Pela Primeira Vez, Sozinhos



Capítulo XXXVII


Pela Primeira vez, Sozinhos


 


- Harry desapareceu.


 


            Meus olhos pararam de ter movimentos e ficaram duas esferas completas. Tonks soltou meu rosto aos poucos vendo que eu estava quase sem reação.


 


- Como assim ele- - Cuspi as palavras quase chorando.


 


- Encontramos sua varinha jogada nos trilhos do trem, Shacklebolt tem certeza que viu alguem aparatar com Harry nos braços.


 


- E POR QUE ELE NÃO FEZ NADA?! - Perguntei deixando as lágrimas caírem livremente.


 


- Não deu tempo, Hermione! Ele tentou, mas foi muito rápido.


 


            Sentei-me em um banco que tinha ali do lado e passei as mãos entre os cabelos chorando ainda mais. Aquilo não podia estar acontecendo, não, não podia! Eu poderia ter impedido, eu poderia ter segurado ele, ou quem sabe, interrogado o que estava acontecendo naquele vagão, mas eu fui negligente aos fatos.


 


- E o Ron?! Molly, senhor Weasley?! - Perguntei levantando de novo.


 


- Estão bem, Ron apenas tropeçou e ralou um dos joelhos, pelo que eu saiba até agora, ninguém ficou seriamente ferido.


 


            Minha cabeça raciocinou tão rápido que nem ouvi Lupin falar comigo.


 


- O que você disse? - Perguntei depois do seu discurso.


 


- Todos vamos até a Ordem, a família Weasley ficará lá até tudo se resolver.


 


- Vocês tem idéia de onde Harry está? - Perguntei pegando em seus braços. Lupin me olhou e depois olhou Tonks.


 


- Nem tivermos tempo de digerir as informações, Hermione, vamos e lá nós conversamos


 


            Me arrancou de perto do homem e me conduziu, sem vida, até Molly que fez o mesmo até que aparatamos para a Ordem da Fênix. Eu estava sem reação. Me colocaram sentada em uma cadeira na sala de Sirius e lá eu fiquei, até que Ron sentou ao meu lado e segurou na minha mão dizendo algo que não pude identificar.


 


            De novo, aquele sentimento de perda, estar passando por aquilo de novo era de mais.


 


            Era quase um mercado de peixe, debatiam lugares, como achar, colocaram todos os aurores atrás de todas as pistas, reviraram a Travessa do Tranco, fizeram uma grande limpeza nas áreas podres de Londres em menos de uma hora.


 


            Moody, Lupin, Tonks, Arthur, Molly e por último, Dumbledore chegou. Eu e Ron ficávamos sentados, mudos, eu com meus olhos inchados e Ron com seu gelo em seu joelho esquerdo. Aquela conversa estava me deixando muito zonza. Levantei-me puxando a mão de Ron e fechei aquela porta atrás de mim. Fomos até a cozinha, onde estavam os gêmeos, conversando sobre qualquer coisa que não me interessava.


 


            Peguei um copo d'água e fiquei encostada a pia, tomando de gole em gole, saboreando aquele deleite. Suspirava constantes vezes, pensando em Harry, Harry, Harry e Harry.


 


            Com pensamentos egoístas, pensava em ir sozinha atrás dele, mas tempo era necessidade. Um minuto a mais ou um minuto a menos poderia custar a vida dele. Olhando pela torta e suja janela, pude ver que o sol estava predominante, algumas nuvens deixava o dia feio, mas hoje não choveria.


 


            E quem estava ligando?


 


            Eu olhei com fúria aquele copo na minha mão, e a intensão maior foi quebrá-lo com a minha força, até ser interrompida pelas mãos de Ron em cima das minhas, tirando o copo das minhas mãos e o deixando na pia.


 


- Eles tem alguma coisa? - Perguntei esperançosa.


 


- Não sei, está muito quieto lá dentro.


 


            Suspirei e fui perto da porta da cozinha, encarando a sala de Sirius fechada. Encarando cada desenho, cada lasca fora do lugar, eu pude compreender que eles só sairiam de lá com uma resposta, uma atitude e uma missão. Eles podem demorar muito e a vida de Harry se esvair.


 


            Foi então que a porta se abriu, e de lá de dentro, só saiu Dumbledore, vindo rapidamente na minha direção.


 


- Pensei que não os veria tão cedo. - Brincou tocando a ponta do meu nariz com o dedo fino. - Como está a senhorita Weasley? - Perguntou indo até a metade da cozinha, me deixando para trás.


