Graças a cobiça



Cap único, música The Kill. A músik está mais embaixo, onde realmente começa!

Tom e Ginny – Top TVZ


A Lua cheia iluminava sua pele branca; os dedos, com as unhas em vermelho-sangue, seguravam o cigarro que acabara de acender. Ela não sabia como nem porquê se deixara envolver tanto, mas já estava ali há algum tempo. O frio da noite fez com que os pêlos do braço arrepiassem, mas isso não a fez sair da sacada da bela mansão.

Suspirou, esfregando os braços tentando se aquecer. Os cabelos grandes e ruivos, balançaram com o vento, tampando um rosto cheio de sardas e com uma expressão séria. Olhou mais uma vez para o horizonte. Como era bela aquela visão! A luz da Lua deixava as árvores tão verdes, com um brilho prateado, e o rio perto dali refletia aquela grande esfera brilhante que há tanto tempo vem sendo companheira fiel de Ginny Weasley.

Com mais um trago ela tentava amenizar sua tensão. Por quê? Bom, não era todo dia que uma Weasley saía de casa para ir ao encontro do maior e maligno bruxo de toda a época.

Mais um trago, com o olhar distante, Ginny começou a pensar o que fez de sua vida: Terminou o seu sétimo ano em Hogwarts e resolveu que queria algo mais. Mesmo com toda a guerra que acontecia, ela resolveu que não queria ficar em casa. Nunca achou graça nisso, mas também não via graça alguma em ser uma heroína. Não desejava esse título. O que mais desejava era viver, ser livre, ser responsável por suas ações, e foi assim que saiu de casa.

Mas andar pelo mundo nunca foi fácil, é algo solitário. Para evitar, mesmo que não adiantasse, resolveu ir para o mundo trouxa, onde sabia que não seria reconhecida. Escolheu um pequeno apartamento em um bairro humilde, não queria chamar atenção! Mas quem não notaria uma garota ruiva, que já apresentava um corpo de mulher quase totalmente definido?

Ao sair pela noite, começou a conhecer os costumes trouxas e com eles veio o vício pelo cigarro. Algo que no início era somente de brincadeira se tornou perigoso, mas qual vício não é? Depois de um dia cansativo de trabalho e atormentada pela solidão, Ginny decidiu que não ficaria em casa e mais uma vez saiu para conhecer mais algum lugar divertido e trouxa. Fora então que algo que nunca esperou aconteceu.

Estava sentada em uma mesa, sozinha, quando um homem sentou-se na cadeira ao seu lado. Ele, com cabelos negros, olhos castanhos, com um olhar de adolescente, mas um brilho perturbador, não lhe era estranho. O olhou mais calculadamente: realmente não era de se jogar fora, um homem feito, de corpo bonito, mas um tanto quanto ousado na opinião dela.

- Só para me certificar, eu te convidei para se sentar ao meu lado? – perguntou, sarcástica.

- Não – falou o homem, com a voz grossa e fria.

- Então, não acho que seja educado você permanecer aí. Por favor, retire-se.

Ginny manteve a voz clara e irredutível, sem ter qualquer medo. Mesmo que no fundo algo lhe perturbasse na aparência desse homem, que não lhe era estranha.

- Ginny Weasley, como você trata tão cruelmente um amigo de tão longa data? – perguntou o homem, sem qualquer expressão no rosto ou emoção na voz.

- Amigo? De longa data? Sinto muito, mas não me lembro de você. E de onde me conhece?

- Sim, de longa data. Posso dizer que me considero seu amigo, e isso é para poucos... a data, bem, você ainda era nova, e vejo que hoje está mudada, virou uma mulher. O oposto total da garotinha insegura e imatura que conheci, e ouvir tantas confissões, de onze anos.

Ginny nunca foi tola e não se faria agora. Depois de tal confissão do homem à sua frente, ela teve total certeza que aquele era o Lord Voldemort, que todos temiam e que era o maior responsável pela guerra. Sem falar nada, nem ao menos olhar para ele novamente, levantou-se de sua cadeira, deixando sobre a mesa o dinheiro que pagaria a bebida, e foi embora do bar. Nunca se julgara egoísta, mas não queria fazer parte daquela guerra, não queria ver mortes, ver pessoas que amava morrerem, por isso se afastara, e, agora, ele viera atrás dela! Ginny não se interessou em saber o que ele queria, nem como a achara, só queria distância. Naquela noite, nem ao menos dormiu. Com o aparecimento de Voldemort, seus sonhos foram tomados por lembranças de uma criança que sofreu por um amor infantil e ingênuo.

