<i>Único •</i>
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Ela não estava ouvindo nada, mas a julgar pela boca ligeiramente aberta da mulher, ela poderia jurar que estava gritando. Foi então que ela o viu. Seus exatos 16 anos, cabelos e olhos negros, expressões frias, como sempre.
Estava sorrindo cinicamente, como se tivesse acabado de azarar um grifinório insignificante. Os lábios finos de abriam de canto a canto com aquele sorriso seco que lhe caía estranhamente bem. Tom Riddle. Tom, que acabara de matar mais uma pessoa sem nem sequer olhar para trás.
Então ele foi se aproximando da garota, será que conseguia vê-la?
Claro que posso. Eu posso tudo.
E ele até lia seus pensamentos. Ela esticou a mão para tocá-lo, como a garotinha que era anos atrás, como uma criança para alcançar um sorvete, ou algum tipo de doce.
Não deu tempo, vozes distantes eram ouvidas.
Hey, Gina! Você vai perder a aula dupla de poções!
Gina pulou da cama, agradeceu a atenção da amiga, e correu para o banheiro.
Ela não sabia ao certo o que pensar, o que acabara de acontecer. Tom havia ido visitá-la novamente. Ah, visitar! Que termo mais inocente de se usar. Ele tinha ido buscar a alma dela mais uma vez, e se não acordasse a tempo, talvez não estaria mais onde estava agora. Agora Gina tinha certeza: ele estava vivo . Não sabia onde, nem porque, mas de certa forma parecia que ele habitava nela. Ele poderia controlar seus sentimentos, pensamentos e ações, tal como quando ela era uma garotinha de onze anos.
A outra parte existente de Tom, vagava por algum lugar perto dela. E se não havia regressado só para matar Potter, estava de volta para roubar a outra parte da essência de Gina, que ele possuía. Não havia como negar, nem haviam explicações, mas, sim, ele possuía. A essência mais profunda, porque ela, a pobre garota grifinória, era inocente demais, ingênua demais, a ponto de possuir forças para lutar contra aquilo. Era isso? Não. Podia ser, anos atrás, uma garotinha inocente e ingênua, mas isso havia mudado, ela sabia, e ele também.
Mas se Tom conseguia possuir Gina tão facilmente, era porque algo dentro dela clamava, implorava, suplicava por isso. Suplicava para voltar a vê-lo, nem que isso lhe tivesse um preço caro.
Esse preço era a morte.
E era por essas razões que Tom, por vezes, ria dela. Ela era uma tola. A mesma tolinha de quando revelara sua alma para Lord Voldemort, da maneira mais imprevisível possível. E era essa alma que Tom temia, essa alma que lhe mostrara o que era o amor, que ele até então desconhecia. Gina chegara aonde ninguém chegara antes. Ela havia conseguido tocá-lo, mesmo que de leve e distante, tocara a parte esquecida da alma de Riddle.
Foi essa total entrega de Gina Weasley que fez com que Lord Voldemort voltasse à vida, enquanto a pequena perdia, a cada segundo, cada pingo da existência praticamente insignificante e importante para Tom.
Naqueles dias, ele teve certeza de que pela primeira vez, viu-se ternura em seus olhos. Ele tinha medo de perder Gina, de perder toda a confiança conquistada por aquela menina.
Os pensamentos de Gina foram interrompidos por batidas frenéticas na porta.
- Gina, a aula!
- Ah, eu me esqueci, pode ir, eu encontro você lá.
Ela vestiu seu uniforme preto e vermelho, penteou seus cabelos e deixou alguns fios para frente de seu rosto, enquanto descia para as masmorras, esquecendo pela primeira vez ao dia, o rapaz que lhe roubara noites de sono, a alegria, a inocência e quase, a vida, mas por quem ela ainda nutria uma enorme ternura.
Chegou atrasada na aula de Snape, o que lhe causou um problema grande.
- Weasley, você está me saindo mais tapada que o seu irmão. Menos 20 pontos para a Grifinória, pelo atraso inconseqüente da queridinha Ginevra.
Ela preferiu não se irritar, e calou-se, para evitar mais problemas da parte do odiado professor.
Quando enfim terminaram as aulas do dia, Gina trocou de roupa, e preferiu ir para os jardins da escola, pegar um sol e ar fresco. Devido ao calor que fazia, muitos estudantes nadavam no lago da escola. Gina assentou-se em um lugar mais afastado, na grama bem cuidada de Hogwarts. Deitou-se na grama, apoiando seus cotovelos no chão.
Os pensamentos voltaram-lhe como uma notícia péssima, mas como doía pensar que nunca mais veria Tom! Isso foi provado quando, anos atrás vira o diário destruído. Sabia que era proibido pensar em Tom, porque, de certa forma, ele era Voldemort.
Mas não o Tom que eu conheci.
Ela não entendia porque os seus sonhos com Tom a afetavam tanto. Talvez era porque seu passado fora marcado por ele, talvez era porque ele possuía uma capacidade enorme de penetrar em seus pensamentos mais secretos.
Gina se perguntava se ele também pensava nela. Algo dizia que ele estava vivo, mas outra coisa não olhe permitia pensar nele como algo mais que um morto, algo não a deixava acreditar que ele vivia, e estava mais perto do que poderia imaginar.
Encontrá-lo era o que ela menos queria, mas o que ela mais precisava.
As tardes imaginárias que passara com Tom, eram sempre divertidas, onde conversavam sobre tudo e todos, onde se davam bem. Só que ela não passava de uma garotinha, mal mal se lembrava.
Nos sonhos que Gina tinha, sempre que se encontrava com Tom, ela estava vestida com cetim branquinho, branquinho. Um lacinho cor de rosa bebê nos cabelos que mais pareciam brasas vivas.
