A Ligação
N/A: Essa fic começou a ser elaborada e escrita bem antes do quinto livro ser lançado e eu teria de fugir muito da minha idéia original se fosse adapta-la a OdF, por isso ela começa no quinto ano de Harry. No decorrer dessa fic "Harry Potter e a Filha de Fênix", serão feitas muitas citações baseadas na "Ordem da Fênix", como alguns trechos do primeiro parágrafo do
SINOPSE
Um novo ano letivo esta para se iniciar, mas nem tudo é como antes. Muitos obstáculos se colocarão diante dos jovens estudantes de Hogwarts. Um novo professor para D.C.A.T. e uma aluna transferida trará com sigo mistérios que aguçarão a curiosidade de um certo trio de estudantes com tendências a se meterem em confusão.
Finalmente Harry encontrara as respostas para muitas de suas perguntas, desde que chegara a Hogwarts, e conhecerá um pouco mais de seu passado. E em meio a todos esses acontecimentos ele e seus amigos ajudarão um coração amargurado e cansado de sofrer a reencontra na amizade a força para seguir em frente e voltar a ser feliz.
Entretanto, com o ressurgimento de Voldemort mais uma vez o mundo mágico se vê as voltas com uma possível nova era de trevas. Mas, para que os planos do Lorde das Trevas tenham hesito ele precisará de um artefato mágico muito poderoso, com o qual ele finalmente poderá concretizar os planos que a anos vem formulando para em fim instalar em todo o mundo o seu reino de horrol. Porem não será tão fácil assim para o Senhor das Trevas alcançar seus objetivos. Pois o que ele não sabe é que uma aliança formada desde o principio das eras, entre uma divindade e um mortal, trará através de seus descendentes a destruição de todas as suas ambições malignas.
Capitulo 1: A Ligação
O dia mais quente do verão estava terminando e um silêncio sonolento tomava conta das grandes casas quadradas da Rua dos Alfeneiros... a única pessoa do lado de fora era um garoto, deitado no canteiro em frente ao número quatro.
Em meio a seus devaneios o jovem se pegava lembrando de seu último mês na escola, e em como ele havia mudado a sua vida tão duramente. Para a maioria dos garotos de sua idade o verão era um motivo de se comemorar, afinal teriam dois meses inteiros para fazer absolutamente nada, apenas se divertir - sem preocupação alguma, sem tarefas, sem responsabilidades -, enfim, as férias de verão eram a liberdade para qualquer jovem. Mas não para este em especial, na verdade a pouco mais de quatro anos que as férias de verão haviam ganhado um significado um tanto amargo para este garoto, pois as férias o faziam lembrar da dura realidade que o esperava ao retornar para casa.
A casa de seus tios, que nunca se deram ao trabalho de esconder o quanto ele lhes era indesejável. Mas agora, pensando bem e ainda com as recentes recordações daquele último ano escolar, o garoto já não achava mais tão ruim estar ali, deitado, sozinho na grama, sentindo o mormaço de fim de tarde soprando em seu rosto. Em outros tempos ele estaria rezando para que este verão acabasse logo, para que ele pudesse, enfim, retornar para sua verdadeira casa, para Hogwarts. Mas agora, depois de tudo pelo que ele passara, já não tinha tanta certeza se queria voltar para lá tão cedo. Não que a idéia de rever os seus amigos não fosse animadora, não era isso. O problema era que junto com eles, ele também teria de reencontrar com todas as pessoas que ainda não compreendiam muito bem o que havia acontecido na última prova de um certo torneio, e intimamente ele temia por esse encontro, tinha medo de enfrentar todos os fantasmas que havia deixado naquele velho castelo. Sim, porque Harry Potter não era um garoto comum, ele era um bruxo. E estudava em um castelo. Este era considerado como uma das melhores escolas mágicas da Europa - se não do mundo -, a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, de onde saiam alguns dos bruxos mais poderoso do mundo. Mas mesmo entre os bruxos, ele, Harry Potter, se destacava por seu passado e por uma singular cicatriz que o lembrava a cada dia do porque ele não era feliz. Do porque não tinha uma família como as outras pessoas. E do porque da sua vida parecer estar sempre por um fio. Essa marca sempre o fazia lembrar da fatídica noite em que seus pais foram mortos - quando ele tinha apenas um ano de idade - pelo maior bruxo das trevas dos últimos tempos, o senhor das trevas... Lord Voldemort. Eles se sacrificaram para salvar-lhe a vida, e de alguma forma ele sobrevivera à maldição lançada sobre ele por este terrível bruxo. Por algum motivo, até hoje desconhecido, ele foi capaz de derrotar Voldemort. Marcando, assim, o fim dos tempos negros que assolava o mundo mágico.
E desde então seu destino havia se transformado, a parti daí ele seria conhecido por toda a sociedade mágica como "o menino que sobreviveu". Mas este titulo o incomodava muito, principalmente pela forma em que as pessoas sempre o encaravam - examinando sua cicatriz -; o brilho de admiração em seus olhos, os cochichos a seu respeito em todo lugar por onde ele passasse e a forma de como todos estavam sempre esperando que ele executasse algum ato fantástico, algo digno de uma lenda viva como ele. Sim, porque Harry Potter era uma verdadeira lenda viva, visto que o seu nome e feitos poderiam ser encontrado em qualquer livro de história que mencionasse qualquer referência sobre a queda do poder das trevas, no qual ele estivera diretamente envolvido - mesmo não conseguindo lembrar de nada disso. E tudo isso sempre o irritava profundamente, pois o que ele mais queria no mundo era ser um garoto normal.
Foi com esses pensamentos, de como seria ter um vida 'normal', que Harry foi subitamente retirado de seus devaneios pelos gritos esganiçados de sua tia, vindos do interior da casa.
- Harry!!! Seu moleque...Venha já aqui!!!!!
