Consequências...



O dia amanhecia frio, mas isso não impedia os pássaros de cantarem irritantemente na janela do quarto de Emilly. Seus olhos lutavam para não se abrirem, enquanto ela sentava-se em sua cama com extrema dificuldade. Quando finalmente os abriu, sentiu uma forte pontada na cabeça, fazendo a jovem amaldiçoar cada gota daquele maldito wisky de fogo que bebera na noite anterior.

Levantou-se após muito esforço e caminhou até o banheiro, parando um instante perante o seu espelho: estava um horror! O cabelo bagunçado, olheiras terríveis! Seguiu para o banheiro imediatamente, tomou um banho demorado e vestiu uma roupa confortável.

Desceu para a sala, esperando não encontrar seu pai. Mas, para seu desespero, lá estava ele olhando concentrado sua xícara de café. Emilly parou imediatamente de descer as escadas e começou a fazer o caminho de volta no mais absoluto silêncio. Mas...

_BOM DIA EMILLY! COMO PASSOU A NOITE?

Aquela vozinha a irritou profundamente. Virou-se para a porta de entrada, a tempo de ver sua irmã Eryn entrando através desta trajando seu costumeiro (e ridículo) uniforme de tênis.

_Bom dia Eryn...

_Emilly! _ a voz autoritária do pai fez o coração de Emilly disparar de susto. _ Venha tomar café. Agora.

Emilly fuzilou a irmã com o olhar e terminou de descer as escadas, esbarrando, de propósito, no ombro da irmã quando passou por ela.

Sentou-se bem longe do pai e ficou quieta. Sabia o que estava por vir. Agora, seu pai lia um jornal atentamente.

_Posso saber à que horas você chegou em casa ontem?_ ele disse de repente, sem tirar os olhos do jornal.

_Ah... Não me lembro...

_Deixe eu refrescar sua memória então: você chegou às 5h da manhã. Então eu devo reformular minha pergunta: A que horas você chegou em casa HOJE?

_Me desculpe pai. È que a festa estava ótima, eu acabei perdendo a noção do tempo.

_E a vergonha na cara também.

Ao fazer essa afirmativa, Alan finalmente encarou a filha, que neste momento passava a geléia de damasco na torrada com as mãos tremendo. Emilly não ousou olhá-lo, continuou o que estava fazendo pensando em como iria se safar do que estava por vir.

Para sua sorte, seu irmão havia acabado de entrar na sala. Parecia não ter notado o clima pesado que ali pairava.

_Bom dia.

Emilly e o pai o responderam em uníssono e o silêncio voltou a pairar na sala. Joe sentou-se ao lado da irmã e também ficou em silêncio.

_Joe, posso saber onde você estava ontem a noite? Porque tá na cara que você e Emilly não estavam juntos._ Alan dirigiu-se ao enteado.

_Bom, quando eu a chamei para ir embora, Emilly estava tão bêbada que não me ouviu. Como eu estava cansado, resolvi vir antes dela. Só não sabia que ela iria virar a noite.

Emilly odiou o irmão bastardo naquele momento. O observou como se dissesse “Qual é? Você poderia ter me livrado dessa!” e voltou sua atenção para irmã que acabava de entrar na sala. Sorria abertamente, certamente havia ouvido a discussão de seu pai com Emilly. Deu um beijo estalado na bochecha do pai e sentou-se na cadeira ao seu lado.

_Por favor, não parem por minha causa, podem continuar a conversa.

Alan chamou o elfo doméstico, que veio imediatamente.

_Duck, traga-me aquela revista que eu pedi para você guardar.

Duck foi e voltou rapidamente com a revista na mão. Após dispensar o elfo, Alan deu uma olhada na revista e sussurrou:

_Que pouca vergonha, que horror!
_Pai...
_Você não amadurece não é Emilly?
_Pai... Por favor...
_Por favor digo eu! Isso é um absurdo!
_Olha, eu não sei por que o senhor é tão retrógrado. Hoje em dia isso é a coisa mais normal do mundo!
_É NORMAL A FILHA DO MINISTRO APARECER BÊBADA NA CAPA DE UMA REVISTA DE CIRCULAÇÃO NACIONAL?

O grito de Alan assustou a todos, inclusive Joe que antes parecia bem interessado no rótulo do vidro da geléia. Eryn pegou a revista das mãos do pai e olhou a capa com interesse, tapando a boca em uma nítida expressão de espanto ( e exagerada).

_Deixa eu ver isso.

Emilly arrancou a revista das mãos da irmã, que agora ria escancaradamente. Ela olhou a capa e se assustou com o que vi: lá estava ela saindo da casa de sua amiga Meg Johnson, sendo amparada pelo motorista da família. Quando viu os fotógrafos, sorriu e acenou. Era bizarro!

_Que droga! Pegaram meu pior ângulo, assim meu nariz fica enorme!

De imediato a revista pegou fogo em suas mãos. Quando as cinzas caíram sobre sua torrada, ela pode ver o pai com uma varinha apontada para ela.

Joe olhava de um para o outro assustado. Eryn havia parado de rir, mas ainda tinha a expressão do riso no seu rosto.

_Saia da mesa e vá para seu quarto.
_Mas eu nem terminei de...
_AGORA!

Emilly levantou-se pronta para sair, mas não resistiu e, antes de ir para o quarto, derramou suco de laranja na irmã, ouvindo com prazer o grito de raiva desta.


