Reviravolta
Capítulo XIX
Reviravolta
Aos poucos, minha vida ia se acertando. Quando cheguei a Hogwarts, Draco estava na entrada no castelo, me esperando, o cumprimentei com um largo sorriso e ele já notou minha felicidade. Contei que estou começando a voltar a minha rotina e que tudo pode voltar ao normal. O loiro ficou feliz com isso, ficou feliz por mim. Pulamos o jantar e fomos direto para os nosso quartos.
Só quando estamos juntos, pele com pele, mão com mão, lábio com lábio que eu me sinto verdadeiramente completa. Sim, isso é bem clichê, mas é a mais pura verdade. Draco já tinha pegado no sono, não era para menos, eram três horas da manhã e estávamos realmente cansados e nos 'divertimos' um pouco.
Enrolada no lençol, fui até o banheiro. Com uma das mãos, abri a gaveta e peguei meu frasco de pílulas, abri e tomei uma a seco. Só depois tomei alguns goles de água. Olhei-me no espelho, passando a mão no rosto algumas vezes. Realmente, eu emagreci consideravelmente. Para muitas mulheres, isso é ótimo! Ótimo seria se eu emagrecesse mas conseguisse subir uma escada sem dar leves pausas para não cair para trás.
Tenho que começar a me preocupar com minha saúde e com as minhas notas que devem estar lastimáveis, como no começo do ano.
- Volta pra cama... - Soltou se ajeitando na cama e me olhando.
- Já vou. - Disse suspirando e me olhando mais uma vez no espelho.
- Que horas são? - Perguntou acendendo o abajur, comprimindo os olhos e bagunçando o cabelo loiro.
- Três horas, mais ou menos. - Disse ainda no banheiro.
- Nossa, que tarde. - Levantou-se pegando suas peças de roupas e se vestindo em segundos. Foi até o banheiro e me abraçou por trás. - Até amanhã.
- Hoje, você quer dizer. - Sorri.
- É, você entendeu. - Rimos. Me deu um beijo na bochecha e logo saiu do quarto sem grandes barulhos.
Voltando a penumbra do quarto, sentei-me na cama e fui deitando aos poucos, apoiando-me no braço e respirando bem fundo.
***
TAC!
Mas que merda...! Só me deixa dormir, hoje é domingo mesmo! Virei-me do outro lado da cama e senti como se sentassem ao meu lado.
TAC!
Cobri minha cabeça com o travesseiro e suspirei.
- Acorda, Granger! - Senti um vento perigoso e frio. A coberta que me cobria, voou longe. Por sorte, tinha vestido algo comprido antes de dormir.
- O que vocês querem?! - Eu já suspeitava quem era. Cobri minha cabeça com o travesseiro e senti alguma coisa sentar ao meu lado.
- Temos que conversar.
A primeira voz, era conhecida, Moody com seu mofo na garganta. Mas a segunda, não consegui ligar a pessoa. Descobri a cabeça e olhei aqueles olhos rasgados.
- Professora Keiko, a senhora ainda não-
- Não, ainda não.
- Como vocês- - Sentei-me a cama.
- Não temos muito tempo, Granger. Logo, logo Dumbledore aparecerá aqui e será difícil explicar o que viemos fazer aqui.
- Ok, podem falar.
- Eu sei que não é da nossa conta, mas descobrimos que você está com aquele garoto, filho dos Malfoy.
- É da nossa conta sim, Keiko! O pior de tudo, é que é!
- O que o Draco tem a ver com isso?
- O que tem a ver?! - Deu uma risada gostosa e girou seu olho por completo. - Ele é um canalha, se é assim que as mulheres chamam esse tipo de homem.
- Não entendo o que ele ainda tem a ver com a visita de vocês aqui. Isso é um problema pessoal, eu acho que a Ordem não precisa estar a par de 'tudo' que acontece na minha vida.
- Só estamos preocupados com você.
- E o que você está fazendo com ele? - Perguntei a professora.
- Ninfadora deve ter lhe falado que tínhamos espiões aqui na escola, lembra? - Concordei. - Ela era uma das nossas. - Meu queixo caiu.
- Hã, enfim! Dá pra me explicar essa história direito!?
- Fique longe de Draco Malfoy, é só isso que pedimos.
- Vocês só podem estar de brincadeira...! Tonks tem um dedo nisso, não é? - Especulei.
