NOVE ANOS
Harry havia despertado minutos antes e sentiu o corpo doer pela posição desconfortável em que havia adormecido. Patrícia ainda olhava preocupada o irmão.
- Falei muito enquanto dormia? – perguntou Harry, tentando encontrar uma posição cômoda no automóvel espaçoso.
- Você contou todos os seus segredos sórdidos, Potter. Ficamos sabendo de todas as orgias que você participou no Terceiro Mundo. Acho que você vai ter que nos matar para evitar que difamemos o grande Harry Potter, salvador do mundo mágico – caçoou Malfoy, tentando, à sua maneira sonserina, aliviar a tensão causada pela preocupação com o estado do “garoto que sobreviveu”.
Hermione continuava com os olhos atentos na estrada, dirigindo de maneira segura, mas por dentro estava gritando. Era angustiante presenciar o sono conturbado de Harry, povoado de fantasmas. Nos cerca de quarenta minutos em que o jovem passou dormindo, ele havia murmurado frases desconexas, mas também demonstrado o medo de morrer sem explicar aos amigos as decisões que havia tomado. Havia chamado pelo nome de Hermione, Gina e Roni. E havia amaldiçoado Voldemort. Havia dito, entre sussurros entrecortados – e Hermione teve vontade de chorar – que morreria, se preciso, para que os outros vivessem.
Patrícia segurou as mãos de Harry entre as suas. Ele conhecia a garota a tempo suficiente para saber que esse gesto demonstrava preocupação e angústia, mas ela não disse nada e o irmão tentou confortá-la com um olhar confiante. Hermione, observando-os brevemente pelo retrovisor, lembrou-se dos tempos deles em Hogwarts. Quando ela, Harry e Roni possuíam aquele entendimento de pessoas que se amam e sabem que não precisam expressar determinados sentimentos em palavras. “Oh, Harry”, pensou a jovem, “Por que você se afastou de nós?”, mas ela sabia a resposta para essa pergunta. Ele havia escolhido morrer, se necessário, para que os seus amigos pudessem viver. E era tão injusto que eles não pudessem ter vivido juntos! Era tão injusto ter que realizar esse tipo de escolha...
Gina Weasley esperava à entrada da Toca. Os cabelos vermelhos ondulando ao sabor do vento frio do inverno. Segundo Hermione, levaria mais ou menos uma hora a viagem a partir de Londres. “Automóvel, francamente!”, pensou a jovem ruiva.Depois, lembrou-se do que sua amiga havia dito sobre a saúde frágil de Harry. E ela se lembrava do quanto ele detestava viajar através de lareiras. Harry e Hermione sempre haviam sido tão trouxas! Hermione, entretanto, havia se adaptado ao mundo mágico com muito mais facilidade do que Harry. E havia tanto do mundo dos trouxas que ela não conhecia! Com um sorriso, lembrou-se da promessa de Harry de lhe mostrar como funcionavam computadores, máquinas de refrigerantes e outras coisas banais do seu mundo. Era tão injusto ele estar à beira da morte sendo tão jovem. E Patrícia, aquela garota estranha, dizia que nunca havia existido outra mulher na vida de Harry. Seria possível que ele a amasse tanto?
Gina estava prestes a se refugiar no calor do interior de sua casa quando viu, vindo pela estrada tortuosa que levava até a Toca, o carro de Hermione. O veículo, crescendo diante dos seus olhos, estacionou em frente à pequena cerca que ladeava a construção irregular. Sua mãe recusava-se a permitir que a casa fosse reformada mais do que o necessário para não cair.
Hermione, vestida como uma trouxa em férias, jeans, casacos e luvas de lã e botas, desceu do automóvel e ladeou-o a fim de abrir a porta de Draco. O bruxo claramente não estava acostumado com veículos trouxas e estava atrapalhado com o cinto de segurança. Draco vestia vestes bruxas de inverno pretas e pareceria aristocrático como sempre, não tivesse a face marcada por alguma preocupação. Ou seria o medo de andar de automóvel? Então, o coração de Gina passou a bater de maneira descontrolada e ela deixou de respirar por um momento. Parecendo de alguma maneira mais fraco do que ela se lembrava, mais ao mesmo tempo mais forte com sua aparência imponente e seus longos cabelos negros, Harry desceu do carro e segurou na mão de Patrícia. Poderiam passar por um casal de namorados trouxas. Ambos de blusas claras quase do mesmo tom e jeans. A menina usava um cachecol que Harry ajeitou cuidadosamente. Ela se lembrava dos pequenos e carinhosos gestos do rapaz. Ele fazia isso com ela, mesmo durante o tempo em que foram só amigos. Esticar a mão para tirar uma mecha de cabelo vermelho do seu rosto. Arrumar a gola da camisa de Roni. Viu Harry uma vez enxugar com o polegar uma lágrima do rosto de Hermione que havia sido ofendida por alguns sonserinos. Eram gestos tímidos, extremamente contidos, através dos quais, Gina suspeitava, ele conseguia demonstrar o afeto que tinha por aqueles que amava. Agora Draco dizia que Harry havia desenvolvido o hábito francês de beijar as pessoas. Que Harry Potter seria esse que caminhava agora na sua direção, parecendo muito feliz, embora um tanto pálido? E por que Patrícia não largava da mão dele?
As coisas aconteceram, aparentemente para Gina, em um segundo. Num momento ele ainda segurava a mão de sua irmã, no outro, Gina Weasley estava em seus braços, sendo beijada como nunca havia sido na vida, como sabia que nunca mais seria, não por outra pessoa. Nessa ou em qualquer outra vida. Esse então era o Harry Potter que estava na entrada da Toca! Esse Harry Potter parecia bastante bom para ela. Alguns momentos depois, parecendo muito constrangido, o rapaz afastou os lábios, mas continuou abraçando-a. Quando ia dizer alguma coisa, Gina tomou a iniciativa e o beijou, primeiro fitando os olhos verdes surpresos do bruxo, depois fechando os seus próprios olhos, recusando-se a pensar em qualquer coisa que não fosse aquele beijo, aninhando-se em seus braços fortes e esperando que o mundo parasse naquele momento para que eles pudessem desfrutar daquilo que foram privados por longos, intermináveis nove anos.
Comentários (1)
Ahhh... q lindo.. leitora chorando muuiito... :'(!!!!!Adooroo
2012-01-23