Já haviam se passado algumas horas desde que Emilly havia sido colocada de castigo. Olhava desolada o jardim através de sua janela. Seu olhara pousou demoradamente em Joe, que agora conversava com a vizinha. O assunto parecia animado, pois ambos riam bastante. Aquela era Jéssica Grey, melhor amiga de Eryn e assumidamente apaixonada por Joe. Detestava Emilly desde a terceira série, quando esta fez um feitiço errado e acertou a garota, deixando-a com os dentes da frente enormes durante um longo tempo.

Batidas na porta a alertaram.

_Entre. _ Emilly ordenou entediada.

Ouviu a porta se abrindo e passinhos apressados chegando até ela.

_Senhorita, seu pai deseja vê-la no escritório imediatamente.

Emilly mirou a elfo doméstica que estava ao seu lado. Seu nome era Izzie e, segundo seu pai, era uma das preferidas de sua mãe. Após a morte desta, Izzie passou a se descuidar, chorava pelos cantos a falta da patroa e recusava-se a ir embora daquela casa.

Emilly agradeceu ao elfo e foi até o escritório do pai. Bateu à porta com receio e entrou ao ouvir a voz autoritária do pai. Alan estava sentado à sua mesa, lia um documento atentamente, mas ao perceber a presença da filha, parou e retirou os óculos.

_Sente-se.

Ele disse apontando a cadeira à sua frente. Emilly sentou-se e pôs-se a observar o local de trabalho do seu pai. Ali, a entrada de qualquer um além dele e de seu elfo de confiança, Duck, era proibida. Na sua escrivaninha, havia a foto de sua mulher, mãe de Emilly, Ariel Taylor. Ela era tão linda! Seu cabelo loiro caía espetacularmente pelas costas e seu sorriso era o mais lindo do mundo! Emilly amava ficar admirando a foto da mãe, que morreu ao lhe dar luz. Esse era, aliás, o motivo pelo qual Eryn detestava a irmã. Sempre que podia dizia que se ela não tivesse nascido, sua mãe ainda estaria viva.

Desde a morte da mulher, Alan se tornou outra pessoa. Contratou imediatamente uma babá para tomar conta de suas filhas e passava o tempo todo viajando. Quando estava em casa, trancava-se no escritório. Só via as filhas nas refeições, mas evitava prolongar aquele momento. Uma vez, Emilly o ouviu conversando com Duck no escritório...


-Flash Back-

_Senhor, sua filha Eryn esta chamando-o para ler uma história para ela antes de dormir.
_Onde esta a babá?
_Já foi embora senhor, disse que tinha um compromisso importante.
_Peça à Izzie para contar-lhe a história, eu não estou com ânimo.
_Senhor... Poço lhe fazer uma pergunta?
_Claro.
_Por que o senhor não gosta de ficar muito próximo à menina Emilly?

Um silêncio pairou sobre o local. Emilly, que naquela época tinha 8 anos, aproximou-se mais da gretinha da porta, queria ver o que estava acontecendo. E viu. Agora, seu pai segurava um porta-retrato na mão e sorria.

_Veja Duck, veja como ela era linda..._ ele disse entregando o porta-retrato ao elfo. Depois caminhou até a janela do escritório e pôs-se a observar a chuva fina que caía. _Você já observou bem a Emilly? Já reparou naqueles olhinhos, na bochecha, nos lábios, no sorriso, no cabelo?
_Sim senhor.
_Pois então... Eu não consigo ficar perto dela porque ela me lembra muito Ariel. Ela é a Ariel. Entende Duck? É a minha Ariel quando menina!

-Fim Flash Back-

Aquela conversa ficou gravada na mente de Emilly. Ela sentiu uma alegria enorme ao saber que era parecida com a mãe e aquele era seu trunfo contra a irmã. Quando esta começava a ofendê-la, Emilly se lembrava desta conversa.

_Precisamos conversar. _ disse Alan, despertando-a de seu devaneio.
_Pode falar, papai.
_Primeiramente quero que saiba que fiquei muito decepcionado quando vi aquela revista hoje de manhã.
_Sinto muito pai.
_Tudo bem, mas isso não diminui o fato de que você tem aprontado bastante.
_Pai, eu sei que errei e prometo nunca mais fazer isso.
_Realmente, você nunca mais vai fazer isso.
_Como?
_Eu já sei o que vou fazer com você.
_O que? Vai me internar? _ a risada escapou antes que Emilly pudesse segurar. Mas, para seu espanto, Alan não xingou e muito menos ficou nervoso. Simplesmente esperou a filha parar de rir. Quando isso aconteceu, ele disse:
_Não, vou matriculá-la na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
_O QUE?
_Exatamente o que ouviu. Aliás, _ ele disse pegando o documento que estava lendo há pouco e mostrando à filha. _ já a matriculei.
_Mas pai... E meus amigos... Não! Eu não quero ir!
_Pois irá, não só você como seus irmãos também. Trate de arrumar as malas, amanhã mesmo vocês irão para o Beco Diagonal comprar os livros e o uniforme. Assunto encerrado, volte para seu quarto.

Emilly sentia seus olhos marejarem, mas segurou as lágrimas. Chegando ao seu quarto, atirou um bibelô contra a parede, descarregando seu ódio. Olhou para a janela procurando Joe, mas este já não estava mais lá. O tempo fechou de repente, contrastando perfeitamente com seu humor. Imaginou ter visto um par de olhos lhe observarem através das nuvens negras, mas ignorou quando ouviu a porta do seu quarto se abrindo. Sem pensar correu para aqueles braços que a ampararam sem demora. Deitou a cabeça naquele peito aconchegante e começou a chorar.

_Estou ao seu lado Emi, sempre._ Joe sussurrou, ainda amparando-a.
_Ele vai estar lá Joe...
_Está na hora de você encará-lo...
Joe a afastou delicadamente e olhou em seus olhos.
_De uma vez por todas.

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