Ele fechou os olhos e pensou em fingir não ter ouvido. Mas, no entanto, os gritos se repetiram e ele não teve outra escolha, se não atender resignado ao chamado de sua tia. Se levantou penosamente e dirigiu-se para casa. Chegando lá, encontrou tia Petúnia parada e de braços cruzados o esperando. Ela era uma mulher bastante magra e tinha um pescoço enorme e cara de cavalo, era loura e seu hobby era espiar pela janela o que os vizinhos sem graça faziam. Agora ela encontrava-se encostada ao lado da poltrona onde tio Válter lia seu jornal. Este, ao contrário de sua esposa, quase não tinha pescoço, era um homem corpulento e alto e tinha enormes bigodes. Sentado diante da televisão encontrava-se Duda, o insuportável primo de Harry que este ano definitivamente havia ultrapassado o peso de um filhote de orca, e agora, por mais que quisessem, tia Petúnia e tio Válter não podiam mais ignorar a obesidade mórbida do 'pequeno' Dudinha, pois no ultimo mês de aulas o garoto passara muito mal e os médicos falaram que ele precisava fazer uma dieta urgente, pois sua saúde estava seriamente comprometida.
Mas, sinceramente, Harry tinha lá suas duvidas se o garoto estava respeitando essa dieta, devido ao fato de a cada dia ele parecer maior. E, provavelmente, passar praticamente o dia todo sentado diante da televisão não estava ajudando muito.
Dando-se finalmente conta de que Harry já havia chegado, Tio Válter dobrou seu jornal e encarou o garoto, seus pequenos olhos apertados o fitando desconfiadamente.
- O que estava fazendo lá fora, moleque!! Por que demorou a atender sua tia? - rosnou o corpulento tio de Harry, ficando com as bochechas ligeiramente rosadas.
- Não estava fazendo nada de mais, só estava distraído. - respondeu monotonamente dando de ombros.
Essa resposta pareceu não satisfazer de todo a seu tio, mas ele parecia muito impaciente para se dar ao trabalho de fazer mais perguntas ao garoto e dessa forma foi logo ao assunto que o fizera chamá-lo até ali.
- Que seja! Tenho um comunicado importante a fazer. Hoje cedo recebi uma carta da minha querida irmã nos convidando para passar algumas semanas com ela - a essa altura, Harry já podia imaginar a bomba. Se já não bastasse ter que aturar os Dursley durante todas as férias, agora teria também de aturar a insuportável irmã de tio Válter e seus inúmeros cães fedorentos - e é claro que aceitei, por isso estaremos viajando para lá no próximo sábado...
Foi nesse ponto que o "educado" Duda se intrometeu na conversa.
- O quê?! O senhor não está pensando em levar ele, né? Ele vai estragar tudo, eu não quero que ele vá!!!!
Berrou por último, ao mesmo tempo em que batia fortemente com o pé no chão, choramingando. Tia Petúnia balbuciou algo como "Calma!" para ele com um furtivo sorriso no canto da boca e um olhar maldoso que agradou muito ao garoto, este provavelmente previu o que os pais estavam tramando. Então Válter continuou:
- Não se preocupe, Duda! É claro que eu não vou levar esse moleque imprestável conosco. Principalmente depois do que ele aprontou da ultima vez em que minha irmã esteve aqui. - agora a redonda face de tio Válter estava completamente vermelha evidenciando toda a fúria que as lembranças daquele incidente lhe trazia - Foi por isso que eu o chamei aqui. Para lhe dizer que não irá conosco em hipótese alguma!
- Mas então ele vai ficar aqui?! Nem pensar! Se ele ficar vai mexer em todas as minhas coisas e quebrar tudo!!!!
Harry revirou os olhos incrédulo. Quem aquele gorducho achava que ele era? Uma criança retardada como ele, que ficava fazendo manha como um bebê, e que quebrava tudo o que tocava? Se Duda soubesse há quanto tempo àqueles seus brinquedos trouxas deixaram de chamar a sua atenção - principalmente depois das maravilhas que ele conheceu na Zonkos -, certamente se sentiria um tolo por se preocupar com as suas coisinhas trouxas.
- Acalme-se meu filho, eu ainda não terminei. É claro que eu não vou deixar esse anormal aqui sozinho, para ele colocar fogo na casa ou algo parecido.
Agora Harry não estava entendendo mais nada. Havia ficado feliz em saber que não teria que viajar com os Dursley, mas por outro lado não estava compreendendo o que eles pretendiam fazer com ele, já que Tio Válter havia afirmado categoricamente que ele não ficaria em casa. E, depois, essa forma deles em falar dele, como se ele não estivesse ali, já o estava irritando. Estava pronto para dizer algo a respeito quando tia Petúnia se pronunciou.
- Isso mesmo Dudinha! Não se preocupe, nós já providenciamos tudo. Enquanto estivermos fora ele vai ficar com a senhora Figg. Já falamos com ela e está tudo acertado.
Então era isso. Ele se veria livre dos Dursley, mas teria de aturar a velha senhora Figg, "Bela troca", ele pensou. Não que ele não gostasse da velhinha ou algo assim. Mas era natural que quando criança ele se chateasse um pouco de ter que ficar lá, afinal aquela casa e a companhia de uma velha meio caduca eram pouco interessante pra uma criança. E depois a casa tinha aquele constante cheiro desagradável de gatos, e a pobre Sra Figg jamais foi capaz de lhe servir uma só fatia de bolo que não estivesse solado. Mas agora pensando bem seria melhor do que ficar com os Dursley, afinal de certa forma ela nunca o tratara mal, e por tanto ele não tinha motivos para desgosta-la. O problema era que lá com certeza ele não teria liberdade alguma para fazer as suas tarefas da escola ou receber noticias de seus amigos. Mas este assunto não parecia aberto para discussões, os Dursley estavam decididos quanto ao seu destino, e a Harry só restou aceitar essa decisão. No entanto, uma dúvida veio à mente de Harry. O que Dumbledore acharia dessa estória? Se ele nem ao menos o deixara passar as férias com os Weasley por acreditar que ele estaria mais seguro com os Dursley, então como ele reagiria ao saber que seus tios o deixariam sozinho com uma trouxa velha e indefesa durante semanas? Fez uma nota mental para lembrar de escrever uma carta ao velho diretor falando sobre isso quando se recolhesse para o seu quarto, e foi nesse momento que tio Válter recomeçou a falar.
