amigo, ao ver que Gabrielle se insinuava cada vez mais para o ruivo.O moreno sabia o quanto Rony gostava de Hermione...

E tentava a todo custo ser simpático com a irmã de Fleur, para não magoá-la. Parece que contra a paixão, o encanto veela não funcionava. Harry sabia disso e também não fugia tanto da companhia de Gina, isso a deixava encantada, mas não alimentava suas esperanças.

Voldemort estava mais quieto e seus comensais também. Talvez estivesse comemorando a vitória sobre Dumbledore, ou simplesmente preparando um ataque violento. Essas especulações fizeram com que a segurança que rodeava a Toca fosse quadruplicada. Cogitaram fazer o casamento na França, mas acharam melhor lançar uma “notícia” enganosa. Fazer a festa em terreno inglês era óbvio demais, portanto anunciaram que o casamento seria em uma fazenda no interior da França, como uma isca falsa.

O trio já havia comunicado sua decisão ao restante da Ordem. Harry explicara tudo o que ele e Dumbledore descobriram sobre Voldemort e suas horcruxes. Após muitos protestos de Molly, conseguiram convencer os demais. Mas sob uma condição: não sairiam feitos loucos após a festa. Ficariam mais um mês recebendo treinamento intenso e pesquisando. Para isto receberiam auxílio de todos os membros e tentariam reunir aqueles participantes da Armada de Dumbledore que estivessem interessados. Mesmo assim, a condição dos três foi enfática: somente eles iriam atrás das horcruxes, os outros poderiam apenas dar cobertura à distância e se comunicariam através de patronos e espelhos. Os pais de Hermione também estavam ali, ainda não sabiam que não era seguro voltar às suas vidas normais. Hermione ainda não havia contado o plano de protegê-los arquitetado pela ordem.

Cada um deles possuía um elo mental entre si e com algum membro da ordem: Hermione com Lupin, Rony com Carlinhos e Harry com Moody. Assim se alguma coisa acontecesse o conhecimento adquirido não se perderia.

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Faltavam dois dias para o casamento. E Harry estava pronto para colocar seu plano em prática.

Ao menos sua razão dizia que sim, embora seu peito apertasse toda vez que repassava mentalmente o que devia ser feito. Não podia voltar atrás, as relações já estavam estabelecidas, mas devia esperar até o fim da festa... Queria seu último dia de paz, onde poderia pôr pra fora todos os seus mais verdadeiros sentimentos. Seguiria o conselho de Rony: se permitiria ser feliz, ao menos por um dia. Depois... Que viessem as tribulações.

Neste dia, ele estava com Hermione e Rony trancados no quarto deste pesquisando sobre os pertences de Ravenclaw e Gryffindor.

- Hermione, quer parar de ser teimosa! Você mesmo disse que já tinha revirado esse livro de cabeça pra baixo... – exasperou-se Rony.

- Não custa nada ler mais uma vez! – respondeu ela.

- Custa tempo Mione, - retrucou o ruivo – e tempo não é algo de que dispomos muito não acha?

- Eu quero ler esse livro e vou ler esse livro! Não vou deixar nada passar despercebido!

- Sinceramente, não sei como você agüenta ler “Hogwarts, uma história” pela milionésima quinta vez!!!

- Já chega vocês dois! – esbravejou Harry – Com essa briga nós só perdemos tempo... Mione, não acha que o Rony tem razão?

- Não! Ele não tem razão!

Os garotos acharam melhor não discutir mais. Pegaram dois livros de uma pilha que já alcançava a metade da parede do quarto e começaram a folhear e examinar os índices. Momentos depois ouviram batidas na porta.

- Olá? Posso entrar?

Harry congelou. Era a voz suave de Gina, mas ele pôde detectar que havia ansiedade em suas palavras, embora ela tentasse transparecer que não. Hermione levantou-se, murmurou um feitiço e a porta se abriu. Gina entrou com cautela e fitou os três.

- Antes de qualquer coisa, eu queria pedir que vocês ficassem calmos... – ela falava baixo, mas de forma decidida sua expressão indecifrável – tudo está sobre controle.

- O que está acontecendo Gina? – Harry se adiantou e ela segurou sua mão para acalmá-lo.

- Nós temos visita... E vocês não podem nem imaginar quem está lá na cozinha... – apertou as mãos de Harry para que ele não corresse escada abaixo – Papai pediu para que vocês desçam agora...

Eles desceram a escada rápida, mas tranquilamente. Gina ia à frente os conduzindo, ainda com suas mão entrelaçadas às de Harry, Rony e Hermione vinham logo atrás. Lupin estava na porta da cozinha de cabeça baixa e segurava algo dentro do bolso de suas vestes. Antes que Harry entrasse no recinto, o maroto lhe lançou um olhar significativo, como se pedisse calma... Isso o estava deixando cada vez mais angustiado. Mas quando finalmente cruzou a porta, compreendeu os pedidos de Gina e Lupin. Compreendeu, mas não aceitou, pois quando viu o cabelo oleoso, a pele pálida e o nariz adunco de Severus Snape, não conseguiu se conter e avançou para cima do ex-professor. Sendo detido por Lupin, Carlinhos e Arthur.

- Harry... – pediu Gina em seu ouvido – Por favor... – Olharam ao redor e viram que praticamente todos os membros da Ordem estavam ali.

- Calma Harry – disse Remo – A varinha dele está comigo, ele mesmo me entregou, não pode fazer nada contra nós.

- O QUE PODIA TER FEITO DE PIOR, JÁ FEZ! – gritou Harry.

Rony deu um passo firme em direção ao sonserino, mas sentiu o toque apertado da mão delicada de Hermione na sua. Virou-se para encará-la e recebeu um olhar apreensivo seguido de um gesto negativo com a cabeça. Obedeceu a pedido silencioso da amiga.

- Harry – Arthur começou – deixe-nos explicar...

- EXPLICAR O QUÊ? ESSE HOMEM MATOU DUMBLEDORE!!! O QUE ELE ESTÁ FAZENDO AQUI? COMO ENTROU AQUI?

- Tenho meus meios Potter. – respondeu calmamente Snape. – Entreguei minha varinha ao amigo do seu pai... Pode ficar tranqüilo.

- Só ficarei tranqüilo quando você e Voldemort forem destruídos!

- Harry, querido... – Molly interveio – se acalme... Nós iremos explicar.

- Vocês o trouxeram pra cá? – Rony interrompeu a mãe.

- Não, eu obriguei o Lupin a me trazer. – Snape se pronunciou.

- Ele descobriu meu disfarce junto aos lobisomens – explicou Lupin – E exigiu que eu o trouxesse para cá...

- Cretino! – disse Hermione.

- Onde está o respeito Granger? – dessa vez foi Hermione que não se conteve e avançou para cima do homem de preto, Rony a segurou pelos ombros e a abraçou por trás, mantendo-a presa junto a si – Muito bem Wesley... Vejo que criou um pouco de juízo, está até conseguindo conter a Granger!

- É melhor ficar calado, posso muito bem esquecer de me conter – respondeu ele friamente.

- Quietos! – disse Olho Tonto e virou-se para Snape – Você descobriu o disfarce de Remo, não o delatou, nos entregou sua varinha e pediu para vir até aqui... O que quer de nós?

- Proteção – respondeu simplesmente.

- Você só pode estar tirando uma com a nossa cara! – Harry não segurou uma risada sarcástica. Ainda segurava a mão de Gina que lhe olhava angustiada.

- Sempre querendo ser igual ao seu pai... – continuou Snape em tom de desprezo – E está conseguindo... Tantas morenas e louras bonitas por aí e você se encanta por uma ruiva. É patética essa sua obsessão!

O casal passou a respirar pesadamente, como para se controlar. Gina soltou bruscamente a mão do moreno e correu pra junto do pai que a abraçou. Remo colocou a mão no ombro de Harry para lhe passar segurança.

- Mas como eu ia falando – continuou o ex-professor – Não é para mim que quero proteção. Minha vida pouco importa agora.

- Bom saber disso... – interrompeu Harry.

- Olá galera! Belez... – Tonks ia entrando na cozinha quando estancou ao lado de Molly – O que ele está fazendo aqui?

- Calma, meu bem – Lupin acariciava seu rosto – Nós estamos no controle...

- Como vai Nimphadora? – cumprimentou Snape.

Ouvir seu nome na voz sarcástica daquele idiota era demais para ela. Ela bufou e avançou para cima dele proferindo palavras não muito amigáveis. Lupin a segurou e a levou para sala, a fim de explicar o que estava acontecendo.

- Como eu ia dizendo... – disse Snape após um suspiro impaciente – Quero proteção para Narcisa e Draco.

- Ficou doido! – falou Rony.

- E porque faríamos isso? – perguntou Arthur.

- Porque eles também são inocentes pagando o preço de uma guerra... Porque vocês são pessoas boas, Homens de Dumbledore, assim como eu.

Após ouvir as últimas palavras, nem Hagrid seria capaz de segurar Harry. Ele pulou em cima de Severo e deu-lhe um soco bem no meio do nariz. Ele apenas baixou a cabeça e tentou secar o sangue que escorria em sua face enquanto todos os homens do recinto seguravam o moreno. Molly murmurou um feitiço e de repente o sangue parou de jorrar do rosto de Severo.

- Você mentiu e enganou Dumbledore – Hermione tinha mágoa e raiva na voz – Não pode ser um de nós...

- Eu tinha um elo mental com ele, e fiz o que devia ser feito. Apenas obedeci às ordens do homem que confiou em mim quando ninguém mais confiava. Ele me pediu para me infiltrar e servir de espião junto à Voldemort. E assim o fiz. – a respiração dele tornou-se irregular e suas expressões ficaram duras – De acordo com o plano do próprio Dumbledore, se algo saísse errado, eu devia acabar com a vida dele. Dessa forma, a confiança de Tom Riddle em mim seria fortalecida. Dumbledore me forçou a fazer um voto perpétuo.

- Quem foi a testemunha? – disse Gui.

- Minerva – respondeu – logo depois, ele retirou esta lembrança dela com um feitiço. Apesar de confiar plenamente nela, ele temia por sua segurança. Ela sempre foi a aluna preferida dele.

- E por que ele não contou nada a ninguém? – perguntou Gina.

- Porque a informação podia vazar. Na noite em que Hogwarts foi atacada, ele me transmitiu todos os acontecimentos que Harry e ele haviam presenciado inclusive a poção. Nós sabíamos que não havia tempo de preparar um antídoto para o veneno, mesmo porque nem conhecíamos os ingredientes... Ele me disse o que tinha de ser feito, e eu fiz. – olhou ao redor e continuou – Dumbledore sabia que eu estava preso a dois votos perpétuos: um com ele e outro com Narcisa. Eu tinha que proteger Draco e honrar a confiança que Alvo tinha em mim... Ele me deu a solução, se eu tivesse recuado teria sido pior.

- Draco devia ter matado Dumbledore... E não conseguiu... Como Voldemort o perdoou? – Lupin, que voltara para o recinto com Tonks, perguntou.

- Belatrix foi a testemunha do meu voto perpétuo com Narcisa. Ele compreendeu minha atitude, mas não aceitou a desobediência de Narcisa. Encarregou-me de dar um jeito nela, e eu estou fazendo isso...

- Por que está agindo dessa maneira... Pra proteger Draco e Narcisa? – perguntou Molly.

- Você me compreende não é Arthur? – disse ele encarando o Sr. Wesley. – É incrível o que somos capazes de fazer para proteger aqueles com quem nos importamos.

- Ele está mentindo! – gritou Harry – como podemos ter certeza de que isto não é um plano?

- Duas palavras Potter: penseira e veritaserum. Definitivamente, você é um aluno medíocre.

- Mas ele saberá que você não cumpriu a ordem – disse rapidamente Arthur antes que Harry pudesse dizer alguma coisa.

- Eu já tenho um plano para isso. Vou precisar da ajuda de vocês. – todos lhe lançaram um olhar inquisidor – Algum de vocês vai ter que me lançar um imperius, que não seja o Potter... – olhou significativamente para o garoto – e me ordenará que eu acabe com eles. Obviamente irei obedecer. Mas vocês a salvarão. A lembrança de Narcisa e Draco sendo salvos será retirada de minha mente, assim como tudo o que vi aqui. Também usarei oclumência. Treinar contra Tom me deixou realmente poderoso nisso.

- Onde estão os dois? – perguntou Rony.

- Em um lugar seguro. Os trarei para a guarda de vocês. Mas acho que antes vão querer ter certeza sobre minha honestidade...

- Certamente – disse Olho Tonto – Carlinhos e Gui, quero que vão à Hogwarts falar com Minerva e tragam a penseira de Dumbledore, assim como todos os pensamentos que puderem encontrar.

- Há veritaserum na minha sala... – começou Snape.

- Sua sala?! – disse Tonks – Você não tem mais sala em Hogwarts... E não lhe daremos uma poção feita por você, pode haver um ingrediente errado.

- Brilhante Tonks! – Snape bateu palmas – Tudo bem, eu bebo uma poção que não tenha sido preparada por mim... Mas só ser for feita pela Granger. Tenho medo de ser envenenado por algum erro dos meus alunos medianos. E se isso acontecer, não poderei ajudá-los...

Todos olharam de Snape para Hermione que ria com desdém. Ela se aproximou dele e disse em tom provocativo:

- Será um prazer professor. Ficarei muito feliz em preparar uma poção para alguém que tem o sangue tão ruim quanto o meu, para um “príncipe mestiço”... – enfatizou bem a última palavra.

Rony inspirou profundamente esperando a reação que não veio. Hermione apenas virou-se e caminhou para a porta.

- Rony – chamou ela suavemente – Você pode me ajudar com os ingredientes e o caldeirão?

- Claro – ele lançou um olhar mortal para Snape e seguiu para as escadas.

- Sempre subjugados pelas mulheres – murmurou Snape para si mesmo – É o nosso destino...