- Tonks está incomunicável, esqueceu? - Suspirei me levantando e andando de um lado para o outro. - Se você quiser a sua segurança, a segurança do Potter e de todos aqueles que você gosta, fique longe desse moleque.
- Que ameaças ele pode trazer a mim?
- Ele é filho de um dos comensais mais procurados do mundo, você ainda quer alguma desculpa? - Moody me estressava por completo, isso era fato.
- Não é porque o pai é um desgraçado que o filho também será !
- Granger, escuta pelo menos uma vez na sua vida: ele está marcado para virar comensal, a questão é tempo. Ou você acha mesmo que o seu querido pai ia gostar de ver o filho prodígio namorando uma sangue ruim?! Por favor! - Bufou.
- O pai dele ainda não sabe.
- Se nós soubemos, ele também saberá. - Disse Keiko para meu temor. - E em pouco tempo.
- Não tenho medo de Lucio Malfoy. - Disse apertando os punhos.
- É, ninguém tem, até que um dia, ele pega aquela pessoa que você mais ama, e faz sentir as piores dores já imagináveis. - Disse Keiko abaixando o olhar para a colcha vinho.
- Do que você está falando?
- Pra você ter uma idéia, Granger, o marido dela foi torturado e morto por Lúcio, só porque ele não quis fazer uma pesquisa arriscada. - Levei uma das mãos a boca. - Ele tira qualquer pedra do seu caminho.
- Mas- - engoli seco. - O Draco não é assim...! - Disse com os olhos banhados.
- Quem garante?! - Sacou a varinha. - Bote um ponto final nessa relação, Granger, não quero interferir nos seus casos amorosos. - Aparatou.
- Eu sei que você está confusa. - Suspirei.
- Não estou confusa, sei exatamente o que eu tenho que fazer.
- Sabe que está indo para um caminho sem volta? - Encarei aquela mulher enquanto se levantava e pegava sua varinha.
- Você não está sendo muito trágica?
- Só pense direito no que está fazendo. - Aparatou.
E o quarto ficou mais uma vez vazio.
***
- Espera um minuto, deixar eu ver se eu entendi direito: esse cara aí, o Moody, apareceu no seu quarto com a professora Keiko e pediu que você se afastasse do Malfoy? - Concordei. - Meu Deus, eu vou dar um beijo na boca deles! - Disse triunfante.
- Não tem graça, Antônio. - Soltei com desprezo. - Pro velho caquético do Moody sair da toca e vir até aqui para me dar conselhos amorosos, a coisa está séria.
- Mas, Hermione, você mesmo me disse que não tá nem aí para o que os outros pensam!
Passamos para dentro do Salão Comunal, estávamos na nossa hora de almoço e eu estava faminta.
- E não estou mesmo! Mas ele é um membro da- - Suspirei. - Acho que é muito complicado te explicar.
- Não é nada complicado, não! - Nos sentamos.
- Eu acho que ficaria o dia inteiro te explicando isso. - Um grande flash quase me cegou.
Um aluno do primeiro ano com uma grande maquina fotográfica antiga nas mãos, acaba de tirar uma foto nossa. Abri o olhos lentamente vendo quadrados brancos em tudo.
- O que você quer, hein?! - Perguntei esfregando um dos olhos.
- Guardar essa foto!
- Pra que, moleque?! - Soltou Tony também debilitado.
- Que apesar de tudo, as pessoas são capazes de perdoar. - fiquei olhando estaticamente para aquele garoto até que bateu os calcanhares e saiu Salão a fora.
Encarei Tony que tinha um mero sorriso nos lábios e logo depois, caiu do céu uma pétala vermelha em cima do meu prato. Pude reconhecer algumas palavras escritas nela.
“Que apesar de tudo, as pessoas são capazes de perdoar.”
- Aquele garoto quase me cegou, não precisava de tudo isso.
- Eu tive que comprar uns cinco pacotes de doces para ele fazer esse favor para mim. Quando a foto ficar pronta, eu te dou. - Continuava com o mesmo sorriso.
Certo, eu fiquei totalmente sem graça, mas aquilo foi um dos gestos mais legais e mais românticos em questões de amizade que alguém fez para mim.
