PRESTAR CONTAS



- Pare de agir como um idiota, Roni Weasley! Você não está pensando coisas sobre a Hermione e o Harry, não é mesmo? Seria ridículo!

- Você não sabe o que eu estou pensando, Gina, então não me venha com sermões, por favor!

Os dois irmãos encararam-se por um longo momento. Roni sempre havia sido o irmão favorito de Gina. Não era engraçado como os gêmeos Fred e Jorge, não era esperto como Carlinhos, não era aquele sujeito astuto a quem todos confiam e pedem conselhos como Gui e decididamente (felizmente) não era um oportunista cretino atrás de prestígio como o Percy. Roni era, ela sabia, um sujeito frágil, que era profundamente dedicado aos amigos e a mulher que sempre amou, Hermione. Era também teimoso, irritadiço e algo no irmão havia se partido quando Harry foi embora. Nunca seria capaz de pedir ajuda, mas por saber o quão sensível (e teimoso) ele era, sempre esteve disposto a ajudá-lo, mesmo naquele período difícil do alcoolismo.

- Ele tinha que bancar o maldito herói, não é mesmo? – perguntou o ruivo, tentando ser sarcástico – Ele não pôde confiar em ninguém, nos seus amigos, em nós, que ele dizia ser a sua única família. E agora ele pensa que é só voltar pra receber os aplausos! Ele espera que agente faça o quê? Estenda o tapete vermelho?

Bom, então não era exatamente ciúme, pensou Gina. Até então ela achava que o irmão julgava Harry algo como um adversário em relação a Hermione. Ela, por sua vez, nunca havia considerado a amiga uma rival. Sabia do caráter fraternal do amor que Harry tinha por Hermione e da recíproca desse sentimento. Mas Roni sempre havia sido mais inseguro. Estava um pouco mais aliviada em saber que não era essa insegurança que causava o ressentimento do irmão. Certamente seria algo mais complexo, provavelmente que se remontava àqueles dias sombrios onde o mundo dela e provavelmente e o de Roni haviam desabado por completo e todos se tornaram mais duros e menos inocentes.

- Por que você não fala com o Harry? – perguntou, afagando as costas do irmão – Tenho certeza que vocês poderiam esclarecer tudo.

- E você acha que o “senhor-todo-poderoso-salvador-do-mundo-mágico” está interessado em dar explicações?

- Segundo consta, Roni, isso é o que mais ele gostaria de fazer nesse momento.







- Ele estava lá! – exclamou de repente Harry, sobressaltando Hermione, que ainda o examinava em meio a objetos mágicos de medicina bruxa que ditavam ou escreviam diagnósticos nos pergaminhos.

- Quem estava lá, Harry? – perguntou a medibruxa, suspeitando por um momento da sanidade do amigo.

A cegueira de Harry havia sido um choque para ela. Há séculos não se verificavam casos de cegueira no mundo bruxo. E por causa do “DOM” ele era capaz de agir e se locomover como uma pessoa com todos os sentidos. Mesmo que Harry não fosse uma das pessoas mais importantes da sua vida, aquele caso mereceria toda a sua dedicação. Nunca havia visto algo assim. Os testes mostravam que o seu ex-colega de Hogwarts continuava sendo, talvez, o bruxo mais poderoso que havia pisado no mundo. Mas ele tinha um estranho tumor cerebral, que segundo a sua irmã (ou como Patrícia se dizia) causava-lhe estranhos tremores, desmaios eventuais e provavelmente a cegueira. Os outros sentidos de Harry eram tão desenvolvidos que ele nem conseguia se lembrar quando começou a apresentar deficiência visual. Curiosamente ele se livrou de sua miopia quando aprendeu controlar o “DOM”, mas não deu a Hermione maiores informações sobre a sua estada naquele estranho lugar na Escócia.

- Roni. Ele estava lá no salão comunal. No dia em que nos despedimos em Hogwarts. Eu estava tão triste que não consegui senti-lo. Mas, agora...

- Harry, você consegue rever o salão, numa cena ocorrida há nove anos? – perguntou, surpresa, Hermione. Seus poderes não têm limites?

- Têm muitos limites, minha amiga! – declarou Harry com ar cansado – Me afastou de vocês, da mulher que eu amava e me privou da amizade do Roni. Hagrid e Roni foram meus primeiros amigos de verdade. Os Weasleys foram a primeira família que eu tive. Eu usei os meus poderes para cometer atrocidades que eu nem tenho coragem de relatar. Livrei o mundo do Voldemort. O que eu ganhei? A admiração de idiotas que acham que eu sou uma espécie de santo, o ceticismo de outros que juram que eu não existo e os amigos que suspeitam que eu não confio neles.

- Ah, Harry... – Hermione, como há nove atrás, não tinha o que dizer. Abraçou o amigo, vendo-o chorar pela segunda vez na vida.

- Eu preciso ir a Toca, Hermione – disse Harry depois de alguns minutos – Não há mais motivo para adiar esse encontro.

- Eu proíbo você de aparatar, Harry! – afirmou Hermione, retomando o ar profissional – Ninguém sabe ao certo o que você tem. Até lá você deve evitar alguns tipos de magia que envolvam esforço.

- Mas... – tentou argumentar Harry.

- Sem discussão. Você pode ser o bruxo mais poderoso desde Merlin, mas eu sou sua médica!

Harry sorriu e afagou a os cabelos crespos da amiga.

- O que foi? – perguntou a moça, surpresa com a mudança súbita de humor.

- Você – Harry respondeu - A mesma sabe-tudo e mandona de sempre. Como iremos à Toca, então?

- Eu levo você de carro, é claro. Sábado eu estou de folga. E eu quero estar lá por causa do Roni. Eu amo aquele ruivo, mas ele sabe ser bem tolo às vezes.

- Carro? – perguntou Harry abismado – aquele veículo trouxa cheio de rodas. Há séculos eu não ando numa coisa dessas... – refletiu o rapaz com ar sonhador – Mas, por que uma bruxa precisa de carro?

- Ora, eu gosto de dirigir! – respondeu Hermione de maneira decidida – Foi presente de noivado de Roni, que também aprendeu a dirigir. Como o Sr. Weasley, ele também adora coisas trouxas. Como eu moro num bairro trouxa, nem sempre dá para aparatar e desaparatar. E eu odeio viajar através de lareiras.

- Certo. Como eles vão me receber depois de tudo?













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Comentários (1)

  • Bárbara JR.

    Me parte o coração ler o sofrimento dele sabe... eu sou muito sentimental!  quandoeuquero# '

    2011-07-31
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