 


- Bem, ela estava descansando lá em cima.


 


- Ah, ótimo. - Olhou a cozinha longamente. - Pode me servir um copo d'água, por favor er- - Parou e olhou para um dos gêmeos.


 


- Jorge. - Respondeu.


 


- Isso, Jorge, por favor. - Foi gentil e se sentou.


 


            Eu ainda estava mirada naquele segredo de porta. Tomou sua água lentamente, todos ficaram em silêncio na presença do diretor, afinal, nenhum ali estava em pratos limpos com o velho. Dois fugiram antes de completar o sétimo ano, os outros dois só lhe trazia problema, e trouxe mais um atualmente, ele poderia muito bem largar todos nós ali e seguir sua vida, mas Harry é como um filho para ele – ou neto.


 


- Professor- - Comecei ainda de costas para eles. - nenhum deles sabe aonde está o Harry, não é?


 


- Não. - Respondeu claro. - Nenhum sabe.


 


            Ron ficou olhando para ele perguntando de onde vinha tanta franqueza.


 


- Mas eu tenho certeza que eles pensarão em um jeito. - Soltou Jorge.


 


- O mais rápido possível. - Completou Fred.


 


- E o que sabem até agora? - Voltei a perguntar.


 


- Bom – Pigarreou. - Draco Malfoy o levou, sabemos que não tem ligação com Voldemort pois rastros dele foram encontrado nas florestas ao norte da Varsóvia, estava sozinho e quase sem forças.


 


- Ele pode estar procurando essas forças em Harry. - Disse Ron assustado.


 


- Não, meu caro Ronald, eu tenho quase certeza que essa é uma briga entre Draco e Harry.


 


            Como um estalo, movimentei-me virando para eles.


 


- Rivalidade juvenil? - Perguntou Ron.


 


- Não, eu creio que vai mais além disso, estou certo Hermione? - Fui ao lado da mesa, apoiando as duas mãos e tendo uma leve visão parcial do que estava acontecendo.


 


- Vingança? - Perguntei encarando a mesa.


 


- Orgulho ferido, talvez.


 


            Minha cabeça foi iluminada por um grande holofote. Várias idéias começaram a se juntar como um quebra cabeça.


 


- Você conhece eles melhor do que nós, Hermione. - Soltou Ron, mas nessa altura, já tinha esclarecido todas as idéias.


 


 


- ELES MATARAM PESSOAS INOCENTES! - O encarei com os olhos banhados.


 


- Não foram só seus pais, Hermione... Nós nos reunimos quase todas as noites em uma casa bem no centro de Londres, em um beco deserto, três quadras do Caldeirão Furado, bem debaixo do nariz deles, para ninguém suspeitar... Lá podíamos confabular, pensar, estudar...


 


- Você está se incluindo neles... - Ficou mudo por um instante.


 


 


            Como eu não tinha pensado nisso antes?


 


            Tentando traçar uma rota, algum plano mirabolante, algum motivo que me faça não contar a ninguém, fiquei alguns segundo na expectativa. Ao abrir a minha boca para soltar as novas informações que eu tinha achado, Dumbledore se levantou pigarreando.


 


 - FRED! JORGE! VENHAM AQUI! - Ouvimos Molly gritar da sala de Sirius e logo aqueles postes obedeceram.


 


- Seja o que for, Hermione, creio que desta vez, vocês deveriam resolver isso sozinhos. - Ron ficou completamente confuso, com uma careta na face.


 


- Eu acho que não conseguiremos sozinhos, senhor.


 


- Tenho quase certeza que sim. - Foi até a porta. - Quanto menos pessoas souberem mais tempo ele terá sua vida. Corram, pensem em algo e traga ele volta. - As últimas palavras saíram desesperadas até para Dumbledore.


 


            Ele só podia estar louco! Ele seria a última pessoa que nos mandaria sozinhos para alguma missão desmiolada.


 


- Mas, professor, nunca tivemos que salvar o Harry, ele sempre estava conosco, ele sempre nos ajudou, praticamente, era ele que-


 


- Harry não é um herói, ele só está no lugar certo, na hora certa com as melhores idéias. - Me cortou. - Pense nisso. Boa noite. - Acenou e entrou na sala.


 


- Você descobriu alguma coisa?


 


            Fiquei estática, olhando para aquela porta de madeira novamente. Só que desta vez, eu não procurava respostas, e sim soluções. Como ele pode jogar a situação em nossas mãos?! Será que ele não sabe que somos adolescentes inconseqüentes?!


