Capítulo 12
Foi na calada da noite e provavelmente de manhã Gina duvidaria que sequer tivesse acontecido. Acordou de repente com um barulho de pés, não abriu os olhos mas aguçou a audição. Os passos leves pararam e ela ouviu o som de tecido, uma leve brisa da madrugada bateu em seu rosto e percebeu que alguém abrira a entrada da tenda.
Não havia o som da respiração de Malfoy, então deduziu que se tratava dele e relaxou.
Ia voltar a dormir quando alguém sussurrou algo e Draco respondeu:
– Nãofalhe.
Apesar da conversa continuar Gina não conseguiu ouvir mais nada, já que os dois falavam baixo demais para ela entender totalmente a conversa.
Depois ouviu passos se distanciarem e Malfoy voltar a dormir.
Antes de cair no sono, Gina se perguntou o que o loiro estaria tramando. Nenhuma conversa de boas intenções aconteceria no meio da noite e em sussurros.
Entre passos relutantes e determinados, Ronald chegou ao laboratório de Dumbledore. Abriu a porta de madeira antiga devagar, evitando que rangesse demais.
Com cuidado entrou e uma saudade o invadiu ao ver as mesmas estantes com os mesmos livros onde estudara por tanto tempo sob o olhar bondoso de Dumbledore.
Tantas vezes tirou Harry de suas aulas, os dois correndo pelos corredores e indo andar a cavalo na floresta ao redor do castelo, ignorando todos os apelos dos adultos responsáveis.
E quantas outras ele perturbou Hermione, ainda mais baixinha que agora, enquanto ela lia aqueles livros enfadonhos e enormes? A obrigava a sair e diverti–se na neve ou na chuva ou até mesmo suplicava para que ela o ajudasse no dever do dia seguinte.
Parecia séculos atrás, uma outra vida. E no entanto, ali estava. Tudo exatamente idêntico, acreditava que até mesmo as teias de aranha que temia quando menor, permaneciam no mesmo lugar.
Era assustador, e ainda sim, confortável.
O lembrava de uma época onde tudo era mais simples e que a vida perecia sempre feliz.
Suspirando ele atravessou as estantes, algumas vezes achando um título de um livro que lhe parecia familiar. Agora ele era tão alto quanto a última prateleira e isso o fez sorrir.
Ron estava mais uma vez dormindo na aula. Dumbledore ensinava a Harry alguma teoria desinteressante de como um rei devia se portar e como Ron não ia ser nunca um rei, qual era objetivo dele prestar atenção naquilo?
Queria sair e arranjar alguma coruja para treinar ou quem sabe caçar coelhos, qualquer coisa era melhor que ficar naquela torre empoeirada.
Bocejando de leve, o pequeno ruivo começou a fechar os olhos...Não via a hora de poder aprender lutar. Ai sim, iria ficar acordado.
– E qual seria a sua opinião sobre isso, jovem Weasley?
A voz grossa de Dumbledore o deu um susto e ele quase caiu da cadeira. O seu tutor, Harry e Hermione estavam todos lhe encarando, esperando a resposta.
– Você parecia estar considerado outras questões...Por tanto repetirei a pergunta de uma forma mais interessante. Estávamos discutindo aqui sobre um tópico bastante curioso, meu jovem. Liberdade e até onde a sua vai e a do próximo começa. A jovem senhorita Granger notou que ninguém, nem o rei têm direito o direito de tirar a liberdade de alguém. Harry, porém, disse que se uma pessoa tira a liberdade de outra, esse alguém perde o seu direito a ela. E o que você acha desse tópico, sr.Weasley? Você é da mesma opinião que os dois?
Ron piscou, perdido. Liberdade o que?
– Ah...Erm..
– O que é liberdade para você, Ronald? – Dumbledore sorriu, tentando encorajá–lo a responder.
Harry e Hermione esperavam a resposta também, observando a cara confusa de Ronald. Enquanto isso ele tentava achar o que falar.
Felizmente, arriscou:
– Não ter que estudar?
Harry riu, abafando com sua mão o som. Hermione simplesmente revirou os olhos e disse, como sempre:
– Honestamente, Ronald...Por que não responde a pergunta certo uma vez?
Ele ficou vermelho, odiava quando ela o diminuía assim. Era o que estava fazendo não era? Fazia tudo parecer tão simples e esquecia que nem todos eram comedores de livros que nem ela.
– E por que você não para de ser uma chata? – ele gritou, levantando da cadeira e correndo para entre as estantes de livros longe de Dumbledore e dos outros dois.
Sentou no chão, no canto do laboratório, irritado.
Ficou lá por muito tempo, tempo o bastante para Dumbledore terminar o tópico da aula. Ouviu passos descendo as escadarias da torre do laboratório e sabia que agora estava sozinho.
Mas não levantou.
Um par de pernas se aproximou e a mesma voz grossa o tirou mais uma vez de seus pensamentos de heroísmo e lutas de espada.
– O príncipe e a senhorita Granger foram a sua procura. Ficaram extremamente chateados com sua saída repentina.
Ronald não respondeu, além de duvidar da afirmação do velho mago, não queria falar com ninguém.