***
Não demorou nem o dia acabar para Tony me mandar a foto. É, ela ficou bizarra. Nossos rostos surpresos e brancos com o flash exagerado. Sem demoras, peguei um porta retrato velho e a coloquei, ao lado de algumas fotos que já habitavam minha cômoda. Um pouco melhor com meus pensamentos, resolvi descer até a biblioteca para estudar um pouco, mesmo que seja quase torturante.
Escolhi uma mesa reservada, uma mesa quase no fim daquele lugar. Abri três livros de Poções na minha frente, peguei um pedaço de pergaminho e mais um caderno praticamente em braco e comecei a ler e fazer anotações. As quatro primeiras folhas foram tranqüilas e proveitosas, a partir dali, me distraía com tudo.
Às vezes, e sem querer, adoto a filosofia da borboleta: por mais concentrado que você esteja em alguma coisa, se uma borboleta passar ao seu lado, você a acompanha com o olhar até não conseguir mais campo visual. Nesse tempo, pode ter passado minutos e todo raciocínio fora quebrado ou pode ter se passado uma eternidade e uma vida fora quebrada.
Será que eu vou querer adotar essa filosofia até o fim dos meus dias? Posso adotar Draco como uma borboleta. Eu sinto, por mais que seja egoísta, que ele é passageiro, assim como muitas coisas nessa vida. Draco é uma incógnita. Eu nunca irei saber o que se passa naquela cabeça loira, ele nunca se abrirá totalmente para mim pois ele teme que eu saiba toda a verdade.
Deixando esse assunto de lado, quero voltar a me concentrar nas minhas lições antes que alguèm chegue aqui e acabe com esse momento solitário.
- Senhorita Granger?
O que foi que eu disse?!
- Pois não, Professora McGonagall. - Disse fechando o livro e me apoiando em cima dele.
- Pode me acompanhar até minha sala um minuto? - Olhei aquele trabalho em vão que fiz nessa meia hora e consenti arrumando minhas coisas.
Prometi que continuaria em meu quarto depois de sair da sala da professora. Seguindo a velha até sua sala, entrei e encontrei com três alunos. Dentre eles, Dino Thomas, Neville e mais uma menina que eu não sabia o nome. Tinha quatro cadeiras a frente de sua mesa, só faltava eu para preenchê-las. Sentei-me dando um sorriso para os meninos e logo a professora tomou seu lugar.
- Bom, eu quero ser breve. - Estava séria e isso me deixava nervosa. - Vocês quatro precisam de uma ajuda com as notas e eu estou propondo um trabalho extra que valerá para todas as matérias. Eu não sei como vocês deixaram a situação chegar a esse ponto justamente no último ano de vocês, mas temos que reverter esse quadro.
- Podemos ver as nossas notas, professora? - Perguntou Neville.
- Ora, senhor Longbotton, se está aqui hoje, é porque não são das melhores, concorda? - Neville ruboresceu. - O trabalho está especificado nessa folha. - Entregou uma para cada um de nós. - Cada um pegou uma matéria extra curricular diferente. - Caí nos ombros.- Algum problema, senhorita Granger?
- Eu peguei Adivinhação! A senhora sabe o quanto eu acho leviana essa matéria.
- Não fui eu que escolheu, senhorita, foi Dumbledore, ele tem motivos para selecioná-la. O trabalho é para ser entregue daqui duas semanas em minhas mãos. Quero relembrados que todos os itens dessa folha devem ser levados a sério e serão cobrados fielmente. - Pelo que eu vi, havia vinte tópicos de, pelo menos, três linhas cada um. - Bom, alguma dúvida?
- Professora, aqui está dizendo que teremos que fazer uma apresentação com amostras, evidencias, qualquer coisa que ilustre nosso trabalho. - Disse a menina que eu não sabia o nome, lendo um dos tópicos. - Para quem exatamente é essa apresentação?
- Para todo o sétimo ano, um seminário completo. - Meu queixo caiu. - Mais alguma dúvida? - Silêncio de ambos. - Ótimo, podem voltar para suas casas.
Fui a primeira a levantar. Esqueça todos os planos para essa noite. Esse trabalho sugaria todo meu tempo e todas as minhas energias, tinha que correr com ele. Olhei no meu relógio e fui direto até a biblioteca. Lá, pedi todos os livros de Adivinhação avançada que Madame Pince poderia me emprestar naquele momento. Saí com, pelo menos, dez livros nas mãos.