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Ainda naquela noite, a penseira de Dumbledore chegou à Toca. Harry, Hermione, Rony, Arthur, Olho Tonto e Lupin puderam conferir que as palavras de Snape, apesar de inusitadas, eram verdadeiras. Mesmo diante das circunstâncias, Severus Snape era realmente um dos homens de Dumbledore. Harry não ficou feliz ao constatar isso. Ainda odiava o antigo professor do mesmo jeito. O mesmo ocorria para os seus dois amigos.

No dia seguinte o plano foi realizado com sucesso. Narcisa e seu filho foram levados para a Toca. Lá seria o último lugar onde Voldemort iria procurá-los. Mas Snape ia cuidar para que ele acreditasse na morte dos dois. Obviamente, não participariam da festa de casamento.

- Obrigada por nos acolher em sua casa Molly – disse Narcisa um pouco constrangida – Sei que nunca nos demos muito bem... Mas, digamos que eu “quebrei a cara”...

- Não temos o luxo com o qual está acostumada – começou a Sra. Wesley.

- Mas tem o mais importante, a segurança – interrompeu Narcisa – Nada será capaz de pagar o que estão fazendo por mim... Obrigada.

- É uma pena que seu marido receba a notícia de suas mortes...

- Lucius escolheu seu caminho. Terá o que merece quando o Lord for destruído. Não tenho pena dele... Ele nos abandonou – havia rancor em sua voz – Mostrou o quão fraco é.

- Você não ama seu marido?

- Amor? – Narcisa deu um sorriso sarcástico – Em nosso mundo não existe amor. Somente aquilo que é conveniente. E na época, meu casamento com Lucius era perfeito do ponto de vista material. Mas não pode haver amor em uma casa onde seu dono serve ao senhor do ódio.

- E seu filho?

- Draco... Ele sempre foi minha luz... Meu bote salva-vidas. Você não imagina o tamanho da minha felicidade, do meu alívio ao saber que ele não vai seguir o caminho do pai. Que ele ainda pode ter amor em sua vida.

- Snape parece gostar muito de você...

- Severo... – ela sorriu ternamente, e depois ficou séria – Ele odeia Voldemort... Com todas as suas forças.

- Por quê?

- Voldemort arruinou a vida da mãe dele... Mas Eileen Prince era um ser muito insignificante para o Lord das Trevas lembrar... Já Severus... Ele lembra perfeitamente de tudo o que Voldemort fez para sua família. Por isso tanto interesse pelas artes das trevas. Por isso tanto ódio dentro de si. Mas comigo é diferente. – sua voz tinha o tom sonhador. – Eu vou esperar por Severus. Até tudo isso acabar. Até o Lord ser destruído. E então poderemos viver aquilo que começamos em Hogwarts, mas agora sem ter que se esconder, sem medo. Seremos livres finalmente.

- E eu desejo profundamente – disse Molly segurando as mãos da mulher e olhando em seus olhos – que vocês consigam ser felizes. Todo mundo merece ser feliz e vocês não são diferentes. Embora tenhamos nos enganado muito com você... E com ele também.

- Obrigada... Muito obrigada Molly – disse a loura com lágrimas nos olhos – Ao contrário do que me foi ensinado, vocês são donos de uma riqueza maior do que a de qualquer banco. Obrigada de verdade. – ela enxugou as lágrimas e sorriu – Mas, eu vejo que vocês estão às vésperas de um casamento... Se quiserem, eu posso ajudar.

- Claro! Nós ficaremos muito felizes de ter sua ajuda Narcisa.

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Draco estava encostado na janela da sala da Toca olhando para fora. Havia muita gente ocupada na arrumação da festa. Ele não podia nem botar o pé fora da casa, era para sua proteção. Pensava em seu ódio. Em quanto odiava estar ali. Em quanto odiava as pessoas que o deixaram nessa situação.

- Olá – Gina o tirou de seus pensamento – Você quer comer alguma coisa?

- Não.

- Então... Beber alguma coisa?

- Não.

- Que tal sorrir um pouco? Ou quem sabe tomar uma dose de veneno? – disse ela sarcástica.

- Não enche Wesley!

- Você é ridículo sabia? Como alguém pode viver assim, odiando o mundo?

- Não odeio o mundo garota. Somente as pessoas que queriam retirar a coisa mais importante da minha vida, minha mãe. Odeio Voldemort... E o meu pai. Ah, e só pra não perder o hábito, odeio “o cicatriz” também. – e sorriu ironicamente.

- Vamos Malfoy... Dumbledore acreditava em Snape e estava certo. Tenho certeza que não errou com você também... Eu aposto que você é um bom menino.

- Vai ajudar sua cunhadinha, garota Wesley. Aposto que ela está precisando de você. – A expressão de Gina mudou na hora – Viu? Você também odeia alguém... É bom saber que não estou sozinho no mundo.

- Você é ridículo! – e Gina correu para as escadas esbarrando em Lupin que descia com Snape.

Severus já tinha repassado todo seu plano de espionagem (à base de veritaserum) para os membros da Ordem. Agora ele tinha que voltar para junto de Tom. Quando ele estava saindo, cruzou com Harry que entrava na casa.

******************************

Ao perceber que Snape estava saindo, Narcisa correu da cozinha para se despedir dele. Ignorou os pedidos de Molly e correu para o jardim.

- Severo! – chamou ela.

- Cissy, volte para dentro! – brigou ele.

- Ia embora sem se despedir de mim...

- É melhor assim.

- Tome cuidado! – disse ela o abraçando fortemente.

- Eu vou voltar pra você – disse ele encarando os olhos azuis dela – Eu prometo! Não saiam daqui por nada, está ouvindo? Você e Draco estarão seguros aqui. Não vou abandoná-la nunca, está ouvindo? Nunca!

Ele capturou os lábios da mulher em um beijo forte, apaixonado. Depois beijou a cabeça dela, retirou um pequeno frasco de suas vestes e puxou sua varinha.

- Eu amo você Cissy...

- Eu também amo você meu querido!

Ele encostou a ponta da varinha nos cabelos negros e retirou de lá um fio prateado que colocou dentro do frasco entregando para ela em seguida. Logo após, caminhou para fora dos terrenos da Toca, onde poderia aparatar. Narcisa apertou o frasco contra o peito e correu para dentro da casa.

Dentro da sala Harry observava a cena que se desenrolava do lado de fora através de uma janela ao lado de onde Draco estava.

- Isto não te enoja? – Perguntou para Draco.

- No começo era estranho, eu confesso – respondeu o louro friamente – Muito estranho... Mas agora eu já me acostumei... Ele faz minha mãe feliz e isso é o mais importante para mim.

Harry não esperava uma resposta desta. Sentiu uma pontada no peito... Talvez um pouco de inveja do amor que Draco devotava à mãe... E ele nunca pôde experimentar isto. Pensou, no fundo, se não estava enganado sobre Malfoy. Talvez ele tivesse algo de bom dentro dele.

**********************************

Era uma tarde agradável de verão. Nem muito quente, nem muito vento. Tudo perfeito para um casamento.

- Peraí... Tô acabando – disse Gina passando a última camada de gloss nos lábios de Hermione – pronto! Levanta pra eu te ver... – Hermione obedeceu e deu uma voltinha ao redor do próprio corpo – Mione, você tá linda!

Hermione vestia um conjunto de corpete com saia verde escuro, que mais parecia um vestido. O modelo lembrava os vestidos medievais e realçavam bem as curvas da garota. Seus cabelos estavam soltos em cachos grandes que desciam por suas costas e com alguns brochinhos com pedrinhas em formato de flores espalhados sobre as ondas em sua cabeça.

- O Rony vai morrer quando te vir!

- Não fale bobagens Gina!

- Ora... Por que bobagens?

- Gina...

- Sinceramente, eu não sei por que vocês ainda não se agarram de uma vez e resolvem logo este negócio.

- Ginevra!!!!

- Tá bom... É que eu gosto tanto de você Mione... Fico doida pra você fazer realmente parte da família Weasley!

- Bom, então eu tenho que me apressar – disse a morena em tom sarcástico – Só sobraram 5 opções, já que o Gui tá casando né?

- Deixa eu ver... – Gina fingia pensar seriamente sobre algo – Acho que o Carlinhos é muito velho pra você... E também ele tem uma namorada na Romênia que eu sei! Ela é auror. Bem... Se você ficar com o Percy eu não te perdôo nunca – um acesso de risadas – Fred e George... Acho que não fazem seu tipo, muito menos eu – Hermione fez uma cara de “é claro que não!” – Ops! Acho que só sobra o Ron, que coisa não? – A ruiva proferiu as últimas palavras em um tom irônico e lançou um olhar significativo para a amiga.

- Tudo ao seu tempo Gina.

- Ô tempinho demorado heim? – a ruiva foi para frente do espelho – E esse vestido ridículo! Ai como eu odeio a Fleur!!!!

Gina estava com um vestido tubinho na cor champagne bem simples, mas todo bordado com pedrarias de cor um pouco mais escura que o tecido. As alças finas desciam cruzando várias vezes em um generoso decote em suas costas. Os cabelos cor de fogo estavam presos em um rabo de cavalo alto, com algumas mechas soltas na franja. E em suas mãos, as benditas luvinhas de renda que iam até os cotovelos.

- Você tá linda! Conseguiu dar vida a esse vestidinho sem graça, ele ficou perfeito em você. Aposto que deve estar horrível na Gabrielle.

- Ah tá...

- Eu tenho certeza eu o Harry vai adorar.

- Que é isso Mione! O Harry nem olha pra mim.

- Gina, a gente sabe que isso não é verdade. O Harry só falta babar de tanto olhar pra você.

- Tá. Esse é o problema! Eu não quero o Harry só olhando pra mim. Eu o quero me beijando. Quero as mãos dele tocando meu corpo... Quero o corpo dele colado ao meu...

- Ginevra!!!

- Ai, que é isso Mione?! Deixa de ser puritana! Vai dizer que nunca pensou no Rony dessa maneira...

Hermione corou furiosamente. Mas Gina segurou o riso, não queria deixar a amiga mais constrangida. Imagens de sonhos vinham à mente da morena. Sonhos em que Rony finalmente a tomava nos braços. Ela sacudiu a cabeça discretamente para espantar estes pensamentos.

- Eu já vou descer. Tenho que ficar com meus pais – disse ela.

- E eu vou esperar a “Fleuma” – disse Gina indo para o quarto onde a noiva se aprontava.

Hermione desceu as escadas para encontrar seus amigos. Viu que eles já estavam na sala e conversavam animadamente com Amélie. Na verdade, ela e Harry conversavam mais. Rony apenas concordava com algumas coisas e sorria das observações deles. Depois voltava seu olhar para um ponto específico no assoalho.

Ele parece nervoso... Pensou Hermione.

Rony pareceu sentir a presença dela quando esta chegou ao último degrau. Olhava-a com admiração e a respiração profunda.

- Nossa Mione! Você tá linda!

- Obrigada Harry – Hermione agradeceu corando um pouco. Rony permanecia calado olhando para ela.

- E então, vamos? – Harry deu o braço à francesa.

- Clarrro – ela respondeu e acompanhou Harry até a porta. Hermione não gostou nem um pouco daquilo.

Hermione seguiu atrás deles, mas a mão de Rony em seu braço a deteve. Ela se virou devagar para enxergar-se dentro do azul daquele olhar.

- Vamos? – ela perguntou sem jeito.

- Você está encantadora – ele sorriu e ela retribuiu com um sorriso tímido – Parece uma daquelas mulheres... Que os gregos acreditavam... Sabe aquelas que protegiam a natureza – ele fez uma careta tentando lembrar o nome delas – uma... Linfa?

- É “ninfa” Ron, “ninfa”... – Hermione abriu seu maior sorriso.

- Exatamente isso o que eu queria dizer!

- Obrigada! – ela passou a mão pelo traje de gala preto que ele usava – E você está parecendo um Lord!

- Obrigado! – suas orelhas ficaram rubras. E ele estendeu o braço para ela – Vamos?

Hermione apenas sorriu e enlaçou seu braço no dele. Juntos foram para o jardim onde seria realizada a cerimônia.

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A música começou a tocar e todos se voltaram para ver Fleur seguindo para o altar. Gina e Gabrielle iam à frente. A ruiva carregava as alianças enquanto a irmã da noiva espalhava pétalas de rosas brancas pelo caminho. Gui estava maravilhado. Ainda tinha algumas cicatrizes marcando seu rosto mas a felicidade em seus olhos parecia apagar completamente aquelas marcas.

A cerimônia foi linda. Os votos ditos pelos noivos fizeram praticamente todas as mulheres chorar. Após a benção do mago-sacerdote o jardim foi transfigurado em um belo local cheio de mesas e cadeiras, uma pista de dança ricamente decorado.

Hermione, Rony e Harry estavam sentados em uma mesa, não muito longe da que havia sido reservada para os pais de Hermione e Rony. O trio bebia cerveja amanteigada e conversavam animadamente sobre coisas diversas. Nada de planos e estratégias por hoje. Gina se aproximou deles com um sorriso forçado no rosto.

- Agora deixa eu desemparafusar o meu lindo sorriso! – disse ela entre os dentes e depois massageou o maxilar com a ponta dos dedos – Eu não agüentava mais tantas fotografias!

- Relaxa Gininha – Rony falou e ela bufou – Você está linda com essas luvinhas.

- Eu acredito! – disse ela perigosamente.

- Está sim – disse Harry baixinho.

Gina olhou para ele corando, depois encarou Hermione que lhe deu um sorrisinho cúmplice e encorajador. Então ouviram o som de uma valsa. Quando olharam para a pista viram Fleur e Gui dançando. Após a primeira música Gui dançava com a mãe de Fleur e esta com seu pai, para depois o noivo dançar com sua mãe e a noiva com o pai deste. Aos poucos a pista foi sendo preenchida por outros casais. Tonks tentava guiar Lupin. Hagrid conduzia Maxime...

Harry levantou-se e estendeu a mão direita para Gina que o mirou espantada. Hesitante ela pegou a mão do rapaz e foram juntos para a pista de dança. Hermione sorria, exultante, Rony olhou para ela também sorrindo.