- É como Petúnia disse. Você ficará com a Sra. Figg, moleque. E ai de você se fizer alguma das suas anormalidades enquanto estiver lá, está me entendendo!?!!? - neste ponto tio Válter já tinha se levantando e berrava com o dedo apontado no meio da cara de Harry, ao mesmo tempo em que gotículas de saliva eram lançadas no rosto do garoto - Você está proibido, entendeu? Proibido de levar alguma daquelas suas coisas esquisitas pra lá! O mesmo serve para aquela sua coruja irritante. Trate de se livrar dela enquanto estiver na casa da Sra. Figg ou eu mesmo faço isso, fui bem claro?
- Sim tio Válter! - Harry respondeu entre dentes sentindo-se enojado de tudo aquilo.
- E não me olhe desse jeito moleque atrevido. Lembre-se que pode ir embora quando quiser e que só está aqui de favor - por que somos pessoas boas e caridosas -, mas se não está gostando pode arrumar as suas coisas e cair fora!!! - Enquanto falava o Sr Dursley ia pouco a pouco estreitando os seu pequeninos olhos maldosos, satisfeito em mais uma vez conseguir humilhar o sobrinho de sua esposa, pois todos ali sabiam muito bem que Harry não teria para onde ir. No entanto, o que Válter não sabia era que ele, Harry, tinha sim para onde ir. Com certeza os Weasley ficariam muito felizes em recebê-lo. O problema é que ele não poderia ir para nenhum outro lugar mesmo que quisesse. Dumbledore insistia em dizer que ele estaria mais seguro lá com seus tios, e Harry tinha que se conformar com isso. Dessa forma tudo o que ele pôde fazer foi abaixar a cabeça e conceder a vitória para tio Válter, que a aceitou extremamente satisfeito.
- Como eu pensei. Então estamos entendidos, não é mesmo? - sem esperar qualquer reação vinda de Harry diante da sua pergunta, Tio Válter simplesmente se virou para a esposa mudando de assunto. - Você já pode servir o jantar Petúnia!
- Claro Válter! Vamos Dudinha, venha comer...
Antes que Petúnia pudesse chamar pela segunda vez, Duda já havia se levantado e corrido para a cozinha - quase derrubando Harry pelo caminho. Como de costume ninguém se deu ao trabalho de chamá-lo então ele simplesmente se juntou a eles, se sentando em silêncio a mesa.
Desde o ano anterior, quando Duda inutilmente tentou começar uma dieta, que em todas as refeições tia Petúnia tinha o cuidado de servir bem menos comida para Harry do que para Duda, na intenção de impedir que seu filhinho se sentisse inferior ao primo. Desta vez não era diferente. Tia Petúnia havia preparado uma sopa rala de alface, prescrita para a dieta de Duda, que havia ficado ainda mais rigorosa já que a anterior não dera resultado, e dessa forma mais uma vez a porção colocado para Harry era praticamente a metade que a de Duda. Às vezes Harry se perguntava se sua tia não estava na realidade tentando o matar de fome. Sua sorte é que sabendo da condição precária em que Harry estava vivendo com seus tios, seus melhores amigos Ronald Weasley e Hemione Granger, assim como Hagrid, o guarda caças de Hogwarts e professor de Trato de Criaturas Magicas e Sirius Black, seu padrinho, sempre lhe mandavam alguma comida - entre doces e bolos - para que ele sobrevivesse.
Então, se de fato a intenção de Tia Petúnia era no mínimo deixa-lo doente, esta estava fracassando miseravelmente, pois a cada dia Harry parecia ficar mais forte, principalmente depois da brilhante idéia que seus tios tiveram logo no inicio das férias. Como o médico de Duda havia recomendado que este fizesse exercícios, os Dursley decidiram que todas as manhãs Duda e Harry correriam dando uma volta inteira pelo quarteirão. A idéia era colocar Duda em forma e dar um castigo extra a Harry. O que eles não contavam era que Duda desistiria na primeira semana e que Harry acabasse por tomar gosto pela coisa, e agora este havia feito como um hábito seu, correr todas as manhãs depois do café. O resultado disso era que agora Harry não só estava em ótima forma física como também parecia ter crescido bastante nos últimos tempos, para o desgosto dos Dursley que tinham que se conformar com a pequena anta que seu filho se tornara.
Como sempre, após o jantar Harry apressou-se em se recolher ao seu quarto, ele queria o quanto antes escrever a Dumbledore contando sobre os planos dos Dursley em deixa-lo com a Sra Figg, sua vizinha, no entanto para seu desgosto quando chegou no quarto percebeu que Edwiges, sua coruja, já havia saído para seu passeio noturno e que provavelmente só voltaria pela manhã. Então decidiu-se por deixar a carta pronta para quando o animal chegasse. Escreveu um rápido bilhete explicando por alto os últimos acontecimentos e depois de coloca-lo sobre a escrivaninha deitou-se, sentindo-se inexplicavelmente cansado.
O céu estava turbulento e uma torrencial chuva castigava aquela pequena ilha afastada do continente. Raios cortavam o céu tingido de chumbo e os trovões ecoavam por todas as partes. No alto de uma colina onde havia, até então, um suntuoso templo todo construído em rochas - provavelmente há séculos, por uma civilização já a muito esquecida -, agora encontrava-se apenas as suas ruínas, que pouco a pouco estavam sendo consumidas pelas chamas que ardiam por todo o lugar. Seus jardins, antes floridos e verdejantes, agora se encontravam tingidos de sangue inocente, corpos de valentes guerreiros jaziam mortos por toda parte, ao passo que ainda se podia ouvir os gritos angustiados dos prisioneiros sendo torturados. No interior do templo, no entanto, ainda era possível ouvir o som de uma batalha, que estava longe de acabar.
Enquanto isso, no último andar daquela mesma construção, duas figuras indefesas encontravam-se encurraladas em um pequeno salão por seu perseguidor que tentava incansavelmente entrar ali. As duas figuras estavam cobertas por pesadas capas aveludadas que lhes caiam até os pés ocultando-lhes todo o corpo. A primeira e mais alta usava vestes azul meia-noite bordadas com fios de prata. A outra, consideravelmente menor, vestia-se com trajes vermelho sangue, também com bordados, porém em ouro. Ambas tinham suas cabeças cobertas por um capuz que impedia que seus rostos fossem vistos.
