Promessa quebrada



Bom gente, primeira fic. Surgiu do nada e deu vontade de escrever. Desculpem qualquer coisa.
E antes que perguntem, não sou fã de nenhum shipper específico.

Durante toda a minha vida tinha três coisas que eu havia prezado mais do que tudo: inteligência, honestidade e amizade. Mas na atual situação, naquela sala que agora parecia abafada e minúscula vi todos esses três adjetivos irem por água a baixo.
A inteligência que sempre julguei ter não explicava de maneira racional o que tinha acabado de ouvir; a honestidade foi o que faltou durante todos esses anos de convivência, ou pelo menos nos últimos dois anos; a amizade.... bem, a amizade não me faria esquecer a dor que a traição me infligiu.
“Desculpe.”
Foi apenas isso o que ele disse. O maldito. Depois de tudo o que o miserável me contou, a cereja no topo do bolo é um desculpe.
Balanço a mão num movimento que o pede pra ficar calado. Estou irada, me sinto humilhada, com um filme passando pela minha cabeça onde cenas de bons momentos, promessas trocadas e métodos de tortura medievais se misturam.
Apesar de pensar em tudo não faço nada. Desde que ele me contou de sua traição (ou traições se você considerar todas as vezes que ele fez isso nesses últimos dois anos), estou estática. Não falo, não choro, quase não respiro.
Após um bom tempo, onde as coisas parecem se encaixar aos poucos, uma calma que julguei que jamais teria, se apossa de mim. Quase não reconheço minha voz quando me ouço dizer:
“Acho que não.”
“Por favor.” Ele implora.
“Não posso fazer isso. Estaria mentindo se dissesse que posso te perdoar. Não depois de tudo o que conversamos, não depois de prometermos um ao outro que não seria assim.”
Minha mente me prega peças. Volto oito anos atrás, onde tudo era diferente. Onde o peso de carregar o título de esposa ainda não pesava nos meus ombros.

Risadas. Aqueles eram anos felizes. Saímos da adolescência, entrávamos na era adulta. Descobríamos sentimentos e sensações diferentes a cada dia que passava. Éramos amigos, sim éramos. Mas agora desfrutávamos dos benefícios que tinham os namorados.
“Mione?”
Tento controlar o acesso de riso de agora há pouco. Ele tem um ar sério que não sei como foi parar ali de repente.
“O que?”
“Vamos nos casar, não vamos?”
“Nós mal nos entendemos como namorados e você já vem com essa de casamento?”
Definitivamente o ar sóbrio que se instalou no rosto dele não combina em nada com meu humor já alcoolizado.
“Eu falo sério.” Ele diz. “Vamos não casar, certo? Eu não consigo ver outro futuro pra nós dois. Eu amo você.”
Detesto essas frases piegas. Sim, eu o amo, ou pelo menos amava naquela época. Intimamente já sabia que me casaria com ele. Não conseguia imaginar minha vida sem ele naquele tempo. Mas sinceramente esse novo lado piegas e romântico dele me enchia às vezes.
“Acho engraçada essa sua necessidade de me dizer a cada cinco minutos que me ama.”
“E você não?”
“Não o que? Se não tenho necessidade de declarar meu amor a você a todo o tempo?” Ele faz que sim com a cabeça. “Não Ron, não sinto. Você sabe que eu te amo, e é o que importa.” Digo isso com o ar descontraído e levo minha mão em direção à garrafa de vinho com a intenção de encher outra taça.
Ele segura minha mão e me olha nos olhos com uma intensidade desnecessária.
“É, eu acho que sei. Mas por quanto tempo isso vai durar?”
“Ora Ron, vamos... Que expressão carrancuda você tem! Não bebeu o suficiente?”
Caio na risada e ele me interrompe bruscamente com um beijo. A princípio, meio assustada com a reação inesperada, não correspondo. Talvez o problema seja o contrário: ele bebeu demais, penso. Mas logo o vinho sobe a minha cabeça e começo eu mesmo a provocá-lo aprofundando o beijo.
Ele pára. Se afasta de mim e me olha com um olhar que guardo até hoje na memória.
“Eu não sei o que vem pela frente Hermione, mas seja o que for, seja lá quanto tempo tivermos de viver juntos, se for pelo resto da minha vida, eu quero que sejamos felizes. Eu quero que confiemos um no outro.”
“Podemos fazer um trato.”
“O que você quiser.”
De repente fico sóbria. A seriedade dele conseguiu me contaminar.
“Nós não sabemos o quanto vai durar. Mas podemos prometer sermos sinceros enquanto estivermos juntos.”
“Algo do tipo, sem segredos?”
“Isso. E se por acaso, se nós...” Minha garganta me trai. Parece que engoli uma bola de ping-pong e de repente perco a voz. Depois que ficamos juntos essa é a primeira vez que realmente penso na possibilidade de tudo não dar certo.
“O que foi?”
“Nada Ron, é só... meio assustador pensar na possibilidade.”
“De não ficarmos juntos?”
“É.”
Ele suspira e eu caio numa depressão momentânea. Droga! Estava tudo tão perfeito: a brisa da varanda batendo em nossos rostos, a meia iluminação fornecida por uma lua cheia, o silêncio....
Inspiro e me encho de coragem pra terminar o que queria dizer.
“Se por acaso eu ou você não sentirmos vontade de continuar, ou se tiver outro alguém no meio... nós... eu digo...”
“Sem segredos.” Ele complementa.
“É. Sem segredos. Antes que qualquer coisa aconteça. Antes de qualquer envolvimento. Nós terminamos.”
Ele me olha com um certo pesar. Balança a cabeça em sinal de entendimento.
“Sem traições. Sem segredos.”
“Isso.”
Nos olhamos por um longo tempo e ele sorri. Um riso meio tímido, meio aliviado.
“Mas nós estamos aqui. E isso é só se hipoteticamente eu ou você... você sabe. No que depender de mim não vamos precisar chegar a esse ponto.”
Agora ele tem um ar brincalhão. Me enlaça pela cintura e nos aproxima.
“Nós nunca chegaremos a esse ponto. Perdemos tanto tempo e tantas oportunidades de ficar juntos que pra compensar precisamos de uma vida toda.”
Sorrio aliviada ao ouvir isso. É isso, nunca chegaremos a esse ponto.
“Mais vinho?” Ele me pergunta indicando a garrafa.
“Quero sim. Mas eu acho que vou querer voltar lá pra dentro. Não é que o ambiente aqui não esteja bom, mas acho que preciso de uma cama bem confortável e de uma boa companhia...”
Ele sorri e me pega no colo me erguendo do chão enquanto eu seguro a garrafa e as taças. Acho que ele entendeu o que eu quis dizer...