Os dias se passaram e o homem não mais apareceu, deixando Ginny mais tranqüila. O que ela não sabia era que aquilo, era apenas mais uma artimanha de Lord Voldemort com ela. Já quando não se preocupava com o homem que a abordava, Ginny voltou a sair e se divertir na noite. E em uma delas voltou a encontrá-lo.

Com alguns copos de bebidas diversas, Ginny não mais ligava para nada. Não queria sair de onde estava e também estava cheia de ficar insegura com o homem que a abordava no bar trouxa.

- O que quer comigo, afinal? – perguntou seca, enquanto ele lhe sorria.

- Você – respondeu, sem emoção. – Vim parar em um lugar cheio de trouxas por você, ruiva. Quando criança esteve comigo, algo que agora pude ter de volta. Memórias que me custaram muito conseguir. E te olhar agora, uma mulher feita... eu sou um homem, minha cara, e não sou cego.

- Então veio atrás de mim por simples atração? – riu a ruiva. – Não conhecia esse seu lado homem.

- Realmente poucos o conhecem, ou seria melhor dizer,poucas? Creio que sim. As mulheres que escolho para mim não são comuns. E você se inclui nelas, minha querida. Venha comigo e lhe darei tudo o que deseja.

- Tudo? – perguntou novamente, tendo um balançar de cabeça como confirmação. – Independente do que seja? – seus olhos já brilhavam.

- Tudo o que eu puder fazer por você, farei – Voldemort falou, olhando-a nos olhos, agora seriamente.

Ah, como a cobiça é algo que corrompe a alma humana! Quem diria que Ginny Weasley, a caçula tão querida e desejada, ficaria com o maior bruxo das Trevas? Mas a tentação é algo que pessoas fracas não conseguem evitar. E Ginny agora, sim, sabia como era fraca.

Mais um trago do seu cigarro a trouxe de volta ao presente. O que esperava de seu futuro? Continuar naquela mansão enquanto sabia que sua família era caçada? Nunca tivera coragem de pedir a Voldemort que não atingisse sua família, sabia que seria em vão e não tinha coragem de enfrentá-lo.

Tom era um homem diferente dos demais que tivera: mesmo sendo cruel e vil com as pessoas, quando estavam a sós no quarto, as portas fechadas e somente as paredes como testemunha, ele se mostrava carinhoso e dedicado a ela. E aquilo a prendia. Ele era envolvente, misterioso, quente, e sabia fazê-la perder a razão nas horas certas.

 30 Seconds To Mars - The Kill (Acoustic)

E se eu quisesse terminar?
Rir de tudo na sua cara
O que você faria?


Quantas vezes ela já não pensou em terminar com o que julgava ser um absurdo? Quantas vezes já não se viu gritar com ele que não queria mais nada? Roupas, jóias, mordomias, o corpo alvo dele... Quantas vezes... Mas nunca passava daquilo: Imaginar. Nunca fizera algo de real.

E se eu caísse no chão?
Não pudesse mais agüentar
O que você faria?


O remorso que muitas vezes tomava conta de Ginny a fazia pensar em outras besteiras, pensar que não teria mais motivo para viver, que não via mais razão em sua vida, uma vez que sabia que a família não a aceitaria agora, não agora!

Estava esperando pela chegada dele, para informar que o herdeiro do Lord das Trevas estava a caminho, com apenas dois meses de gestação. Mas ela não sentia alegria, não sentia carinho, aquilo a matava!

Mais um trago e a decisão estava tomada. Se fosse para viver, se fosse por algo que valesse a pena, por uma vida boa, não aquilo que levava. Ginny mal sabia o que era sorrir se não fosse por ganhar um mimo.

Tom adentrou ao quarto com a mesma impunidade que andava pela casa, fechando a porta atrás de si. A olhou e sorriu.

- Está linda essa noite, minha querida – falou olhando-a desejoso.

- Bondade sua, Tom – tentou sorrir.

