SEIS
Seis
A primeira coisa que eu fiz no sábado à tarde foi pegar o telefone do Harry no auxílio à lista. Depois, passei o número para Meredith e para Jill, assim como para as três outras garotas que me ligaram naquele fim de semana. Dei a todas elas o mesmo conselho: Harry é o tipo de cara aberto e direto. Telefone para ele e faça pessoalmente todas as perguntas que quiser. Não seja tímida. Harry adora responder perguntas sobre a sua vida.
Levei um pouco mais de tempo para lidar com os telefonemas sobre Gina. Bati um papo com os rapazes e tomei algumas notas, assim poderia entender qual a melhor ordem para formar uma fila dos pretendentes de Gina. Disse a eles que ela estava saindo com um cara, mas que provavelmente não iria durar muito – o que era verdade. Dava uma semana para que ela descobrisse que não estava realmente interessada no Tim.
Durante o fim de semana, esperei, sonhei, até mesmo rezei, mas não ouvi uma palavra sequer de Draco. Óbvio, afinal nem tinha certeza se ele se lembrava do meu nome. Depois daquela guerra de comida, a equipe de ginastas começou a ir mais tarde para o refeitório, talvez propositadamente, de modo que não conversei mais com ele. Decidi dar mais um dia de prazo para que nos cruzássemos por acaso no campus antes de usar minha única desculpa para encontrá-lo: a devolução da toalhinha. Esperando que aquela segunda-feira fosse o meu dia de sorte, peguei o caminho mais longo para Kirbysmith, entrando pelo portão principal da faculdade. Para chegar ao centro acadêmico, precisei passar em frente ao ginásio.
Esticava o pescoço sobre o ombro, tentando enxergar as pessoas que saíam dos carros no estacionamento do ginásio, quando, de repente, cambaleei para a frente. Minha bicicleta subiu no meio-fio. Apertei os freios com toda a força e soltei um berro quando parei cara a cara com um enorme depósito de lixo. Aos poucos, soltei a minha respiração, desejando que ninguém tivesse visto a cena.
- Está bem, Hermione?
Virei o tronco. Era Harry, claro!
- Aquele depósito de lixo devia ver por onde anda – brincou Harry. Ele manteve uma cara séria, mas o pequeno tremor em sua voz deixou escapar um começo de gargalhada.
Comecei a pedalar vagarosamente ao lado dele, pois, se saísse correndo do jeito que queria, as coisas só ficariam piores.
- Como foi o seu final de semana? - perguntei educadamente.
- Bem - ele respondeu. - E o seu? Fez alguma coisa interessante?
- Ahã. Gastei um tempão no telefone - falei, olhando para ele.
- Eu também - ele disse, enquanto seus olhos escorregavam para encontrar os meus. Mas eu nunca admitiria que havia empurrado todas aquelas garotas ofegantes para cima dele. Com relutância, desci de modo desajeitado da bicicleta e passei a andar, empurrando-a entre nós dois.
- Escute, Hermione - Harry levantou a mão e, por um instante, pensei que ele iria colocá-la sobre a minha. Então, repousou-a sobre a outra extremidade do guidão, passando a empurrar a bicicleta comigo. - Sinto muito pela sexta-feira à tarde. Sinto muito pelo que disse sobre você, Gina e o Ovos Mexidos. Não é da minha conta.
- Tudo bem - disse calmamente. Não estava mais com raiva dele. - Eu também sinto muito.
- Pelo quê? - perguntou. E me pareceu uma pergunta sincera.
- Por continuar fazendo perguntas quando você já tinha deixado claro que não estava a fim de responder.
- Ah - falou - Pensei que era por ter dado o meu telefone para todas aquelas garotas e dito a elas quanto eu adorava responder perguntas pessoais.
Minha boca ficou ligeiramente entreaberta. Ele riu. Nessa hora, esticou o braço e colocou sua mão sobre a minha, apertando-a.
-Amigos?
Fiquei um pouco surpresa. Não imaginava que o fato de nos darmos bem ou não importava de alguma maneira para ele.
- Claro. Amigos - apertei a mão dele. A bicicleta começou a cambalear entre nós. Tentamos agarrá-la ao mesmo tempo e demos uma cabeçada. Quer dizer, eu bati com o meu capacete superduro na cabeça de Harry.
- Ai, desculpe! - eu me estiquei para esfregar a sua testa. Mas logo que percebi o que estava fazendo, parei e recuei. No entanto, havia chegado perto o suficiente para cheirá-lo. Aquele mesmo perfume agradável. - Que tipo de sabonete você usa?
- O quê? - falou, enquanto devolvia a bicicleta para mim.
- Deixa pra lá - disse rapidamente.