 


- Vamos, Ron! - O puxei pela gola da camiseta e o arrastei até as escadas.


 


- Hey! Hey! Eu não irei a nenhum lugar antes de você me falar o que está acontecendo! - Virei-me para ele e cruzei os braços bem perto da sua face.


 


- Harry pode estar morrendo nesse exato momento, que tal eu te contar no caminho? - Minha voz não podia ser mais macabra.


 


            O ruivo me olhou longamente e suspirou subindo as escadas antes de mim.


 


***


 


            Enfiei uma muda de roupa dentro de uma mochila e Ron fez o mesmo, pedi que colocasse mais uma, caso Harry precise. Peguei algumas poções que seriam bem úteis e a enfiei nas costas, fechando a porta do quarto por dentro, e jogando a chave em qualquer canto.


 


- Vamos para o Caldeirão Furado, Harry está a três quadras dali, só que- - Olhei confusa pra ele. - em que direção?! - Sentei-me na cama passando a mão nos cabelos. - Pode estar em qualquer lugar!


 


- Você só sabe disso?


 


- É um beco abandonado, deserto, a três quadras do Hotel, é a última coisa que sei.


 


- E é muito, por sinal. - Pegou sua varinha e começou a fazer alguns desenhos no ar, onde passava o pedaço de madeira encantado, ficava um traço dourado. - Se o Caldeirão Furado fica aqui, temos oito direções. Charing Cross é realmente muito grande.


 


- Não está ajudando, Ron.


 


- Bom - - Estralou o pescoço. - Para cá, fica o Beco Diagonal, para lá, a estação de trem. - Riscou as coordenadas. - Nos sobrou Leste ou Norte.


 


- Vamos andando, lá nós descobrimos.


 


- Você não acha que estamos nos arriscando de mais indo sozinhos atrás do Harry? - Perguntou guardando a varinha dentro do seu casaco.


 


- Estamos nos arriscando aqui, parados sem fazer nada. Aparate para o Caldeirão Furado.


 


- Ok. - Aparatou sem emoção.


 


            No momento em que eu ia aparatar, ouvi alguém bater a porta.


 


- Hermione, abra, por favor. - Era Tonks.


 


            Fechei os olhos e aparatei. Meus ouvidos ficaram entupidos e meu estômago virou ao contrário. Aterrissei calmamente na frente daquela hospedagem. Ron estava olhando apara os pés e logo me olhou quando cheguei.


 


- Me oriente. - Disse Ron pegando sua varinha e ela se transformou em uma bússola improvisada. - Para lá.


 


            Correndo, pegamos o caminho mais óbvio. O dia estava escurecendo, o clima quente se tornou frio, principalmente naquele lado da cidade. Fico me perguntando porque Draco não deu o número da casa, ou talvez uma referência.


 


- Você acha mesmo que estamos fazendo o certo, Mione? Sozinhos, sem ninguém para nos ajudar?


 


- Eu nem sei mais do que fazer, Ron, sinceramente, só quero achá-lo.


 


            Estamos correndo contra o tempo e não tinha tempo para muitas explicações. Eu admiro Ron por ser louco o suficiente para me seguir nessas aventuras. A população londrina voltava para suas casas depois de um dia cansativo de trabalho. As ruas estava movimentadas de carros, pessoas, lojas se fechando e bares colocando as mesas para fora.


 


            Cada passo que eu dava era motivo para um pensamento diferente. Ora pensava na vida de Harry, ora na morte. Era um suicídio, mas com a iminência de chegar nesse tal lugar com os pés na porta, invadir aquele covil e resgatar Harry, mesmo que saímos de lá sem vida.


 


            Nós dois sabemos claramente do que Draco era capaz, e do que qualquer comensal faria para preservar sua vida. O ódio que tinha em um coração de um comensal – se é que eles tem coração -  não se compara com a vontade que eu estou de quebrar alguns narizes, se que é que todos me entendem.


 


            Senti uma garoa fina cair sobre as minhas bochechas quentes. Estávamos na segunda quadra ao Norte do Caldeirão Furado. Podíamos invadir todas as casas com os dois pés nas porta e matar todos que estavam lá dentro, inocentes ou não.


 


            Limpei a testa numa mistura de suor e chuva e paramos em frente um pequeno beco.


 


- Pode ser por aqui, Hermione.



- Temos que ser exatos, eles podem sentir nossa presença e escapar com Harry.


