Pottie-Poo & Weasel-Bee
Capítulo três: Pottie-Poo & Weasel-Bee
01 de setembro de 1997
Eu. Odeio. O. Harry. Potter.
Odeio mesmo. Do fundo do meu coração. Com toda a capacidade do meu ser.
Na verdade, nós nos odiamos. Mutuamente.
Por quê?
Bem, não sei realmente explicar o porquê. Pois não fui eu quem começou com essa história de ódio mortal. Ele começou.
Nós costumávamos ser amigos. Não melhores amigos, mas amigos. Esse era o nosso esquema. Até que tudo mudou. De repente. Sem mais nem menos, ele começou a me odiar. Confesso que fiquei perdida. Afinal... Ele era um cara muito legal. Especialmente para mim. Lembro das conversas que nós tínhamos. Xingávamos o Snape, discutíamos sobre Quadribol, xingávamos o Malfoy, ríamos das piadas de Fred e Jorge, xingávamos a Parkinson, jogávamos xadrez, xingávamos a Lestrange... Ah, sim! A Lestrange. Ela foi a pivô do meu... desentendimento com o Potter.
Entenda uma coisa. Lyra Lestrange = confusão. Hogwarts inteira sabe disso. Mas parece que Potter esqueceu desse detalhe. Num belo dia ele me aparece se agarrando com a nojentinha num armário de vassouras. Exatamente. Num armário de vassouras. Olha só a decadência... As outras acéfalas com quem ele costuma sair tem pelo menos a decência de marcar um encontro na Madame Puddifoot antes de serem vistas aos amassos com o “senhor popular” Harry Potter. Mas a Lestrange não... Ela nunca admitiria ser encontrada num pub exageradamente romântico, ainda mais na companhia de um grifinório. A simples imagem de Lyra Lestrange coberta de confete cor-de-rosa e rodeada por querubins, babadinhos e laços é nauseante.
Ela tem vergonha do Potter. Isso mesmo. Vergonha. Ficou completamente furiosa quando descobriram seu namoro às escondidas. Se é que aquilo pode ser chamado de namoro. Afinal, eles mal se falam. Não civilizadamente, pelo menos. 99% do tempo que passam juntos estão se xingando ou se agarrando. Uma coisa grotesca. Quer dizer, a relação dos dois é estritamente carnal. Não foram poucas as vezes que foram pegos trocando beijos em salas abandonadas. Mas nunca em público. Uma exigência de Lestrange, claro. Mas Potter nunca se incomodou com isso. Pelo contrário. Seu “relacionamento” com Lestrange é tudo que ele poderia querer. Malhos sem compromisso com uma garota que, embora seja o diabo encarnado, é muito bonita. É horrível admitir, mas é verdade.
De qualquer jeito, minha amizade com o Potter começou a ruir quando ele e a Lestrange começaram a sair. Eu fiquei furiosa quando descobri, por uma fonte anônima da central de fofocas de Hogwarts (banheiro feminino do quarto andar), que os dois tinham sido pegos em flagrante por ninguém menos que Snape. O que resultou numa perda de pontos titânica para a Grifinória e nem um pontinho perdido para a Sonserina, como sempre. Potter pegou detenção. Lestrange saiu ilesa. Afinal, ela é uma das “queridinhas” de Snape junto de seu primo, Draco Malfoy. Bem, pelo menos era. Já que Snape começou a cultivar um certo rancor pela aluna quando descobriu seu casinho com Potter, filho de um dos maiores desafetos do Mestre de Poções.
Mas, voltando a minha fúria, eu não me lembro de ter me sentido tão mal em toda a minha vida. Falando sério. Eu teria ficado só decepcionada se fosse qualquer outra garota do mundo. Mas sendo quem era, Lyra Lestrange, a arrogante, a metida, a nariz-empinado, eu senti uma coisa estranha. Um aperto no peito, uma sensação incômoda na boca do estômago: Traição. Estava me sentindo traída. Talvez porque vi que a imagem que tinha montado de Potter era totalmente errada. Ele estava saindo com uma das minhas piores inimigas. E ele sabia muito bem desse fato. Gritei até ficar rouca com ele. Mas ele nem ligou. Fez que não ouviu. E depois começou a me ignorar e, conseqüentemente, me odiar. De onde esse ódio todo surgiu? Não sei responder.