Ótimo. Tinhamos acabado de nos tornar amigos e eu já começava com uma pergunta pessoal. Harry virou a cabeça, me fitando com os olhos semicerrados.
- Provavelmente, o mesmo sabonete que ele usa - disse sarcasticamente - Macho Spring
-Macho Spring.? - me voltei para ver quem Harry havia avistado.
Era o meu dia de sorte! Draco estava em frente ao ginásio. Parecia que acabava de chegar de uma corrida, o corpo inteiro suado, brilhando sob o sol. Ele nos viu. Continuei afirmando para mim mesma que estava enxergando coisas, mas tenho certeza de que os seus olhos se iluminaram. Olhos cinzas como o mar, com raios de sol sobre os seus cabelos. Draco caminhou em nossa direção.
- Hermione - sua voz era suave e rouca... ou talvez ele estivesse apenas sem fôlego. É, tudo bem, devia ser isso.
- Oi, oi - falei. Tive de me segurar para não repetir isso pela terceira vez. Todas as outras palavras haviam me abandonado.
- Olá - disse Harry. - Harry Potter.
- Ah! Claro. Perdão - eu me desculpei. - Harry, este é o Ovs...- Mexidos. Quase falei isso, porque para Harry era assim que ele se chamava.
- Draco - Draco disse baixinho, como se eu tivesse esquecido o seu nome.
- Draco - repeti bem alto. - Eu sei!
Harry riu.
- Parece que você estava se exercitando - Harry comentou com Draco.
- Corri só alguns quilômetros - respondeu Draco,balançando a cabeça. - O treinador disse que vai pegar pesado hoje com a gente - virou-se para mim.- E você, Hermione? Como vai indo?
- Ótima.
- Eu também. E o acampamento?
- Eu adoro. As crianças não são fáceis, mas é muito divertido – agora eu estava flutuando. Havia conseguido formular duas frases completas. - Draco também é monitor lá - disse.
- Harry - Harry me corrigiu.- Ele é o Draco. Eu sou o Harry. Você é a Hermione.
Dei uma rápida olhada para Harry e ele riu.
- Você está aprendendo muito com o seu treinador novo? - perguntei a Draco.
- Estou!- respondeu, seus olhos fixos em mim como dois sóis brilhantes. - Estou aprendendo que posso ser o melhor. Basta querer, Hermione. Eu tenho talento. Sou o melhor e posso melhorar ainda mais. Posso conseguir tudo que quiser, se desejar o suficiente.
- Desde quando autoconfiança tem sido um problema para você? - perguntou Harry, inexpressivo.
Lancei um outro olhar sobre ele, que fingiu não ter notado.
- Ah, não sei - respondeu Draco. - Quer dizer, eu sempre achei que era melhor que os outros - ele cruzou os braços, contraindo inevitavelmente os músculos. - Mas eu acho que tinha uma pequena parte em mim que não estava totalmente certa disso.
- Um bom treinador lhe dá confiança para que você seja o melhor possível - sacudi a cabeça, confirmando.
Draco agarrou o meu braço.
- Sabia que você entenderia - disse Draco, com tanto calor e intensidade que eu poderia ter derretido como uma manteiga nos seusbraços. - Quer dizer, você é praticamente uma atleta.
- Ela é uma atleta – afirmou Harry, baixinho.
- Hermione, você vai, hã, ficar por aí até mais tarde? – perguntou Draco.
- Por aqui? - repeti, enquanto meu coração parava de bater. - Não sei se você vai ter de trabalhar até mais tarde. Mas tem um filme hoje à noite aqui no campus. Pensei que talvez... se você fosse ficar por aqui até mais tarde... - inesperadamente, ele havia ficado tímido.
- Que coincidência! - disse. - A gente tem uma reunião hoje que vai até o final da tarde.
- Temos?- perguntou Harry com surpresa.
Deixei minha bicicleta cair sobre ele.
- Ah! Que sutileza!- ele reclamou.
Mas Draco não percebeu nada. Ele já estava se afastando.
- Bem, se quiser me encontrar no centro acadêmico, hã... às seis horas?
- Seis horas - confirmei.
Eu mal podia acreditar naquilo. Continuei andando no asfalto, completamente aturdida, deixando que Harry empurrasse a bicicleta. "Seis horas", suspirei para mim. Estava louca para contar a Gina. Queria gritar e comemorar com minha melhor amiga. Mas é claro que a última pessoa para quem eu poderia falar algo era para minha velha amiga Gina.
Olhei para o Harry:
- Preciso que alguém me belisque!
Em vez disso ele me puxou da rua, me tirando da frente de um que carro estava vindo.