Harry não se lembrava de quando havia ido parar em meio a todo este inferno, e tão pouco entendia o que estava acontecendo ali. Tentou falar com as duas pessoas a sua frente mais sua voz não saiu e nem ao menos conseguia se mover. Observou, então, que dois outros bruxos tentavam manter uma barreira para impedir que a porta viesse a baixo, mas não conseguiriam impedir o que quer que estivesse do outro lado por muito mais tempo.
- Esta é a nossa ultima chance! Você tem que partir!!! - Harry ouviu a figura mais alta dizer à outra em tom de muita urgência, enquanto a segurava firme pelos ombros. Pela voz desta, Harry pode perceber que se tratava de uma mulher, e mesmo estando trêmula pelo choro, sua voz parecia extremamente doce e gentil.
- Eu não vou sem você!!! - agora era a vez da outra pessoa se manifestar. Esta, como a primeira, Harry pôde perceber, também tratava-se de uma mulher, ou melhor, de uma garota. A voz dela era igualmente bela, mas parecia muito mais firme do que a da primeira.
- Não seja tola!!! Você precisa ir, eu ficarei bem. Vou detê-lo tempo suficiente para que fuja!!!!
- NÃO!!!! Eu já disse que não vou te deixar pra traz!!! Não vou perder mais ninguém!!! NÃO VOU!!!! - Inexplicavelmente, as chamas que iluminavam aquele ambiente arderam furiosamente sobre os archotes, fazendo com que Harry se assustasse por um momento. Mas sua atenção não se prendeu muito a esse detalhe, pois algo a prendia na garota, que agora chorava desconsoladamente e se agarrava a cintura da outra com muito custo, pois esta tentava a afastar de si.
- Acalme-se!!!! - A mulher gritou, agarrando a menina ainda mais forte pelos ombros. E no mesmo instante as chamas voltaram ao normal. - Agora escute bem menina! - O tom de voz da misteriosa mulher mudara completamente, estava muito duro, chegava a ser assustador. - Já chega de teimosias!!! Você vai me obedecer, está me ouvindo!!?? - A menina era levemente sacudida pelos braços pela outra, à medida que esta falava-lhe já sem vestígio algum de choro em sua voz, e de uma forma muito séria e baixa, quase um sussurro. - Você sabe o quanto é importante pra mim? Para todo nós? Claro que sabe! E também sabe o que vai acontecer se ele te capturar. Será o fim de tudo. Você entendeu? De tudo!!! É isso que você quer?
- Não! - foi a resposta chorosa que obteve da garota.
- Então vá! Salve-se! Eu sempre estarei contigo minha querida, sempre! - em seguida, a mulher retirou uma varinha de suas vestes e apontou para um pequeno altar de pedra localizado em uma das extremidades da sala, sussurrando alguma coisa que Harry não pôde ouvir. O altar, pouco a pouco foi se movendo e dando lugar a uma espécie de túnel muito íngreme e escuro. A mulher conduziu a garota até ele segurando firme em sua mão. Antes de partir, no entanto, a garota se voltou para sua companheira e lhe deu um forte abraço, em seguida saltou na escuridão daquele túnel indo de encontro a seu destino. Então, quase no mesmo instante em que a passagem se fechou, a porta foi derrubada com um estrondo. A partir daí tudo aconteceu muito rápido, e Harry não saberia dizer ao certo se os dois bruxos que protegiam a porta ao menos chegaram a tentar se defender, pois quando Harry se deu conta os pobres coitados já estava caídos no chão, mortos.
- Ora, ora...vejam só quem está aqui? Já faz muito tempo que não nos víamos não é mesmo? - com um frio temeroso percorrendo todo o seu corpo, Harry reconheceu, aterrorizado, aquela gélida e sibilante voz. Jamais se esqueceria dela, e muito menos daquele rosto desfigurado; aquela pele pálida, os olhos vermelhos como de uma cobra, a boca sem lábios e as duas fendas onde deveria haver um nariz. Essa figura horrenda atormentaria seus sonhos para sempre, ele, o Lord das Trevas, estava ali, exatamente como Harry se lembrava de quando o vira ressurgir na final do Torneio Tribruxo. E agora mais uma vez ele estava diante do maior bruxo das trevas dos últimos tempos, ele estava diante de Lord Voldemort. Harry percebeu que a mulher ali presente, parecia compartilhar de seu mesmo temor, pois a cada passo que Voldemort dava em sua direção, a mulher recuava para traz. Ela também tremia muito, Harry pode notar, e talvez tivesse voltado a chorar.
- Então minha cara.... diga-me, onde você a escondeu? Se disser, prometo que a sua morte será rápida e indolor. - Harry sentiu um grande ódio queimando dentro de si ao ouvir o tom arrastado e debochado em que Voldemort falava para com aquela bruxa. Como ele ousava querer encostar suas mão podres naquela menina? Isso ele não permitiria! Harry se assustou por um momento com esse pensamento, afinal ele nem a conhecia ou ao menos havia visto seu rosto. No entanto ele sentia uma estranha necessidade em protege-la, em impedir que qualquer coisa de mau lhe acontecesse.
- Eu nunca a entregarei pra você, Voldemort! NUNCA!!!! Você pode fazer o que quiser comigo, mas não vou permitir que você coloque as suas mão imundas nela!!!! - em um ato desesperado a bruxa ergueu sua varinha para ataca-lo, mas antes que pudesse conjurar qualquer feitiço teve sua varinha arrancada de suas mãos pelo expelliarmus de Voldemort, ficando desarmada.
- Coragem não vai lhe adiantar de nada sua estúpida! Já chega! Estou cansado dessa brincadeira, vamos acabar de uma vez com isso. Depois será a vez dela... e por último, para fechar com chave de ouro a minha vitória, acabarei com o maldito Potter!!! - o coração de Harry saltou ao ouvir seu nome ser mencionado, e no mesmo momento ele começou a sentir uma dor excruciante em sua testa. Parecia que sua cabeça iria rachar no exato local onde se encontrava sua cicatriz. Levou sua mão a cabeça e sentiu seu corpo tombar no chão ao mesmo tempo em que ouviu Voldemort sibilar.
- Crucio!!!! - um grito de dor ecoou por todo o templo, enquanto uma gargalhada cruel e sem alegria enchia de temor toda a alma viva que ali por perto estivesse. - HÁ HÁ HÁ HÁ!!!!!!!
