Uma forte amizade



- Como ela foi capaz de falar comigo daquele jeito? - Tiago perguntou.
- Ela sempre fala com você daquele jeito - respondeu Pedro inocentemente.
Tiago lançou a ele um olhar lancinante.
- Eu acho que essa era uma pergunta retórica, Rabicho - Remo advertiu o garoto.
- Se bem que pegou mal ela ter gritado com o Pontas na frente de toda a escola.
O episódio ao qual eles se referiam não era ao narrado anteriormente, mas sim ao que muitos leitores já conhecem - a pior lembrança de Snape. Eram 6 horas, e os Marotos estavam na biblioteca. Não que eles, talvez à exceção de Remo, gostassem de freqüentar a biblioteca, mas, como os N.O.M.s tinham acabado, era o local que estava menos tumultuado por alunos. E, embora eles adorassem chamar atenção, principalmente Tiago, o vexame que Lílian o fizera passar lhe proporcionara uma ferida no ego.
- O que há de errado comigo, galera? Hein?
Os amigos encararam Tiago por um breve momento e, depois, se entreolharam. Lílian já deixara claro que o exibicionismo e a arrogência dele a irritavam.
- Talvez... - arriscou Pedro.
- Talvez o quê?
Sirius abafou uma risada.
- Não sei. Se você... não pegasse mais no pé do Ranhoso.
- O quê? Mas isso é contra os princípios dos Marotos - Sirius argumentava. - Digo, por que alguém seria amigo de um cara que anda com Avery e Mulciber em público?
- Hoje, ele não foi nada gentil com ela - lembrou Tiago.
- Não é ser amigo - Remo tentou esclarecer. - É apenas uma questão de tolerância. E não finja que não sabe o que é isso, Pontas. Lembra que você chegou a salvar a vida do Ranhoso quando eu quase o mordi?
- Naquela noite, as circunstâncias eram diferentas - inconscientemente Tiago elevava a força da voz. Eu estava salvando a pele dos Marotos. O maldito Ranhoso não tinha nada para fazer na Casa dos Gritos.
- Mas se preocupar com a própria pele não vai fazer Lílian se apaixonar por você - Remo gritou com a mesma intensidade do colega.
- Disso eu já sei.
- Se já sabe, por que vive enchendo a gente com esse assunto?
Remo sentiu uma inexplicável vergonha do que acabara de falar. Tiago demorou a responder. Olhou nos olhos de Remo, demonstrando que achava a resposta óbvia.
- Porque eu achava que eram meus amigos.
Sirius não sabia o que fazer ou falar. Estava surpreendido. Tentava entender como a despretensiosa conversa de minutos atrás estava se transformando numa briga entre seus dois melhores amigos.
- Olha, não precisa ficar chateado - Sirius disse em tom de defesa. - Só estamos tentado ajudar você.
- E você concorda com isso, Almofadinhas? Você acha que deixar de implicar com o Ranhoso é a solução? Também acha que eu só me preocupo comigo mesmo?
- Eu não acho... - Pedro tentou falar, mas foi interrompido.
- Não! Mas talvez Aluado tenha razão, Tiago - foi a primeira vez, em muito tempo, que Sirius chamou o amigo pelo nome. - Talvez... ignorar o Snape seja o melhor a se fazer, se quer fazer com que Evans olhe para você.
Tiago não respondeu à réplica de Sirius. Apenas o encarou desapontadamente.
- Vamos, você não é idiota. Sabe que a Evans e o Snape têm uma amizade forte.
O garoto só conseguiu dizer uma coisa:
- Mais forte do que eu imaginava que a nossa fosse.
Ele se levantou e saiu para o corredor, dando as costas aos outros. Quando Madame Pince, a bibliotecária, quis saber o motivo de tanta gritaria, Tiago a mandou para o inferno, o que custou vinte pontos à Grifinória.
- E agora? - perguntou Pedro. - Nunca brigamos tão feio assim.
- Ele só precisa de um tempo para pensar, Rabicho - respondeu Remo.
Sirius completou:
- E ele tem o verão inteiro.

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