Certo, uma visão estranha: Hermione Granger voltando a ser 'nerd'. Passei por Parvati, Deena, Anne e Sarah que entortaram o pescoço para ver se era verdade mesmo. Eu não parei, não as olhei muito menos quis puxar algum assunto. Peguei mais que depressa meu caminho para meu quarto.
Sei, eu não devia olhar para atrás, mas elas estavam me seguindo. Só parei quando fiquei a frente da porta do meu quarto, e elas, um degrau abaixo do meu. Abri a porta ainda sem me virar e dei espaço para que elas entrassem.
- Vamos logo, vai.
Abriram um sorriso largo e correram para me abraçar, as quatro de uma vez só. Eu estava segurando mais de dez livros, foi inevitável o tombo que levamos. Depois de dar algumas risadas, elas me ajudaram com os livros e todas entramos no quarto.
- Pra que tudo isso? - Perguntou Parvati colocando na cama.
- Trabalho extra-salva-notas da Minerva. - Respondi colocando o resto do lado e tirando minhas sapatilhas. Sentaram na cama, nas poltronas e eu me sentei no chão, encostada a cama.
- Ainda está com ele? - Perguntou Sarah e eu logo concordei.
- Mas eu não sei por quanto tempo. - Disse agarrando os joelhos.
- Se cansando de novo? - Indagou Parvati de mal gosto. Tenho que confessar que até disso estava com saudades.
- Não, não é isso. Ele é Draco Malfoy, filho de comensais podres de ricos super conservadores. Eu sou Hermione Granger, filha de dentistas trouxas, é surreal.
- Agora você entende o que dizemos.
- Em partes.
- Vai terminar com ele? - Eis a questão.
- Talvez eu espere ele terminar comigo.
- Por que? - Perguntou Anne. - Termine logo se não está feliz.
- Não quero magoá-lo. - Segurei ainda mais os joelhos contra o corpo. - Quero- - Engoli seco. - que ele perceba o que está fazendo. Quero que ele acorde para vida e veja que o que estamos vivendo é quase um conto de fadas impossível.
- É, sua vida é cheia. - Disse Parvati num mero sorriso.
- E eu estou cansada deles. Contos de fadas são para princesas em seus castelos de cristais. Eu não sou nenhuma menina digna de uma coroa na cabeça, eu sou normal! Tenho uma vida normal! - Respirei me levantando e indo até a penteadeira com os braços cruzados. - Ele sim é um 'príncipe', merece coisa melhor.
Sarah levantou-se e foi atrás de mim segurando em meus braços, olhando nos meus olhos através do reflexo do espelho.
- Não diga isso, Mione, ele não merece coisa melhor, você é perfeita para ele. Ele tem que acordar mesmo. - Logo, todas estavam ao meu lado.
- Nós fomos egoístas, viramos as costas para você quando você mais precisava. - Suspirei.
- Talvez até fosse melhor assim. - Sarah deitou a cabeça em meu ombro e Parvati me abraçou de lado. - Eu ia conflitar com vocês, ia ser pior ainda.
- Mas agora estamos aqui, tudo está voltando ao normal. - Fechei os olhos e quando vi, todas me abraçavam.
O clima de ternura e amizade até me deixou emocionada, quis chorar mas não deixei as lágrimas escorrerem.
***
Fizemos uma noite do pijama improvisada no meu quarto. Mesmo tendo que acordar as sete horas da manhã no outro dia, ficamos conversando até altas horas. Meus estudos esperariam só mais essa noite, tinha que comemorar. Soube de várias coisas que estava por fora. Dylan e Parvati estão mais firmes do que nunca, Anne entrou mesmo para o coral da escola, coisa que me deixou extremamente surpresa e Sarah estava tendo aulas de culinária com alguns elfos que fez amizade enquanto cumpria uma detenção na cozinha.
Deena me contou uma coisa que me deixou muito intrigada: Rony saia quase todas as noites com Harry e voltavam quase de manhã. A loira se queixou por Ron estar sempre acabado no outro dia e dormir a tarde inteira, eu não dei muita opinião sobre o assunto quando começou o pequeno debate sobre ele pois tinha medo de metê-las ainda mais nesses assuntos sérios e perigosos.