- Você sabia? – perguntou a morena.

- O que ele ia fazer agora? – respondeu ele – Não. Sabe, acho que ele está agindo por impulso.

- Ás vezes, as melhores coisas são feitas por impulso – ela disse e recebeu um olhar assustado do amigo – Certo... – respondeu ela sem jeito – Somente às vezes... Bem poucas vezes...

- Veja como estão felizes... – disse o ruivo.

- Estou tão feliz por eles! – Hermione, sem pensar, jogou os braços ao redor do pescoço do ruivo. Ele segurou-a como podia, já que estavam sentados, mas não afrouxou o abraço.

- Dança comigo? – sussurrou no ouvido dela.

Ela se afastou e olhou nos olhos dele.

- Eu prometo não pisar muito no seu pé... – completou ele – eu andei treinando.

- Treinando? – ela perguntou com as sobrancelhas arqueadas.

Com quem será que ele andou treinando?

- Tonks – respondeu ele simplesmente – Ela me deu aulas...

Hermione sorriu e deu um beijinho no rosto de Rony.

- Claro que quero – disse ao ouvido dele, mas depois se afastou um pouco, ao perceber que seus pais estavam olhando.

Ele levantou e deu a mão a ela. Ela sorriu para a mãe e seguiu o ruivo.

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Harry conduziu Gina entre os casais. Parou em um local mais afastado e a envolveu em seus braços e começaram a se mover no ritmo da música.

- Você está realmente linda – ele disse – Eu nem consegui enxergar a noiva quando você entrou...

- Está dizendo isso só pra me agradar. – ela respondeu cautelosa.

- Se a verdade te agrada... Isto me deixa muito feliz.

Gina se afastou para olhá-lo. Ele sorriu e a trouxe para mais perto e ela encostou a cabeça no ombro dele. Harry fechou os olhos e sentiu o perfume dela. Encostou a face nos cabelos vermelhos e pôde sentir a maciez.

- Fica comigo... Hoje.

- Fico... – ela respondeu – Sempre.

O monstro no peito de Harry rugiu feliz. Ele não pôde conter o sorriso de felicidade em seu rosto. Sentia que a moça também sorria. Ele a apertou mais e ela se aconchegou nos braços dele. Pararam de dançar, para apenas se abraçarem. Após um tempo assim voltaram a seguir o ritmo da música. O garoto abriu os olhos e percebeu que o mundo adquirira uma nova tonalidade. Estava mais colorido, mais feliz. As pessoas ao seu redor pareciam felizes... Eles estavam em uma ilha de felicidade em meio a toda a escuridão.

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Rony e Hermione dançaram por um bom tempo. Músicas agitadas e até lentas. Ele cumpriu a promessa e se mostrou um dançarino até habilidoso. Algumas vezes foram interrompidos por Gabrielle que pedia para dançar com o ruivo, mas logo que a música acabava, ele voltava para junto de Hermione. Então se sentiram um pouco cansados e com sede, foram para a cozinha. Somente lá havia água. Ela estava vazia. Hermione apoiou-se na pia enquanto Rony pegava um copo e o enchia com água para entregar a garota:

- Se está cansada, porque não senta um pouco? – Disse o ruivo enquanto encostava-se também na pia.

- Porque logo iremos para fora novamente – ela disse ficando de frente para ele e pegando o copo que lhe era oferecido e sorrindo, continuou – Gabrielle gosta de você, talvez estejamos assistindo ao nascimento da nova versão Harry Potter/Gina Weasley... – mas parou de repente.

“Oh meu Deus, porque estou dizendo isto?”

- Sabe – respondeu ele corando e fitando o copo na mão de Hermione que agora estava em cima da pia – Eu aposto que não. Tá, ela é quase uma veela... Mas tenho que admitir, são um pouco abusadinhas... E... Erm... Bem, acho que já tive minha cota de namoradas abusadas saturadas pela Lilá...

Ambos sorriram. Agora ela podia sorrir, mas não esquecia da tortura que era conviver com um Rony que vivia soterrado por abraços e beijos de uma Lilá apaixonada. Ficou observando o sorriso do amigo. Desde quando Rony tinha um sorriso tão perfeito? Cada traço do seu rosto contribuía para a harmonia daquele sorriso: os dentes perfeitos, os lábios entreabertos, os olhos apertados meio que cobertos por mechas de cabelos cor de fogo que teimavam em cair sobre eles... Num movimento rápido e impensado ela levantou uma mão e levou aos cabelos do garoto a fim de tirá-los do rosto. Quando o toque foi totalmente completo sentiu que Rony havia estremecido (ou seria ela mesma?) e seus olhares se cruzaram. Não sorriam mais. Estavam sérios, concentrados em uma espécie de transe. Hermione sentiu que a coisa mais sensata a fazer era tirar a mão daquele mar de fogo, mas não conseguia, era como um imã muito forte. Ela sentiu quando os dedos dele cobriram os seus em cima da pia, agora sem o copo que estava solto em algum lugar por ali. Sentiu que os dedos iam subindo por seu braço, devagar, suavemente... Percebeu quando os olhos do ruivo passaram a percorrer todo o seu rosto e de repente pararam fixando seus lábios.

Ah, Merlin... Ele vai me beijar...

Os dedos continuaram subindo e pousaram na parte de trás do pescoço da garota, ela sentia seu estômago encolher, era como se ele estivesse sendo jogado no Lago de Hogwarts em pleno inverno.

Ah, Merlin... Ele vai me beijar...

Sentiu que ele fazia uma leve pressão para trazer a cabeça dela para mais perto da dele.

Ah, Merlin... Ele vai me beijar...

A menina deixou-se conduzir e instintivamente fechou os olhos, no momento em que Rony fazia o mesmo.

Ah, Merlin... Ele vai me beijar...

Podia sentir o calor que emanava do corpo dele, seu hálito doce.

Ah, Merlin... Ele vai me beijar...

Ela entreabriu os lábios para receber os do amigo, uma distância mínima impedia que o contato se concretizasse...


- Rrronald, cadê você? Prrrecisso de ssua ajuda...

Hermione teve um sobressalto e empurrou o amigo para longe caminhando para a janela. Pôde ouvir um suspiro impaciente vindo do lado para onde Rony fora empurrado. Ela mesma suspirara também, queria esganar aquela francesinha idiota...

- Ah Rrrronald, você está aí... Herrrmione, seus pais estão te prrrocurrrando.

- Eu já estou indo.

Ela percebeu que o garoto olhava para ela, mas não retribuiu o olhar, estava confusa e envergonhada demais para isso. E caminhou para a porta enquanto ouvia uma voz entediada atrás de si:

- Diga Gabrielle, em que posso ajudá-la?

Enquanto caminhava de volta para a festa, um turbilhão de pensamentos faziam Hermione sentir-se tonta.

Ele ia me beijar... Por quê? Por que me olhou daquele jeito? Por que me tocou daquele jeito? Por que EU o toquei daquele jeito? Por que aquela garota estúpida tinha que existir?

Sem perceber, passou direto pela mesa onde estavam seus pais e o Sr. Wesley e parou na frente da mesa de bebidas.

Acho que preciso de um gole de whisky de fogo, só um, não vai fazer mal...

Pegou um copo e virou num gole só, sentiu-se incendiar por dentro, suas pernas bambearam e ela a teve que se apoiar na mesa. Então ela viu Gina e Harry de mãos dadas indo para um lugar mais afastado. Ela suspirou e abriu um sorriso.

Ao menos eles vão se entender...

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- Eu quero beijar você... – Harry sussurrou. Gina olhou para ele estática. – Eu quero muito beijar você.

- Harry... Eu... Ah, não faz isso comigo... – pediu Gina chorosa.

- Esquece tá? Eu só falo besteira... – respondeu ele afrouxando o abraço.

Gina olhou para o garoto. Droga! Eles mereciam ser felizes... Ao menos por hoje. Sem lembranças, sem promessas, sem batalhas, sem planos... Somente felizes. Gina sorriu para ele.

- Não fala não... Você apenas falou algo que nós dois queremos. Vem comigo – e puxou ele para longe da multidão de convidados.

Caminharam lentamente de mãos dadas por um tempo. Então Harry a abraçou e continuaram o passeio com os corpos unidos. Quando deram por si, estavam na margem do lago. Gina indicou um lugar embaixo de uma árvore onde poderiam sentar. Harry conjurou uma toalha e sentou encostado no tronco com Gina entre suas pernas encostada em seu peito.

- A festa está linda – começou ele – vocês capricharam!

- Obrigada... Eu sei que nós fizemos um bom trabalho...

- Convencida!

- Realista! – eles riram.

- Então, como foi a experiência de carregar alianças?

- Horrível! Eu me senti como se fosse uma bonequinha de porcelana...

- Porrrcelaine - Harry imitou Fleur e Gina sorriu. – Você fez um bicho-papão do vestido... Eu pensei que ele tinha cogumelos pendurados, sei lá! Mas na verdade, ele é muito bonito... – Gina colocou o braço na frente dos olhos dele – Eu acho que a luvinha ficou bem em você...

- Eu não. Se você gosta, usa!

- Não... Eu prefiro cores mais escuras...

- Você está muito gaiato hoje Sr. Potter. Comeu carne de palhaço foi?

- Comi o quê?

- Carne de palhaço oras!

- Quem é o gaiato aqui?

- Merlin! Isso é contagioso! – Gina se afastou e o encarou fingindo surpresa.

Ficaram se observando por um tempo. Ela percebeu que ele tinha um sorriso estampado no rosto. Parecia feliz. Ela também devia estar com a mesma expressão. Não era pra menos, estavam os dois conversando sobre coisas banais, mas divertidas, em baixo de uma árvore como se nada estivesse pra acontecer. Como quando eram namorados em Hogwarts. De repente, a ruiva percebeu uma névoa perpassar os olhos verdes, somente por alguns segundos. Como uma sombra de tristeza que se faz presente de forma fulgás. Logo após, ele já estava rindo de novo.

- Você reparou no Rony e na Hermione? Eles parecem estar muito bem né?

Gina endireitou o corpo e ficou de frente para ele.

- É reparei sim... – ela sorriu maliciosa – Não sei o que eles estão esperando pra se agarrarem no primeiro canto escuro que aparecer... – de repente ela se calou e ficou séria, não devia ter dito isso. Mas o fez. Sem nenhuma malícia, sem nenhuma intenção, mas fez.

- Você está coberta de razão – disse Harry para em seguida agarrar a moça e perder-se entre beijos e carinhos.

Ronald voltava em passos rápidos para o jardim. Procurava por ela. Como estaria? O que estaria pensando depois de... oras, depois de quase ter sido beijada! Ele passou a mão pelos cabelos, nervoso. Como ia falar com ela de novo? A partir de que assuntos começariam uma conversa civilizada, quando, se a lourinha abusada não tivesse chegado, eles poderiam estar aos beijos? O corpo dele estremeceu com esse pensamento.

Droga de garota inoportuna!

Sentiu vontade de espancar a irmã de sua cunhada naquele momento. Tudo estava tão perfeito, as coisas se encaixavam tão bem... aí vem a Gabrielle pra fazer um pedido tão besta...

Quando, em nome de Merlin, eu vou ter coragem de tentar beijar a Hermione de novo? Quando a constelação de Órion estiver alinhada com a das Plêiades? Só se for...

Ele olhou ao redor e viu seus pais sentados em uma mesa conversando animadamente com os pais de Hermione... o Sr. Granger estava com o braço esquerdo envolta da cintura de alguém que estava de pé... vestida de verde...

Merlin!!! Ela está abraçada com o pai dela... Calma, calma... é só passar e fingir que ao está vendo...

- Rony! Pode vir aqui sim? – era a voz de Molly.

Valeu mãe... Pensou ironicamente.

Ele foi até a mesa. Olhou rapidamente para a amiga, mas ela olhava fixamente para a mão do pai em sua cintura.

- Rony, meu filho, você viu a Gina? – perguntou sua mãe.

- Er... – ele pigarreou – Deve ter subido... pra se livrar das luvinhas sabe? Ela odiou aquelas luvinhas... – Hermione sorriu discretamente com a desculpa arranjada pelo amigo.

- Eu não vejo porquê – disse a Sra. Granger – Eu achei que ficaram muito bem nela...

- Por mais que a gente diga isso – respondeu Rony – Ela não acredita... e olha que já dissemos várias vezes... ela é muito teimosa.

- Como o irmão – emendou Hermione, ele estreitou o olhar de forma divertida.

- Como você – o Sr. Granger disse para a filha.

- Papai! – ela disse escandalizada, Rony sorriu.

- Como o Harry – disse Arthur – Os quatro são muito teimosos, embora o Harry seja mais fechado e esses três sejam mais brigões. Talvez por isso sejam tão amigos.

Os adultos riram da cara de indignação dos dois jovens.

- Eu vou pegar uma cerveja amanteigada – disse Hermione.

- Eu pego pra você – falou Rony.

- Não precisa, eu pego...

- Me deixa ser um pouco cavalheiro...

– Podem ir buscar a bebida juntos, - disse a Sra. Granger – acho que devem estar entediados com nossa conversa chata.

Obrigada mãe... O pensamento sarcástico de Hermione se pronunciou.

Saíram os dois em direção à mesa de bebidas. Antes que Rony pudesse pegar a bebida, ela mesma o fez. Seria um déja vu muito inconveniente...

- O que a Gabrielle queria?

- Que eu pegasse uma caixinha no quarto da Fleur.

- Ela não podia fazer isso sozinha?

Por que eu não consigo manter minha boca fechada? Gritava a consciência da morena.

- Estava em um lugar muito alto.

- Por algum acaso não ensinam um feitiço chamado “accio” em Beauxbatons?

Cala a boca sua matraca!!! Mas a boca parecia não querer obedecer á razão de Hermione.

- Talvez porque ela não conseguiria beijar um feitiço...

- Ela beijou você?! – Perguntou ela assustada.

- Ela tentou, mas eu não deixei...

- Onde ela está agora?