O importante é que eu fiquei com um bico durante um mês inteiro, virando a cara quando o via, lançando olhares furiosos pra ele, me recusando a falar uma única palavra perto dele. Afinal, se ele não queria falar comigo, não seria eu que me jogaria aos seus pés, implorando pelo seu perdão! Foi aí que me toquei do imenso papel de idiota que estava fazendo. Todos, sem exceção, pensaram que eu estava com ciúmes do Potter Idiota e sua namoradinha! Grrrr! Que raiva que eu senti!
Eu estava me sentindo traída, sim, mas não no sentido amoroso da coisa. Eu estava me sentindo traída pela nossa amizade. Obviamente! Eu não entendo como as pessoas não percebem a diferença! Eu sei que Potter pode ter o seu batalhão de fãs, que só servem para inflar ainda mais o ego dele, mas eu não sou uma das garotinhas ridículas que vivem correndo atrás dele. Não mesmo! Eu não sou tão estúpida assim para cair na lábia pra lá de manjada dele. E, além do mais, eu o conheço desde os onze anos e posso dizer que ele não tem respeito por nenhuma garota dessa escola. Talvez só por uma: Caroline Black. Minha melhor amiga, diga-se de passagem.
Foi ela que me apresentou ao Potter e eu a culpo eternamente por isso. Os dois têm um tipo de amizade colorida que até hoje eu não sei explicar direito. E isso me irrita. Como uma garota tão legal como Carol pode realmente gostar da companhia do babaca do Potter? Sim, porque desde que ele começou a sair com a Lestrange, seu comportamento mudou drasticamente. Ele virou um idiota completo. Ou talvez ele sempre tenha sido assim e eu só percebi sua idiotice quando ele começou a ser idiota comigo. Especificamente. Eu estava cega, mas voltei a enxergar. E posso afirmar, com toda a certeza, que Harry Potter é o garoto mais arrogante e...e...e chato e... e... e ridículo e... e... e...
- Oh, que meigo! Escrevendo os segredinhos no diariozinho, Gininha?
Gina deu um sobressalto no banco onde estava sentada. Como se uma força invisível o impelisse, o seu diário praticamente voou de suas mãos para o chão, caindo aberto, e a pena escorregou de seus dedos, deslizando sobre o papel e fazendo um enorme risco sobre ele, parando somente ao encontrar o tapete, produzindo uma minúscula mancha preta ao tocá-lo.
Ela levantou o rosto, assustada. Virou a cabeça para todos os lados, tentando encontrar o dono da voz que ela sabia muito bem a quem pertencia. Mas ele não estava em lugar algum. Desconfiada, Gina ergueu-se num salto e estendeu as mãos para a frente, tateando o vazio. Um vazio que não era tão vazio assim...
- Potter! – ela berrou raivosamente quando as pontas de seus dedos tocaram o tecido sedoso da capa de invisibilidade que cobria o corpo do rapaz – O que diabos você veio fazer aqui? FORA! SAI! SAI!
Mas Harry não respondeu. E quando Gina percebeu o porquê, era tarde demais. O diário, que anteriormente estivera caído no chão, estava agora flutuando no ar como se um par de mãos invisíveis o estivessem sustentando. E realmente estavam.
- Hoho! Vamos descobrir os segredos mais profundos e mais obscuros da pequena Gininha – uma risada maldosa soou perto da orelha esquerda de Gina. Ela imediatamente esticou o braço, tentando alcançar o diário, mas Potter o manteve longe de seu alcance, erguendo-o próximo ao teto, de modo que pudesse ter acesso livre as linhas – Já posso até imaginar o que deve estar escrito – ele pigarreou, imitando uma voz fina – O Potter é um idiota. Blá, blá, blá. Eu odeio ele. Blá, Blá, Blá. Eu quero que ele se ferre. Blá, Blá, Blá...
- Potter, seu babaca retardado! – ela berrou, dando pulinhos inúteis para apanhar o diário – Me devolve! ANDA! DEVOLVE!
Ele riu gostosamente, aproveitando-se de sua altura para tortura-la e divertir-se com o tom arroxeado de fúria que o rosto da garota começava a assumir. Completamente furiosa, ela impulsionou-se na direção dele, pronta para soca-lo até a morte. Porém, antes que pudesse concluir o movimento, sentiu seu pé enroscando-se na barra do pano invisível que envolvia Harry. Este sentiu um grande puxão e a capa escorregou de seu rosto, descendo como ondas brilhantes por seus ombros e cintura até repousar no chão.