Hoje, ela estava com um vestido de renda azul, pouco acima dos joelhos bem feitos. Os cabelos vermelhos e cacheados com algumas mechas caindo-lhe pelo rosto, displicentemente. Há algum tempo atrás, ela chegou a pensar que estava sendo controlada por Tom, pois só sabia pensar nele, mas depois de uma série de lembranças tomando conta dela, as mesmas sensações de antes, ela percebeu que nada seria a mesma coisa. Afinal, não poderia esquecê-lo.
Um vento típico de calor fez com que seus cabelos flutuassem por instantes. Aquele vento que ela conhecia também, de tardes de verão em cantos isolados de Hogwarts. Algumas destas tardes havia passado com Harry, mas isso não interessava, isso era passado.
Abriu os braços e permitiu-se perder nas lembranças de Tom por um momento. Sentiu-se mais leve, estranhamente solta, como se algo que a pesava tivesse acabo de se desprender dela.
Gina abriu os olhos, havia algo prateado à sua frente, parecia ser uma bolinha bem pequena... estava à sua frente... ela esticou a mão para poder pegá-la, aquela bolinha que parecia feita de cristal... mas a bolinha, antes do toque de Gina, explodiu-se, deixando uma mescla de dúvida no ar.
Não era possível! A figura que se formava à sua frente, era a figura dele! A figura alta, bonita, e sombria de Tom Riddle, que sorria. Aquele sorriso enigmático de anos atrás.
Tom!
Ele esticou a mão e tocou na ruiva, e aquela mesma onda de sensações pareceu tomar conta dos sentidos dos dois.
Minha Gina. Sentiu a minha falta?
Ele agora olhava profundamente os olhos de Gina, como se analisasse o quando ela havia crescido, amadurecido, tornado-se mais bonita do que há quase seis anos atrás.
Senti muita, Tom.
Ele apertou um pouco a mão de Gina. Era inegável que também não tivesse sentido a falta dela durante aquele tempo em que fora esquecido. Mas outro havia tomado seu lugar, no coração de Gina. O mesmo que no passado de Gina, e em seu futuro, iria fazer com que Lord Voldemort perdesse seus poderes. Harry Potter. Sempre ele, sempre ele estragando tudo. Mas será que Gina gostava mesmo de Potter?
Por isso eu estou aqui.
Ele ofereceu seu braço à ruiva. Preferiria não tocar no assunto de ciúmes agora. Até porque ele nunca sentira isso, por quê teria de sentir agora? Decidiu que não era hora ainda para falar de Potter, ele tinha primeiro que ter certeza se Gina era totalmente sua. Os dois caminhavam juntos adentrando a floresta proibida.
Não se preocupe, minha Gina. Ninguém pode me ver, eu sou parte de você.
Gina sorriu. Era muito reconfortante ouvir Tom dizendo isso, como se para ele fosse a coisa mais linda do mundo habitar dentro dela. E na verdade não fora, pois ele tivera que lutar contra os sentimentos de Gina para com Potter, mas ao mesmo tempo ela não poderia esquecê-lo. Essa era a parte boa.
Você está mais bonita desde a última vez que a vi.
Gina encarou o rapaz. Não se lembrava de ele ter sido tão sincero, desde a primeira vez com que conversara com ele no diário, desde quando ela não passava de uma garotinha. O cheiro que invadiu as narinas dos dois foi mais do que satisfatório. A floresta sempre tivera esse cheiro... cheiro de grama molhada, de mata fechada. Aquilo que só eles poderiam compartilhar agora.
Obrigada, Tom.
Sem esperar, ela continuou:
Você não poderia ter sumido, Tom!Eu precisei muito de você!
Tom a encarou, com uma sombra enigmática em seu olhar.
Eu não tive escolha, Gina. Perdoe-me, você é tudo o que eu tenho.
Gina pousou sua mão no rosto de Riddle. Não se lembrava de como era tocar assim nele, estar tão próxima. A pele dele era tão macia, era tão confortante, ela poderia se perder ali para sempre, e ficaria feliz.
Eu te amo, Tom.
Amor. Amor. Ela tocara no ponto, então. Mas falar de amor, agora, não era tão difícil para Tom quanto antigamente, agora Gina o ensinara como era esse sentimento. Embora ele não gostasse muito da idéia, deveria admitir que também a amava.
Eles se encararam por alguns instantes. Já era hora de esquecer o passado, já era hora de esquecer a pessoa que Tom fora antes. Antes era antes. Gina ainda não existia.
Enquanto estavam juntos não havia dor, nem tristeza, nem sofrimento. Só amor, talvez um amor artificial. Mas nunca seria explicado.
O dia em que passaram juntos, seria um ponto de referência na vida de Gina, porque fora o dia em que falaram de assuntos bobos, velhos... divertidos.
Eles se beijaram, e quando deitaram na grama, ficou claro que Tom era bem mais experiente que a ruiva. A cada toque, era clara a mais pura inocência que Gina ainda carregava desde seus onze anos.
Descrever Tom Riddle em uma palavra era uma tarefa impossível. Era impossível distinguir tudo o que ele era para ela.
Depois de um dia como aquele, era difícil dizer que já haviam vivido algo parecido. O dia fora tão imprevisível quanto os dois, agora mais uma vez separados. Afinal, um dia se veriam de novo. Poderia ser daqui a dez anos, daqui a cem anos, ou até mais. Mas esse dia chegaria. E esse era o consolo de Gina, e, embora dissesse que Tom havia morrido, seu amor e convívio estariam sempre presentes, porque eram imortais.
Até lá, Gina contentou-se com o beijo de despedida que Tom lhe dera, murmurando:
Eu sempre te amei, Weasley.
Fim!
Essa fic foi escrita numa madrugada completamente entediante. Espero que gostem. ;*
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