Harry acordou sobressaltado, sua cicatriz parecia estar em chamas, sentia seu corpo todo tremendo e suava frio. Levou sua mão até a testa, tateando-a até sua cicatriz, verificou então que esta estava quente e um pouco inchada, tentou se lembrar do sonho, porém não precisou fazer muito esforço. Ele ainda estava muito vivo em sua memória, a dor, o medo os gritos, tudo isso girando em sua mente deixando-o atordoado. Quem eram aquelas pessoas? E o que Voldemort queria com elas? Será que elas estavam bem? Todas estas perguntas pululavam em sua cabeça. A única certeza que ele tinha era de que aquilo tudo não havia sido apenas um sonho. Ele sabia que quando sua cicatriz doía daquele jeito isso significava que Voldemort estava pensando ou fazendo algo de muito terrível. Sendo assim só havia uma coisa que ele podia fazer, devia escrever imediatamente para Dumbledore contando exatamente o que tinha visto em seu sonho.
Então Harry se levantou em um pulo e caminhou até sua escrivaninha sentando-se nela, depois respirou fundo e olhou pela janela. Edwiges ainda não tinha chegado, a noite lá fora estava silenciosa e tranqüila. Por toda a cidade, as pessoas dormiam pesadamente em suas camas, as luzes apagadas, a mente viajando pela terra dos sonhos. Harry conseguia ouvir os roncos do seu Tio Válter e do seu primo Duda vindos do outro lado do corredor, isso o tranqüilizou, pois agora sabia que ao menos não havia gritado e acordado alguém. Seria muito difícil explicar o que acontecera a seus tios - isso se eles ao menos lhe dessem a chance de se explicar. Em uma gaveta ele pegou um rolo de pergaminho, uma pena e seu tinteiro e se pôs a escrever minuciosamente tudo o que vira em seu sonho. Quando terminou, lembrou-se da pequena carta que havia deixado em cima da escrivaninha, avisando a Dumbledore sobre os planos de seus tios em deixá-lo com a Sra Figg. Olhou em volta e logo localizou a carta, no mesmo lugar em que a havia deixado. Resolveu-se por colocá-la no lixo e escrever uma pequena nota sobre a viajem dos Dursley no final da carta contando sobre o sonho.
A chuva ficava cada vez mais forte, era como se o céu estivesse desabando sobre aquela pequena ilha. Depois de alguns minutos, que lhe pareceram horas, descendo por um velho e mofado túnel, finalmente ela alcançara seu fim. Havia um grande bloco de pedra bloqueando o seu caminho, então ela retirou sua varinha de suas veste e a apontou para a pedra murmurando:
- Dissendium!
E no instante seguinte seu caminho estava livre. Ao sair da passagem secreta, a jovem bruxa percebeu que encontrava-se na parte de traz do templo, próxima aos jardins. Lembrando-se das ordens que recebera, começou a correr. Deveria tentar se refugiar na floresta até que a ajuda chegasse. No entanto ela estava encontrando muita dificuldade em se mover devido as suas roupas - que agora já estavam encharcadas e muito pesadas - e também por causa do chão que estava totalmente alagado, e a lama a fazia ora ficar com os pés presos, ora ir de encontro ao chão - escorregando em uma poça mais viscosa. E foi numa dessas visitas a uma poça consideravelmente grande, que ela escutou algo que dilacerou seu coração. Um grito. O grito desesperado de dor, de uma das pessoas mais importantes de sua vida. No mesmo instante seu rosto foi lavado por suas lágrimas de culpa. Culpa por deixar para traz alguém a quem ela tanto amava.
O que se seguiu a este grito trouxe agora muito ódio e revolta ao seu coração, era uma terrível gargalha de prazer sádico. Ela sabia muito bem a quem esta pertencia, e isso só fez aumentar o seu remorso por ter deixado sua companheira para traz, pois ela sabia bem qual seria o destino daquela mulher que lhe ensinara tudo o que ela sabia. E nunca se perdoaria por isso. Já havia perdido muitos em uma só noite, e duvidava que algum dia iria se recuperar de todas aquelas terríveis perdas. Não estava disposta a perder mais ninguém, não suportaria isso, não se perdoaria jamais se fugisse agora. Então em um momento de dor e loucura ela se decidiu por voltar e tentar ajudá-la, no entanto, neste exato momento um vulto negro apareceu como que surgido da terra diante de seus olhos e lançou um feitiço contra ela. Foi por muito pouco, mas ela conseguiu se desviar, agora ela se encontrava sem escolha, teria de fugir, sabia que tinha muita coisa em jogo ali, e não podia se dar por vencida.
Deu-se inicio, então, a uma terrível caçada. A chuva continuava a cair duramente sobre todo o lugar, o que dificultava a movimentação de ambas as partes. E o que por um lado era o seu flagelo, pelo outro era sua salvação, pois devido à má visibilidade causada pela chuva o seu perseguidor não conseguia lançar corretamente os seus ataques, sempre errando a pontaria e dando-lhe a chance de escapar.
Ela já não saberia precisar a quanto tempo tudo isso começou, mas pouco a pouco as esperanças de que essa loucura chegasse ao fim estavam se esgotando. Foi então que um golpe do destino pareceu decidir que era chegada a hora de colocar um ponto final naquela perseguição. Um movimento em falso fez com que a pobre garota tropeçasse em um galho e fosse levada ao chão. Com a queda a sua varinha fora lançada longe, e esse descuido deu a chance a qual seu perseguidor tanto esperava, agora ela estava caída e desarmada, indefesa diante dele. Com muita dificuldade ela se virou e deu de cara com a figura de um homem baixinho e gorducho que apontava sua varinha para ela. Ele parecia muito cansado devido a toda aquela perseguição, e respirava ruidosamente, como um chiado semelhante ao de um rato; de fato as suas feições eram muito parecidas com as de um roedor, e ela se sentiu extremamente enojada com a forma em que ele lhe olhava. Pouco a pouco ele foi se aproximando, e ela sentia que seu fim estava próximo - à medida que ele agora estava a apenas alguns passos dela a aflição tomava conta de seu ser -, e por um momento ela até pensou em resistir, não queria se entregar, não podia, mas não seria nada fácil. Tentou fazer um movimento, mas o homenzinho a sua frente estava atento e a advertiu.