- Ouch! – ele exclamou quando Gina tropeçou no amontoado de tecido e o agarrou pelo pescoço para evitar cair.
- Ai! – a garota gemeu dolorosamente, apertando os braços ao redor de Harry. Ele caiu na risada – Ai, saco! Dá pra parar de rir, fazendo o favor?
- E... desde... quando... eu... lhe... faço... favores? – Harry falou arfando, sentindo falta de ar de tanto rir. Ela olhou feio pra ele – Agora... – a voz marota assumiu um tom de zombaria – Será que você poderia sair de cima de mim?
- Não posso – Gina grunhiu – A capa. Não consigo me mexer.
Harry dirigiu o olhar para os pés que Gina sacudia, possivelmente tentando atrair a atenção dele para a massa prateada que lhe prendia os tornozelos unidos. Bufando, ele posicionou as mãos dela em seus ombros, tentando dar-lhe apoio enquanto se abaixava para livra-la da capa. Sob sua cabeça, Harry ouviu o gritinho surpreso e envergonhado da garota.
- O que foi? – perguntou com maus modos, levantando os olhos.
- Oh, meu Deus, não faça isso... – a moça tapou os olhos, as orelhas avermelhando-se.
- Não fazer o quê? – Harry indagou ao mesmo tempo confuso e perigosamente irritado justamente por estar confuso.
- Não se abaixe – Gina disse num gemido desconfortável, espiando-o por entre os dedos. Corando, ela rapidamente voltou a tapar os olhos.
- Por que não?
- Porque você está usando a calça “Dá pra mim”.
- E daí? – disse Harry aborrecido, levantando-se com a capa dobrada sobre o ombro.
- E daí que eu descobri o motivo de você ser tão rico... – ela murmurou, o rubor alastrando-se por seu pescoço.
Os dois ouviram uma risada escandalosa. Gina ergueu a cabeça com um movimento brusco, fixando os orbes castanhos na distração que se apresentava sob a forma de uma moça belíssima, de longos cabelos negros e olhos identicamente escuros, cujo distintivo de monitora reluzia sobre vestes da Sonserina.
- Eu concordo com a Weasel-Bee, sabe Pottie-Poo – a voz rouca de Lyra Lestrange ecoou sarcasticamente pela cabine – Você realmente tem uma poupança invejável... – e, inclinando a cabeça levemente para o lado, acrescentou maliciosa – ...que pode ser plenamente vista por baixo dessa calça... Deus, Potter! Onde diabos você compra as suas roupas? Na mesma loja que o Lupin?
Harry apenas ofereceu-lhe um meio sorriso cheio de significado. Cruzando os braços, ele forçou uma risada áspera, fitando-a debochado:
- Há, há, há. Muito engraçado, Lestrange. E tenho certeza que o Professor Lupin também vai achar hilário...
- Nossa, Potter, a convivência com a Mini Minerva Granger está realmente te afetando, huh? – Lyra retrucou suavemente, os lábios curvados num sorriso maldoso – Se não estivesse usando esse “atentado ao pudor” diria que está virando um certinho...
- Certinho? Eu? Enlouqueceu de vez, Lestrange? – Harry tremeu involuntariamente diante do pensamento – Eu tenho uma reputação para zelar...
- Ah é? – Lestrange riu, umedecendo os lábios – Sinto informa-lo, Potter, mas sua reputação correrá sério risco se continuar tendo encontros secretos com a Weasel-Bee. Apesar de achar que vocês formam um casal liiiiiindo, as pessoas são más, sabe. Elas têm um certo preconceito com garotinhas que continuam escrevendo em diários depois dos dezesseis... – completou, olhando com curiosidade e deboche para o livrinho de capa negra que Harry segurava entre os dedos apertados.
Gina corou até a raiz dos cabelos flamejantes. Arregalando os olhos, ela rapidamente esticou o corpo para frente e arrancou o diário das mãos de Harry que ria da piadinha infame de Lestrange. Esta também parecia estar divertindo-se imensamente, soltara mais uma de suas risadas escandalosas enquanto observava a outra garota abraçar o livro com firmeza contra o peito, mas sua proteção de nada adiantou. Erguendo a varinha, Lestrange disse divertidamente:
- Accio diário!