- Não sei, saiu chorando do quarto.

- Você é mesmo um insensível Ronald...

- O que você queria que eu fizesse? Deixasse ela me beijar, quando na verdade não era o que eu queria? – exasperou-se o ruivo.

Hermione se assustou com a resposta do ruivo. Uma alegria começou a tomar conta do corpo dela. Se ele não queria Gabrielle e havia tentado beijá-la a poucos minutos então... Estava prestes a se atirar no pescoço dele quando viu Amélie se aproximando.

- Fleur vai jogarrr o buquê agorrra! Cadêê sua irrrmã Rrrony?

- Não sei.

- Encontrrrei a Gabrriellle, mas a Ginny.. Vamos Herrrmiônne – e saiu saltitante.

- Eu não vou – disse ela.

- Por que? – perguntou o ruivo.

É o que você pensa! Mas Rony não conseguiu pronunciar seu pensamento.

************************************

- Vem comigo – Gina conduzia Harry pela mão.

- Onde você tá me levando?

- A um lugar secreto... ninguém pode saber que existe. Nem eu sei que ele existe!

- Como assim?

Gina parou em frente a uma frondosa árvore e fez um movimento com a varinha. No lugar da árvore apareceu uma construção irregular de madeira. Parecia um galpão.

- Vem – disse ela empurrando a grande porta de madeira – O papai construiu. Um dia eu o segui até aqui, ele não sabe que eu conheço este lugar. Lumus! – e o ambiente ficou iluminado.

Harry entrou atrás de Gina e viu que estavam em um lugar que parecia uma garagem trouxa. Havia ferramentas e peças de automóveis. Num canto, ele pôde enxergar a sombra de um objeto enorme...

- Um jipe?! – Exclamou ele – Mas, como...

- Exatamente – Gina sorriu – Você acha mesmo que meu pai ia ficar quieto depois de perder o Ford Anglia dele? Desde sua aventura com o Rony que ele está trabalhando nesse jipe...

Harry sorriu. A típica teimosia dos Wesley. Na verdade, ele percebia que uma das maiores características de todos naquela família era a perseverança. A vontade de levar adiante sonhos e planos. Eles não desistiam fácil do que queriam e acreditavam. Ás vezes essa característica podia ser danosa. O que dizer de Rony? O que dizer de Gina? (...) Na verdade Harry achava a teimosia de Gina encantadoramente fascinante...

- Eu costumo vir de vez em quando. É sempre bom pensar um pouco né? – ela sorriu – Vai ficar aí parado? Vem!

Harry pegou a mão dela que o encaminhou para perto do carro. Abriu a porta, e os dois entraram e sentaram nos bancos dianteiros.

- Eu o acho fascinante – começou ela – Ainda vou ter um parecido só pra mim! – ela sorriu.

Harry fitou a garota. Ela era tão linda... E havia chegado o momento. Afinal, fora para que chegasse a esta situação que ele sugerira há pouco que procurassem um lugar mais tranqüilo... Dissera o quanto a queria e desejava tê-la para sempre perto de si... Definitivamente, não havia como voltar atrás.

- E então? Gostou dele? – Gina perguntou sorrindo.

- É perfeito.

Gina olhou para o garoto. Mais uma vez percebeu uma sombra passar pelos olhos esmeralda. Aquilo a deixou um pouco preocupada. Sabia do peso que ele estava carregando, queria que ele dividisse um pouco com ela. Que conversasse... mas seus pensamentos foram interrompidos pelos beijos de Harry.

Em um momento ele estava perdido em seus pensamentos. Questionava-se se devia seguir em frente... no outro tomou sua decisão definitiva e agarrou a ruiva. As mãos dela foram para o pescoço dele, enquanto as dele acariciavam o rosto de Gina. Beijavam-se com ternura e Gina estava adorando aquilo.

De repente ele inclinou o corpo sobre o dela, fazendo com que se deitassem no banco traseiro. Ele pensou se poderia estar machucando o corpo pequenino com seu peso, mas os braços de Gina trazendo-o para mais perto fizeram-no esquecer esse pensamento.

Gina sentiu os lábios dele tocarem seu pescoço. Ela sorriu. A pele dele sobre a dela era a coisa mais certa que podia existir. Sentiu que a mão do garoto baixava a alça do vestido e seu ombro era coberto de beijos que cada vez mais deixavam de ser lentos e ternos para se tornarem fortes e intensos.

Ele tinha que se controlar. Tudo o que havia planejado dependia do seu controle. Mas estava praticamente impossível, quando o monstro em seu peito exigia que ele não se afastasse daquela pele que ele tanto amava. Ainda havia outros fatores que não estavam colaborando muito: as mãos dela, os lábios dela, o cheiro dela. Tudo aquilo estava entorpecendo seus sentidos. Então, como num flash, seu destino passou diante de seus olhos e ele suspirou afastando seu corpo de Gina.

- Não podemos... – começou ele.

- Que foi?

- É melhor pararmos...

- Eu não quero parar. – disse ela divertida – Você quer?

- A questão não é essa. – ele estava sério.

- Então qual é a questão? – ela também ficou séria.

- Ah Gina... uma coisa é a gente ter momentos agradáveis juntos. Outra completamente diferente é eu me aproveitar da irmãzinha do meu melhor amigo...

- Como é? – perguntou chocada.

- Eu só acho que as coisas estão tomando rumos...

- Não! – ela respirou fundo – Repete a última frase...

Harry suspirou.

- Outra coisa é eu me aproveitar da irmãzinha do meu melhor amigo.

- É isso o que eu sou pra você? Somente a irmãzinha do seu melhor amigo?

- Gina...

- Eu pensei que...

- Escuta aqui, minha vida está de cabeça pra baixo... caramba! Eu ainda sou um garoto de dezessete anos! Tenho certas necessidades... você é linda e sabe me provocar! Mas não é porque eu estou com hormônios em ebulição que eu vou me aproveitar de você para descarregá-los!

- Descarregar hormônios? – Gina demonstrava decepção na voz – Eu não acredito... eu não consigo acreditar no que estou ouvindo. Harry, eu pensei que...

- Eu nunca prometi nada a você Gina.

Os olhos da ruiva se abriram, estavam queimando. Mas ela não ia chorar. Não na frente dele.

- Tem razão. Você nunca falou a palavra amor.

- Por favor, não me queira mal...

- Se o fato de a irmãzinha do seu melhor amigo ficar lhe provocando é mais um problema na sua vida tão bagunçada, pode ficar tranqüilo. Você não precisará mais se preocupar com isso.

E saiu deixando um garoto de olhos verdes arrasado, mas convicto de que não havia mas chance de tentar repensar suas ações. Tudo já estava encaminhado, a primeira parte do plano estava completa. Agora tinha que voltar e dar continuidade ao seu plano. Mais do que antes, ele tinha que “aproveitar a festa” e sabia exatamente quem procurar.

**********************************

Hermione tinha assistido, entediada, o ritual do buquê. Tá, não tão entediada assim. O fato de Rony estar ao seu lado, gargalhando de todas aquelas mulheres histéricas dava um apelo engraçado à situação. Principalmente quando a felizarda havia sido Tonks, o que deixou Lupin muito corado. Hermione não conseguiu segurar algumas risadas.

Então ela percebeu um ponto avermelhado caminhando apressadamente em direção à casa. Olhou para a direção de onde Gina vinha e percebeu Harry caminhando de ombros caídos, embora tentasse colocar um sorriso nos lábios. Deu dois passos na direção de Gina, mas sentiu a mão de Rony segurar seu braço.

- Aonde vai?

Sorte. Ele não tinha percebido a irmã praticamente correndo. Era melhor assim.

- Banheiro. Volto já. – disse rapidamente e indo para dentro da casa.

Seguiu diretamente para o quarto da ruiva e bateu na porta.

- Gina... Posso entrar? – mas ela não precisou fazer movimento algum, a porta se abriu imediatamente mostrando uma Gina de olhos vermelhos.

- Ele é ridículo!

- O que aconteceu?

- A gente tava super bem, ele tava todo carinhoso... – a ruiva fungou – aí as coisas começaram a esquentar e de repente...

- Gina, você não acha que ele tá certo? – interrompeu Hermione – É um passo muito sério pra se tomar assim, num arroubo de emoção.

- O fato de ele querer esperar não me deixaria chateada! Mas ele disse que não queria se aproveitar da irmãzinha do melhor amigo! Isso me deixou possessa!

- Ah meu Deus! Gina...

- Quer saber? Eu não vou ficar aqui morrendo por ele! Se ele quer continuar com essa história idiota, que se dane! Eu vou voltar para a festa do meu irmão.

Ela retocou a maquiagem e deixou o quarto como se nada houvesse acontecido. Hermione mais uma vez admirou-se com a fibra daquela garota.

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A festa já estava acabando. Fleur e Gui partiram para uma “mini lua-de-mel”. Os dois passariam um dia em um local totalmente desconhecido da maioria das pessoas. Somente a alta cúpula da Ordem conhecia o destino deles.

Harry e Rony subiram arrasados. O dia tinha sido bem cansativo e tudo o que eles precisavam era de um banho e cama! Hermione e Gina ficaram mais juntas no fim da festa. Rony achou estranho o fato de Harry ter se isolado, mas não conseguiu ficar muito com o amigo. Este havia escolhido a companhia de Gabrielle e Amélie. Logicamente, Rony não se aproximou deles, não depois do que havia acontecido mais cedo. Por isso ficou conversando com Hermione, a irmã e os gêmeos. Percebeu que Gina demonstrava uma alegria excessiva, o que às vezes parecia forçado.

Quando os dois já estavam deitados, prontos para dizerem “boa noite” o quarto foi invadido por Fred e George e depois por Carlinhos.

- O que vocês estão fazendo aqui?

- Calma irmãozinho – começou George.

- Só queremos conversar um pouquinho – completou Fred, sentando-se na cama de Harry.

- Como a gente fazia quando era criança – pronunciou-se Carlinhos sentando no chão encostado na cama de Rony.

- É, eu lembro – disse Rony.

- Ei a festa foi legal né? – falou Fred – Deu um trabalho enorme, mas foi legal!

- Eu acho – respondeu George – mas agora a gente fica aqui e o desgraçado do Gui tá “curtindo uma viagem”.

- Eles merecem – Carlinhos estirou as pernas – merecem um diazinho de tranqüilidade.

- Talvez eles merecessem um pouco mais que só um dia – sugestionou Rony.

- Tranqüilidade?! – escandalizou-se George – Pois se eu tivesse uma descendente de veela como esposa eu ia querer tudo, menos tranqüilidade!

- Podia até começar tranqüilo... – disse Fred – mas depois, eu acho que ia querer agitar as coisas.

- Do que vocês estão falando? – perguntou Rony com a expressão confusa.

- Ah, meu Deus! Como fomos esquecer de uma coisa dessas Fred?

- Sinceramente não sei, George... Como esquecemos que o nosso irmãozinho é um garoto puro e imaculado! – e os dois começaram a rir.

- Vamos, não deixem o Rony envergonhado! – disse Carlinhos.

- Exatamente, deixem claro o que vocês estão falando! – irritou-se o ruivo mais novo.

- Acho melhor darmos umas dicas ao nosso irmãozinho...

- Vai ver que a Hermione prefere homens mais experientes. Vocês viram ela com o Krum, né?

Rony não se segurou e pulou em cima dos gêmeos, que desataram a rir. Carlinhos teve que intervir e segurá-lo.

- Rony – começou o mais velho – A gente soube que você teve uma namoradinha... Vocês nunca...?

- Nunca o quê?

Os três levantaram as sobrancelhas de modo significativo, então os dois mais novos compreenderam.

- Não – disse Rony corando.

- Nem você Harry?

O garoto que até agora estava “esquecido num canto” balançou a cabeça negativamente.

- Caramba! O que vocês faziam em Hogwarts? – escandalizou-se Fred.

- Tentávamos escapar das armadilhas de Voldemort. – Disse Harry.

- Bom – disse Carlinhos tentando quebrar o silêncio que se instalou – Talvez seja bom dar umas dicas pra eles... Nunca se sabe né?

- Eu não acredito! Vocês querem sair daqui? – disse Rony.

- Que é isso maninho! A gente vem aqui, querendo ajudá-lo com toda nossa vasta experiência e você esnobando... – disse Fred.

- Isso é um absurdo! – completou George.

- Se você quiserem, podemos mesmo ir embora – brincou Carlinhos.

- Talvez a gente devesse conversar sobre isso mesmo – disse Rony depois de pensar um pouco. – Mas eu ainda não sei o que a Hermione tem a ver com isso – tentou desconversar.

- Talvez porque a Hermione seja uma garota? – disseram os dois ao mesmo tempo. – Rony fez menção de partir para cima deles de novo, e Carlinhos novamente interveio.

- Calem a boca vocês dois – disse Carlinhos apontando para os gêmeos antes que eles pudessem dizer alguma coisa. – Bom rapazes, eu queria dar um conselho antes de qualquer coisa. Só façam isso, quando tiverem certeza, fazer só por brincadeira pode até ser bom, mas a primeira vez é “mágica”. Vocês lembrarão dela para sempre.

- E nem pense em usar essas dicas com nossa irmãzinha Potter! – disse George.

- Quanto a isso, podem ficar tranqüilos, eu nem quero ouvir essas dicas – disse Harry virando para o lado, mas ia ficar atento às palavras dos rapazes. Elas poderiam ser bem úteis.

- Lição número um – disse Carlinhos – Nunca vá com muita sede ao pote.

- Como assim?

- Ora Ronald, só demonstre que quer algo mais, quando ela o fizer primeiro.

- Um gemido, um aperto, um abraço mais... Intenso – disse Fred.

- Tudo isso são sinais de que ela está a fim. – completou George.

- Pode até tocá-la, mas faça isso lentamente, com ternura. – falou Carlinhos.

- Se perceber qualquer movimento barrando os seus, pare! – dramatizou George.

- Lição número dois. Beije! Elas adoram ser beijadas. – afirmou o mais velho.

- Nos lábios – começou George.

