Capitulo 1
Capitulo 1
“Algemado como um Marginal? Confesse?”
A pergunta continuava a ressoar na cabeça de James: por quê?
Sr. Evans, preso? Por quê? Acusado de quê? Como é que o contador da escola podia ter sido levado da diretoria por dois policiais, algemado como um bandido qualquer? Logo o contador do Colégio Hogwarts High School, o instituto de educação mais antigo e famoso da cidade?
Sr. Evans, preso! O pai da Lílian, aquela garota maravilhosa da sua classe... A linda Lily... James sabia que ela era linda, que era a mais linda de todas as garotas da escola...
O garoto só não sabia o que pensar...
"Ainda ontem à noite... eu... com a mamãe... falamos do Sr. Evans... e... e... Da Lílian! Por causa do baile de formatura do 3° ano! Eu estava tão feliz... Comecei até perguntando por que a mamãe nunca mais namorou..."
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- Porque você nunca mais namorou, mãe?
- Ora, James! Isso é coisa que se pergunte a própria mãe?
- Se a própria mãe está viúva há 8 anos, é para a própria mãe que eu tenho que fazer essa pergunta, não é?
- Tem muito "própria mãe" nessa frase, meu filho!
Os dois riram. O pequenino Almofadinhas, deitado no tapete, latiu, como se tivesse entendido a brincadeira. Pelo menos em muitas das noites era assim. Depois que a mãe voltava do trabalho no hospital, os dois jantavam juntos, conversando sem parar, e ligavam o som. Dançar era a antiga paixão da mãe, introduzida desde cedo na educação de James.
Sarah era ainda uma bela mulher, nos seus poucos mais de 30 anos. Passara um quarto de sua vida como viúva e, pelo jeito, passaria mais. Trabalhava como enfermeira durante o dia inteiro e ia conseguindo transformar em homem o menino que o pai deixara órfão há 8 anos.
James sabia que o casamento dos pais tinha sido curto. Pelo jeito, a morte não gosta de felicidades perfeitas... Sarah parecia viver somente das recordações desse casamento que o passar do tempo tornava cada vez mais perfeito: a memória teima em esquecer detalhes ruins que poderiam prejudicar a lembrança do que se gosta de lembrar. E James era a lembrança do marido de que ela mais gostava.
- Hum... Como você está guiando bem, meu filho... – cumprimentou a mãe quando a música chegou ao fim – Ah, agora lembrei: preciso preparar você para a festa de fim de ano!
- Que festa, mãe? A do Centenário de Hogwarts?
- Ai, James! Você esqueceu que a festa do centenário da escola coincide com a sua festa de formatura? E eu ainda não te ensinei a dançar valsa!
O rapaz fez cara de chateado.
- Valsa, mãe?! Mas que velharia!
Desde pequeno, desde que o pai era vivo, James tinha aprendido a gostar de música. De todo tipo de música, mas, depois que chegou a adolescência, seu gosto estava mais para popular do que para clássicos. Sarah não ligou para a objeção do filho e pôs-se a procurar na pequena estante.
- Você estuda em um colégio tradicional, querido. Ninguém pode imaginar um baile de formatura em Hogwarts sem valsa... – afastou as fitas e começou a examinar uma pilha de velhos discos – Deixa ver.... Valsa eu só tenho em vinil.. Há quanto tempo a gente não ouve esses discos! Aqui está: Valsas Inesquecíveis de Johann Strauss!
- Valsas Inesquecíveis, mãe...? Isso todo mundo já esqueceu faz tempo... – mentiu James, que já ouvira aquele disco umas mil vezes.
Sarah ligou o toca discos. Um som de violinos, cheio de chiados, preencheu a sala e a mãe aproximou-se do filho. O rapaz sorriu, aceitando o jogo. Tinha extrema facilidade para aprender novos passos e, depois de duas ou três voltas, já estava guiando a mãe em círculos pela pequena sala da casa. A mãe fez cara de gozadora.
- Não é gostoso James? Em toda formatura tem valsa. A das madrinhas é minha. E com quem você vai dançar a valsa dos namorados?
O rapaz parou de dançar subitamente.
- O que foi filho?
Toda a alegria do momento parecia ter sumido. O rapaz ficou vermelho e explodiu:
- Eu não sou como os outros mamãe! Nunca poderei ser como os outros! Quem vai querer namorar alguém como eu?
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Já estava mais calmo quando a mãe saiu do quarto, depois de beijá-lo. Ela sabia como animar o filho. Repetiu inúmeras vezes que ele era igual a qualquer um, que poderia fazer o que quisesse na vida. Não freqüentava a melhor escola da cidade? E sempre se saindo muito bem, embora fosse o único aluno "especial" que já tinha estudado em Hogwarts em todos aqueles cem anos? Não tinha até conseguido aprender a usar computadores, enquanto a maioria de seus colegas ainda estava só nos videogames? Não dançava melhor do que qualquer um? Não nadava melhor que todos?