O diário voou dos braços de Gina antes que ela sequer tivesse a chance de tentar segura-lo. Apavorada, a ruiva assistiu seu precioso livro atravessar a cabine e ir parar direto das mãos estendidas de Lyra, sob o efeito do feitiço convocatório. A sonserina sorriu largamente, os dedos longos passeando pelas inicias G.W. estampadas na capa do diário.
- Você não se atreva, Lestrange... – Gina começou com a voz trêmula, mas Lyra a interrompeu:
- Ora, ora. O que temos aqui. O diário da Weasel-Bee. Interessante... Você escreve os seus segredinhos aqui, Bebê Weasel? – ela imitou voz de bebê, rindo de sua própria piada. Em seguida, abriu o diário e começou a folhá-lo. Quando encontrou a página que lhe interessava, pigarreou e começou a ler em voz alta – “01 de setembro de 1997. Eu. Odeio. O. Harry. Potter. Odeio mesmo. Do fundo do meu coração. Com toda a capacidade do meu ser” – Lyra ergueu o olhar da folha para encontrar os olhos repletos de pânico de Gina – Novidade – acrescentou com um moxoxo, continuando a leitura – Vejamos... Vejamos... Oh, sim! Meu nome... Hem, Hem, veremos o que a Weasel anda pensando sobre a minha pessoa... “Lyra Lestrange = confusão. Hogwarts inteira sabe disso. Mas parece que Potter esqueceu desse detalhe. Num belo dia ele me aparece se agarrando com a nojentinha num armário de vassouras. Exatamente. Num armário de vassouras. Olha só a decadência...”.
Harry engasgou-se, rapidamente transformando uma risada num ataque de tosse que não enganou ninguém. Lyra estreitou os olhos pra ele, esbarrando propositadamente em seu ombro enquanto seguia até Gina, parando na frente dela. A ruiva tentou recuperar o diário, mas Lestrange o escondeu às costas, rindo.
- Interessante ponto de vista, Weasley – a sonserina sibilou irritada – A minha descrição como sendo a “nojentinha” merece congratulações pela criatividade – Harry soltou um engasgo sufocado e Lyra girou a cabeça na direção do rapaz, fazendo a cabeleira negra rodopiar. O garoto congelou – Você também foi citado, sabe, Pottie-Poo. Como é mesmo? – ela consultou o diário, tomando cuidado para não deixa-lo ao alcance das mãos desesperadas de Gina – Ah, sim... “Harry Potter é o garoto mais arrogante, chato, ridículo, etc, etc, etc...”.
Gina fechou os olhos com força, cerrando os dentes. Harry soltou um resmungo profundamente indignado, murmurando palavras incompreensíveis.
- Ok. Lestrange. Potter. Vocês já deram o seu showzinho – a ruiva abriu os olhos, o corpo inteiro tremendo de raiva – Agora dêem o fora!
- Com prazer... – Lestrange respondeu, guardando o diário no bolso da capa – Mas eu vou ficar com o seu livrinho de segredinhos. “Aventuras de uma Weasel” certamente dará uma leitura e tanto... E tenho certeza que meus colegas de Casa concordam comigo...
- NÃO! – Gina gritou, tomada pelo pânico – Você não pode fazer isso!
- E quem vai me impedir? – Lyra ergueu as sobrancelhas, cruzando os braços.
- Eu.
Gina, aliviada, mexeu sua cabeça rapidamente na direção da porta. Lentamente, Lyra fez o mesmo. Ambas viram um rapaz parado à porta, com a varinha apontada diretamente para Lestrange. Ele tinha uma expressão decidida no rosto, as orelhas tão vermelhas que parecia ter dois pimentões afixados de cada lado da cabeça. Gina, mesmo atordoada, reconheceria aquele cabelo vermelho e rosto sardento em qualquer lugar.
- Rony! – Harry chamou a atenção do melhor amigo, preocupado – Olha, cara, não precisa se preocupar. Está tudo sob controle...
- Sob controle? Sob controle? – Rony rugiu, a varinha tremendo entre seus dedos brancos de fúria – Essa... Essa... ESSA GAROTA estava ameaçando a minha irmã!