 


            Havia poucas casas ali, praticamente umas cinco. Um grande paredão fazia o beco ficar mais alto e mais macabro. Ao final dele, pouquíssima iluminação, já que estávamos no começo da noite e tudo se fez escuro. A única casa com uma pequena luz acesa que piscava as vezes, era a última e a mais detonada em questão de beleza.


 


            Como um tiro no escuro, começamos a correr em direção a casa. Eu e Ron pensamos a mesma coisa, no mesmo momento. Tenho que confessar que em todos esses anos, essa parece ser a única vez que ele concorda comigo. O barulho de nosso pés pisando em poças cheias de água, as respirações foram de ritmo, os gatos que saíram correndo quando ouviram alguma coisa suspeita.


 


            Ao parar na frente daquela casa, Ron foi até a vidraça e olhou bem de perto. Estava abandonada com um cartaz pendurada na porta, FECHADO, e tábuas a fechando de fora a fora. Um perfeito esconderijo, pensei logo que Ron apontou sua varinha para a porta e ameaçou explodi-la.


 


- Não. - Abaixei seu braço olhando fixamente para o chão, na diagonal da porta.


 


            Olhei com mais precisão, abaixei-me e toquei num pedaço de pano vermelho que tinha entre as duas paredes praticamente grudadas. Levantei-me e olhei até o telhado irregular. Nenhum asno faria essa parede com uma fita vermelha grudada entre elas.


 


- Não é aí.


 


- Será que é como a Ordem? Uma casa escondida?


 


- Está na cara, não é Ron? - Disse um pouco arisca. - Mas como faremos para abrir?


 


- Explodindo?


 


- Não! - Gritei. - Eles podem ficar trancados lá para sempre, assim como nós nunca poderemos entrar.


 


            Encostei uma das mãos naqueles tijolos sujos. Senti a irregularidade de um bloco para o outro, passando a mão nas divisões de uma casa e outra, como se não fosse mais perfeito. Tão perto e tão longe. Desci até o chão e comecei a puxar aquele fio vermelho. Com força o bastante para mover rochas.


 


- Não vai adiantar, Mione, tem que ter algum feitiço.


 


            Minha cabeça não conseguia pensar desse jeito. O pessimismo estava falando cada vez mais alto e a sensação de perda acalentava meu coração. Encostei a testa naqueles tijolos e comecei a chorar. Sussurrei algumas coisas inaudíveis, comecei a sentir a parede na frente de mim começar a mexer.


 


- O que você disse? - Perguntou assustado e abismado.


 


            Eu dei passos para trás e tudo ali começou a se mexer. Barulhos de coisas metálicas, madeiras, tijolos caindo quase em nossas cabeças caracterizaram o inflamento daquela casa. Ao ficar pronta. Revelou uma casa simples, escura, com a infeliz escolha das madeiras da porta cheia de cupins.


 


- Devemos entrar? - Perguntei, mas ele nem respondeu, girou a maçaneta que caiu em sua mão e logo depois, empurrou a porta para o fundo da casa.


 


            Um cheiro de mofo invadiu meu nariz. Tudo que eu pude ver, tinha pó. Acendi minha varinha e comecei a me familiarizar com todas as informações novas. Uma micro sala, com dois sofás empilhados e rasgados, nenhuma luz, nenhum eletrônico, nenhum sinal de vida.


 


            Logo na frente da porta, minha uma escada alto, quase sem fim. A casa era muito estreita mas parecia muito comprida. Ron pegou no meu pulso e me arrastou para a parte de trás da escada. Nenhum quadro, nenhum papel de parede da moda, nada que possa dizer algo notório sobre o último habitante de lá. Ao entrar na cozinha, a falta de móveis era uma coisa absurda já que apenas uma pia, duas acadeiras e uma grande mesa compunha o local.


 


            Perto de uma das cadeiras, encontrei pedaços de corda cortados e alguns respingos de sangue, o que me deixou completamente perturbada. 


 


- Hermione, dá uma olhada. - Disse indo até a pia e encontrando mais sangue, só que desta vez, em muita quantidade.


 


            Minha respiração ficou mais rápida junto com o suor que saia das minhas mãos.


 


- Lá em cima. - Fomos silenciosamente até a escada e ouvimos latas rolarem no assoalho do primeiro andar. A casa toda parecia ranger, devia ser horrível dormir aqui.


 


            Cada degrau, uma sinfonia diferente. Na parede, ao nosso lado, havia algumas marcas de quadro, mas nenhum para contar história. Rachaduras, poeria, aranhas e teias eram de praxe em todos os cantos. O corrimão estava bambo e arrancando lascas. A escada parecia sem fim, se eu contasse os degraus, daria mais de trinta, tenho certeza.