Toda segunda-feira eu faço um turno duplo na piscina, trabalhando com a segunda série primeiro, e depois com o Hau e as suas crianças estrangeiras. Hau e eu chamamos nossa maneira de ensinar em dupla de "fazendo ópera". Existe um diálogo constante entre nós: enquanto eu falo as regras, ele traduz o que eu disse em palavras ou frases inteiras em vietnamita - e vamos nos comunicando por meio de gestos dramáticos com os braços. Enquanto isso, as crianças ficam entre nós, balançando a cabeça para a frente e para trás, como se estivessem na platéia de uma ópera acelerada.
Mas, naquela manhã, o show estava mais lento. Não conseguia me concentrar no trabalho, e Hau teve de agir por nós dois. Nas aulas, Hau normalmente copiava todos os gestos que eu fazia. Assim, quando expliquei, do lado de fora da piscina, o nado crawl, andando e dizendo para as crianças observarem o movimento dos meus braços, ele fez o mesmo. Foi quando o meu melhor nadadorzinho, Tam, perguntou se eu podia demonstrar o nado de costas.
- Lógico, é super divertido nadar de costas. Vou mostrar como que é - infelizmente, não me lembrei de olhar para trás. Girei os braços e andei de costas, caindo direto na piscina com os braços e as pernas esticados pelo susto.
Hau não perdeu tempo. Rodando os braços, andou para trás e caiu na água ao meu lado. As crianças desataram a rir. Depois, todas queriam experimentar aquilo.
Eu ainda estava pisando nas nuvens, quando os monitores se reuniram à tarde no escritório do acampamento.
- Então - disse Harry -, outra aula inspiradora com a líder esportiva, senhorita Hermione.
Ele estivera com as crianças do Hau, fazendo pinturas e trabalhando a linguagem. Anna deu uma espiada sobre o material para ver o que as crianças haviam desenhado. Eu mal olhei os papéis enrugados pela água, mas deu para identificar uma série de cabelos vermelhos envoltos por jatos de água, piscinas azuis e braços estendidos de pânico.
- Fico surpresa que você ainda não os tenha convencido a escreverem músicas sobre mim - disse para Harry.
- Ah, eles não precisam de incentivo algum - replicou ele.
- Como foi o seu dia? - perguntou Jim, apoiando as mãos suavemente na mesa; sua expressão era sorridente, gentil e amigável.
Mas ele estava me observando.
- Bem- disse-, por que está perguntando isso?
- Por nada - ele sorriu e levantou os ombros. – Parece que você está um pouco aérea, hoje. Eh..., eu não estou reclamando, Hermione - acrescentou, assim que eu franzi a testa. - É só curiosidade. Você me chamou de Dim no almoço.
Abri um sorriso de desculpas para ele.
- Duas vezes.
-Ah.
- Dim. É Dim com um D de Draco – falou Harry.
Tenho a impressão de que ele se achou muito esperto ao elaborar aquela teoria.
- Draco é um herói olímpico que a convidou para assistir a um filme no campus hoje à noite - ele continuou. - Isso explica alguns acontecimentos do dia?
- Convidou, mesmo? - Pamela se entusiasmou. A menina estava mexendo novamente nas unhas cor-de-rosa cintilantes. Agora, ela estava colando uma longa unha de plástico que era afiada o suficiente para fatiar uma cebola. - Demais!
- É mesmo - disse, levantando da cadeira. - É melhor ir agora. Tenho que colocar umas roupas limpas. - Eu me dei conta de que estava prestes a encontrar Draco.
- Mas você não vai trabalhar até tarde? - Harry lembrou.- Pelo menos, é o que você falou pra ele. Não vai ser estranho ele perceber que trocou de roupa?
- Eu vou lavar e secar esta roupa e vesti-la novamente encarei- o como se ele fosse completamente idiota.
- Isso vale tanto a pena assim? - ele me fitou como se eu fosse completamente pirada.
- Draco é um cara de sorte - Hau disse docemente. – Divirta-se, Hermione.
- Vou, sim. Obrigada - disse e sai correndo.
Obviamente, peguei o caminho que seguia por trás da faculdade. Não queria encontrar Draco ou Gina, ela freqüentava o estúdio de dança logo ao lado do ginásio. À medida que pedalava para casa, eu me divertia explicando para Gina por que não havia contado a ela sobre Draco e eu, ainda que estivéssemos namorando por três quentes e intensos meses. Era um sonho maravilhoso e eu contava tudo a ela nos mínimos detalhes.
Imagine, portanto, quanto eu fiquei confusa quando, no meio de um desses pensamentos, percebi que estava realmente olhando o rosto de Gina. Foi num cruzamento perto da minha casa e ela estava se esticando por cima de seu Honda.
- Hermione, estou seguindo você a cinco quadras!