E então volto à realidade. Nesta mesma casa, onde um andar acima fizemos promessas sobre a luz da lua naquela varanda, estou na sala sentada no sofá, ouvindo os ruídos de passos que descem as escadas. Rony chega com uma mala e me olha meio deprimido, meio confuso largando a bolsa no chão.
“Acho que é isso.”
Silêncio.
“Hermione, eu....”
“Qual é o nome dela?” O interrompo.
Ele abre a boca pra dizer algo.
“Pensando bem eu não quero saber.”
Ele me olha em confusão e se cala. Depois de um minuto de indecisão pega sua mala do chão, se aproxima do sofá onde estou e pára na minha frente.
“Eu só queria te dizer que, por mais que eu tenha quebrado a promessa, eu... sempre te amei enquanto tudo durou.”
“Eu também Ron, eu também.”
Ele se aproximou mais e encostou seus lábios de leve nos meus. Depois se afastou e me disse:
“Talvez eu possa dizer que não sei se te amo agora, mas você nunca vai poder dizer que eu nunca te amei. Nunca duvide disso.”
Ele se vira de costas e caminha em direção à porta levando suas coisas. Mal sabe ele que além daquela mala ele carrega uma parte da minha vida com ele.
“Rony?”
Ele pára e se vira para mim.
“Ao menos me diga se a ama.”
Após um minuto de silêncio ele responde:
“Nunca da forma como eu amei a você.” E se vai.
“Então porque me deixou seu estúpido? Por que me perdeu?” Falo sozinha encarando o escuro e o vazio que ficaram em minha vida.