O que será que eles andam fazendo? Essa pergunta me perturbou quase a manhã inteira. Dividi apenas dois períodos com Draco e os outros, com alguma das meninas. O loiro estava estranho, pensativo e quieto, isso me deixou ainda mais intrigada. Na hora do almoço, me sentei com ele e o questionei sobre esse mistério todo que nutria desde manhã.
- Não é nada, amor. - Disse mexendo a comida com a ponta do garfo.
- Você está muito pensativo, está me deixando preocupada. - Mordi o lábio inferior.
- Relaxa, não precisa ficar preocupada comigo. - Disse num mero sorriso pegando seu suco e o descendo num gole só. No movimento que fez com o braço direito, tive uma leve e triste impressão de ver algo desenhado no lado de dentro do seu braço.
Passei uma das mãos na nuca respirando fundo e voltando ao meu prato. Só pode ser paranóia, Hermione, só pode ser, ele não faria isso com você. Com o resto do almoço em silêncio, levantei-me e disse que iria estudar a tarde inteira. Não questionou nem perguntou, apenas acenou com a cabeça e continuou comendo lentamente.
Droga.
***
- Até que você pegou um fácil, Mione! Eu peguei Estudo dos Trouxas! Não sei nada disso! - Choramingou Neville, meu companheiro de estudos naquele momento.
- Eu odeio Adivinhação, odeio, odeio, odeio!
- Antes odiar e saber o básico do que odiar e não saber nada! - Deitou a cabeça no livro. - Já sabe no que vai se aprofundar?
- Acho que nas Bolas de Cristais, ou quem sabe, nos Sonhos.
- Um oráculo é uma boa.
- O problema é fazer um oráculo. - Debrucei nos livros como ele. - E você?
- Não tenho idéia.
- Pode descrever um dia trouxa.
- Acho muito fraco, Minerva espera espetáculos! - Bufou.
- Uma vida trouxa. - Ergueu uma sobrancelha para mim.
- E como eu vou fazer isso?!
- Você está olhando para uma pessoa que até os onze anos de idade, achava que bruxas não existiam. - Sorri maliciosamente e ele entendeu.
- Você me ajudaria?
- Se você me ajudar também. - Entendeu a mão e eu a apartei.
- Feito.
Neville pegou os livros Oráculo dos Sonhos, Adivinhação Avançada Para Leigos e Sonhos e seus Mistérios. Eu descrevia em tópicos tudo que ele precisava saber sobre os trouxas. Depois de quase um pergaminho inteiro, eu sugeri que fizéssemos primeiro o seu trabalho e depois o meu já que o dele é bem mais fácil.
Pediu que contasse história dos trouxas, coisas do cotidiano. Se assustou com o fato de estarmos acostumados com visitas inesperadas, flagrantes e copos e pratos quebrando toda a hora. Passamos a tarde toda conversando sobre isso, fazia várias anotações, ficava cada vez mais vidrado naquele mundo trouxa. Pedi para Madame Pince livro sobre os trouxas e ele me deu cinco. Disse que não podia ficar focado nas minhas histórias, tinha que pegar fragmentos dos livros e fazer uma versão bruxa sobre os fatos.
E assim, as horas foram se passando e quando percebemos, já era hora de partirmos para o jantar. Peguei apenas os livros que ia usar e ele também. Agradeceu muito e prometeu que amanhã era minha vez. Enquanto ele ia para o dormitório masculino, eu ia para meu quarto.
Encontrei Draco descendo as escadas, provavelmente, indo ao jantar. Parou a minha frente, dois degraus acima, com as mãos no bolso e um leve sorriso.
- Menina estudiosa.
- Menina precavida, você quer dizer. Pode esperar um minuto? Vou só colocar essas coisas lá dentro e já vou jantar também.
- Não vou jantar. - Olhei confusa e com uma expressão séria no rosto.
- Então, aonde vai essa hora?
- Sala Comunal da Sonserina, preciso falar com a Pansy. - Engoli seco e olhei para os próprios pés.
- Ah, claro, Pansy. - Suspirei e fui até a porta do meu quarto.
- Você se importa? - Virei-me no mesmo momento.
- Lógico que não, pode ir encontrar a Pansy. - Entrei no quarto e o fechei no mesmo momento. Encostei-me a porta e bufei olhando Bichento que estava parado a minha frente, balançando seu rabo felpudo de um lado para o outro. - Você também é assim, Bichento? - Ri nervosamente e deixei as minhas coisas na cama para ir jantar.
