Capítulo único
Leves raios de sol poente entravam pela janela d’A Toca. Havia se passado pouco mais de uma semana desde os últimos acontecimentos em Hogwarts. Harry estava no quarto de Rony, que olhava para o teto distraidamente deitado em sua cama. Era estranho o sentimento de alívio, dor e perda que se misturava dentro dele. Nestes últimos dias, até as paredes da casa pareciam estar sentindo a falta de Fred Weasley. O incomum silêncio que pairava n’A Toca chegava a incomodar. Harry, além de se sentir um intruso ali, sentia-se culpado. Todas aquelas mortes, de certa forma, haviam ocorrido por causa dele. Estava tentando ao máximo não pensar dessa forma, mas ao invés, pensar que um dia essa dor da perda cessaria e o mundo agora, finalmente, teria paz. Levantou-se e foi até a janela do quarto; avistou um pontinho ruivo na grama verde do jardim. Gina. A principal razão que ainda o impulsionava a viver. A principal razão que o deu coragem e força para lutar e sair vivo dessa guerra.
Nessa semana que se passou, não haviam tido oportunidade de conversar sobre os dois. Passaram o primeiro dia, depois da queda de Voldemort, em Hogwarts para os funerais; depois tinham ido para A Toca e com o clima pesaroso, todos passavam a maior parte do tempo em seus quartos ou quando juntos, em silêncio. Havia trocado algumas palavras com Gina enquanto ainda estavam no castelo. Ele, ela, Rony e Hermione haviam conversado sobre a batalha, sobre toda a viagem dos três; mas ainda não tinha ficado a sós com Gina. Rony, pouco conversava ultimamente. Naquele dia havia resmungado algo sobre Hermione ainda não te-los ido visitar desde o dia dos funerais. Harry; sem paciência para explicar mais uma vez que a amiga, que passou um ano sem notícias dos pais, naturalmente queria aproveitar um tempo com eles depois de tudo o que houve; preferiu se calar.
O sol que se punha dava ao jardim um tom dourado. Harry ficou mais uns minutos encarando a vista, até que disse à Rony: - Vou lá embaixo.
Rony deu de ombros. Harry desceu as escadas, não havia ninguém na sala.
Chegou no jardim e caminhou até Gina.
- Posso sentar aqui?
Ela ergueu os olhos, depois fez que sim com a cabeça. Ficaram um ao lado do outro observando um grupo de gnomos que se deslocava pelo jardim. Haviam se multiplicado absurdamente. Harry tentava pensar em algo para dizer, até que Gina quebrou o silêncio.
- Não tem como estar aqui e não lembrar do Fred... – disse melancolicamente.
- Sinto muito. – murmurou Harry – Por tudo.
Ela o encarou e forçou um sorriso.
- Todos nós sentimos... Mas sei que vai passar. – disse ela.
- Vai sim. – foi só o que Harry conseguiu dizer.
- Passamos por coisas tão difíceis, quer dizer, ainda estamos passando... Mas eu sei que um dia levaremos uma vida feliz. – ela suspirou.
Passaram-se uns minutos e uma brisa fresca balançou os cabelos flamejantes de Gina.
- Você cresceu. – disse Harry encarando-a.
- O que quer dizer com isso? – ela ergueu uma sobrancelha.
- Anh... está diferente. É que passei tanto tempo longe de você...
Gina realmente havia ficado ainda mais bonita durante o último ano, e tinha um ar mais maduro no rosto.
Ela sorriu: - Ainda continuo sendo a mesma Weasley.
Houve mais um tempo de silêncio, até que Harry murmurou: - Preciso te dizer uma coisa.
Os olhos castanhos dela encontraram os verdes do garoto.
- Sabe, eu queria agradecer... o presente de aniversário. É que não pude fazer isso antes. E queria que você soubesse que foi meu melhor presente. E que... não houve um só dia quando estava fora em que eu não lembrasse de você. – Ele falou a última frase rapidamente, mas ela pareceu entender pois seus olhos adquiriram um certo brilho aquoso.
- Então... não encontrou nenhuma veela?
- Se tivesse encontrado não teria feito diferença.
Uma lágrima percorreu lentamente o rosto de Gina. Ela piscou e mais outras vieram.
- Eu estive chorando por bastante tempo depois que você partiu. As coisas foram tão inesperadas; vocês estavam ali no casamento e de repente... – ela silenciou.
Harry segurou sua mão.
- Mas agora eu estou aqui, não é? E agora não há mais motivos nobres e idiotas que me impeçam de... – ele encarou o chão. – Isso é, se você ainda... – mas não terminou a frase.
Gina chegou mais perto.
- No dia em que Harry James Potter nasceu, o destino dele já estava traçado; teria a missão de destruir Voldemort. E no dia em que Ginevra Molly Weasley nasceu, acho que o destino dela era esperar pelo senhor Potter.
- Me desculpe por isso... por todas as coisas que eu te fiz passar...
- Harry, eu não estou te culpando por ter estado sempre salvando o mundo bruxo. Eu sei que era isso o que você tinha que fazer.
- Vai ver é por isso que gosta tanto de mim?
Ela sorriu.
- Ainda lembra disso?
Ele balançou a cabeça afirmativamente.
- E de você dizendo que não se importava com o perigo que poderia correr por estarmos juntos.
- E não me importava mesmo.
- Vai ver é por isso que EU gosto tanto de você.
Seus lábios se encontraram depois de tanto tempo e eles se beijaram com tamanha intensidade como se suas vidas dependessem disso. Passados alguns longos segundos, eles se separaram relutantemente, talvez porque o fôlego (ou a falta dele) lhes exigisse. Mal sabiam eles que teriam uma vida inteira juntos pela frente e que muitos outros momentos de tirar o fôlego ainda estariam por vir.
"You look so beautiful today
Você está tão linda hoje
When you're sitting there
Quando você está sentada aqui
It's hard for me to look away
É difícil pra mim desviar o olhar
So I try to find the words that I could say
Então tento achar as palavras que eu poderia dizer
[…]
Another day without you with me
Outro dia sem você comigo
Is like a blade that cuts right through me
É como uma lâmina que me corta
But I can wait
Mas eu posso esperar
I can wait forever
Eu posso esperar para sempre"
(I Can Wait Forever – Simple Plan).
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