 


            Ofegantes, chegamos ao topo e nem tivermos coragem de olhar lá para baixo. A escuridão fez nossos olhos acostumarem com contornos, portas, janelas. O ruivo tomou a minha frente e começamos a explorar a casa, com varinhas em mãos e os ouvidos atentos a qualquer ruído fora do comum.


 


            Fomos até a primeira porta, estava aberta o suficiente para passar um corpo. Lá dentro, com a ponta da varinha, Ron iluminou o local revelando ser um pequeno e sujo banheiro.


 


            Voltando ao corredor, testamos quase todas as portas. Quartos, mini bibliotecas vazias, escritórios revirados. Se não fosse pelo sangue lá em baixo, eu teria certeza que essa casa não recebia pessoas a décadas. Paramos novamente em frente a escada e suspiramos, olhando um para o outro.


 


- Ele não está aqui, Hermione. - Soltou um pouco derrotado.


 


- Tenho certeza que está. - Disse descendo as escadas sem se importar com o real barulho que elas faziam. - Deve ter algum lugar que não procuramos! Uma passagem escondida, alguma coisa do tipo. - Girei algumas vezes na sala, olhando teto, chão e móveis.


 


            Ron terminou de descer as escadas e se encostou no corrimão. Como se ele tivesse um lapso de memória e esquecido que aquele móvel estava bambo, ele caiu para trás, fazendo um barulho chato e alto.


 


- Parabéns. - Soltei aborrecida.


 


            Naquele exato momento, uma pequena portinha que tinha embaixo da escada se abriu fazendo um pequeno rangido e tingindo a sala com um laranja forte. Meus olhos procuraram os de Ron e logo avançamos por aquela portinha. Tivemos que engatinhar para passar por ela e logo estávamos num lugar um pouco diferente: parecia um túnel cavado a muito tempo, era de terra mas eu podia ver o concreto que começava mais a frente. No chão, pegadas e rastro de sangue.


 


- Por aqui. - Segurei na mão de Ron e comecei a andar naquela trilha.


 


            O túnel era da largura e do tamanho de um caminhão. Os ratos entravam nos buracos mais visíveis quando iluminávamos o caminho. Quando começamos a pisar no concreto, começamos a ouvir ronco de carros e ônibus.


 


            Mais a frente, tinha uma grande no teto e de lá, podemos ver a rua, pessoas passando e a luz que exalava. Voltamos a seguir as pistas até começar a ouvir uma conversa um pouco alta, alguém discutindo com alguém, ou qualquer coisa do tipo.


 


            Nossos passos começaram a diminuir e logo sentimos cheiro de algo queimar associado com a luz avermelhada que começava a dar as caras. Por que nesse lugar?!


 


            Por que em um lugar tão óbvio assim?!


 


- Pode ter qualquer coisa lá, Hermione. - Soltou enquanto parávamos um pouco mais longe do que queríamos. - Eu quero que você fuja se algo acontecer fora do planejado.


 


- Mas não temos nada planejados.


 


- Eu sei, é que essa frase me dá confiança. - Eu o olhei e dei uma pequena risada. - Tudo pelo Harry?


 


- Tudo pelo Harry. - Tocamos os punhos fechados.


 


- Isso, com os dois pés na porta... - Sussurrou levantando-se e correndo em direção ao local.


 


            Sinceramente, eu fiquei estática como uma covarde. Vi a sombra de Ron pela parede até não ouvir mais seus passos.


 


- HARRY! - Ouvi ele gritar.


 


            Com a respiração a mil, também corri até o local. Ron estava parado, de costas na frente de um corpo sentado em uma cadeira.


 


- Ron? - Perguntei um pouco assustada pois não ouvi nem Ron, nem Harry. - Ron? - Perguntei pegando em seu ombro e logo ele tombou para trás desacordado.


 


            Harry estava amarrado na cadeira com cordas douradas que se mexiam quando ele tentava se mexer. Nariz quebrado, sangue por toda parte. Sem seus óculos, duvido que tenha me reconhecido. Eu sei, ele estava horrível, não sabia se sua vida estava por um fio ou não, mas eu estava feliz em vê-lo.


 


            Um peso que saiu das minhas costas, deixou tudo mais claro. Pude pensar com mais exatidão, pude calcular um plano, finalmente. Mas, como tudo estava muito perfeito, senti a ponta de uma varinha encostar no meu pescoço e um forte arrepio percorreu meu corpo.

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