***
É, eu não consegui dormir. Eu ficava pensando no sumiço daquele loiro, nele e na Pansy, em cenas obscenas. Era horrível, tinha que acabar com essa dúvida! Levantei-me da cama, olhei o relógio que marcava uma e quarenta da manhã. Descalço e com o sobretudo escolar, saí do quarto olhando para os dois lados e subindo até seu quarto.
Parei na sua porta e ergui uma das mãos para bater naquele pedaço maciço de madeira só que ouvi vozes ecoarem de lá. Parei meu movimento e aos poucos, grudei o ouvido na porta. Era a voz de Draco e de mais uma pessoa, parecia que essa segunda estava falando de um outro lugar, como um telefone em viva-voz. Mas como essa tecnologia é avançada de mais para essa espelunca que eu ainda chamo de escola, só podia ser alguma conexão de magia negra.
- Não sou obrigado a fazer isso! - Ouvi Draco quase berrar.
- Escute, Draco, ele não ficará feliz com você...
Ele?
- Esqueça, pai! Esqueça! - Estava falando com Lúcio.
- Draco Malfoy, não ouse me desobedecer!
- Já sou um bruxo maior! Acabou a palhaça, eu não quero mais isso!
De repente, um silêncio fez-se e passos ficaram mais altos. Num salto, subi mais degraus e me escondi num dos vãos que dão acesso até outra porta. Draco abriu a porta, esticou o pescoço para fora e retornou para dentro.
Meu coração quase saiu do meu peito. Aliviada, desci até meu quarto novamente e voltei a deitar na minha cama cobrindo a cabeça com o travesseiro.
'Ele' só pode ser Voldemort.
O dia amanheceu finalmente e eu pulei da cama para tomar um banho demorado e tirar o cansaço do corpo. No mesmo momento que desliguei o chuveiro, batem a minha porta. Enrolada na toalha e com o sobretudo nos ombros, a abri e reconheci Draco ali, entrou-se sem demora e eu fechei a porta.
Bom dia. - Disse entrando no banheiro e me trocando rapidamente.
Bom dia. - Passou uma das mãos na nuca e ficou encarando o chão. Sentei-me em frente a penteadeira e tomei a poção para secar e definir meus cachos.
- Então, como passou a noite? - Perguntei me maquiando levemente.
- Bem.
- Acordou cedo.
- Nem dormi direito. - O encarei pelo reflexo do espelho.
- Tem alguma coisa que você quer me contar? - Draco ficou mudo, molhou os lábios, respirou fundo e olhou nos meus olhos através do reflexo também.
- Não.
- Ok, e ontem? Voltou muito tarde?
- Não, não, menos de dez minutos. Pansy tinha ficado com quase todos meus livros de Poções e não queria devolver.
- Ah, sim.
Aquela conversa estava me dando sono.
- Você tem medo que nosso relacionamento caia na rotina? - O olhei e ri.
- Falou como se estivéssemos casados! - Me levantei e calcei minhas sapatilhas.
- É quase isso, concorda? - Disse num sorriso maroto. - Namorar nessa escola é um casamento! Não tem para onde fugir, não tem como não responder aos recados, não tem como simular uma dor de cabeça.
- É, nisso você tem razão. - Enlacei meus braços em volta de seu pescoço e fiquei olhando no fundo dos seus olhos.
- A noite, precisamos conversar.
- Não pode ser agora?
- Daqui a pouco, a sineta bate, quero conversar com calma.
- Tudo bem. - Colei seus lábios nos meus e logo me separei pegando minhas coisas. - Vamos tomar café.
No café da manhã, ele se sentou com seus amigos e eu com minhas amigas. Tinha uma leve impressão que ele ia terminar com tudo. Isso seria um alívio sem tamanho e uma dor incontrolável. Deena estava sentada com Ron, Gina e Harry um pouco longe de nós, a ruiva olhava com um sorriso malicioso para mim e eu já estava me enchendo.
- Será que ela quer uma foto?! - Perguntei até um pouco alto.
- Relaxa, a Gina tá um saco ultimamente.
- Por que você diz isso, Sarah?
- Tá insuportável os chiliques que ela dá por causa do Harry! Ela fica achando pêlo em ovo e já arruma desculpa para terminar! Até você já foi argumento!