- Nos pés – disse Fred.

- No pescoço...

- No joelho...

- Nos seios...

- Nas coxas...

- Na barriga...

- Acho que ele já entendeu – cortou Carlinhos – Lição número três. Acaricie seus cabelos e olhe no fundo dos olhos dela.

- Fale em tom de voz baixo – falou George.

- Isso, se precisar falar! Mas se for necessário, faça isso bem perto do ouvido dela. – completou Fred.

- Gemidos e suspiros também fazem sucesso – afirmou George.

- Acima de tudo! – disse Carlinhos – O bem estar dela vem sempre antes do seu.

- Por bem-estar, entenda-se prazer meu caro irmão. – falou Fred inclinando-se para Rony.

O mais novo dos Wesleys ouvia atentamente cada palavra que seus irmãos pronunciavam, pois sabiam que um dia seriam bem úteis. Ficou feliz de ter aquela conversa com seus irmãos mais velhos. Pelo menos não a teria com seu pai. Seria bem mais constrangedor. Harry, embora fingisse desinteresse, também estava bem atento àquela conversa que adentrou a madrugada.

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O dia seguinte chegou rápido, porém preguiçoso. Todos acordaram tarde e tomaram café devagar. Mas sabiam que ainda havia muita coisa a ser arrumada. A festa de ontem havia deixado tudo uma bagunça.

Rony, Hermione e Gina ficaram encarregados de retirar e guardar todos os enfeites que haviam caído no chão logo após a magia ter sido retirada do jardim. Na verdade, eles já tinham feito todo o serviço. Gina estava sentada observando Hermione fugir de Rony que tinha um punhado de pólen de fadas pronto para jogar nela.

- Nem pense nisso Ronald! – disse ela sorrindo e usando uma mesa para mantê-lo afastado.

- Por que não? Isso aqui brilha Mione, vai ficar lindo! – disse ele dando a volta na mesa para alcançá-la.

Gina ria da situação dos dois. Pareciam duas crianças. Estava até sendo divertido observá-los. Isso enquanto Rony não corria atrás dela também. Olhou para o lado e viu Gabrielle ao longe. Esta não tirava os olhos dos amigos que continuavam brincando. Gina pensou o quanto ela era ridícula em imaginar que podia superar Hermione. Nem uma descendente de veela enjoada superaria sua amiga. Imaginou onde estaria a estúpida da Amélie.

- Ei vocês dois! – Gritou Moody da porta da casa, Rony e Hermione pararam de correr – Alguém viu o Harry?

- Ele acordou antes de mim – respondeu Rony – Não sei onde ele tá.. Mas ele some todo dia mesmo.

Droga! Tinham que falar nele? Tudo estava bem, ela estava até conseguindo rir dos dois crianções. Agora aquelas lágrimas estúpidas iam teimar em rolar novamente. Gina se levantou e caminhou apressadamente para seu esconderijo secreto. Não queria chorar na frente de ninguém.

Assim que saiu da vista das pessoas, ela começou a correr em direção à nova garagem do seu pai. Achava aquele, o lugar mais seguro, pois seu pai jamais trabalharia em seu novo automóvel com a guerra iminente.

Parou em frente à frondosa árvore e girou sua varinha. No mesmo instante a construção irregular apareceu e ela lembrou da noite anterior, quando estivera ali com Harry. Não conseguiu mais controlar as lágrimas. Empurrou a porta de madeira e percebeu que o lugar estava um pouco iluminado.

Será que tem alguma telha quebrada?

Logo após ela ouviu risinhos femininos. Entrou e caminhou em direção ao jipe. Então ela viu.

Suas pernas fraquejaram de tal maneira que ela teve que se apoiar na coluna central da garagem com uma das mãos. A outra tapava a boca, abafando um grito. Os olhos ficaram vidrados, com lágrimas descendo como em cascatas. A respiração ficou irregular...

Diante dos olhos de Gina estava a imagem de Harry Potter, nu, sentado no banco traseiro do jipe, beijando o pescoço de Amélie que estava sentada de frente para ele em seu colo, também sem roupa. Eles não haviam percebido a presença dela.

Não, não, não... Ele não pode...

Era como se um punhal traspassasse o coração de Gina. Com a pouca energia que havia em seu corpo, ela caminhou lentamente pra trás e quando chegou perto da porta correu para fora deixando escapar um soluço.

- O quê foi isssso? – disse Amélie em voz dengosa.

- Acho que alguém nos viu. – respondeu o garoto – Acho melhor voltarmos.

- Mass se nos virrrram, entom que mal há ficarrrmos mais?

- Se vieram aqui é porque devem estar nos procurando.

- Quando podemos ficarrr sozinhos de novo?

- Eu te procuro tá? – disse Harry enquanto colocava a calça. – Eu vou primeiro depois você vai certo? Lembre-se, isso fica entre nós.

- Cerrto. Mas vai sairrr sem me darrr um beiji?

Harry voltou e deu um selinho rápido na francesa. Depois disparou em direção ao lago. Sabia que Gina tinha ido para lá. Pensou no quanto a idéia de ter elos mentais com os membros da Ordem foi fantástica, foi só dar uma sugestão telepática e Moody havia feito a intervenção na hora certa.

Na noite anterior, quando havia sido deixado por Gina, Harry aproveitou para jogar seu charme para cima de Amélie. Tinha certeza que funcionaria. A conversa dos irmãos Wesley também havia sido no momento exato, mas isto fora pura sorte. Só não havia seguido o primeiro conselho de Gui: sua primeira vez não tinha sido especial, não havia sido com alguém especial, tinha sido apenas parte de um plano. Mas tudo dera certo no final. O destino tinha conspirado para o plano de Harry dar certo. Só faltava mais um passo e a segurança de Gina estaria garantida.

Encontrou-a exatamente onde imaginou. Ela sentada de frente para o lago, abraçando as pernas. Suas costas tremiam. Harry sentiu uma dor no peito. Pensou em se aproximar devagar, mas ela ouviu seus passos e se levantou abruptamente se virando para ele. As lágrimas corriam pelo rosto dela e Harry odiou-se e teve que se segurar para não se prostrar diante da dor que sentia em seu peito.

- O que você quer aqui? – disse ela enxugando as lágrimas furiosamente.

- Gina...

- Sai daqui – havia frieza na voz dela.

- Gina, por favor...

- Eu mandei sair.

- Gina, me ouve...

- Eu não quero ouvir você! Eu não quero olhar pra você! Eu não quero nada que venha de você! Sai!

- Não era pra você ter visto nada...

Ela começou a gargalhar freneticamente.

- Ah, não era pra eu ter visto?!

Ele deu alguns passos em direção a ela que recuava cada vez mais.

- Não se aproxime mais! – disse ela apontado a varinha na direção do moreno.

- Accio varinha - ele pronunciou tão rápido que ela não teve tempo de reagir e sua varinha foi parar nas mãos dele.

Harry continuou andando em direção dela, lentamente.

- Gina...

- Não se aproxime de mim! Não encoste em mim! Eu tenho nojo de você!

That I would be good
Even if I did nothing
That I would be good
Even if I got the thumbs down

Ele parou.

Ela respirava ofegante.

Os olhos verdes marejaram. Harry baixou os olhos, ela não podia ver sua fraqueza.

- O que você foi fazer lá? Não era pra você ter ido lá... Eu não queria magoar você...

- Desculpa se estraguei sua brincadeirinha... Conseguiu descarregar todos os seus hormônios? Afinal qual é o parentesco dela com o Rony mesmo? Nenhum! – Gina pronunciou estas palavras com desdém na voz. Harry tinha certeza que aquilo doía mais que um cruciatus.

- Tô vendo que não dá pra conversar com você agora...

- Nem agora nem nunca, Harry.

Ele fechou os olhos e deixou a varinha de Gina escorregar e cair no chão. Virou-se lentamente a fim de procurar um lugar onde pudesse ficar sozinho.

That I would be good
If I got and stayed sick
That I would be good
Even if I gained 10 pounds

Gina ficou quieta um pouco. Precisava se acalmar. Se ficasse ali alguém poderia ver. Então secou as lágrimas e caminhou para a casa. Quando estava prestes a entrar pela porta da frente, ela tinha certeza que não havia ninguém lá, viu que Hermione corria em sua direção.

- Oi Gi... onde é que você tava? – então a morena percebeu os olhos vermelhos da amiga – Gina aconteceu alguma coisa?

O maxilar inferior da ruiva começou a tremer. Ela não estava mais conseguindo segurar o choro. Olhou para Hermione e viu que, atrás dela, Rony se aproximava.

- Eu vou subir – foi tudo o que conseguiu dizer antes que as lágrimas rolassem novamente e ela corresse para o quarto.

- O que aconteceu com a Gina? – Hermione teve um sobressalto com a pergunta de Rony e olhou para ele assustada – Ela não está bem né?

- Eu acho que não.

- Foi o Harry?

- Eu não sei... vou subir e tentar falar com ela... Ron, não vem tá? Eu vou tentar falar com ela e é melhor que eu vá sozinha.

- Mas...

- Depois eu te conto... mas agora, é melhor eu ir sozinha. – e subiu para o quarto da amiga.

That I would be fine
Even if I went bankrupt
That I would be good
If I lost my hair and my youth

Gina entrou no quarto e fechou a porta. Sentia-se rasgando por dentro. Só conseguia pensar em uma coisa: Por quê?

Por que ele tinha feito aquilo?

Por que naquele lugar?

Por que magoá-la desta forma?

Por que enganá-la com esperanças vãs?

Por que essa dor não passa?

Era como se um dementador estivesse ao seu lado... Sentia apenas dor e uma tristeza profunda.

Andava de um lado para o outro, as lágrimas escorrendo. As mãos na boca tentando abafar os soluços, mas era praticamente impossível. Pensou se não seria melhor alguém apagar sua memória... Talvez assim pudesse ser feliz de novo.

- Gina, abre a porta por favor...

Era a voz de Hermione. Precisava de alguém para desabafar um pouco, quem sabe a dor também não diminuía. Abriu a porta e se atirou nos braços da amiga. Hermione entrou e trancou a porta.

That I would be great
If I was no longer queen
That I would be grand
If I was not all knowing

- O que aconteceu Gina? Me fala, pelo amor de Deus... – disse Hermione aflita.

- Ai... ai... tá doendo Mione... dói muito...

- Alguém te machucou? Você tá ferida? – Gina afirmou com a cabeça – Foi algum comensal? O Draco te machucou?

- Foi... Foi... – disse ela soluçando – Ha-Harry.

- O Harry? O que foi que ele fez?

- Ele... Ele... Tava com a Amélie...

- Mas o quê? Onde?

- Ele tava... Eles estavam num lugar... Eu levei o Harry lá ontem, ele sabia que eu gostava daquele lugar – ela fungou – Ele tava... Ai meu Deus... – Gina afundou o rosto no ombro da morena e chorou, depois levantou o rosto, engoliu a saliva – Ele tava transando. Com ela...

- O quê? – Hermione ficou escandalizada – Como ele pôde fazer isso?

- Eu não sei. Ai... Ai... – disse entre lágrimas com a mão no peito – tá doendo tanto... Mione... Como se meu coração tivesse sendo esmagado...

- Ô minha amiga... – Hermione a abraçou e ficaram assim por alguns instantes.

- Me deixa um pouco sozinha, eu não quero ver ninguém...

- Tem certeza? Eu não quero te deixar assim....

- Por favor... – e se jogou na cama afundando o rosto no travesseiro para abafar os soluços.

Hermione girou sua varinha e pronunciou um feitiço para abafar o som. Era melhor que ninguém ouvisse o choro de Gina, ao menos por enquanto.

That I would be loved
Even when I numb myself
That I would be good
Even when I am overwhelmed

Hermione saiu do quarto de Gina e encontrou Rony, com uma expressão de incredulidade no rosto, sentado no chão do corredor ao lado da porta do seu quarto. Eles se olharam e ela caminhou até ele. Hermione tinha certeza que a expressão dela era idêntica à do ruivo.

- Você ouviu? – encarou o amigo seriamente, ele lhe mostrou um par de orelhas extensíveis nas mãos – Então você sabe o que o Harry fez?

Ele balançou a cabeça afirmativamente, seu rosto adquirindo feições duras.

- Você sabe? O que pensa em fazer?

- Não sei... Eu não acredito que ele fez isso, eu não consigo acreditar... que raiva!

- Mas fez Ron... Essa história passou dos limites. Ele não podia ter agido dessa forma!

- Oi! – os dois amigos ouviram a voz de Harry que subia a escada.

A visão de Hermione ficou turva. Sua expressão era de fúria. Antes que Harry pudesse pensar em dizer algo, sentiu o contato da palma da mão da amiga em seu rosto. Ele virou a cabeça – que havia ido para a direção contrária, tamanha a força da tapa – e encarou os amigos.

- Alguém pode me explicar o porquê disso? – perguntou se fazendo de desentendido.

Hermione olhou para ele incrédula. Abriu a boca para dizer algo, mas sentiu que era melhor fechá-la ou corria o risco de vomitar ali mesmo. Lançou um olhar de desprezo para o moreno e disparou pelo corredor.

- Alguém pode me explicar o porquê disso? – perguntou se fazendo de desentendido.

Hermione olhou para ele incrédula. Abriu a boca para dizer algo, mas sentiu que era melhor fechá-la ou corria o risco de vomitar ali mesmo. Lançou um olhar de desprezo para o moreno e disparou pelo corredor.

- Dá pra me explicar...?

That I would be loved
Even when I was fuming
That I would be good
Even if I was clinging

Rony que até agora apenas assistia às reações de ambos, levantou-se o agarrou pela gola e o arrastou para dentro do quarto. Fechou a porta com violência e deu um soco no amigo.

- Você é um idiota!!! Eu pensei que tinha feito besteira com a Lilá, mas você conseguiu superar qualquer idéia estúpida que eu viesse a ter um dia!

Harry passou a mão no lábio inchado. Estava sangrando, e doendo muito.

