The Letter



 Pull Down - Promete






Ela estava deitada. Os olhos muito vermelhos e molhados, ainda marejados de lágrimas, a cabeça pesada e latejante. O corpo todo pedia por uma longa noite de descanso, mas seus olhos se recusavam a fechar, e sua mente não parava de pensar.
Cansada e fazendo um enorme esforço, levantou a cabeça e olhou para o relógio ao lado de sua cama; 3:47h da madrugada. Era essa a hora marcada por ele. Até os ponteiros já indicavam que ela precisava dormir, ainda mais depois daquele dia terrível.
Samantha Smoff virou-se para o lado, e viu todas as suas colegas de quarto que já dormiam há muito tempo. Olhou para cima e o sorriso irônico e apaixonante de Sirius Black lhe veio à mente, e seus olhos começaram a embaçar de lágrimas novamente, enquanto ela as deixava escorrer até que caíssem nos lençóis e fossem absorvidas por eles.

Depois de quase 1 ano de namoro muito atormentando, Sirius traíra Samantha. Eles brigavam muito e por motivos releváveis, mas se amavam e era isso que fizera o namoro dos dois dar certo por tanto tempo, e então... Então a bomba de que Sirius a havia traído, e ao perguntar para ele, viu que seus olhos tomaram uma expressão aterrorizada, e depois de logos segundos de silêncio, veio a resposta, seca e rápida: ”Posso explicar”. Aquelas 2 palavras lhe entraram pela alma como um torpedo súbito, e ela parou de ouvir tudo que estava acontecendo em volta. Sentiu um nó na garganta, então saiu correndo em direção ao dormitório sem dar ouvidos aos gritos de Sirius, que a chamava desesperado.
Ela conhecia a fama de Sirius, e mesmo assim achou que conseguiria domá-lo depois daquela tarde na margem do lado, em que ele a pediu em namoro e a beijou tão intensa e apaixonadamente que sorria só de lembrar.

Ela não sabia bem ao certo que horas havia entrado no dormitório, só o que sabia era que já era noite, mas não muito tarde.
Tudo o que lhe passou pela cabeça foi dar um feitiço anti-som nas cortinas que envolviam sua cama, e então se jogou sobre o travesseiro chorando como nunca havia chorado antes. As lágrimas lhe saltavam dos olhos repentinamente, e ela não conseguia conte-las. Cada lembrança de Sirius agora lhe causava mais dor, eram como mais uma faca pequena e torturante entrando em seu peito. As emoções eram tão fortes, a dor tão aguda, que não podendo ser traduzida em nenhuma língua conhecida pela homem, saíam na forma de lágrimas.
Samantha chorou, chorou e chorou. Chorou tudo o que tinha pra chorar, de todas as brigas anteriores e de todos os rancores já guardados até aquele momento. Chorou por tudo, chorou por Sirius Black. O rosto dele lhe passava pela mente fazendo cair mais lágrimas e ela não conseguia entender o porquê de Sirius ter feito aquilo com ela depois de tantas juras de amor.
Resolveu que choraria até sentir seu peito mais leve, e sua alma mais solta. Até que se sentisse liberta de Sirius e daquele amor. Até que se sentisse pronta pra superar tudo o que sentia aos poucos, sem mais lágrimas.
Agora sentia seus olhos inchados e a visão meio embaçada, chorou direto, sem um minuto de intervalo até aquela hora em que olhou para o relógio que mostrava 3:47 da manhã, mostrando que deveria dormir para a aula no dia seguinte. Mas não iria a aula, somente nas aulas do período da tarde, quando seus olhos estivessem melhores.
Então virou-se para lado e adormeceu.
Sirius Black estava fora da sua vida. Para sempre.





Ele estava sentado na escrivaninha de seu dormitório, a caneta presa a seus dedos, imóvel, parecendo esperar o dono da mão escrever algo que fizesse sentido.
Sirius Black tinha os cabelos mais bagunçados que o normal, e meio oleosos de tantas passadas desesperadas de mão que recebera até aquele momento. O nó na garganta lhe sufocava, obrigando-o a dar longos suspiros de quando em quando para não chorar, e mesmo assim três manchas molhadas já apareciam no papel em branco à sua frente.