- Mas o que se passa? Sempre ficava feliz com minha presença em seu quarto. Já não a agrado mais? – perguntou com ódio no seu olhar.

- Não me agradar? – deu-se o direito de pensar. – Sim, você me agrada. Me enche de presentes, mimos e mordomias – o viu sorrir. – Mas acho que somente isso não é o suficiente para mim – falou calmamente enquanto se encaminhava à penteadeira ainda com o cigarro na mão. – Espero mais, sabe? Mas não como você pensa, não quero mais coisas materiais. Uma novidade me fez pensar na vida, pensar no futuro...

- Novidade? Que novidade é essa? – perguntou o homem com os olhos faiscando, beirando ao vermelho.

- Um filho – disse sem emoção alguma. – E, claro, seu.

- Um filho! – admirou Voldemort, e pela primeira vez a ruiva viu a felicidade verdadeira nos olhos dele. – Meu herdeiro! Um sangue-puro para continuar a minha missão de purificação da raça!

- Que bom que está feliz. Agora vem outra novidade, meu amor. Não comemore, não quero esse filho, não tenho carinho, nem apreço por ele. Não o desejo e não o terei! E hoje mesmo irei embora.

Ginny mantinha-se forte, sem saber de onde tirava a coragem que não tinha. Sabia que se tentasse fugir seria pega e a única coisa que conseguia pensar era em formar um plano em cima da idiotice que acabara de dizer.

Venha me destruir!
Me enterre, me enterre!
Eu terminei com você!


Voldemort a olhou demoradamente antes de sorrir. Era quase um esganar.

- Vai embora e não terá meu filho? Realmente eu gostaria se saber como faria isso. Daqui você não sai, não tem varinha, pois está comigo há muito tempo. E quanto ao meu filho, nunca permitirei que faça algo contra ele. Uma vez lhe disse que as mulheres que escolho para mim não são comuns, e você não é, por isso se mostre um pouco inteligente e veja que não tem saída e me poupe o trabalho de atrapalhar seus devaneios!

Ginny estava sem reação. Como poderia ter esse assombro de coragem, quando nem saída tinha? Era realmente muito ridícula. Abaixou a cabeça para que o homem, que agora lhe dava tanta raiva, não visse a tristeza em seus olhos.

Sentiu as mãos dele a puxarem pela cintura, levantando seu rosto e lhe roubando da boca um beijo avassalador que não foi correspondido. Voldemort, no entanto, não se abalou com o fato. Jogou-a na cama rasgando a fina camisola de seda preta que ela usava, ao puxa-la tão brutamente.

E se eu quisesse lutar?
Implorar pelo resto da minha vida
O que você faria?


- Por favor... – murmurava Ginny sem forças; ela implorava - Por favor, não... eu não quero... me solte...

Mas o moreno não lhe dava ouvidos; seu desejo sempre foi maior e nunca sentiu piedade de nada, nem de quem lhe dava prazer.

Você diz que queria mais
O que você está esperando?
Não estou correndo de você


- Cale-se – mandou, batendo em sua face. – Não estou aqui para ouvir lamúrias.

Ginny se entregou ao choro e ao desespero. Não tinha o que fazer, para onde correr. Abriu os olhos e viu o teto, o corpo do homem sobre o seu, que a penetrava sem dó. A secura dela não era algo que o infligia, mas a machucava muito. Era uma dor enlouquecedora.

Virou o rosto para o lado, tentando ver algo que pudesse se distrair. A mesinha de cabeceira estava próxima. Levou a mão à mesa e a segurou na esperança de passar para a madeira, com a força que a segurava, toda a dor que sentia.

Olhou mais uma vez para a mesa e viu sua chance. Sem parar para pensar pegou o abajur nela e acertou com toda a força em Tom.

Ele estava em seu ápice, era maravilhoso o corpo daquela mulher, estava chegando ao clímax quando sentiu algo lhe atingir.

Venha me destruir!
Me enterre, me enterre!
Eu terminei com você!
Olhe nos meus olhos
Você está me matando, me matando!
Tudo que eu queria era você!


Olhou a ruiva: sim, ela o tinha traído. Ele estava zonzo, não conseguia pensar, mas a via com uma luminária na mão de onde escorria sangue. Riu.