- Eu não preciso ficar aqui ouvido isso... – Harry se levantou e caminhou para a porta.

- Ah, precisa sim! – Rony o puxou pelo braço e mais uma vez o jogou na cama com violência – E você vai me ouvir... Cansei de ser bonzinho com você. De compreender todas as suas atitudes depressivas...

Harry baixou os olhos. Não conseguia fitar o amigo. A expressão de dor e decepção no rosto dele. Era a mesma expressão que reconheceu em Hermione. Não se importava com a dor em seu lábio cortado, mas com seu peito que sangrava por dentro. Nunca, em todos os momentos de sua vida, quis tanto deixar as lágrimas virem, mas não podia. Tinha que ser forte. Trincava os dentes e tentava fazer cara de raiva... O que não era difícil, estava odiando a si mesmo.

- Como pode... Como você pôde... – Rony andava de um lado para o outro como uma fera enjaulada – Você... Você... Cara! Eu não acredito no que você fez! – o ruivo se sentou na cama e passou a mão nos cabelos.

- Eu não tive culpa do que aconteceu. Não era pra Gina ter visto nada...

- Não era?! – Rony sorriu ironicamente – Você transa com a Amélie em um local onde ela costuma ir e não era pra ela ter visto?

- Eu precisava fazer aquilo... Precisava afastá-la de mim... Você não me entende!

- Não, eu não te entendo! – exasperou-se Ron – Eu não entendo o que você pretende com tudo isso!

- Eu preciso protegê-la... ela é uma rosa e precisa de proteção! Perto de mim ela não teria isso...

- Não faz sentido pra mim... Você está acabando consigo mesmo!

- A Gina se desiludiu comigo... Isso é suficiente!

- Ouça bem... Fique longe dela! Eu sei que você vai se arrepender... Eu tenho certeza disso! Mas você não vai mais machucá-la entendeu?! – Rony apontava o dedo indicador ameaçadoramente para Harry.

- ANDA... ME BATA! – Harry se levantou – É ISSO O QUE VOCÊ QUER FAZER NÃO É? TRAGA SEUS IRMÃOS E ARREBENTE MINHA CARA! EU MEREÇO, EU PARTI O CORAÇÃO DE SUA IRMÃZINHA! VAMOS, FAÇA LOGO!!!

That I would be good
Even if I lost sanity
That I would be good
Whether with or without you

Harry respirava pesadamente. A expressão de Rony se transformou em segundos. O que antes era uma máscara de ira e decepção tornou-se serena e desolada.

- Eu tenho pena de você cara... – a voz agora estava suave – Você sempre acha que devia estar sozinho. Quer afastar todo mundo... Mas deixa eu te dizer uma coisa cara, você não precisa estar sozinho e não vai estar sozinho nunca, porque existem pessoas que se preocupam com você não só porque você é o escolhido, mas porque amam você. Nós amamos você cara, e queremos estar ao seu lado... E vamos estar ao seu lado por mais que não queria, portanto pare de tentar nos faze odiá-lo, porque nunca vai conseguir isso! – Harry sentou na cama e afundou o rosto entre as mãos – Ela vai te perdoar... Eu sei disso. – Rony podia ver a respiração irregular do amigo – Mas você a perdeu... Embora ela sempre vá ficar ao seu lado, você a perdeu.


Rony simplesmente se virou e saiu, deixando o moreno arrasado por suas palavras. Harry ainda ficou um tempo parado, tentava segurar suas lágrimas. Mas ele não conseguia mais. Levantou-se e correu para fora da casa.

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Hermione estava sentada num canto da sala com a mão esquerda apoiando a cabeça. Ainda não acreditava no que estava acontecendo com seus melhores amigos... Maldita guerra! Maldito Voldemort! Tinha certeza que se o encontrasse nesse exato momento ela mesma o mataria tamanha era a raiva que sentia. Não podia culpar totalmente o Harry, e sabia disso. Embora o garoto tivesse sido um estúpido completo.

Ouviu passos rápidos na escada e levantou os olhos. Viu Harry saindo como um foguete pela porta, a cabeça baixa, os ombros caídos. Levantou-se e o seguiu até a margem do lago. Manteve certa distância dele... Tinha medo do que ele poderia fazer.

Viu quando ele se deixou cair pesadamente sentado no chão e encolheu as pernas para junto do tronco, abraçando-as e baixando a cabeça sobre os braços. Deu dois passos em direção a ele, então percebeu que suas costas tremiam.

Merlin, ele está chorando...

Uma tristeza imensa se apoderou dela. Caminhou mais dois passos, então sentiu que era melhor deixá-lo sozinho. Girou nos calcanhares e preparou-se para sair sem fazer barulho.

- Hermione? – ela ouviu a voz embargada de Harry chamando-a.

A morena virou devagar o rosto na direção dele e viu que ele ainda estava sentado, mas agora os olhos rasos d’água a fitavam. A face encharcada de lágrimas pesadas que teimavam em rolar.

- Mione, ela já me odeia? Eu consegui fazer a Gina me odiar né?

A garota não controlou mais os seus pés e caminhou apressadamente para o amigo envolvendo-o em um abraço. Ele não conseguia mais conter os soluços. Hermione nada disse, apenas permitiu que ele chorasse. Sentou ao lado dele e fez com que deitasse a cabeça em seu colo.

Harry não questionou, entregou-se a dor que sentia e ao conforto recebido da garota que desde os seus onze anos se mostrava como uma irmã, sempre pronta a consolá-lo.

********************************

Rony estava parado em frente à porta do quarto da irmã. Tinha a cabeça encostada na madeira e a mão no trinco. Será que deveria bater? Não. Com certeza ela não abriria. Ele não tinha idéia do que fazer ou dizer a ela, mas sabia que não podia ficar parado somente observando a situação à distância. Precisava mostrar a ela que estava ali. Xingou mentalmente o amigo mais uma vez. Tinha certeza que se fosse da vontade de Harry que ninguém soubesse dele e da Amélie, ele não teria problemas em manter segredo. Mas não, o idiota utilizou a ferramenta mais baixa para se afastar de Gina.

Quase inconscientemente, ele murmurou o feitiço que abre as portas e girou o trinco. Aos poucos foi vislumbrando o que havia dentro do quarto. A escrivaninha, o guarda-roupas, a cama em que Hermione dormia e finalmente a cama ao lado, onde Gina estava deitada em posição fetal, com um lençol tapando a boca, o corpo todo tremendo devido aos soluços.

Rony deu um passo para dentro do quarto e fechou a porta com um click. Ao ouvir o barulho, Gina se virou para ele, então Rony pôde enxergar o tamanho do estrago que Harry fizera. O rosto delicado estava molhado de lágrimas, os olhos alegres agora estavam inchados, o nariz pequenino estava vermelho e a respiração entrecortada pelos soluços. O ruivo jamais pensou ver tamanha dor na expressão de sua irmãzinha. Ele definitivamente estava odiando Harry Potter.

- O quê... o... que você tá fazendo aqui? – perguntou ela.

- Vim ver como você está.

- Pronto, já viu! Agora sai! Pode contar pro seu amiguinho que me viu arrasada...

- Gina...

- Eu não quero falar com ninguém! Quero ficar sozinha, será que você não entende?!

- Minha querida...

- SAI!!!!!

Gina se levantou e começou a empurrar o irmão. Ele tentava segurar os braços dela, mas ela estava transtornada demais. Tentava contê-la, mas estava difícil. Hermione não estava ali desta vez.

- Você sabia não é? Claro que sabia! É o melhor amigo dele! Devem ser dois hipócritas! Conseguiu seduzir a mais nova?

Ela lançava as acusações enquanto empurrava e batia no irmão. Este conseguiu segurar os braços dela e envolvê-la em um abraço forte, mas gentil.

- Não... eu não sabia de nada, eu não tinha idéia do quão estúpido o Harry poderia ser.

Gina agarrou-se ao irmão e chorou encostada em seu peito.

- Ai, Ron... por que desse jeito?

- Eu não sei... eu não sei...

Ele tomou a irmã nos braços e caminhou para a cama onde a colocou e sentou-se mantendo-a bem junto ao seu corpo.

- Eu queria tanto que a dor passasse...

- O que você quer que eu faça? – perguntou a ela.

- Nada. Só fica aqui comigo... Me abraça Ron...

- Eu estou aqui e não vou sair do seu lado... Eu sempre estarei com você viu?

- Obrigada Ron...

- Não há de quê minha rosa...

Algumas horas depois, Hermione entrou no quarto para avisar a Gina que sua mãe estava chamando para o almoço, mas que ela poderia dar uma desculpa se preferisse. Encontrou Gina dormindo, exausta de tanto chorar e Rony acariciando lentamente os cabelos vermelhos.

********************************

O resto do dia se passou tranquilamente. Quer dizer, para os adultos, tudo estava aparentemente normal. De estranho mesmo, só o fato de Gina estar indisposta devido a algo que havia comido na festa.

Nos dias que se seguiram, Rony e Hermione faziam companhia a ruiva, tentando animá-la de alguma maneira. Os dois amigos não conseguiram ficar com raiva de Harry por muito tempo. Apesar de não concordarem com a atitude dele. Este havia se recolhido ao seu isolamento. Precisava pensar. Precisava se acostumar à idéia de tudo estava mudado agora. Em uma semana seu treinamento terminaria e poderiam ir atrás das horcruxes.

Sabia que tinham que estudar muito. Aproveitar esses últimos dias para ler o máximo possível. Mas agora isso parecia difícil, já que seus amigos passavam a maior parte do tempo com Gina. Amélie tentou procurá-lo, mas ele se esquivava.

Fleur ficou sabendo do que acontecera. Imprensou Hermione e Rony na parede e eles falaram, mas pediram segredo absoluto. O mais novo membro da família Wesley puxou a prima para um canto e deixou bem claro o quanto ela havia sido burra por ter se deixado usar daquela maneira. As intenções de Harry eram mais que óbvias: ele queria proteger Gina e para isso tinha que se afastar dela, para isso, usou Amélie. Esta compreendeu o recado, e partiu para França sentindo-se a mulher mais traída do planeta. Harry não se importou com isso. Estava insensível. Somente a busca aos horcruxes importava era pra isso que ele vivia.

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Cinco dias antes da partida do trio uma reunião foi convocada. Snape não pôde comparecer. Precisava vigiar de perto os passos de Voldemort.

Nesta reunião, Harry, Rony e Hermione repassaram os planos e comunicaram suas desconfianças sobre o que seriam as demais horcruxes. Primeiro eles iriam a Godric’s Hollow e depois seguiriam com a missão.

Nesse momento a cozinha foi invadida por Draco seguido de uma Narcisa aparentemente apavorada tentando segurá-lo. Todas as varinhas do recinto se voltaram para os dois.

- O que vocês estão fazendo aqui? – interrogou Olho Tonto.

- Eu... – começou Draco.

- Não! – disse Narcisa.

- Me deixe falar mãe! – disse Draco – Eu quero fazer alguma coisa!

- Quer fazer alguma coisa Malfoy? Fique quieto – alfinetou Harry.

- Eu quero lutar!

- Você não pode meu filho! – Narcisa estava chorando.

- Eu não quero ficar aqui, feito um covarde, escondido debaixo de suas saias!

- Sua mãe tem razão Draco – falou calmamente Lupin – Poderia arruinar o disfarce de Snape.

- Eu não quero ficar escondido! Eu sei que posso ajudar... Tenho tantos motivos para estar nessa batalha quanto vocês...

- Você tem é que ficar protegido!

- Mãe, é por você que eu quero lutar! Será que você não percebe isso? Eu não conseguiria viver com a idéia de ter me acovardado. – e fitou os outros – Eu não vou ficar escondido!

Um silêncio se instalou na sala. Todos olhavam surpresos para o garoto decidido que segurava a mão de sua mãe enquanto esta chorava amparada por Molly.

- Então, você quer entrar para a Ordem da Fênix? – perguntou Arthur.

- Exatamente...

- Você sabe que não poderá lutar, não enquanto Snape ainda estiver ao lado de Tom Ridlle. – disse Lupin, Draco afirmou com a cabeça – mas você pode ficar conosco na parte de estratégias e pesquisas.

- Isso mesmo – Olho Tonto interveio e Narcisa suspirou – Você era um bom aluno em Hogwarts... Muito bom em poções. Pode nos ajudar com algum respaldo logístico.

- Hermione pode ajudá-lo nisso – Rony falou abruptamente.

A morena lhe lançou um olhar mortífero. Ia abrir a boca para responder, mas foi interrompida por Carlinhos.

- Hermione...

- Essa idéia não está nem perto de ser cogitada! – anunciou ela.

- Hermione – retornou Carlinhos – Seus pais já sabem que você vai partir?

A garota tornou-se escarlate.

- Não – disse ela com a voz falha.

- Não?! – disseram Harry e Rony ao mesmo tempo.

- É – ela limpou a garganta – não deu tempo...

- Pelo amor de Deus Hermione! – exclamou a Harry.

- Eu sei que já devia ter contado! Mas se eles não aceitaram bem a idéia de receber proteção e ter que se esconder, imagina se eu contar que vou pra linha de frente!

- E como você acha que vai conosco? – disse Rony – Fugida?

- Não Ronald, eu não vou fugida...

- Parem agora vocês dois! – disse Arthur – Hermione, vá chamar os seus pais agora.

A garota suspirou. Rony se admirou com a fragilidade que ela passava nesse momento.

- É melhor eu ir – e Molly saiu, voltando minutos depois com os pais da morena.

A conversa com os Granger foi rápida e concisa. Hermione comunicou o que faria e que nada seria capaz de fazê-la mudar de opinião. Os pais da moça tentaram contestar, mas ela estava irredutível. O que restou do comunicado, foi uma Sra. Granger sendo consolada pela filha e seu marido pensativo no jardim da Toca.

Rony observava o pai de Hermione ao longe. Ele não parecia feliz. Ninguém estava feliz. Num ímpeto dirigiu-se para o local onde o homem estava e sentou-se ao lado dele em um banco de madeira.

- Olá Ronald. – disse o Sr. Granger.