Lestrange apenas soltou uma risadinha, os olhos brilhando.
- Ohhhhhh, que cena tocante! O irmãozinho valente veio salvar a irmãzinha indefesa. Que bonitinho!
Se possível, o rosto de Rony avermelhou-se mais ainda e ele rangeu os dentes. Harry, percebendo o perigo, segurou o amigo antes que ele pudesse fazer uma besteira. Rony esperneou, tentando desvencilhar-se do amigo, mas Harry o segurou com toda a força possível, amaldiçoando Lyra por ter que dificultar o seu trabalho com seus habituais comentários desdenhosos.
- Não vale a pena, Rony – uma voz compreensiva soprou a frase ao pé do ouvido do rapaz, mas Lyra ouviu e fez questão de caçoar mais um pouco.
- Seguindo ordens da sangue-ruim, Weasley? Eu sabia que você pegava a Granger, mas não que era pau-mandado dela...
- Cala a boca, Lestrange – mandou Hermione rispidamente, pousando a mão firmemente no ombro de um agitado Rony.
- Parece que pisei no sei calo, não Weasel? – Lestrange sorriu com afetação – Além de ser amante de sangue-ruins, nos dois sentidos, ainda fica acatando ordens deles. Tsk, Tsk, Tsk... Você realmente chegou ao fundo do poço...
- Chega, Lyra! – Harry esbravejou, olhando bravo para a “namorada”.
De imediato, Lyra calou-se. Abriu e fechou a boca várias vezes, o olhar raivoso preso em Harry.
- Parece que a Srta. “Sangue-Puro” também acata ordens de mestiços, não? – Hermione pagou na mesma moeda, observando com satisfação o leve rubor que cobriu o nariz e as bochechas de Lestrange – Agora, pelo que me consta, o diário pertence a Gina, Lestrange. Então seja uma boa menina e devolva o que não é seu.
- E se eu não quiser? – a moça desafiou, posicionando as mãos na cintura bem-feita.
- Então eu terei que ter uma conversa com a Professora McGonagall sobre o seu comportamento inadequado – Hermione respondeu lentamente.
- Você se esquece que eu também sou monitora, Granger... – Lyra retrucou, entortando a boca.
- Você pode até ser monitora, Lestrange, mas eu sou monitora-chefe – Hermione a fitou com ar superior – E posso muito bem descontar pontos da Sonserina por desobedecer a um superior...
Lyra tinha toda a intenção de dizer que Granger não era, nunca fora e nunca seria superior a ela, sua boca abrira e a frase atrevida começava a se formar quando ela percebeu a expressão ameaçadora da monitora-chefe da Grifinória. Ela estava falando sério. Realmente iria descontar pontos da Sonserina antes mesmo do início oficial do ano letivo.
Bufando, Lyra enfiou a mão no bolso, atirando o diário para Gina. O livro atingiu a barriga da ruiva e ela o apanhou no susto, rapidamente guardando-o em sua bolsa, respirando aliviada. Lyra, no entanto, prendia a respiração, irritada.
- Muito bem. Boa menina – disse Hermione com meiguice.
Lyra revirou os olhos, bufando novamente. E já ia saindo da cabine quando Rony a parou, colocando um braço na sua frente. Ela ergueu os olhos estreitos para o rapaz, perguntando com maus modos:
- O que foi agora, Weasley?
- Hey, mas que falta de educação, mocinha – ele a provocou – Como se diz quando alguém faz um favor?
Ela apenas ergueu uma só sobrancelha.
- Ninguém me fez favor nenhum, Weasley.
- Ora, mas é claro que fez, sua mal-agradecida! – Rony a olhou escandalizado – Hermione salvou a essa sua bunda sonserina de uma boa detenção! E ainda foi tão benévola que não descontou nenhum pontinho imundo da sua Casa mais imunda ainda! E é por sua falta de educação que vou descontar 10 agora mesmo.
- Ótimo, Weasley – Lestrange sibilou friamente – Estou pouco ligando para você e sua infantilidade. Agora me deixe passar.
- Não tão rápido – Rony a impediu de passar pela porta – Desculpe-se com Hermione antes que eu lhe dê uma detenção.
- Rony, não precisa... – começou Hermione, mas Rony a interrompeu.
- Anda, Lestrange. Não tenho tempo de sobra pra ficar gastando com você...