O único aluno "especial" de Hogwarts! A moderna pedagogia, para garotos como ele, recomendava a educação integrada e não segregada. Tradicionalmente, a direção reservava uma parte de suas vagas para bons alunos sem recursos, era "especial". Hogwarts era duro demais e continuava recusando-se a ampliar as vagas para outros como ele. James era uma exceção na história daquele colégio.
Almofadinhas dormiu quietinho, ao pé da cama, sempre no mesmo lugar, ao lado dos chinelos do dono. James começou a sentir o sono chegar, acariciando a idealização daquela menina que ele acompanhava há anos no colégio, sem nunca ter encontrado coragem para abordá-la. Daquela menina, filha do Sr. Evans, o contador da escola. Daquela menina com quem ele gostaria de dançar a tal valsa. Daquela menina com quem ele gostaria de viver o resto da vida. Daquela menina chamada Lílian...
Já tinha aprendido o que queria dizer "amor platônico", mas não era esse tipo de amor que ele gostaria de trocar com Lily. Ah, ele queria mais, muito mais. O cachorrinho ressonou como se sonhasse. Alguém como James poderia sonhar com a chance de um dia ter Lílian a seu lado? Ele sonhou que sim.
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No início da semana anterior, sentado na ponta da cadeira, Sr. Evans suava, sem saber por onde começar. À sua frente, do outro lado da escrivaninha de quase cem anos, recostado no espaldar alto da poltrona moderna que contrastava com o clima de museu da sala da diretoria, o diretor ouvia, sem nada demonstrar na expressão no rosto.
- Bem, o senhor compreende, não é? Sou o contador da escola desde que me entendo como adulto, mas foi muito difícil aprender a lidar com os novos sistemas de computação...
- Muito bem, mas porque o senhor convocou os auditores?
- Foi uma decisão difícil, mas...
- Mas o quê? Por que convocou os auditores para examinar as contas do colégio sem uma autorização expressa da diretoria?
Sr. Evans passava o lenço pelo rosto, pelo pescoço, sem coragem para encarar o interlocutor a sua frente.
- É que... eu sempre tive autonomia completa na contabilidade... o Professor Dumbledore...
- Papai está no hospital. Em coma profundo.
- Sim... Mas eu achei que estava fazendo o que ele gostaria que eu fizesse.
- O senhor tomou uma decisão drástica como essa, só com base no que "achava"?
- Não foi bem assim... custei a entender o uso dos computadores, mas eu tinha quase certeza de que havia desfalque na contabilidade de colégio... As contas estavam alteradas, grosseiramente alteradas, eu diria... Quando consegui destrinchar aquele mundo de desenhinhos, de janelas, de "edits", de "formats", de "files" e não sei mais o quê, as alterações ficaram claras. Não parece coisa de alguém que entenda de balanços...
O diretor levantou-se. Estava calmo, como se a revelação de um grande desfalque nas contas da escola fosse um acontecimento normal. Bruscamente, mudou de assunto:
- O senhor teve dificuldade com os computadores Sr. Evans? Mas eles são o futuro! Os tempos mudam, caro amigo. O que Hogwarts precisa é de métodos mais modernos.
- Bom... até agora, os velhos métodos do colégio...
- Me desculpe, Sr. Evans – interrompeu o diretor – Não serei eu quem pretenda lhe dar lições de vida. Mas acho que, para ver o que há de errado numa estrutura caduca, é preciso ter vindo de fora.
O contador calou-se. De repente, o diretor encarou-o.
- E sua esposa Sr. Evans? Como está?
O contador mudou de tom. De apreensão pelo que viera a relatar ao diretor, passou para o desanimo que atormentava a sua vida.
- Não está nada bem... a doença dela é muito grave... é o fígado sabe? E o tratamento é caríssimo! Ela precisa de remédios muito caros, importados, durante um ano... já vendi o carro, um velho carro... não cobre nem dois meses de tratamento...
- O tratamento custa tão caro assim? – interrompeu o diretor novamente
- Se custa! Mais de um ano do meu salário...
- E o convênio médico dos funcionários da escola não cobre esses remédios, não é?
- Não... o contrato do convênio não cobre tratamento ambulatoriais... só internações, cirurgias...
- Quer dizer que o senhor precisa de dinheiro? De muito dinheiro, não é?
- S-Sim...
O diretor fez uma pausa. Deixou passar um largo momento de silencio, preparando o clima do que falaria em seguida.
- Se o senhor precisa tanto de dinheiro, e com tanta urgência, Sr. Evans, muita gente poderia pensar que foi o senhor mesmo quem deu o desfalque para conseguir o dinheiro, não acha?
O contador levantou-se, de um salto:
- Eu?! Isso nunca! O que é que o senhor está querendo dizer com isso? Nunca toquei em um tostão da escola em toda a minha vida!
A mão do diretor levantou-se, espalmada, apaziguadora:
- É claro que não, Sr. Evans, é claro que não. Sei muito bem que o senhor não praticou o desfalque nem nunca praticaria. O que eu quero fazer é uma proposta para o senhor...