Algumas horas atrás, enquanto estava debaixo do salgueiro com seu inseparável grupo de amigos, sua namorada (ou ex-namorada, já não sabia mais), veio procura-lo, e fez a única pergunta que nunca poderia ter feito; “É verdade que me traiu?!”.
Ele percebeu, dentro dos olhos da garota, um misto de fúria, tristeza e decepção, quando, ao se ver sem saída, não tendo o que responder e não podendo enrolar mais, só conseguiu dizer “Posso explicar”. Ele não pôde mentir para Samantha naquele momento, não pôde mentir para a garota que o estava acompanhando há 1 ano, a única garota por quem ele já havia se apaixonado em sua vida. Achou justo dizer-lhe a verdade, mas sabia que não havia cometido um ato justo.
Quando viu seu amor correndo para dentro do castelo, num impulso chamou seu nome, mas seu corpo paralisou-se, chocado, desorientado com a cena que havia acabado de acontecer.

No começo do namoro, quando Samantha ainda não havia penetrado completamente em seu coração, outra garota, que Sirius achava muito bonita, o seduziu depois de algumas doses de uísque-de-fogo, e acabou acontecendo; um beijo, nada mais. Mas ainda assim, a traição foi cometida. Sirius jamais imaginou que Samantha tomaria conhecimento de um ato tão momentâneo e sem importância depois de quase 1 ano, muito menos que isso acabaria com seu namoro.

Lembrou-se de como se sentiu vivo e feliz, e de como um bem-estar enorme e uma luz intensa e invisível o invadiram enquanto estava sentado na margem naquele lindo lago, banhado pela luz alaranjada do pôr-do-sol com Samantha, abraçados e encostados no tronco da árvore. Samantha deitada em seu ombro, e Sirius fazendo cafuné em seus belos e longos cabelos castanhos e lisos. Sentiu que era a hora perfeita, esquivou-se da cabeça de Samantha, segurando seu queixo para que se olhassem nos olhos, e a pediu em namoro. Ela abriu um sorriso lindo, o sorriso mais lindo e sincero que ele já havia visto, e percebeu que estava apaixonado. Ela o olhou fixamente, ainda sorrindo, e respondeu “É claro!”. Então, ele a beijou como não se lembrava de já ter beijado alguém em toda sua vida.

Essa lembrança fez os olhos de Sirius se encherem novamente de lágrimas, lágrimas estas que ele não segurou, e deixou-as escorrer por seu rosto até então limpo e muito tenso. Ele não se lembrava quando tinha sido a última vez que havia chorado, mas sabia que era a primeira vez que chorava por amor, por uma garota, e por arrependimento. Tampou o rosto com as mãos, chorando em silêncio, mas intensamente. Agora que as lágrimas finalmente haviam conseguido vencer sua força para não chorar, saíam desenfreadas, sem que ele pudesse conte-las. O nó em sua garganta ainda estava lá, mas agora um pouco mais frouxo.
Olhou para o porta-retrato na cabeceira de sua cama, e seus olhos se depararam com a bela foto em que Samantha ria abraçando e sendo abraçada por ele pela cintura, e o beijava no rosto. O aperto em seu peito aumentou novamente, e seu coração foi espremido de tal forma, que o que restou dele naquele momento esvaiu-se pelos olhos.



Uma semana se passou, e a dor no peito de ambos não diminuiu, apenas ficava mais intensa a cada vez que se cruzavam. Samantha não chorava, mas não conseguia tirar da cabeça aquele garoto que fez ela se sentir leve, e dar sorrisos fáceis de tão contente que estava.
Sirius tinha permanentes olheiras, e há dias não mostrava os dentes, nem mesmo comia. Estava pálido, e andava com a cabeça baixa.

Sirius foi ao corujal, não agüentando mais aquela agonia, e escreveu a carta que não escreveu há uma semana. No papel, derramou todas as palavras que queria dizer à Samantha, e toda a dor que estava sentindo. Explicou como aquele terrível erro aconteceu, e como não foi de importância alguma para ele. Tentou dizer como amava Samantha, e como isso se tornou cada vez mais óbvio a cada minuto que ela não estava com ele na semana que passou. Por último, escreveu que só não dizia todas aquelas coisas pessoalmente porque tinha certeza de que ela não iria querer ouvir.

Terminando a carta, leu e releu tomando nota de cada linha que escrevera, praticamente decorando-a. Por fim, amassou o papel e o colocou no bolso, pois seria arriscado deixa-lo ali no corujal.
Algumas horas se passaram, e Sirius foi tomar banho, deixando a calça com a carta amassada sobre a cama. Seus amigos perceberam que havia algo na calça, e logo pegaram a carta.
Ao lerem, olharam-se perplexos.
- Acho que o Sirius gosta mesmo da Samantha, é nosso dever entregar essa carta a ela! Não agüento mais ver nosso amigo nesse estado! – disse Remo.
Os outros concordaram, e entregariam a carta à Samantha o quanto antes.
- Samantha, precisamos te entregar algo.
- Sei que diz respeito ao Sirius, então não preciso saber.
- É sério. Apenas leia essa carta.
Ela pegou a carta amassada, observando-a por um instante, concluindo que aquela carta não deveria ter sido entregue a ela, mas agora estava lá, e ela deveria ler.
Os garotos se afastaram, deixando-a sozinha com as palavras ainda escondidas de Sirius.
Começou a ler:

”Não sei bem como começar essa carta, não sei o que dizer a alguém que por tanto tempo foi muito íntima minha, e que de repente não posso nem mais chegar perto.
Não sei como aconteceu, mas você ficou sabendo de um erro (o maior erro que já cometi) que fiz há muitos meses, e que não teve a menor importância pra mim, mas que acabou arruinando o nosso namoro. Acabou me separando da pessoa que eu mais amei em toda minha vida.
Faço questão de te explicar como aconteceu: quando namorávamos há mais ou menos 1 mês, saí com meus amigos, fui a Hogsmead, e Leandra estava lá. Você deve saber que ela sempre tentou algo comigo, e naquele dia eu havia bebido algumas doses de uíque-de-fogo a mais, mesmo não podendo, e quando Leandra veio conversar comigo, dando em cima de mim, eu dei corda. Até que ela tentou me beijar, e eu deixei. Mas foi apenas 1 beijo, um beijo sem significado, do qual me arrependi muito depois, e jurei que nunca mais faria algo assim com você. E eu cumpri.
Não sei quem te contou sobre isso, mas juro que se soubesse, eu esganaria quem quer que fosse por ter arruinado nosso namoro, e te feito tão triste (e me feito o cara mais triste do mundo também).
Não como há dias, não sinto mais vontade de ir às aulas, não gosto mais de conversar com meus amigos, e o suco de abóbora de Hogwarts não parece ter o mesmo gosto.
Nossa foto ainda está em minha cabeceira, e não sairá de lá tão cedo. É o único meio que tenho de poder te ver sorrindo para mim todos os dias, e me dando um beijo, mesmo que seja no rosto.
Estou com saudades, os dias estão demorando para passar, e a todo minuto sinto uma vontade imensa de te abraçar e te dizer tudo isso pessoalmente.
Você foi a pessoa que mais amei e que mais amo na minha vida. Não espero que volte para mim, mas quero deixar marcado que sua falta nunca esteve tão presente, e que tudo o que sinto nunca esteve tão óbvio.
Eu te Amo.
Só não te falo tudo isso pessoalmente porque tenho certeza de que não irá querer me ouvir.
Com amor, do eternamente seu:
Sirius Black.”


Ao terminar de ler, Samantha tinha lágrimas nos olhos, e o coração estava apertado e palpitante ao mesmo tempo.
Foi correndo para a sala comunal da Grifinória, e ao entrar deparou-se com Sirius mexendo na lenha da lareira.

Num impulso, correu até ele e se jogou em seus braços, bem na sua frente. Ele, surpreso, demorou a entender o que estava acontecendo, e quando viu Samantha em seus braços, soluçando, a abraçou o mais forte que pode, sentindo um alívio enorme envolver seu peito.
Depois de muito tempo assim, ela se afastou um pouco dele, secou uma lágrima com a manga da blusa, e lhe entregou a carta.
Ele a olhou, surpreso vendo a carta que ele escrevera mais cedo, ainda amassada mas agora esticada para poder ser lida.
- Essa carta... eu não... eu não te mandar, mas...
- Acredite, foi melhor eu tê-la recebido. Se eu nunca tivesse lido não sei o que seria de nós dois.
Ele esboçou um sorriso, ainda perplexo, mil perguntas se formavam em sua cabeça. E a imagem de Samantha sentada à sua frente olhando para ele com olhos lacrimosos, sorrindo.
- Me desculpe, Sirius. Desculpe pornão ter te dado ouvidos! Foi pior pra nós dois, eu devia ter parado para te escutar, eu devia ter te perdoado desde o primeiro instante! - ela o abraçou novamente.
- Não tem problema, meu amor. O importante é que agora você está aqui, e nós estamos juntos novamente! Eu não podia estar mais feliz, foi tudo que eu mais desejei nessa última semana!
- Sirius... Sirius, eu te amo tanto!
- Eu te amo mais do que você imagina, Sam. Muito mais!
Eles se beijaram longa e apaixonadamente, como se não se vissem há anos.
- Nunca mais vamos nos separar! Nunca! - disse Sirius, agora parecia curado do choque de ver Samantha novamente em seus braços.
- Nunca mais, amor! - ela sorriu passando a mão em seu rosto.
- Vamos, temos que mostrar pra Hogwarts inteira que estmos juntos novamente!

E se levantaram, e saíram andando de mãos dadas, rindo como bobos um para o outro...

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