Lyra respirou fundo, olhou para cima, como se pedisse paciência a um ser maior, e disse muito rápido e muito baixo:
- Obrigada, Granger.
- O que você disse, Lestrange? Não escutei... – Rony disse divertido.
- OBRIGADA! – ela gritou furiosa – SATISFEITO?
Rony respondeu com um aceno de cabeça, rindo. Murmurando um insulto qualquer pelo canto da boca, Lyra girou nos calcanhares, perguntando para Harry antes de sair:
- Você vem, Potter?
Harry arregalou os olhos diante da pergunta da garota. Ela não costumava ser exatamente “gentil” com ele. A maioria de seus “encontros” começava com uma briga daquelas para depois acabar numa sessão de amassos. Seu relacionamento era bem simples, na verdade. Duas pessoas que se odiavam, mas se gostavam ao mesmo tempo. Bom, não era tão simples assim, afinal de contas. Era bem complicado, na verdade.
- Isso, Potter, vá com ela. Vá agarrar a sua namoradinha e dê o fora daqui – Gina mandou, o rosto corado de indignação.
Lyra congelou no mesmo instante. Voltando o rosto para trás, ela encarou a face contorcida em raiva da ruiva.
- Como é? – a sonserina perguntou delicadamente – Está nos expulsando?
- Exato! – Gina respondeu com frieza – Dê o fora da minha cabine antes que eu a expulse aos pontapés!
- Sua? Sua cabine? – Lyra riu – Mostre o certificado de propriedade.
- Saia. Daqui. Agora. – Gina sibilou.
- Você não tem o direito de me expulsar, Weasley. Essa cabine faz parte do trem, que pertence à escola onde nós duas estudamos. Portanto, essa cabine é tão minha quanto sua.
- Por Merlin, Lestrange! Por que você tem que complicar tudo? – Hermione soltou um suspiro cansado – O trem tem dezenas de cabines. Vá procurar uma outra qualquer! Deus!
- E por que eu faria isso, Granger? – Lyra piscou inocentemente – Essa cabine parece tããããão aconchegante. Acho que vou ficar por aqui mesmo...
- Deixe de ser tão babaca, Lestrange – Rony sentou-se no assento, aconchegando a namorada em seu colo – Acredite, você não quer ficar aqui.
- Se for por causa do cio entre você e a Granger, pode ficar tranqüilo, Weasley – a sonserina caçoou, andando calmamente até Harry e envolvendo-o pela cintura com os braços – Eu também quero tirar o atraso com o cachorrinho – Harry franziu o nariz diante do seu novo “apelido”. Lyra piscou para ele, olhando para Gina em seguida – Só a Weasley que vai ficar fazendo papel de castiçal. Mas acho que ela já está acostumada, não? Nunca teve um namoro que durasse mais que dois dias.
- Pelo menos eu já tive um namoro, Lestrange – Gina retrucou – Enquanto você...
- Eu o quê? – Lyra a olhou com arrogância.
- Você só fica se esfregando no Potter como uma gata no cio – a ruiva completou maldosamente – Avise quando quiser cruzar, tenho certeza que Hermione não se importaria em emprestar o Bichento...
- Coitado do pobre Bichento... – Rony murmurou.
- Ok, basta! – Hermione interrompeu a conversa, as mãos posicionadas nos quadris – Lestrange, queria fazer o favor de retirar-se. Assim você pode ter mais... huh... privacidade com o Harry para.... anh... conversar com ele...
- Conversar, sei... – Gina murmurou.
- Sabe, Granger, pela primeira vez na vida eu concordo com você – Lyra disse, olhando fixamente para a face transtornada de Gina – Não teria nenhuma privacidade na presença da Weasel-Bee. Ela ficaria olhando as pernas do cachorrinho...
- É impossível não olhar para as pernas do seu cachorrinho, Lestrange. Já que a calça dele tem mais rasgos do que tecido – Gina disse sarcasticamente.
Rony e Hermione arregalaram os olhos quando finalmente notaram a calça que Harry estava usando.
- A CALÇA “DÁ PRA MIM”! – o ruivo exclamou, completamente estupefato.
- Ronald! – Hermione o repreendeu, as bochechas rosadas – Olha o linguajar!