O diretor aproximou-se, apoiando amigavelmente a mão no ombro do homem mais velho, que o olhava sem entender o que estava para acontecer.
- Sr. Evans, e se eu conseguisse esses remédios que sua esposa precisa?
O olhar do contador brilhou e um sorriso de gratidão estampou-se em seu rosto.
- Os remédios? O senhor poderia...?
- É claro que eu poderia, Sr. Evans. Afinal de contas, o senhor é um dos mais antigos funcionários do colégio.
- Obrigado. Eu nem sei como...
- Como agradecer? – interrompeu-o novamente – Mas existe um modo muito simples de agradecimento.
- Qualquer coisa... é só o senhor dizer...
- Eu quero que o senhor confesse que foi o senhor quem deu o desfalque.
O rosto do contador ficou branco.
- Como?!
Os dois homens estavam de pé, encarando-se. Ainda mais fraternal, o diretor apertou-lhe carinhosamente o ombro:
- Como eu disse. Basta confessar que foi o senhor mesmo quem desviou o dinheiro da contabilidade do colégio.
- Mas isso é um absurdo! Eu...
- Não é um absurdo Sr. Evans. É uma saída lógica e nem muito complicada. Veja: se o senhor confessar a escola pagará os melhores advogados para tentar reduzir sua pena. E, pelo seu passado, pela condição crítica de sua mulher, qualquer juiz haverá de condená-lo a uma pena leve, talvez o senhor possa até cumprir a pena em liberdade. E, durante todo esse tempo, eu cuidarei de sua esposa como se fosse a minha. Nada faltará a sua mulher e à sua filha, eu lhe garanto. Seu emprego em Hogwarts continuará garantido, a bolsa de estudos de sua filha continuará em vigor e o senhor terá a sua mulher saudável novamente. O que me diz?
A boca do contador estava aberta, acompanhando o arregalado de seus olhos. Sr. Evans mal podia acreditar no que ouvia:
- Nunca! Eu nunca faria isso! Minha honestidade é...
- É maior que o amor que o senhor tem por sua esposa?
- Isso não vem ao caso! Eu jamais confessaria uma coisa dessas!
O diretor sorriu, de um modo superior:
- Não? E se eu o acusasse do desfalque?
Sr. Evans começava a tremer, apavorado:
- Me acusar? Como assim?
- Em quem todos acreditariam? Na diretoria do colégio, que merece o respeito da comunidade há quase cem anos, ou no senhor, que todo mundo sabe que nem consegue dormir pensando em um modo de conseguir dinheiro para o tratamento de sua mulher?
- Se o senhor me acusar, eu posso provar que não fui eu! E nenhum juiz me condenará! Serei absolvido!
- Será? Mas o senhor perderá o emprego.
- Posso arranjar outro!
- E quem iria contratar um contador que já foi julgado por desfalque?
Sr. Evans calou-se. Pálido, trêmulo, desabou, afundando-se na cadeira.
- Acho que, sem dinheiro para bons advogados, dificilmente o senhor escapará da condenação. Nesse caso, é provável que a pena seja maior. Durante ela, talvez sua filha tenha dificuldades de encontrar um bom colégio para continuar os estudos. E, infelizmente, no final dela, talvez, sua esposa não esteja mais viva...
O rosto do contador afundou-se nas mãos.
- Compreenda Sr. Evans. Só estou querendo ajudá-lo. Se fizer o que eu estou pedindo, todos saem ganhando. O desfalque será esquecido e sua esposa viverá...
Caminhou até a estante e de lá retirou um livro. Voltou com passos lentos e estendeu-o para o contador.
- O senhor conhece esse livro? É um lindo romance... antigo... Chama-se "Beau Geste". Quer dizer "belo gesto" em francês. É a história de 3 irmãos, muito unidos. Um diamante valiosíssimo, pertencente a família há gerações, desaparece. Cada um dos irmãos, pensando que o roubo fora cometido pelo outro, assume a culpa e foge para alistar-se na Legião Estrangeira de lutar na África em busca do esquecimento e na esperança de salvar o irmão. Lindo gesto, não?
Sr. Evans começou a chorar.
<b>N/B:</b> Oi gente :D
Aqui é Ninha Padfoot, a beta de OGD *-*
May, foi um prazer betar a fic, eu amo esse livro e a história tem absolutamente tudo pra dar certo(:
E eu fiquei com tanta peninha do Sr Evans, tadinho ,q.
Até o próximo capitulo pessoal, um beijo a toodos (L) :*
<b>N/A:</b> Olá amores :}
Obrigada Ninha, por betar a fic :*
Geente, eu amo³ esse liivro, ele é muuuito perfeito *_*
Ai eu tive a idéia de fazer uma fic dele õ/
Maas sabem, direito reservados como diz no resumo. (ý)
Ai. Fiquei com peninha do Sr.Evans ):
O carinha fica pedindo pra ele confessar ¬¬'
Ódio dele u.u'
Beem gente, em pouco tempo vem o 2° caps. :D
Beijo beijo :*
PS: <u><b>COMENTEM</u></b>, por favor :*
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