- Você espera destruir o Lord Voldemort de uma forma tão ridícula? – gargalhou. – Não sabe com quem está mexendo, ruiva. Assim que me matar, os meus seguidores te acharão, e aí estará acabada. Eu serei capaz de voltar do inferno para te torturar pessoalmente.

- Pode fazer o que quiser. Graças a você não sei mais o que sou, não tenho a capacidade de sentir emoção alguma, não sinto nada a não ser nojo de você! Você me dá náuseas, e, pensar que tenho um filho seu, me dá mais ódio ainda. Eu mudei, mudei para pior, graças a você, você, Lord Voldemort, que me fez ficar assim. Parabéns, você criou a pessoa que matara você para poder sorrir.

Eu tentei ser outra pessoa
Mas nada pareceu mudar
E eu sei agora, isto é o que eu realmente sou!
Finalmente eu me encontrei! Lutando por uma chance
Eu sei agora,
ISTO É O QUE EU REALMENTE SOU!


- Minha querida – Voldemor falou -, vai mesmo matar a pessoa que te deu tudo que tem?

- A pergunta certa seria: “Vai matar mesmo a pessoa que te fez o monstro que é?” E eu responderia: “Sim, com muito orgulho!” Pois uma vez na vida me mostraria corajosa e faria algo de útil para minha família.

Venha me destruir!
Me enterre, me enterre!
Eu terminei com você
Olhe nos meus olhos!
Você está me matando, me matando!
Tudo que eu queria era você!
Venha me destruir!
Me destruir, me destruir!


- Mataria o pai do seu filho? – questionou mais uma vez.

- Eu não tenho filho, o que tem em minha barriga é fruto de um monstro, e nada que venha de você me interessa.

Voldemort riu. Realmente ela estava se mostrando uma outra pessoa. Uma mulher que deveria ter se tornado tempos antes para governar ao seu lado, e não tentar matá-lo.

- Vamos, querida, vai me matar mesmo? Até agora não vejo nada que me indique esse ato. A vejo se lamuriar e mais nada. Não quer realmente fazer isso. Olhe nos meus olhos e fale que quer me destruir, que quer matar o pai de seu filho, o homem que te fez mulher!

- Você não é nada para mim, nunca foi nada. Por sua causa fui morrendo aos poucos. Em mim sobraram somente amargura e rancor. Você foi me matando aos poucos...

- Nunca a matei, a transformei em uma pessoa melhor, a transformei em uma mulher para ficar do meu lado, lutar e governar junto a mim.

- Mas chegou o momento de dizer adeus, Tom – falou, ignorando as palavras do homem.

Levantou mais uma vez o abajur, mas não teve coragem de atacá-lo. Suas mãos tremiam, o desespero já tomava conta de Ginny.

- Vai, querida, me mate! – zombou. – Sempre soube que não era capaz, agora me ajude que não consigo me mexer direito, essa brincadeira sua me causou alguma coisa.

Ginny levantou-se da cama, sem se preocupar com a ausência de roupa e o sangue nas mãos, e abaixou-se a uma curta distância dele. Mas não encostou em Voldemort, mexeu em suas roupas no chão. Não demorou a achar o que procurava no bolso das vestes negras com detalhes verdes.

Puxou a varinha negra e lustrosa de Tom e lhe sorriu.

- Meu amor, não esperava que você morresse mesmo com um golpe de um objeto de porcelana. Mas, a isso, acho difícil você resistir, e não precisa voltar – falou, apontando a varinha para o peito de Voldemort -, nos vemos no inferno! Avada Kedavra! - ordenou sem piedade e cheia de rancor.

O jato de luz verde que saiu da varinha acertou o peito do homem. Aos poucos os olhos castanhos foram ficando sem brilho e perdendo o mesmo, já raro. Sem vida, o corpo caiu novamente no chão. Ali estava acabado o motivo do tormento da ruiva, mas não o tormento em si. A agonia dentro dela ainda se mantinha.

Ginny apontou a varinha para si própria e fechou os olhos, deixando apenas uma única e última lágrima cair por eles.

E se eu quisesse terminar?


- Avada Kedavra! – ordenou pela segunda vez.

E agora não havia mais luz, não havia cheiro, vento, tristeza, agonia, desespero. Somente o silêncio e a paz que sentia.


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