- Ahhhhh, a Srta. Perfeição não acha apropriado esse tipo de linguagem tão chula. Tsk, Tsk, Tsk... – Lyra sacudiu a cabeça, os longos cachos negros esvoaçando – Ouviu, Weasel? Nada de pensamentos impuros com o MEU cachorrinho.
- Seu? Seu cachorrinho? – Gina imitou – Mostre o certificado de propriedade.
- Ah, você quer uma prova de que ele é MEU? – Lyra perguntou meigamente – Por que, Weasley? Ainda acredita que possa ter alguma chance?
- Do que você está falando, sua louca? – a ruiva perguntou, franzindo as sobrancelhas.
- Não pense que eu não noto o seu interesse nele, Weasel-Bee. Todos notam. Todo mundo sabe da sua quedinha, ou melhor, do seu TOMBO DESCARADO pelo cachorrinho – a morena continuou com suas insinuações, para a revolta de Gina.
- Eu não...
- Há, não me faça rir, Weasley, você é tão ridiculamente óbvia...
- Lestrange! – trovejou Hermione – Eu já falei uma vez e não vou repetir: Saia agora ou vai sofrer as conseqüências.
- E o que te faz pensar que eu tenha medo de suas ameaças, Granger? – Lyra revirou os olhos – Você é patética. Só não alcança a Weasel porque ela realmente se esforça...
- Pois a única patética aqui é você, Lestrange – Gina a cortou, a voz áspera – Não se importa com ninguém além de si mesma. Trata todos como pertences, coisas. Se dependesse de você, Potter já teria seu nome marcado a ferro para que todos vissem que ele é “seu”.
- Pelo menos ele teria tatuado em nome que vale a pena carregar. Um nome com honra... – Lyra retrucou com dignidade.
- Honra? – Gina riu – Honra onde? Numa pocilga?
- Depende de que pocilga você está se referindo – disse Lyra, sem se alterar – Você, por acaso, está falando da sua casa?
A reação foi imediata. Rony levantou-se de seu acento, roxo de fúria. Gina, entretanto, apenas encarou Lestrange com raiva, os punhos tremendo:
- Você está me chamando... de porca? – ela perguntou com a voz trêmula.
- Não, você é mais uma porquinha – caçoou Lyra, ensaiando um tom pensativo – Sua mãe que é a porca oficial...
Rony remexeu os bolsos, procurando pela varinha, mas sua irmã foi mais rápida.
- Riddikulus!
O raio de luz disparou da varinha da ruiva, errando o rosto de Lyra por milímetros. A varinha tremia tanto nas mãos de Gina que ela não conseguira mirar direito. Lestrange nem teve tempo de suspirar aliviada, pois, assim que o feitiço passou de raspão por sua face, acertou o vidro da cabine, estilhaçando-o. Todos ergueram as mãos para proteger o rosto dos cacos de vidro, tentando desviar dos estilhaços cortantes. Porém, um grito alarmado, vindo do lado de fora da cabine, mostrou que um transeunte não tivera a mesma sorte.
- O que di... AH!
Lyra voltou o olhar para seu primo, Draco Malfoy, cuja voz arrastada ela reconhecera imediatamente. Sua boca entreabriu-se, horrorizada diante da visão do rosto pálido coberto de feridas enorme e um tipo bizarro de tentáculos que se mexiam, esvoaçantes, sobre a pele das bochechas.
- Oh, Deus! – ela exclamou, segurando a risada. Seus companheiros de cabine, no entanto, não pareciam se preocupar com isso. Rony e Harry gargalhavam. Hermione, apesar de preocupada, não conseguia esconder um sorrisinho. E Gina parecia assombrada com a capacidade de sua própria azaração. Encantada com o aperfeiçoamento de sua técnica, a garota disfarçava um sorriso no canto da boca.
Draco era o único que não achava graça nenhuma. Olhava com desgosto o reflexo de seu rosto nos cacos de vidro. Cobrindo a face com as mãos, ele avaliou o estrago, gemendo insultos.
- Meu rosto... Meu rosto...
- Merlin! – Lyra exclamou enojada – Se manda daqui, Draco, você está me dando náuseas!
- E como você espera que eu faça isso? – Draco a olhou furioso, os tentáculos balançando horrivelmente – Meu rosto está deformado! Meu lindo rosto vai ficar marcado para sempre...
