Epílogo



Epílogo

Mais um dia estava nascendo.O sol demonstrava que estaria radiante aquele dia. A alguns anos, ele tinha o hábito de acordar para assistir o maravilhoso espetáculo do nascer do sol. Aquele fato não representava mais um dia que estava começando, mas mais um dia em que ele estava vivo, feliz e ao lado daqueles que amava. Ele ainda permanecia deitado em sua cama, porém as cortinas estavam abertas, pois ele nunca perderia a chance de apreciar o sol, a lua e as estrelas e eles nunca atrapalhavam seu sono. Olhando para o céu, era o momento em que ele sentia somente paz.
O barulho de passos no corredor, atraiu sua atenção para a única porta do aposento. Um instante depois a porta foi aberta e uma pequena criaturinha passou rapidamente, fechando-a atrás de si. Ele olhou diretamente para a cama e sorriu radiante ao perceber a pessoa que repousava, já estava acordada.
- Bom dia vovô. – Disse um pequeno menino, correndo em direção a cama e abraçando o homem deitado.
- Calma Arthur. Você sabe que o vovô já está velho e não agüenta mais esses abraços entusiasmados.
O homem se senta muito devagar na cama devido a sua idade avançada. O neto o ajuda e entrega seus óculos que estavam na mesa de cabeceira. Os óculos o acompanharam durante toda sua vida, mas eles não eram mais os mesmos. Depois de todos aqueles anos, pouco ele enxergava e mesmo os graus imensos não clareavam completamente sua visão. Ele nunca quis que a magia o ajudasse nisso. Aqueles óculos eram o que marcava de onde ele veio, como ele era e o que ele se tornou, não só para ele, mas para muitas outras pessoas.
- Desculpa vovô, é que eu sonhei que o senhor tinha ido se encontrar com a vovó e eu fiquei preocupado que o senhor não estivesse mais aqui. E eu senti saudades da vovó também.
Gina havia partido a poucos anos. Arthur era tão pequeno naquela época que Harry não conseguia entender como o neto conseguia se lembrar tão bem da avó. Mas quem não se lembraria de sua querida Gina. Sempre tão carinhosa e tão atenciosa e o neto com certeza se lembraria senão do rosto de sua avó, mas de todo o carinho que ele recebia dela.
- Eu também sinto muita falta de sua avó meu querido e um dia eu vou mesmo me encontrar com ela, mas eu quero que você se lembre de uma coisa que me fez surportar muitas coisas ruins na minha vida e a perda de pessoas muito queridas. As pessoas que nos amam nunca nos deixam realmente, você sempre pode encontrá-las aqui.
Harry toca o coração do neto e pensa se aquilo realmente vai consolá-lo nos momentos de dor como o havia consolado.
- Está vendo aquele albúm em cima da mesa, Arthur?
O garotinho olha e vê o albúm preferido de seu avô sobre uma mesinha no canto do quarto. Quantas vezes ele já tinha folheado aquele albúm? Quantas vezes o menino já tinha visto o avô chorar sobre aquelas fotos? Nem ele nem ninguém saberia responder essas questões.
- Sim, vovô.
- Pode pegá-lo para mim querido.
O menino se levanta da cama e pega o albúm. Ele nem imaginava como aquele albúm havia crescido desde que seu avô o havia recebido como presente de aniversário quando era apenas um pouco mais velho do que ele próprio. Com dificuldade o menino subiu novamente na cama e colocou o albúm no colo de seu avô.
- Eu sei que você já viu esse albúm várias vezes e eu também e nós nunca devemos viver no passado ou esqueceremos de viver, mas eu aprendi que devemos viver olhando para o futuro, porém não é necessário esquecer as pessoas que foram muito importantes em nossas vidas. Aqui nessas páginas estão pessoas muito importantes para mim que já se foram e olhando essas páginas eu posso sentí-las vivas aqui comigo.
Harry abriu o albúm e começou a folhear as páginas. Por um momento ele pensou que se aquele não fosse um objeto mágico estaria imensamente desgastado pela quantidade de vezes que ele foi manuseado e pela passagem do tempo. Ultimamente todos os dias ele olhava aquelas fotos. Tantas pessoas queridas que já se foram. Seus melhores amigos e sua esposa foram os últimas pessoas mais amadas que ele havia perdido, mas foi um sentimento completamente diferente das outras vezes que ele perdeu alguém muito importante e muito querido. Eles já eram bem velhos, assim como ele e havia chegado a hora deles partirem tranqüilamente. Não houve surpresa em nenhuma das vezes. Todos sabiam que havia chegado a hora e Harry sabia que em breve seria sua vez de partir para a grande aventura seguinte. E ele estava pronto para isso.