- Fique paradinha aí garota! Não tive todo esse trabalho para te deixar escapar tão fácil. - o homem sorriu vitorioso diante de sua presa a seus pés, estava ansioso pela recompensa que receberia por entregar a seu Lord um presente tão valioso. Voldemort nunca o perdoaria se a deixasse escapar, ele sabia disso.
- O que você quer comigo, seu nojento? - a garota se enchera de coragem e decidira que pelo menos não se entregaria calada, e demonstrou todo o seu desprezo por aquele indivíduo em suas palavras.
- Ora sua garota petulante! Como ousa falar assim comigo?
- Para um rato como você esta mais do que bom! - uma idéia desesperada acabara de se formar em sua mente; ela o provocaria até que ele perdesse a paciência e se distraísse, e nesse momento ela o derrubaria com as perna - afinal tanto treinamento teria de lhe servir de alguma coisa, pensou ela -, aproveitaria sua proximidade, e lhe roubaria a varinha, seria tudo ou nada.
- Escute aqui garota! Quando eu te entregar ao meu Lord ele me fará o seu servo mais querido, me dará muito poder e eu serei conhecido como o comensal mais temido de todos, e nesse dia você me implorará por misericórdia, está me ouvindo? - ele berrou com a jovem, mostrando já estar visivelmente irritado. Ela por sua vez percebeu que seria muito fácil seguir com seu plano, visto que seu oponente não passava de um tolo arrogante, e pra completar ela já estava começando a se divertir provocando-o. E mal havia começado.
- Você só pode estar brincando! Eu não te pediria nem mesmo uma informação, quanto mais me humilhar pra você! Vai sonhando, seu babaca! Você teve foi muita sorte de ter me encontrado desarmada, e por isso não tenho como me defender. Se não, você ainda estaria se borrando de medo por não ter cumprido as ordens do seu mestre, ao invés de ficar aí se gabando como se tivesse realizado um grande feito! - agora ela falava-lhe sem esconder o tom debochado em sua voz, afim de deixá-lo realmente irado - Mas pra alguém como você deve ser realmente algo extraordinário conseguir capturar uma menina indefesa como eu, não é?
Ela notou que estava conseguindo alcançar seu objetivo pela forma em que o sujeito contorcia a sua cara, evidenciando a raiva que crescia nele. E ela nem ao menos precisou fazer tanto esforço para irritá-lo, ele era realmente patético. Ela já estava começando a se envergonhar por ter se deixado capturar por um ser tão insignificante, se continuasse assim ele acabaria se descuidando e ela teria uma chance de reagir.
- Vou fazer você engolir essas palavras garotinha! - Ele berrou mais uma vez, agora com a voz trêmula de raiva. Mas logo depois pareceu se acalmar e um sórdido sorriso se formou em seu rosto - Sabe de uma coisa? Acho que vou me divertir um pouquinho com você antes de lhe entregar para o meu mestre. Tenho certeza de que ele não vai se importar, afinal ele não pediu que você fosse entregue "inteira" a ele, se é que você me entende? - Ao terminar ele lançou um olhar desejoso sobre o corpo da menina, que sentiu seu estômago embrulhar só de cogitar a idéia de ser tocada por ele.
- Seu porco asqueroso! Não ouse encostar suas patas imundas em mim! Preferia mil vez receber um beijo de um dementador a ser tocada por um ser tão repugnante quanto você!
Ele apenas sorriu malicioso, ainda a olhando de cima a baixo. Ela estava ofegante pelo cansaço, a raiva e a tristeza castigavam seu coração a ponto de quase a fazer vacilar diante do olhar fulminante que ele lhe lançava. Mas ela não podia se render, não sem lutar. Tentou se concentrar em tudo o que aprendera, a fim de traçar uma estratégia de fuga após conseguir se apossar da varinha do comensal.
- "Se ao menos não estivesse chovendo tanto, talvez pudesse tentar..." - pensou ela, mas a forma que ele a olhava estava a perturbando profundamente e ela nem ao menos conseguia completar seu raciocino. Já não se contendo resolveu, então, botar em palavras toda a repugnância que ele lhe causava.
- Você não passa de um rato asqueroso, sabia? Um pau mandado de Voldemort! Você é a escória da escória! E esse seu cheiro de excremento de trasgo me da ânsias de vomito! Seu bosta!
Pronto. Aquilo parecia ter sido a gota d'água para o comensal, ele estreitou os seu olhos fixos nela, e o ódio transparecia visivelmente em sua face, agora sim ela tinha conseguido, ele estava furioso. Mas para o azar da garota ao invés de se descontrolar e distrair-se, como ela planejou, ele agiu de um forma muito mais agressiva. Com apenas um passo ele a alcançou e agarrou-lhe pelos cabelos, forçando-a a se levantar. Em seguida com a mão prateada que segurava firme entre os dedos a varinha, ele socou-lhe o rosto a atirando longe em uma possa de lama. A pobre menina caiu penosamente ao chão sentindo toda a dor do impacto em seu corpo já tão maltratado pelos últimos acontecimentos. Seu supercílio estava aberto e sangrava muito, a chuva que ainda caia forte lavava o seu rosto, um gosto amargo de sangue misturado com lágrimas descia até sua boca enquanto ela levava uma de suas mãos ao rosto. No entanto o seu orgulho não a deixou se dar por vencida. E assim que se sentiu capaz voltou a encarar seu agressor, já com uma resposta pronta para esse ato desprezível dele.
- COVARDE!!! Você é mesmo um grande covarde! Se acha muito homem batendo em uma garota desarmada, não é? Mas não teria coragem de me enfrentar em um duelo pra valer! Você sabe que não teria a mínima chance comigo, não é? Você sabe que não! E sabe que é por isso que aquele seu mestre megalomaníaco quer tanto acabar comigo. Por que ele me teme. Por isso ele mandou o seu servo mais imprestável pra fazer o seu trabalho sujo em seu lugar, para não ter de colocar o próprio pescoço em risco. E você, seu BABACA, achando que ele o enviou por que confia em você! VOCÊ É PATÉTICO!!!
- CALE-SE!!! Ou....