- Olá... – ele respirou – O senhor deve estar nos odiando né? Na verdade, deve estar odiando o mundo bruxo... Eu não posso culpá-lo, até eu tenho odiado o mundo bruxo ultimamente. Mas eu queria que o senhor compreendesse que...

- Vocês têm que fazer isso. – completou o homem – Eu sei disso. A Hermione deixou bem claro o que tinha de fazer e por que. Mas não esperem que eu aceite o fato de minha única filha ir para uma guerra e fique feliz com isso.

- Eu sei que não podemos exigir isso. Ninguém anda muito feliz ultimamente. – os dois deram um sorriso triste – Sabe, eu tentei manter a Hermione longe do perigo... Tentei convencê-la a ficar e nos dar cobertura teórica, mas ela não...

- Ela não aceitaria isso nem em mil anos.

- Não, ela é teimosa demais.

- Francamente Ronald! – o Sr. Granger imitou o tom mandão da filha – Se você acha que vai sozinho com o Harry nessa busca está muito enganado! E não tente me proteger, eu não preciso disso!

- Exatamente assim – disse Rony sorrindo, o outro sorriu também – O senhor fez igualzinho a ela.

- Eu conheço a minha princesa... É igual a mãe dela.

- Parece com a minha também... – Rony suspirou – Sr. Granger... Eu prometo que sua filha voltará sã e salva para vocês. Eu vou protegê-la, mesmo que ela não queira... mesmo que seja pelas sombras... eu estou treinando muito, somente pra ajudar o Harry e proteger a Mione...

- Você gosta muito da minha filha não é Ronald?

- Eu morreria por ela Sr. Granger... – disse ele sentindo o rosto esquentar.

- Eu fico mais seguro sabendo que alguém como você está ao lado da minha querida. Por isso Ronald... viva. Viva por minha filha, ela não suportaria se algo de ruim lhe acontecesse.

Ron sorriu para o pai de Hermione e este retribuiu o gesto. Juntos voltaram para dentro da casa e tentaram fazer uma noite mais animada.

*************************

Na tarde seguinte, Harry pegou sua capa de invisibilidade e ficou quietinho encostado na parede do quarto de Rony. Queria ter saído da casa, mas todos estavam lá embaixo e provavelmente lhe fariam perguntas. Ele queria ficar longe disso. Mas parece que o destino estava conspirando contra ele. Quando pensou que teriam momentos de paz e solidão viu a porta do quarto se abrindo e três pessoas entrando.

- Fala logo Gina – Rony perguntou à irmã – O que você tem de tão importante pra nos dizer?

Ela parecia menos abatida, embora ainda houvesse tristeza em seu olhar. Já se podiam ver pequenos sorrisos em seus lábios. Ela já falava algumas brincadeiras de vez em quando... Harry percebeu que ela estava tentando sobreviver, assim como ele.

- Quero dizer que não vou ficar parada vendo o tempo passar enquanto vocês estão nessa caçada maldita!

- Do que você está falando Gina? – perguntou Hermione.

- Se você acha que vamos deixar você ir com a gente...

- Ei, ei, ei... – interrompeu a ruiva – Eu sei que sou menor de idade e blá, blá, blá... Então, eu fiz isso – e mostrou três espelhos em forma de círculo para os dois.

- O que é isso? – perguntou Rony.

- Comunicação! – disse pomposamente Gina.

- São espelhos encantados? – falou Hermione.

- Exatamente. Venho trabalhando neles há algum tempo. Sabe, eu sei que vocês vão precisar de muitos livros nessa viagem. Sei também que não vão poder levar todos... Que vão carregar muito peso... Vocês não acham melhor carregar uma bagagem mais leve e me deixar com os livros? Eu posso estudar e caso vocês tenham alguma dúvida, se comunicam comigo e fica tudo certo!

- Talvez seja muito arriscado... – ponderou Hermione – Se alguém pega esses espelhos.

- Nada vai acontecer, porque eles têm uma senha.

- Que é? – disse Rony.

- Mulher Gorda!

- Mulher Gorda?

- Mulher Gorda.

- Vocês querem parar com isso? – riu Hermione. – Mas porque você escolheu essa senha Gina?

- Ah, acho que pra fazer uma homenagem a Hogwarts... E porque ela é tão óbvia que chega a ser absurda!

Harry sorriu por debaixo da capa. Tinha muito orgulho daquela garota. Ela entregou um para cada um dos amigos e ficou com outro.

- Eu tinha feito um pro Harry... – ele prendeu a respiração, a voz dela era cheia de tristeza – Mas diante da atual situação, acho melhor isso ser um segredo nosso. Ouviram?

- Você tem razão – confirmou Rony – Ele poderia ser contra... E não vejo porque recusarmos sua preciosa ajuda – Gina sorriu, Harry sentiu o peso de ser excluído.

- Eu só não acredito em como você trabalhou nisso sem que ninguém soubesse – riu Hermione – você é louca mesmo!

- Ora, querida Mione, a loucura tá no sangue dos Weasley. – ela fez um ar sabichão – A mamãe não pode ser normal... O papai tem aquela obsessão maluca por objetos trouxas... Fred e George, nem se fala! Carlinhos mexe com dragões... O Ron é doidinho, doidinho... Percy merecia estar no St. Mungus... E o Gui... Ah, ele casou com a Fleuma!

- Doido ele seria se não casasse com uma mulher daquelas – interrompeu Rony.

- Não falei? – disse Gina para Hermione – É doido! Falar bem da Fleur perto da gente

- É um babaca, isso sim! – respondeu Hermione.

- Como assim? Ela é linda! Se eu tivesse uma mulher daquelas me dando bola, eu casava na hora.

- Querem saber, eu não vou ficar aqui ouvindo essas baboseiras! Com licença – Hermione se levantou e saiu.

- Que foi? – perguntou Rony inocentemente.

- Ai Rony, você é um trasgo mesmo! – Gina revirou os olhos, Harry teve que tapar a boca para não gargalhar.

- Ei alguém pode me explicar o que deu nela? Sinceramente eu não entendo as mulheres. Adoraria ter aulas sobre isso!

- Se quiser eu posso dar essas aulas – brincou Gina.

- Você?!

- Rony, deixa eu te contar um segredo – ela se aproximou do irmão, que parecia bastante interessado no que ela tinha para dizer, e sussurrou – Eu sou uma garota!

- Há, há, há... Você é muito engraçadinha!

- E então, vai querer ou não? – disse ela marota.

- Fechado! Eu quero – animou-se Ron.

- Tem certeza?

- Absoluta!

- Certo, então. Quando você voltar... Porque eu tenho certeza que vocês vão voltar!


*************************

No dia anterior à partida, os três ficaram o dia inteiro trancados no quarto lendo e estudando. Já estava bem tarde. Rony se espreguiçou e disse:

- Estou com fome...

- Nossa! Que surpresa! – disse Hermione em tom sarcástico.

- Escuta aqui Hermione... – começou o ruivo.

- Parem já! – Harry interveio – Por favor, não comecem a brigar agora... Acho que podemos descer e comer alguma coisa. Além do mais, está frio e podemos estudar perto da lareira da sala...

- Como em Hogwarts... – suspirou a castanha.

- Então vamos, ainda deve ter daquela torta que a mamãe fez.

Hermione revirou os olhos. Cada um pegou dois livros e desceram para a cozinha. Fizeram um lanche rápido e foram se sentar na frente da lareira da sala, onde ficaram um bom tempo devorando as palavras à sua frente. Todos na casa já tinham se recolhido aos seus quartos, menos o trio. Tinham que estudar o máximo possível, já que no dia seguinte partiriam em busca das horcruxes.

Hermione escrevia furiosamente em um longo pergaminho. Harry e Rony liam de forma compenetrada sobre alguns feitiços de defesa. Eles nunca tinham lido tanto! Rony brincava dizendo que eles estavam virando as versões masculinas de Hermione. O interessante é que eles estavam gostando. Era um assunto que realmente chamava a atenção deles: sobrevivência.

- Estou caindo de sono – disse Harry após um bocejo – Acho melhor subirmos.

- Eu quero terminar estas anotações – disse Hermione sem levantar a cabeça.

- E eu quero terminar este capítulo – falou Rony – Só faltam três páginas.

- Tudo bem... Mas não demorem muito – Harry já ia subindo as escadas – Amanhã teremos um dia cheio.

Hermione sabia que o amigo tinha razão. Eles realmente precisavam estar descansados para a longa jornada. Por isso tinha que terminar logo suas anotações e ir dormir. Pôs o ponto final no pergaminho e guardou suas coisas. Olhou para o lado e viu Rony deitado no sofá segurando o livro, já fechado, sobre o peito.

- Rony?

- Sim.

- Está dormindo?

- O que você acha?

- Você é um grosso mesmo!

- Heim? – ele se voltou para a amiga – Você faz uma pergunta dessas e eu sou o grosso?

- Já terminou de ler o capítulo Senhor-Insensível?

- Já.

Hermione bufou, não ia discutir com ele. Pegou os livros, penas e pergaminhos e caminhou para a escada. Parou no primeiro degrau quando percebeu que Rony nem se mexia.

- Vai ficar aí?

- Vou.

- Temos que dormir Ronald!

- Eu não quero dormir agora.

Ela revirou os olhos e caminhou para perto dele. Colocou os livros no chão e as mãos na cintura.

- Mas tem que ir! Ou acha que amanhã sairemos depois do almoço? Não sei se você lembra, mas o Harry quer sair bem cedo.

- Eu vou estar de pé no horário combinado... Agora vai dormir, vai.

- Então fique sabendo que eu não vou acordá-lo. Se o Harry quiser ir sem você, nós iremos! – e se virou para deixar a sala.

- Mione... – ela se voltou e percebeu que ele estava sentado – Todo mundo reclama porque eu acordo tarde, mas ninguém nunca me perguntou o porquê.

- E é para eu perguntar? – disse ela sarcástica. Ele apenas levantou as sobrancelhas, ela suspirou e fingiu interesse – Por quê? – ele sorriu.

- Porque eu sempre gostei de caminhar pela casa à noite, quando não tinha ninguém para me perturbar. O silêncio da noite é bom pra pensar, sabe? Eu levei este costume para Hogwarts. Passei longas madrugadas no Salão Comunal sabia?

- Você passava as madrugadas acordado?

- Nem todas... Tá, como em Hogwarts a gente tinha realmente que acordar cedo, eu fui perdendo o costume. Mas ainda assim, havia noites em que eu não conseguia pregar o olho e ficava em frente à lareira.

- E ficava sozinho?

- Aqui em casa sim. Em Hogwarts... Durante 5 anos, eu fiquei. Mas no sexto ano, havia algumas noites em que a Lilá me fazia companhia... – Hermione virou o rosto, tentando esconder a expressão de nojo.

- É uma pena que ela não esteja aqui. Você vai ter que passar a noite sozinho, então – e fez menção de sair do local.

- Eu já te disse o quanto gosto desta casa? – cortou ele. Hermione voltou-se e franziu as sobrancelhas, confusa – Pois eu te digo que amo este lugar. E amanhã a gente vai sair daqui e eu quero ficar olhando cada canto desta casa... Quero guardar cada detalhe na memória. Afinal, não sei quando voltarei. Ou se voltarei...

- Não diga estas besteiras! – exasperou-se a morena.

- Não são besteiras. São possibilidades, elas existem Hermione. Por mais que ninguém queira aceitar, elas são reais. Eu não sei se voltarei a esta casa que eu tanto gosto. – Hermione tentou falar alguma coisa, mas ele não deixou – A gente sabe que é o Harry quem tem que acabar com toda essa guerra. E eu vou garantir que isto aconteça, nem que pra isso teu tenha que pular na frente de um avada kedavra pra protegê-lo...

- Isso não vai ser preciso! – Hermione sentou em frente a ele e o abraçou – Você não vai precisar dar sua vida por ninguém! Ninguém vai, está ouvindo? Eu o quero vivo! Nada de sacrifícios entendeu?

Rony afastou-se para olhá-la nos olhos. Acariciou o rosto delicado com a ponta dos dedos.

- Eu já tenho cada traço seu decorado em minha mente...

- Cale a boca Ronald! Não continue com esse mau agouro! É melhor irmos dormir.

- Tem razão. Tudo vai dar certo. Somos nós né? – ele sorriu – É melhor você ir dormir, está um pouco nervosa. Amanhã estará mais calma.

- Eu não estou nervosa!

- Tudo bem, é normal estar apreensiva;

- Eu não estou apreensiva!

- Tá certo. Amanhã essa angústia vai diminuir...

- Quer parar de usar este dicionário de sinônimos?

- Certo, certo Estrelinha... Me deixa ficar só mais um pouquinho tá?

- Tá bom... – ela sussurrou – mas não demora muito.

- Eu não vou demorar – ele sussurrou – Boa noite!

- Boa noite – ela sorriu e inclinou-se para beijar a bochecha do ruivo. Acontece que no momento em que ela estendeu os lábios, ele virou o rosto e, sem querer, trocaram um comportado selinho.

Eles se afastaram assustados e corando furiosamente. Rony sentiu as orelhas esquentarem e viu Hermione piscar duas vezes e respirar pesadamente.

Por que não?

Foi a última coisa que ele pensou antes de trazer o rosto dela para mais perto e pressionar seus lábios nos da garota. Assustou-se quando percebeu que a surpresa era tão grande que ela não correspondia. Pensou em afastar-se e pedir desculpas, mas sentiu as mãos dela em seu rosto. Ele sorriu e a beijou lentamente. Queria guardar também aquela sensação maravilhosa e tão desejada.

Merlin, ele está me beijando! E é real!

Hermione pensou quando acariciou o rosto do garoto. Sentiu as pontas da barba dele, que estavam crescendo, arranhando a pele de sua mão e pensou que não poderia existir sensação mais gostosa no mundo. Seu coração estava aos pulos. Ela sabia que não podiam ficar neste “love” durante a guerra, mas ter uma prova do que poderia sentir caso fosse namorada daquele ruivo, era mais do que suficiente.