- Aqui estão as pessoas mais importantes da minha vida. Cada um deles me deixou alguma marca que me tornou o que eu sou hoje e eu tenho muito orgulho disso. Eu quero que você cresça e saiba a quantidade de pessoas que te amam e que desejam que você seja feliz. – Harry fecha o albúm e o entrega para o neto. – E é por isso que eu quero que você fique com isso, para que nunca se esqueça, que o mais importante, é sempre o amor.
- Você quer que eu fique com o seu albúm vovô? Mas você gosta tanto dele.
Arthur vê o avô olhar para janela mais uma vez, focalizando o céu, mas seu olhar começa a ficar distante e vazio.
- Está se sentindo bem vovô? – Pergunta o neto preocupado.
- Estou sim meu querido e pode ficar com o meu album, eu não vou mais precisar dele.
Harry olhando para o céu começa a ver algumas coisas que ele nunca tinha reparado. Um leve sorriso surge em seu rosto e muito distante de onde ele estava podia ouvir o neto gritando por ele. Ele era tão pequeno, mas era muito esperto e amável. Iria entender e superar o que aconteceu se ele se lembrasse que o avó nunca realmente o deixaria.
Harry por um momento achou que ainda estava olhando para o céu, depois se viu envolto de uma neblima muito espessa. Talvez seus óculos estivessem embaçados por isso ele não conseguia ver absolutamente nada, mas ao levar a mão ao rosto além de se espantar por estar sem óculos, se espantou por ter movimentado o braço tão facilmente. Ele se levantou de algo que parecia sua cama e se surpreendeu por fazer isso com tanta facilidade. Tocou seu rosto com mais cuidado e percebeu que não haviam mais rugas e sua pele estava intacta, mesmo da cicatriz que o acompanhou durante todos aqueles anos.
Aos poucos a névoa se dissipava e ele pôde reconhecer o lugar. Um sorriso brotou de seus lábios ao perceber onde estava. Mais uma vez ele teria que fazer a sua escolha, mas desta vez ele não retornaria. Sua missão havia terminado e agora era o momento dele rever aqueles que ele tanto amava. O lugar parecia ler seus pensamentos, pois no momento em que ele pensou nisso, ao longe ele pôde ouvir o som de um trem vindo diretamente para a estação. O trem era exatamente como ele se lembrava e com mesmo sentimento de exaltação que ele sentia desde a primeira vez que ele embarcou no expresso de Hogwarts, as portas se abriram e ele entrou no trem.
A primeira vista não parecia ter ninguém, mas um olhar mais minucioso revelou alguém sentado bem no fim do vagão olhando diretamente para ele. Aqueles olhos azuis eram inesquecíveis e aquele sorriso acabou com qualquer receio que ele pudesse ter.
Harry caminhou até o homem de longas barbas brancas, exatamente como ele se lembrava, e com os olhos marejados sentou ao seu lado. Assim que ele se sentou o trem partiu. Harry pôde perceber que seus olhos também estavam marejados e ele o abraçou como um pai abraçaria seu filho.
- Eu sei que lhe disse isso uma vez, mas direi quantas forem preciso, que homem corajoso, Harry. Eu tenho orgulho de você como nunca senti de ninguém em toda minha vida.
- Obrigado, mas desta vez, eu quero prosseguir.
- E eu não esperaria outra coisa. Você fez tudo o que tinha que fazer, e maravilhosamente bem eu devo acrescentar, mas agora chegou a hora de você desfrutar por tudo aquilo pelo qual você lutou durante tanto tempo. Você mais do que ninguém merece paz e tranquilidade ao lado daqueles que você tanto ama.
- Por que eu estou assim? – Disse Harry novamente tocando o seu rosto. – Me sinto tão jovem agora.
- Aqui não existe tempo e espaço. Você reencontará as pessoas que ama e as verá como você quiser ver, como mais lhe agradar, e elas também lhe verão da mesma maneira. Só o que importa aqui é a intensidade do amor.
