Capítulo Único
Vejo grossas gotas de chuva caírem insinuantes e ritmadas, pela vidraça do meu quarto. Estou há horas sentado aqui, encarando a pena, o tinteiro e o pergaminho em branco, e tudo o que eu consigo fazer é observar a água cair do céu já escuro, mas sem estrelas. Talvez por esperar a tempestade cessar, talvez por não conseguir parar de admirar a freqüência em que os raios caem por aqui.
Mas honestamente, acho que o motivo por me sentir impotente demais para fazer brotar palavras diante desse pergaminho é as lembranças que me surgem a cada temporal. As lembranças daquele tempo em que eu era Harry Potter, O Menino Que Sobreviveu. Apesar de aquele Potter ainda ser citado em lendas, ninguém se importa com o fim da história. Melhor assim. E agora, passado vários anos, sou apenas Harry. O Harry que eu sempre quis ser, entretanto. E, sim, seria um pouco humilhante se soubessem que me tornei esse escritor sem palavras.
A ventania de inverno que acompanha a tempestade é gélida e arrepiante. Faço esforço para tirar os olhos do pergaminho e pegar um agasalho, tentando me livrar do frio que me desgasta. Assim como naquele inverno.
Lembro-me que Hogwarts inteira parecia risonha naquela tarde. Menos Luna. Era rara às vezes em que eu e ela discutíamos, mas naquele dia aconteceu. Por mais que eu tente, não consigo lembrar o motivo da briga... Apenas recordo que ela havia sumido da biblioteca com a expressão mais chateada, também intrigada, que eu já tinha visto ela fazer.
— Deixe, Harry! Talvez ela precise de um tempo sem você na cola dela — eu tive a impressão que as palavras de Rony haviam saído mais grossas do que ele esperava, e Hermione lhe deu um ponta-pé discreto que eu fingi passar despercebido.
Sem responder absolutamente nada, saí da biblioteca e me escorei na janela do corredor, inclinando minha cabeça para o vidro, com esperança de que a paisagem chuvosa acabasse com meu nervosismo. Brigar com Luna era uma coisa tão improvável de acontecer, que me senti péssimo em relação a nossa discussão. Qualquer que fosse o motivo.
Apesar dos olhares assustados dos alunos ao escutarem algum som desconhecido, o pânico causado pela volta de Voldemort havia relativamente passado; mas eu nunca consegui manter a calma quanto aos perigos que até Hogwarts fornecia.
Fiquei ali algum tempo. A chuva cessava lentamente e isso deixava o céu mais azul... Sorri distraído. Uma das nuvens parecia ligeiramente um guarda-chuva. Outra, um salgueiro um tanto deformado. Quando me dei por conta, a minha desatenção havia tomado mais de meia hora.
Voltei para a biblioteca e não fiquei nenhum pouco surpreso em ver que Hermione continuava lá, acompanhada de um Rony um tanto quanto entediado. Nós éramos uns dos poucos alunos que ficaram na escola durante o feriado, e a biblioteca estava quase vazia.
— Desculpa, Harry. Não quis ser bruto — Rony se apressou em se desculpar, quando notou que eu havia voltado.
— Tudo bem — respondi sinceramente, dando um sorriso que Hermione julgou satisfatório. — A Luna, er, ela apareceu?
— Ah, Harry... Não a vi por aqui. E na sala comunal da Corvinal era também não estava, segundo as garotas de lá. Mas fica sossegado, ela logo vai aparecer. Você sabe como ela é. — Hermione disse, voltando a mergulhar nos livros.
Apesar de tudo, não consegui ficar calmo. Sentei junto a eles e folheei Quadribol Através Dos Séculos desanimado. Aquela tarde parecia demorar demais para passar. Outra meia hora se passou, decidi que precisava de outro tipo de distração. Pensei que Luna estivesse chateada comigo e me evitando. Que havia ficado realmente magoada pela nossa discussão. E quando me dei conta disso, a culpa caiu como uma tempestade sobre mim.