- Deixe de tanto mimo, Malfoy! – exclamou Rony, tomando fôlego entre as gargalhadas – Madame Pomfrey vai dar um jeito rapidinho... Apesar de achar que você ficou bem melhor que antes... Pelo menos assim não dá de ver essa sua cara de bosta...
- Foi você que fez isso comigo, não foi, seu invejoso? – Draco estreitou seus olhos claros para Rony, tremendo de ódio – Crabbe, Goyle – o loiro voltou-se para seus espantados e confusos capangas – Tratem de fazer o Weasley se arrepender de ter mexido comigo...
Crabbe e Goyle ergueram os braços enormes, como uma dupla de marionetes controladas pelo furioso Malfoy.
- Rony não merece essa surra, Malfoy – intrometeu-se Gina, dando um passo para o lado do irmão, protegendo-o com o corpo, embora ele tentasse empurra-la para trás de si, tentando livra-la do perigo – Fui eu que lancei o feitiço... – declarou corajosamente.
Draco a olhou com profundo desprezo. Seus olhos estreitaram-se mais ainda, resumindo-se a duas fendas cinzentas. Porém, quando a mão do sonserino escorregou para o bolso de trás de sua capa, de onde saía um pedaço de varinha, um grito ecoou pelos corredores do trem:
- SERÁ QUE EU OUVI CERTO? MALFOY APANHANDO DE UMA GAROTA?
Um grupo de estudantes estava parado no meio do corredor, liderados por um entusiasmado Colin Creevey que segurava sua fiel máquina fotográfica. E a última coisa que Draco viu foi o flash que quase o cegou. Meio tonto, o loiro ouviu as risadas avolumando-se enquanto Colin exibia a foto instantânea que acabar de tirar. Nela, um quase irreconhecível Draco Malfoy rangia os dentes furiosamente, o rosto desfigurado pela Azaração para Rebater Bicho-Papão.
- Seu... – Malfoy grunhiu, erguendo a varinha, pronto para amaldiçoar o sangue-ruim insolente que ousara flagra-lo num momento tão embaraçoso. Mas uma sangue-ruim mais insolente ainda o segurou pelo braço, tirando sua varinha – Granger! Como você ousa tocar em mim? Vou ter que limpar essa veste com desinfetante agora!
- CLARO, MALFOY, E JÁ APROVEITA PRA LAVAR A SUA CALÇA QUE DEVE ESTAR TODA BORRADA!
- E A CUECA TAMBÉM! DEVE ESTAR ENCHARCADA!
Por debaixo das feridas horríveis no rosto de Malfoy, era possível enxergar um tom assustadoramente rubro, talvez de vergonha e raiva misturadas. O loiro rangeu os dentes para o grupinho infame de grifinórios que estava chamando cada vez mais atenção. Os estudantes das cabines próximas já colocavam o rosto para fora das janelas, espiando o que estava acontecendo. Logo, um aglomerado se formaria do local e não seria nada agradável ter pirralhos ridículos apontando e rindo da sua cara. Para evitar mais vergonha, ele virou-se para Hermione, a voz letal:
- Devolva a minha varinha, Granger.
- Depois, Malfoy.
- Eu quero agora!
- POIS SÓ VAI TER DEPOIS! – ela apontou a própria varinha para o loiro – Vai discutir?
Malfoy bufou, cerrou os punhos e mordeu o lábio inferior, uma expressão de profunda frustração no rosto. Irritado, ele girou nos calcanhares e saiu batendo os pés. Porém, quando estava passando por Colin, ouviu os flashes de sua câmera seguirem-no. Sem ter o auxílio da varinha, só restou ao loiro cobrir a cabeça com as vestes, saindo correndo do corredor e desaparecendo ao longe. Provavelmente indo se esconder na cabine dos monitores.
- Covarde... – Gina gritou.
- Essa é a minha irmã, não nega ser uma Weasley! – Rony disse orgulhoso, engatando uma conversa com os risonhos grifinórios – Vocês viram como ela desfigurou o rosto do Malfoy? Irado, não? Por pouco que ele não vira picadinho! Estou orgulhoso de você, maninha!
Observando a interação entre irmão e irmã, Lyra fez uma careta, seu rosto adquirindo uma cor ligeiramente esverdeada.
- Merlin, é muito amor fraternal pra um dia só. Licença, vou ir pro banheiro vomitar o meu almoço...
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