Separaram-se preguiçosamente. Não queriam que acabasse, mas infelizmente eram humanos e precisavam de oxigênio. Hermione estava mais vermelha que um botão de rosa, e Rony estava praticamente camuflado em seus cabelos.

- Err... – começou ele – Nunca saberemos o que pode acontecer amanhã né?

- Boa noite. – ela cortou o amigo.

Hermione se levantou apressadamente e correu para as escadas. Quando chegou ao terceiro degrau parou e pelo canto do olho pôde ver que Rony olhava para ela. Mordeu o lábio inferior, voltou seu corpo e caminhou para perto do sofá, onde o amigo esperava apreensivo. Ela também aparentava nervosismo.

- Você tem razão – ela falou de repente – O amanhã é uma interrogação mesmo...

A garota se jogou nos braços do ruivo e deixou-se beijar por ele. Num movimento rápido, Rony fez com que a moça se deitasse e ele ficou por cima dela. Beijavam-se com ardor e paixão. Os lábios que há muito tempo se desejavam agora se exploravam avidamente. As mãos dela passeavam pelos cabelos vermelhos, enquanto as dele iam do rosto até a cintura dela. Afastaram-se para poder respirar e olharam-se somente por alguns segundos, antes que Hermione novamente o trouxesse para seus lábios.

Beijaram-se por um bom tempo, sentindo o gosto e os movimentos um do outro. Os corações acelerados, as mãos suadas e nervosas, as bocas sedentas, as respirações descompassadas. De repente ouviram uma porta sendo fechada e vozes que vinham da cozinha. Separaram-se ofegantes.

- É melhor irmos nos deitar...

- É a voz do seu pai – Hermione cochichou.

- É, eu sei... Numa das minhas aventuras noturnas eu descobri que eles também são adeptos dos passeios à luz do luar – respondeu Rony também cochichando.

- Eu não vou conseguir dormir... Não enquanto meus filhos não estiverem seguros...

Então eles ouviram os soluços de Molly romperem na cozinha. Rony levantou-se imediatamente e caminhou para a porta da cozinha. Hermione o seguiu e pararam pouco antes da entrada para escutar a conversa que vinha de dentro.

- Molly querida... Tudo vai dar certo. Temos que confiar em nossos garotos...

- Eu confio neles. Mas não nos comensais...

Mais soluços são ouvidos.

- Ô meu amor...

- Eles são apenas crianças Arthur! Por que não podem ter uma vida normal? Guerra devia ser assunto para adultos!

Hermione tentou segurar o braço de Rony, mas não conseguiu impedir que o amigo entrasse na cozinha.

- Não fica assim mãe...

- Oh, meu Deus, Rony – respondeu Molly enxugando os olhos – O que está fazendo acordado à uma hora destas? Já devia estar na cama... E você também mocinha – disse apontando para Hermione que apareceu na porta.

- Nós já estávamos subindo senhora Wesley – respondeu apressadamente a garota – Só estávamos arrumando os livros espalhados na sala...

- Não precisavam se preocupar com isso – disse o senhor Wesley, que não pode segurar um sorriso de canto de boca ao reparar nos cabelos desgrenhados, roupas amassadas e lábios inchados dos dois jovens.

- Mãe – começou Rony – eu sei que não vai adiantar eu pedir pra você não se preocupar, ou ficar nervosa... Porque eu também estou um pouco nervoso, afinal vou ficar mais longe de casa do que jamais estive – Molly rompeu em mais uma crise de choro – Eu só quero que você entenda o motivo de eu ter que ir junto com o Harry. Eu preciso ir e sei que o Harry precisa de mim nesta batalha.

Já passamos por tanta coisa juntos... Coisas que ninguém pode imaginar... E nós vencemos! Somente nós, eu e a Mione, podemos entender essas situações estranhas pelas quais o Harry passou. Eu confio plenamente nele, sei do que ele é capaz. Sei que ele é capaz de derrotar aquele idiota do Voldemort – Hermione se assustou ao ouvir esse nome na voz do amigo, Molly e Arthur se encolheram um pouco – Eu preciso que a senhora confie nele também. Não somos mais crianças há muito tempo, mãe... Somos guerreiros. Soldados de Dumbledore.

Molly abraçou fortemente seu menino mais novo. Ele depositou um beijo na cabeça da mãe. Arthur se aproximou e envolveu os dois em outro abraço.

- Eu tenho muito orgulho de você meu filho! – disse ele.

Hermione não conseguia segurar as lágrimas. Virou-se para sair sem ser percebida, mas parou ao ouvir um pedido da Sra. Wesley.

- Promete que vai voltar pra casa...

- Eu nunca vou desistir de voltar pra casa.

Hermione lembrou das palavras de Rony na sala. Seu peito apertou. A idéia de perdê-lo era aterrorizante. Voltou para dar uma bronca nele, mas foi impedida pela voz chorosa de Molly.

- Hermione, querida... Você sempre foi a porção mais sensata do trio. Enquanto os dois sempre foram mais impulsivos, você sempre parava pra pensar... Toma conta deles, por favor. Não deixa esses teimosos fazerem nenhuma besteira. Toma conta do meu Rony...

- Pode deixar Molly, eu faço questão de cuidar do Rony... E do Harry! – emendou rapidamente, Arthur sorriu – Vamos voltar pra casa... Os três.

Arthur se aproximou da moça e a abraçou com carinho, logo após Molly levantou-se e fez o mesmo.

- Acho melhor vocês irem dormir agora... – disse a senhora.

- Sua mãe tem razão – falou o pai de Rony – direto pra cama.

Os dois coraram furiosamente, pensando se a frase “estávamos nos agarrando agora há pouco”, estava escrito nas testas deles.

Subiram calados por um tempo, mas de repente Rony resolveu voltar. Desceu correndo até a cozinha. Hermione ouviu emocionada quando ele disse.

- Pai, mãe... Eu amo vocês viu?

- Nós também te amamos muito meu querido – foi o que ela ouviu antes de limpar as lágrimas e entrar no quarto que dividia com Gina.

Encontrou a amiga sentada no parapeito da janela, olhando para fora.

- Ainda não conseguiu dormir? – iniciou uma conversa.

- O que você acha?

- Ah não... Já basta o Rony!

Gina sorriu.

- Aaaah, o Rony... – tentava mostrar desinteresse – então, foi divertido lá embaixo?

- Como assim divertido? Estávamos estudando. Eu, o Harry e o Rony.

- Mas faz tempo que o Harry subiu. Só ficaram vocês dois lá embaixo.

- Como é que você sabe que o Harry já subiu?

- Porque ele veio aqui.

- Hein? – Hermione espantou-se.

- A porta tava só encostada. Eu estava esperando você... Então deu uma “corrente de ar” – disse ela fazendo o sinal de aspas com os dedos – aí eu levantei, fechei a porta, fui pra cama e “dormi” – mais uma vez fez o sinal de aspas.

- Onde é que o Harry entra nesta história?

- Ele tava com a capa de invisibilidade...

- Então como é que você...

- Pelo cheiro. Eu conheço o Harry pelo cheiro, fazer o quê? – ela suspirou – Ele sentou na sua cama e ficou olhando pra mim. Eu fingi que dormia, então senti a mão dele no meu rosto e depois nos meus cabelos. Ah, e acho que ele pegou um broche meu na penteadeira...

- Ah, Gi...

- Mas você tá desconversando Mione... – cortou ela – eu perguntei se foi divertido lá embaixo.

- Ora Gina... Depois que o Harry subiu, a gente ficou estudando.

- Certo. E um livro atacou você. – Hermione fez uma expressão confusa – Pelo amor de Deus Hermione! Você tá toda descabelada e com a roupa toda amassada... Quem fica sentadinha estudando não aparece nesse estado.

A morena corou novamente e correu para frente do espelho, confirmando as palavras da amiga.

- Ah meu Merlin! Ah meu Merlin! Ah meu Merlin...

- Calma Mione. Todo mundo sabia que isso ia acontecer um dia... E então, meu irmão beija bem? – Hermione arregalou os olhos para a amiga – Tá eu sei que ele é meu irmão e não deveria saber destas coisas dele; Mas caramba, você é minha melhor amiga! Eu tô curiosa...

- Er... O Rony beija bem sim... – Hermione falou sorrindo envergonhada – É perfeito. – ela caiu na cama – Foi rápido, impensado... Sem muitas palavras, mas foi maravilhoso!

- Claro que tinha que ser com poucas palavras! Nessas horas a gente faz outra coisa com a boca – Gina sentou em sua cama e colocou o travesseiro no colo – Então vocês se acertaram!

- Não – a morena se levantou e vestiu o pijama – Não deu tempo... Sua mãe começou a chorar...

- Vocês se beijaram na frente da mamãe?!

- Não! – disse Hermione escandalizada – É que a gente a ouviu chorando na cozinha. Seu pai estava com ela. Sua mãe está muito nervosa por causa de amanhã. Aí o Rony fez um discurso lindo pra acalmá-los... E eu acho que funcionou. Então a gente subiu.

- Só?

- Só... Acho que já foi bom demais pra quem vai pra uma guerra amanhã...

As duas se deitaram e apagaram a luz.

- Mione?

- Oi...

- Ele é lento, mas não é tão legume assim, viu?

- Eu sei...

Hermione fechou os olhos, mas sabia que não conseguiria dormir.

****************************

Rony entrou no quarto na ponta dos pés. Não queria acordar o amigo. Não acendeu luz alguma. Mas logo que pegou seu pijama no guarda-roupa sentiu seus olhos cegarem diante da luz que Harry acendeu.

- Que susto cara! Pensei que estava dormindo...

- Dormir? Sem saber o que aconteceu lá embaixo? Nem a pau! – e tentou sorrir.

- Como assim o que aconteceu lá embaixo? – Rony tentou se fazer de desentendido.

- Deve ter acontecido alguma coisa pro seu cabelo estar assim, todo pra cima...

Rony sorriu maroto e se viu no espelho. Harry agora tentava conter as gargalhadas.

- Fui eu que baguncei ele com os dedos.

- Os dedos da Hermione? – Harry se desviou do travesseiro que voou em sua direção.

- Não enche Harry! – disse enquanto trocava de roupa.

- Se você ao menos disfarçasse, mas fica com esse sorriso bobo no rosto...

- Não há o que disfarçar.

- Então vocês assumiram? – tripudiou Harry.

- Vai dormir! Você não tava caindo de sono?

- Só vou te deixar em paz quando você me disser o que aconteceu.

Harry fixou o amigo. O sorriso de Rony dobrou de tamanho, depois ele olhou para baixo e deitou na cama.

- A gente... – ele limpou a garganta – nós nos beijamos. – disse como se fosse a coisa mais natural do mundo.

- Ahá! Alguma coisa me dizia que eu tinha que deixar vocês dois sozinhos essa noite! Meu sexto sentido não falha! – ele não segurou mais as gargalhadas diante de um Rony vermelho como um tomate – E então, como foi?

- Foi maravilhoso! Ela é linda, doce... Brilhante!

- Hum-hum.

- O que foi Harry?

- Nada... Então, o que vocês decidiram?

- Sabe, a gente não conversou muito...

- Ah, claro que não... Não deu tempo né? As bocas estavam ocupadas... – dessa vez ele não conseguiu desviar e um travesseiro acertou sua cabeça, ele continuou rindo da cara do ruivo.

- Ah, cala a boca Harry! É melhor não alimentar ilusões... Foi só um beijo.

- Só um?

- Não! – irritou-se – Na verdade foram vários... Na verdade a gente tava se agarrando no sofá! – Rony disse sentindo seu rosto esquentar – Satisfeito agora?

- Quem diria... Os monitores de Grifinória se agarrando no sofá... – Harry enxugava os olhos de tanto rir. Estava adorando deixar o Rony aperreado.

- Boa noite Harry! – Cortou o ruivo.

- Noite – o moreno ainda tentava parar de rir.

Rony pensou um momento antes de fechar os olhos. Devia conversar com Hermione sobre aquilo? Tentar acertar as coisas entre eles? Decidiu que não faria isso na atual conjuntura. Amores em meio a uma guerra eram muito arriscados. Principalmente quando se estava na linha de frente.

A gente ainda tem uma guerra pra vencer... Depois disso, a gente vê.

***********************

A manhã seguinte estava linda. O céu azul e o sol brilhante contrastavam com o clima nebuloso que havia na casa que antes era tão animada. O trio já estava pronto para partir e somente Carlinhos, Olho Tonto e Lupin sabiam o destino deles depois de Godric’s Hollow.

As despedidas estavam sendo rápidas, mas chorosas. O medo e angústia estavam estampados no rosto de todos os presentes naquela sala. Somente uma pessoa não viera se despedir e Harry estava sentindo uma profunda tristeza por não olhar aquele rosto delicado emoldurado em cabelos vermelhos mais uma vez. Talvez uma última vez.

Quando já estavam na porta, Harry ouviu a voz que tanto queria. Gina descia as escadas rapidamente na direção dos três.

- Eu não queria vê-los partindo, mas não consegui agüentar.

Ela se jogou nos braços do irmão. Um abraço apertado e cheio de carinho. Aqueles dias tinham aproximado os dois de uma forma bastante intensa, apesar de ainda continuarem brigando muito. Depois ela abraçou Hermione e disse aos dois que não esquecessem de se comunicar, ao que eles confirmaram o plano.

Por um momento o olhar dela cruzou com o de Harry. Mas não havia ternura nos olhos dela.

- Boa sorte Harry – a voz fria dela atingiu o coração de Harry como uma espada.

- Obrigado. – murmurou ele.

- Eu sei que vocês voltarão... Sei que você vai acabar com aquele cara-de-cobra e com cada pedacinho da alma dele. Nesse quesito, eu confio plenamente em você.

Os três saíram com o coração apertado. Mas Harry sentiu seu mundo desabar ao ouvir as palavras da ruiva. Ao menos ela acreditava que ele venceria Voldemort... Isso lhe servia de consolo.

***FIM DO FLASHBACK***

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