- Ou o quê? Vai me matar? Sabe tão bem como eu que não pode. Ele me quer viva! E acabaria com você se algo me acontecesse! - Ela abriu um sorriso sarcástico e desafiador - E então? Será que você tem coragem de desobedecê-lo? De enfrentar as conseqüências? Ou vai se comportar como o rato covarde que é e escutar calado a verdade? Vamos, reaja sua bicha covarde!
O comensal teve de se conter para não lançar uma Avada Kedavra na garota naquele exato momento, tamanho o ódio que o consumia. No entanto ele sabia que por um lado ela estava certa. Suas ordens eram de levá-la viva para seu mestre, e era isso mesmo que ele teria que fazer ou como ela disse, teria de 'enfrentar as conseqüências'. Mas ele não podia deixar por menos, afinal ele tinha sido um grifinório, e como tal, conhecido por sua coragem. Não permitiria que uma fedelha como essa o desmoralizasse dessa maneira. Então não podendo mais conter sua fúria ele gritou:
- ...ou isso! CRUCIO!!!
Dor. Nem frio, nem cansaço ou tristeza. Nada mais além de dor. Isso era tudo o que ela sabia existir naquele momento. Qualquer pensamento racional lhe fora varrido de sua mente, e substituído única e exclusivamente pela terrível sensação de dor. Era como se milhares de laminas flamejantes lhe rasgassem todo o corpo, e seus ossos pareciam estar sendo moídos por alguma força invisível. Ela sentia sua têmpora sendo terrivelmente pressionada, sua cabeça parecia estar prestes a explodir. Seus pulmões queimavam cada vez que ela fazia força para puxar o ar para dentro deles e ela sentia que estava prestes a perder a consciência a qualquer momento. Tentou abrir os olhos - que estavam turvos pelas lágrimas - mas a dor aumentou ainda mais, se é que isso era possível. O único som que ouvia eram os dos seus próprios gritos, e talvez, lá no fundo, uma gargalhada vitoriosa, que demonstrava todo o prazer que sua dor estava transmitindo ao terrível comensal.
Então, subitamente, assim como veio, a dor passou. Pouco a pouco ela começou a se dar conta do ambiente a sua volta. Ainda sentia os efeitos da maldição em seu corpo e não achava-se capaz de se mover. Fazendo uma força que lhe parecia sobre humana, ela forçou-se a abrir os olhos, mas nada enxergou. A tempestade ainda caia forte e o céu permanecia completamente encoberto por nuvens carregadas, que cobriam a noite com seu breu. A pouca luz que antes era emitida pelas chamas que consumiam o templo, agora encontravam-se extintas - evidenciando que, ao menos lá, a batalha havia sido encerrada. Essa constatação trouxe ao coração da pobre garota, a triste certeza de que havia chegado o seu fim e que tudo pelo qual ela, e tantos outros, haviam lutado por tantos anos estava perdido. Deixou, então, seu já tão torturado corpo relaxar sobre a lama na qual encontrava-se deitada, a fim de esperar o desfecho de seu triste destino.
Foi nesse momento, então, que seus ouvidos começaram a perceber o som de luta. Era como se alguém estivesse lutando contra uma fera selvagem, pois ela podia identificar o inconfundível som de rugidos de algum animal e os grunhidos desesperados, do que agora ela podia reconhecer ser o comensal. Mais uma vez ela entreabriu os olhos, mas continuou a não enxergar nada a sua frente - com exceção, talvez, de um vulto disforme que ela não conseguia identificar. E foi nesse instante que um forte trovão caiu sobre a ilha como uma terrível explosão, fazendo o chão tremer, ao passo que um ensurdecedor barulho abafou por alguns momento o som da chuva caindo e uma ofuscante claridade invadiu todo aquele lugar.
Agora ela entendia porque a sua tortura havia acabado tão repentinamente. Lá adiante, caído no chão e aos berros, estava o comensal que a perseguira durante toda aquela terrível noite, e sobre ele encontrava-se - agarrado a sua jugular - um imenso e feroz cão negro, que o atacava impiedosamente. Um forte alivio e uma sensação de segurança invadiram a pobre alma da garota, e ela não pode evitar que lágrimas de alegria - pela primeira vez naquela noite - rolassem livremente por seu rosto. No entanto ainda não era hora de comemorar. Ela sabia que seria questão de tempo até que o comensal conseguisse se desvencilhar do cão e retomar o controle da situação. Por isso ela se viu na dolorosa obrigação de fazer um último esforço, o qual poderia definir de uma vez aquela situação.
Tomando fôlego e reunindo suas últimas forças, ela ergueu o seu corpo - forçando-se a se sentar -, depois pouco a pouco ela foi se rastejando pelo chão, ao mesmo tempo em que o tateava, a procura de uma varinha. Não importava qual seria, ela simplesmente precisava encontra uma. Aquela busca não deve ter durado nem cinco minutos, no entanto para ela pareceu ser um século. Já estava quase entrando em desespero quando enfim ela sentiu entre os seus dedos o precioso objeto de seu desejo. Tinha uma varinha. Agora precisava de um plano. O que fazer? Por sorte algo logo lhe ocorreu e ela tratou de agir.
- Lumos!
Uma luzinha apareceu na ponta de sua varinha e ela a apontou para os dois a sua frente. Após definir a direção em que eles estavam ela conjurou um outro feitiço, dirigindo-o ao lado oposto em que eles se encontravam.
- Incendio!
Logo em seguida um tronco próximo a eles era tomado por uma chama azulada que não o consumia, mas irradiava luz suficiente para iluminar aquela pequena área. Agora só restava a ela se preparar e lançar o feitiço certo, na hora certa. Parecia que alguém lá em cima havia realmente decidido ajuda-la naquele momento tão difícil de sua vida - talvez para compensar tantas perdas já sofridas - pois no instante em que ela terminou seu raciocínio, aconteceu a oportunidade perfeita que ela precisava.
Foi quando o comensal parecia finalmente conseguir subjugar o cão - o rolando para o lado oposto ao que a garota se encontrava -, que a jovem bruxa encontrou a brecha que precisava. Ao dar as costas para ela, o comensal ficou indefeso diante da garota, e ela não perderia essa oportunidade única. Então ela agiu, lançando o seu feitiço contra ele.
- Estupefaça!