Sabia que era absurdo, mas eu tinha uma idéia maluca, paranóica mesmo: Gina havia grudado um bip invisível em mim, que lhe enviava sinais sempre que eu encontrava algum cara interessante. De alguma maneira, ela sempre ficava sabendo.
- Eles me falaram no escritório do acampamento sobre as incríveis novidades - ela disse.
- Eles quem? Harry? - E ele que me disse que éramos amigos. Traidor!
- Não - respondeu Gina - O rapaz vietnamita e a garota com as unhas enormes. Harry estava até bem quieto.
- Ah - "Desculpe, Harry", eu pensei.
Os carros começaram a buzinar. A cor do semáforo havia mudado.
Pedalei até o cruzamento seguinte. Gina colocou uns óculos de lentes amarelas e me seguiu.
- Fico muito feliz por você, Hermione - ela disse, quando paramos de novo.
Eu me inclinei sobre o guidão da bicicleta, assim podia enxergar melhor o rosto dela dentro do carro. Olhando para mim estavam os mesmos grandes olhos castanhos que tinham desejado boa sorte antes dos jogos de basquete, das entrevistas de emprego e dos testes de matemática. Estava me comportando como uma idiota. Como eu me tornara tão ciumenta e paranóica?
- Obrigada - disse delicadamente. - Precisava ouvir isso.
- Fico muito feliz por você. Mesmo! Queria que as coisas também tivessem dado certo para mim e para o Tim.
Logo, já não existia mais nada entre ela e o Tim. Certamente, ficou muito feliz por mim. Meu encontro com Draco significava que ela estava mais perto do encontro dela com Draco.
Tentei espantar um lamaçal de pensamentos ruins que passavam pela minha cabeça, enquanto seguíamos pelos dois quarteirões seguintes. Gina estacionou em frente a minha casa. Abaixei o descanso da minha bicicleta e andei até a janela do carro dela.
- É uma pena sobre o Tim - eu disse - Mas tenho boas notícias. Metade dos rapazes daquela festa se interessaram por você.
-É?
Fiquei feliz de ver as bochechas rosadas.
- É, é! O Steve foi um deles.
- Ah, o Steve - ela falou.
- Qual o problema com o Steve? - reclamei.- Ele é lindo. É legal. Tem dinheiro. E um carro.
Ela não lhe deu muita importância.
- Está bem. E o Brent?
Ela franziu a testa, tentando se lembrar.
- Alto, olhos pretos lindos. Dizem que tem um quarto inteiro só pra sua coleção de rock. Discos e ingressos de todos os shows que...
Ela balançou a cabeça.
- Certo. E o que você acha do André? Loiro. O pai tem um iate no clube Camdem. Acho que ele navega muito.
- Você sabe que eu enjôo no mar, Hermione.
- Bem, vários outros me ligaram, mas se você vai continuar sendo tão seletiva... - eu a repreendi.
- Não estou sendo seletiva - ela gemeu. – Mas os rapazes da festa do Steve não fazem nada da vida. Não me importo se são ricos. Posso sustentá-los. Quero um cara que realmente faça algo.
"Como treinar ginástica olímpica", eu pensei.
- Quero um cara que se importe com alguma coisa e saiba conversar. Não alguém que só queira sair à noite e se divertir o tempo todo.
Meu cérebro começou a funcionar. JHarrynão ficava só saindo à noite. Ele trabalhava e se importava com as crianças. Amava arte e música, assim como Gina. E era muito bom de papo.
Harry iria me ajudar. Quer dizer, éramos amigos, não éramos? E, ainda que fôssemos apenas amigos, eu sabia que ele possuía um corpo e um cabelo que qualquer garota adoraria agarrar. E aqueles olhos de um verde intenso...
- Hermione? O que você está pensando?
De repente, a imagem dele se apagou da minha mente.
- Tenho de pensar mais um pouco - disse, mas já tinha toda a certeza: era Harry, o primeiro cara da fila, o par perfeito.
- Pensar sobre o quê? - perguntou Gina, frustrada.
- Alguém que pudesse ser um amor verdadeiro - disse - Escute, Heather, eu preciso ir. - Mas... Vou encontrar Draco às seis horas e ainda tenho de fazer algumas coisas.
- Estou muito, muito feliz por você - eu a ouvi gritar enquanto entrava com minha bicicleta no estacionamento.
Enfim atualizado!
Demorou um pouco mais dessa vez, mas eu realmente estava muito ocupada!
A história está começando a esquentar, não acham?!? rsrs Hermione é simplesmente louquinha! Mas o que nós, mulheres, não fazemos para conquistar um homem? rsrs
Espero que tenham gostado desse capítulo assim como eu! Vou tentar atualizar antes do Carnaval, fiquem ligados...
Milharesdebeijos ♥
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