- Desta vez isso é realmente real, ou novamente só está acontecendo dentro da minha mente?
Nesse momento as portas do trem se abriram e estavam prontas para que um de seus passageiros desembarcasse.
- A única coisa com que você precisa se preocupar é que a felicidade que você sentirá aqui será real. Você só precisa deixar suas preocupações e angústias aqui dentro e seguir para ser feliz.
Harry se levanta e olha a porta mais próxima. Assim como na estação, não era possível enxergar muito do lado de fora. A neblina continuava espessa, mas ele sentia que um sentimento muito bom o impelia para fora do trem.
- O senhor não vem comigo?
- Eu acho que não. Já segurei você por tempo demais aqui, mas não se preocupe, nos veremos muito em breve. Por isso desta vez não direi adeus.
Harry seguiu em direção a porta e desembarcou. Como mágica as portas se fecharam e o trem continuou seu trajeto muito mais silenciosamente. Por um momento ele ficou parado imaginando o que aconteceria agora, quando ele sentiu um cheiro único, muito característico daquela com quem ele dividiu sua vida durante tantos anos.
- Achei que passaria a eternidade esperando por você.
Harry ouviu aquela voz que ele tanto amava pronunciar a suas costas e ele não precisou de um segundo aviso para se virar e ver se era verdade o que estava acontecendo. Ela estava ali, praticamente ao alcançe de suas mãos, com seu sorriso angelical no rosto. Ela era a garota que ele se lembrava quando eles deram o seu primeiro beijo. Mas ele não precisou de mais do que dois segundos para admirá-la, quando correu para poder sentí-la novamente em seus braços e a sensação continuava a ser maravilhosa.
- Eu senti tanto a sua falta.- Disse Harry sentindo o doce aroma dos cabelos de Gina.
- Eu também meu amor, mas agora nós teremos toda a eternidade juntos. E eu não vim receber você sozinha.
Harry olhou em volta e se espantou ao perceber que não tinha notado que outras pessoas estavam se aproximando. Não eram muitas, mas cada uma que estava presente naquele momento o salvou de algum jeito. Seja da morte, da tristeza ou da solidão. Cada uma daquelas pessoas o havia ensinado o verdadeiro significado da palavra amar. Cada dia de sua vida ele agradecia por aquelas pessoas terem existido e agora estavam todas ali para recebe-lo.
Seus pais exatamente como ele via nas fotos, estavam de mãos dadas. Sua mãe com os olhos cheios de lágrimas e seu pai com um sorriso enorme no rosto. Logo adiante estavam Sirius e Lupin, jovens e bonitos com sorrisos marotos em seus rostos. Mais atrás, mas nem um pouco escondido, estava Hagrid, com um enorme lenço na mão tentando em vão secar suas lágrimas. E agora quase ao seu lado estavam Rony e Hermione. Eles eram exatamente os mesmos que ele se lembrava quando eles eram jovens. Os dois olharam para Harry, Hermione com lágrimas em seus olhos, e os três se abraçaram, como não faziam a muito tempo. Palavras não precisavam ser ditas.
Os três amigos eram observados com orgulho por todos os outros presentes. Aquela amizade sempre foi mais forte do que qualquer obstáculo que precisasse ser enfrentado. Eles se amavam com uma intensidade incalculável e naquele lugar todos podiam sentir.
Após um tempo eles se separaram e Harry pode olhar ao redor. A neblina estava quase totalmente dissipada e ele podia ver tudo claramente agora. Parecia que ele estava em um sonho totalmente mágico. Ele podia ver Hogwarts, com todas as suas torres e janelas refletindo o sol. O beco diagonal com todas as suas lojas maravilhosas. E um lugar que ele sempre considerou como um lar, a toca.
Todos esses lugares estavam com vários outros conhecidos que ele desejava muito ver. Mas naquele momento aquelas oito pessoas que estavam com ele era tudo o que ele precisava, afinal agora ele tinha toda a eternidade para dedicar a todos que ele tanto amava.
Lilian se aproximou e segurou a mão de seu filho e o abraçou como ela desejou tantas vezes fazer.
- Bem vindo ao lar, meu amor.
- É, meu lar.- Disse Harry olhando a sua volta.
Depois de tanto tempo, e de tantas dificuldades, ele finalmente havia encontrado o seu verdadeiro lar.

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