No instante seguinte, o bruxo gorducho caia desacordado sobre um cão aparentando estar muito confuso. A bruxinha deu um fraco sorriso, achando graça da cara do animal, mas logo em seguida tudo ficou escuro a sua volta e ela apenas sentiu seu corpo tombando no chão. Apenas por um breve momento ela perdeu a noção das coisas a sua volta, e não poderia dizer ao certo por quanto tempo apagara, pois apesar de agora se sentir incapaz de abrir os olhos ela ainda não havia perdido de tudo a sua consciência. Ainda pode sentir as geladas gotas de chuva caindo sobre o seu rosto levemente dormente pelo frio e o gosto de sangue voltando a sua boca. A varinha ainda estava segura entre seus dedos, tão fortemente que suas juntas estavam esbranquiçadas, mas ela simplesmente não conseguia soltar, era como se algo no seu subconsciente a dissesse que só assim ela ficaria segura.
Foi então que ela escutou passos, e em seguida sentiu alguém a erguendo no colo e uma voz carinhosa e preocupada sussurrando em seu ouvido.
- Tudo vai ficar bem agora....
Ela entreabriu os olhos uma última vez, e diante de si viu a expressão preocupada e cansada de um belo homem cujos longos e negros cabelos encontravam-se soltos e grudados ao rosto devido à chuva, e um largo sorriso se abria para ela em seus lábios. Então ela finalmente deixou o cansaço lhe vencer e adormeceu.
Aos poucos, ele sentia que suas pernas começavam a recuperar as forças. Apoiou-se na cama e se ergueu do chão. Seu corpo ainda dolorido e trêmulo. Suava frio outra vez, enquanto tentava recuperar o fôlego. Sentou-se na cama temendo que suas pernas não se agüentassem e que acabasse voltando ao chão. Passou as mãos pelos cabelos nervosamente, estava muito confuso. Ainda não conseguia entender o que havia acontecido. Em um momento ele estava terminando sua carta para Dumbledore e se preparando para voltar para a cama. E no outro, se contorcia de dor no chão. Uma dor muito forte por todo seu corpo tomara-o de assalto, o atirando ao chão - precisou morder o próprio punho para abafar seus gritos. Pensou por uns instantes e logo teve certeza, essa dor lhe era muito familiar - apesar de consideravelmente mais fraca -, e ele não tinha mais duvidas de sua origem. Era uma Cruciatus, com certeza. Mas quem a lançara?
Harry olhou assustado a sua volta. Não havia mais ninguém ali. O quarto estava vazio e sem sinais daquele que poderia ter o atacado. E pra piorar, ele tinha a nítida certeza de que ninguém havia o atacado. Isso era estranho. Também sabia intimamente que aquilo não havia sido coisa de Voldemort. Pois apesar de toda a dor que sentira, sua cicatriz não sofrera nenhuma das reações que é de costume acontecer sempre que Voldemort esta tramando algo. Sendo assim, ficava realmente muito difícil entender o que estava acontecendo. E se já não bastasse tudo isso, ainda tinha mais uma coisa que o intrigava. Durante o tempo em que ele esteve caído no chão sofrendo aquela estranha dor, ele teve a vaga impressão de ter ouvido alguém gritar. Um grito feminino, se não estava enganado. Sim, pois os seus é que não poderiam ter sido já que ele tivera o cuidado de os evitar. E depois, os gritos eram inconfundivelmente de uma garota. A garota de seu sonho! Teria sido ela?
Ele se levantou rapidamente, voltando para a escrivaninha. Precisava acrescentar este acontecimento a carta de Dumbledore. Enquanto escrevia detalhadamente tudo o que tinha sentido e ouvido, Harry sentia pouco a pouco um forte aperto no coração, e não conseguia parar de pensar na garota. "Será que ela está bem? E se eles a tiverem pego? Ou pior?" Rapidamente ele tentou desviar seus pensamentos dessa terrível possibilidade, não adiantava nada ficar se remoendo. E depois havia coisas mais relevantes para ele se preocupar naquele momento, como o motivo dele ter sentido aquela dor. Principalmente se esta estivesse de fato ligação com aquela garota, afinal isso nunca havia lhe acontecido antes. E o que afinal ele poderia ter em comum com essa garota e a mulher que ficara para trás com Voldemort?
Foi enquanto se fazia esta pergunta que ele sentiu uma corrente de ar passar rapidamente por sua cabeça, bagunçando de leve os seus cabelos. Se virando para trás ele pode ver a causadora disso. Era Edwiges, que acabara de voltar de seu passeio, e deixava cair mais um rato morto em sua gaiola. Harry que já havia terminado de escrever sua carta correu até a coruja e foi logo tentando amarra-la em sua pata.
- Sei que deve estar cansada garota... Mas preciso que você vá entregar essa carta o mais depressa possível para Dumbledore!
Ele apressou-se em explicar. Mas a coruja não parecia muito satisfeita com a sua mais nova missão. Pelo contrário, ela ficaria muito feliz em poder ficar quietinha em sua gaiola, apreciando sua refeição e descansando de sua muito bem sucedida noite de caça. Harry pareceu perceber a má vontade da ave, e tratou de lhe lançar o seu olhar mais suplicante, enquanto insistia.
- Por favor, Edwiges! É realmente importante que Dumbledore receba esta carta o quanto antes. E não há coruja melhor para fazer esta entrega a ele... não confiaria em mais ninguém pra isso.
Pronto. Harry havia conseguido acertar bem no ponto fraco da coruja, seu orgulho. A bela ave pareceu ficar extremamente honrada com o comentário que seu dono fizera, e tratou de estufar bem o peito e lhe estender a pata, para que este pudesse prender-lhe a carta, demonstrando toda a sua eficiência. Harry lhe deu um sorriso grato, e prometeu-lhe um pacote de petiscos de coruja quando ela voltasse.
Ele ainda ficou um tempo sentado em sua cama observando um pontinha branco - que era sua coruja - desaparecer no horizonte, que agora começava a ficar tingido com um azul claro evidenciando que o dia começava a amanhecer. Harry deitou-se de novo, para esperar os tios acordarem para um novo dia, não esperando adormecer de novo tamanha a confusão que estavam seus pensamentos. No entanto não demorou muito para que ele caísse em um sono profundo e sem sonhos.
Continua......
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