Consigo lembrar vagamente do corredor quase vazio, apenas ocupado pelo mesmo vento de inverno que estou sentindo agora, anos depois. Me sentei no chão, com as costas escoradas na parede. Estava realmente nervoso, queria ver Luna e pedir desculpas... Fechei meus olhos pesados pelo cansaço e permaneci ali. Não sei quanto tempo se passou até que ouvi uma voz familiar que me fez despertar e ficar de pé.
— Oi Harry. Por que está sentado no chão do corredor? — Luna perguntou, com uma expressão docemente preocupada com o meu aparente cansaço. Encarei seus olhos azuis, grandes e profundos e me senti paralisado por algum instante. Percebi que aquela era a primeira vez que eu realmente reparava nos olhos dela.
— Eu... Nada... Hum, aonde você estava? — Me senti envergonhado e confuso e virei os olhos para a janela. Vi que a chuva já havia parado por completo.
— Eu estava esperando a tempestade passar — ela falou simplesmente. Luna também observava o céu, mas não pude distinguir sua expressão.
— Por quê? — foi a única coisa que eu consegui dizer. Queria perguntar se ela estava chateada comigo, lhe pedir desculpas, dizer que eu nunca mais discutiria com ela. Mas tudo isso fugiu do meu pensamento.
— Se você esperar pacientemente a tempestade passar, terá a chance de ver o arco-íris, Harry. A tempestade é só um aviso. Ela conta que se nós tivermos sorte, poderemos contemplar a presença das cores.
Luna parecia falar mais para ela mesma do que pra mim. Só então percebi o arco-íris, com suas sete cores reluzindo no vidro da janela. A única coisa que eu consegui, foi dar um sorriso que eu julguei ter saído meio abobado. Ela continuava a admirar o arco-íris e eu continuei a admira-la. Nenhuma palavra foi necessária.
Os longos cabelos loiros de Luna balançavam por culpa do vento. O arco-íris foi desaparecendo aos poucos. “Olhe aquela nuvem... Parece uma borboleta!”, ela falou alegremente, apontando para o céu. Eu não vi nada, mas sorri em resposta.
— Você promete que vai ficar assim, do meu lado sempre? — Ouvi minha própria voz dizendo essas palavras. Eu não queria ficar nenhum minuto longe dela, a queria eternamente comigo. Uma onda de constrangimento passou por mim, quando ela demorou a responder. Fiquei feliz em ver que ela sorria, entretanto.
— Prometo — ela disse firmemente, porém terna. Posso até lembrar de o quão quentes seus lábios estavam, apesar do frio...
E, depois dessa tarde, a promessa estava sendo cumprida. Pouco tempo se passou até eu descobrir que não conseguia viver sem Luna. Ela foi o meu arco-íris que surgia depois das tempestades.
Ela coloria o inverno, quando tudo não passava de branco, marrom e cinza. Eu nunca tinha visto tantas cores numa pessoa só. Recordo de um passeio, um casaco verde fosforescente, e sua voz doce. Ficamos horas deitados na neve, deixando nossos rastros pelo chão. E na primavera, quando Luna se misturava com as intensas cores das flores...
Mas ela se foi e não deixou pegadas. A promessa foi quebrada. Uma vez que ela foi o meu arco-íris, agora eu vivo numa interminável tempestade. Contudo, eu deveria saber que ela nunca pertenceria inteiramente a mim. Luna pertence ao céu. O arco-íris pertence ao céu. E isso ninguém pode mudar.
Primeira Harry/Luna que eu escrevo. Sempre gostei muito do casal, mas nunca tive coragem de escrever nada... mas, bateu inspiração, e tá aí.
Fanfic criada exclusivamente para o Challenge Gênero Livre FFHP.
Se alguém leu, pode comentar?
Obrigada :D
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Comentários (2)
Oi OiAdorei Sua Fic!BJSVisitem meu Tumblr http://er-piskey.tumblr.com/
2012-02-14ooiii!! Parabens pelo seu fic! Gostei pacas! So deixei comentario porque sou fa do Harry e da Luna! Nao queria que ele ficasse com a gina! Bom, bjs pra vc! Bjs!
2011-04-06