Há algumas horas atrás eu estava na mesma posição que me encontro agora, sentada neste mesmo sofá, nessa sala à meia luz. Não agüentava mais essa tortura de vê-lo chegar tarde quase todas as noites e me dizer que era por causa do trabalho. Eu sabia que havia outra coisa, mas acho que nunca o pressionei pra que me dissesse por medo de encarar a verdade que poderia vir à tona.
Ele chegou e foi com um ar de surpresa que ele se aproximou.
“Não esperava ver você acordada essa hora.”
“Onde você estava Rony?” Fui direta. Quanto antes acabasse, melhor.
“Ora Mione, você sabe que eu estava trabalhando...”
“Então por que você não me diz olhando pra mim.” Me levantei do sofá e o encarava esperando uma resposta.
Ele, que estava de costas pra mim pendurando seu sobretudo no gancho da parede, pareceu vacilar quando me encarou.
“Por que isso agora Hermione?”
“Por que eu cansei de mentiras Rony, por isso.”
Ficamos nos encarando por um tempo sem fim. A história de nosso relacionamento passando em minha cabeça. O começo, o casamento, a vida a dois. E como foram difíceis esses dois últimos anos. Afastamos-nos um do outro e temia que não tivesse volta. Os carinhos, a atenção, o romantismo, isso tudo fazia parte de um passado distante. Nossa intimidade ficou reduzida a um sexo casual que nem sei se fazíamos por obrigação de marido ou mulher ou se pela conveniência, já que estávamos deitados na mesma cama. Não posso dizer qual o motivo disso. Foi um afastamento gradual, mas que não me dei conta. Quando dei por mim estava aqui, sentada no sofá, esperando que ele voltasse e me dissesse a verdade.
“Você mentiu pra mim, não foi?” Essa foi mais uma afirmação do que uma pergunta. “Você não me contou quando deveria, você me traiu!”
Cuspi essas palavras na frente dele, a raiva subindo como um veneno pela minha corrente sanguínea, mas o desejo íntimo de que ele risse de minha cara me dizendo que eu estava louca e de que tudo ia ficar bem.
Mas o silêncio dele e seu ar de derrota me confirmaram o que eu precisava saber.
“Desde quando Ron?”
“Quase dois anos.”
Dou uma risada irônica. É inacreditável.
“Nós... estávamos distantes. Eu... eu sentia que não tinha volta. Não conversávamos mais e eu nem sei se tinha vontade de fazer isso. Eu... eu acho que acabou Hermione.”
“E você me joga isso na cara assim?”
“Talvez nós devêssemos ter conversado. Ou melhor, você está certa. Eu não conversei com você. Mas não importa quem errou Hermione, não tem volta.”
“Não importa quem errou não, você errou. Você! E você ia ficar nisso até quando Rony? Até você se entender definitivamente com a outra e já sair daqui com endereço certo? Você só ia me avisar quando estivesse de mudança?”
O silêncio dele me irrita e lhe dou um tapa no rosto. Nunca fui assim, nunca parti para a agressão física. Sempre fui extremamente racional. Ou no mínimo, quando tinha vontade de fazê-lo me controlava. Mas a apatia dele realmente me tira do sério.
Ele não reage. Depois de muito tempo calado ele diz:
“Desculpe.”
Foi apenas isso o que ele disse. O maldito. Depois de tudo o que o miserável me contou, a cereja no topo do bolo é um desculpe.
Balanço a mão num movimento que o pede pra ficar calado. Estou irada, me sinto humilhada, com um filme passando pela minha cabeça onde cenas de bons momentos, promessas trocadas e métodos de tortura medievais se misturam.
Apesar de pensar em tudo não faço nada. Desde que ele me contou de sua traição (ou traições se você considerar todas as vezes que ele fez isso nesses últimos dois anos), estou estática. Não falo, não choro, quase não respiro.
Após um bom tempo, onde as coisas parecem se encaixar aos poucos, uma calma que julguei que jamais teria, se apossa de mim. Quase não reconheço minha voz quando me ouço dizer:
“Acho que não.”
“Por favor.” Ele implora.
“Não posso fazer isso. Estaria mentindo se dissesse que posso te perdoar. Não depois de tudo o que conversamos, não depois de prometermos um ao outro que não seria assim.”
Ele suspira.
“O que vai ser de nós?”
“Você mesmo acabou de dizer que tá tudo acabado. Não tem mais “nós”. Tem eu. E talvez você e ela.”
“Mione, não faz assim por favor... Olha, vamos conversar.”
“Nós não conversamos antes, Rony. Não vai ser agora que isso vai ajudar.”
“Mas eu não quero que tudo termine assim. Nós temos uma história Hermione, nós...”
“Nós tínhamos uma história. Tínhamos. E agora eu quero que você vá embora.”
Minha voz é firme, mas já não grito. Estou determinada a acabar tudo de uma vez.
“Você não quer me ouvir?”
“Não Rony. Eu quero que você vá.”
Ele me olha indignado. Um misto de revolta e impaciência se revelam nele. Sinto que ele quer me chacoalhar e tentar me fazer entender algo que francamente não acho que tenha explicação.
“Tudo bem, se é isso que você quer.”

A porta se fechou atrás dele. Vi seu sobretudo esquecido pendurado na parede. Me levantei e fui até ele. Senti o seu cheiro no tecido, e com uma pontada de dor me lembrei da notícia não dada.
Um filho. Eu estou esperando um filho seu.


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Bom, é isso. Obrigada à aqueles que leram até o fim e desculpem se pareceu meio incompleto.
Aliás, comentários seriam ótimos! (ih... mal chegou e já que fazer a íntima... rs)

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