- Eu sempre sou o melhor argumento dela. - Disse rancorosa, olhando para ela novamente.
- O Ron não gostou muito que voltamos a falar com você.
- O Ron é cabeça dura, ele só vai voltar a falar comigo quando eu terminar com ele. - Bebi meu suco.
E lá se foram as aulas matinais. Eu juro que tentei absorver a maioria mas estava quase impossível! Meus pensamentos eram, quase todos, focados em Draco Malfoy. Na hora do almoço, não o vi. Engoli a comida e logo saí do Salão acompanhada por Neville, hoje seria o dia para nos dedicarmos ao meu trabalho.
Estava vendo que um dia não era suficiente, perderíamos uma semana só de brincadeira com esse trabalho. Fui até elogiada por Madame Pince, disse que eu estava voltando a ser quem eu era antes. Mal sabe ela que está totalmente enganada.
Fazer um oráculo sem ser um oráculo é uma tarefa extremamente difícil, estava quase desistindo e ficando com as simples bolas de cristais.
- Isso não entra na minha cabeça! - Deitei num dos livros. - Eu nem sei ler meu horoscopo direito!
- Ah, pelo menos descobrimos que oráculo é uma resposta dos Deuses ao seu desejo de descobrir o futuro.
- Não é mais fácil esperar e ver o que acontece?! - Rolei os olhos.
- “Qualquer objeto - moeda, cartas, búzios – podem dar as respostas procuradas para simples fatos do dia como se hoje irá fazer sol ou não, como também, mostrar o que será o resto da sua vida.”
- Cara ou coroa virou oráculo, por acaso?! - Ironizei.
- Hermione, não tá ajudando! - Disse aborrecido. - “Acredita-se, na Grécia antiga, que os sonhos eram ótimos oráculos; Zeus mandava mensagem através dos sonhos dos mortais...”
- Harry é um oráculo! - Disse sabiamente com um sorriso largo na cara. - Vou jogá-lo para a professora falando que esse é meu trabalho...!
- Harry tem sonhos esquisitos, nem sempre prevêem as coisas. - Rolei os olhos mais uma vez e voltei a deitar. - “Afrodite era consultada em Pafos, vila de ilha de Chipre, e se expressava nas entranhas e no fígado das vítimas sacrificiais; como Zeus em Olípia, essa método oracular se associa ao haruspício. Quanto a Atena, dava suas respostas através de um jogo de cascalhos e ossadas. Asclépio e Anfiarau, por inbubação (ver acima), davam conselhos terapêuticos aos consulentes, que deviam passar pelo menos uma noite no santuário, principalmente em Epidauro e Atenas para Asclépio, em Oropos (ao norte de Atenas) e em Tebas para Anfiarau. A resposta vinha na forma de sonho a ser interpretado...” - Houve uma pausa. - Você pode falar dos deuses gregos! Você pelo menos sabe quem são eles, né?
- Lógico que sei, Neville! Me identifico com Afrodite. - Disse inflando meu ego.
A tarde foi realmente muito longa.
Depois de quase sermos expulsos, novamente, pela bibliotecária, cada um pegou seu caminho prometendo o mesmo encontro no outro dia. Por alguns instantes, eu esqueci que teria que confrontar com uma conversa nada agradável a pouco.
Passei pelo jardim e ouvi uma trovoada forte. Encolhi-me por impulso e logo olhei para o céu, várias nuvens negras cobria Hogwarts instantaneamente. Estranho. Todos os alunos começaram a se recolher para dentro e eu fiquei ali, parada, encarando o céu mais alguns segundos. Quanto tempo fazia que eu não via uma chuva?
Não sei mas não quero ficar aqui para descobri. Senti o primeiro pingo e logo os outros caírem rapidamente; Corri para o castelo e me abriguei, assim como a maioria dos alunos e alguns professores. Comentários como: ninguém esperava! Essa chuva é maluca! Isso deve ser as forças ocultas! Surgiram enquanto eu pegava meu caminho para a torre dos Monitores.
Entrei em meu quarto, deixei minha bolsa e meus livros respingados de chuva em cima da cama e logo joguei minhas sapatilhas pro alto. Deixa o mundo acabar lá fora, quero ficar aqui dentro enquanto meu mundo não caiu ainda. Abri a torneira da banheira e a deixei encher.
Eu sabia que não conseguiria tomar meu banho.
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