Mas Dumbledore raramente desistia de algo.
– Nós, infelizmente, não podemos ter tudo que gostaríamos, sr. Weasley. Eu, por exemplo, gostava de um bom par de meias ou uma lareira quente em todos os invernos rigorosos. Mas nem todos os desejos estão fora de nosso alcance. Qual é o seu?
– Queria lutar como meus irmãos... – ele murmurou. – Não. Lutar melhor. Queria ir destruir dragões e salvar o reino dos saxões sozinho!
Dumbledore sorriu.
– E você acha que passar suas horas aqui nessa velha torre empoeirada está impedindo você de realizar seu sonho?
Ronald assentiu fracamente.
– Então tenho algo a lhe mostrar. Se você quiser me acompanhar? – o mago perguntou indicando para que o menino ficasse de pé.
Ronald aceitou sua sugestão e seguiu Dumbledore entre as estantes. Pararam em frente a uma das mais antigas.
O mago barbudo indicou com o dedo indicador ossudo a última prateleira. A mais alta de todas, aquela que nem Ron conseguia alcançar.
– Ali, está vendo o livro de capa vermelha? – perguntou, sorrindo. Ron assentiu. – Esse livro tem todos os segredos para vencer os saxões. Todo o tipo de estilo de luta de espada estão descritos aqui e prontos para serem aprendidos.
Com isso o ruivo ficou animado. Aquele livro ia ensinar ele a lutar e vencer saxões! Finalmente algo bom em um pedaço de papel! Tentou pegar o livro ficando na ponta dos pés, mas não ainda tinha altura suficiente.
– Como vê, você ainda não consegue pegar–lo. Ainda é muito cedo para esse tipo de conhecimento, jovem Ronald. Para poder entende–lo e alcança–lo é necessário passar por todas estas prateleiras mais baixas. Nenhum castelo é construído de cima para baixo. É preciso construir sua fundação no chão, para assim subir até os céus com torres como essa.
Ronald assentiu, fazia sentido.
– Quando eu tiver altura suficiente, aí você deixa eu ler ele?
Foi a vez do mago assentir.
– Sim.
– Isso! A Hermione vai ficar furiosa – riu ele. – Nunca vai crescer, vai ficar aquela baixinha para sempre e ai eu vou, finalmente, saber mais que ela!
Dumbledore sorriu e colocando uma das mãos em seu ombro, disse:
– Quando você conseguir alcançar esse livro, Ronald, vai pensar diferente sobre várias coisas. Incluindo sua opinião sobre a srta. Granger.
Ron duvidava seriamente disso. Hermione ia para sempre ser a chata baixinha que o irritava tanto.
Ron sorriu, demorou muito até ele entender as palavras de seu antigo mentor. Ele estava certo, é claro. Dumbledore nunca errava.
Quando Ronald finalmente alcançou a última fileira, era para pegar livros para Hermione. Já se apaixonara por ela e não havia mais volta.
Parou na frente da mesma estante onde o mesmo livro vermelho descansava com uma camada grossa de poeira.
De repente aquele amontoado de páginas escritas com letras difíceis simbolizava sua infância e adolescência.
Quem sabe se tivesse juntando coragem suficiente para declarar seus sentimentos a Hermione as coisas teriam sido melhores.Talvez seus irmãos estivessem vivos ou ele próprio morto, se houvesse ficado em Camelot.
O som de pena raspando em uma folha de pergaminho o tirou de seus pensamentos rapidamente.
Hermione estava sentada, livros abertos espalhados pela mesa e fazendo anotações enquanto murmurava incoerentemente.
Abriu um sorriso com a visão, amava esse lado concentrado e um pouco excêntrico de Hermione. Na verdade amava tudo nela.
– Hermione?
Levantou o rosto para longe do pergaminho e o encarou, soltando um suspiro.
– Ronald, já não...
– Quero pedir desculpas... Se eu te fiz derramar lágrimas não foi minha intenção... Eu...
– Derramar lágrimas? Do que está falando?
Ronald olhou para o rosto dela com atenção e o viu seco. Hermione o fitava, esperando algum tipo de resposta.
– Nada. Não estou falando nada – ele suspirou, passando a mão no cabelo. – Foi um erro vir aqui, desculpe.
Ia se virar para deixa–la sozinha, mas foi impedido.
– Eu acho que talvez tenha chegado perto de uma pista, Ronald... Gostaria de ler o que descobri?
– Mas você acabou de começar e já achou algo? – sorriu. – Hermione, você não cessa a me maravilhar.
Desta vez não havia dúvida: ela ficara rubra.
– Por favor, então, sente–se – convidou, apontando para uma cadeira ao seu lado.
Hesitou alguns momentos, em dúvida se aquilo era uma boa idéia. No fim cedeu.
– Esse livro – Hermione apontou para um dos mais antigos. – Tem uma lista de feitiços para atingir a invisibilidade. O que mais me interessou foi da capa de invisibilidade. Um tipo de tecido que cobre a pessoa inteira e impede que o resto do mundo a veja.
Continuou lhe contando as várias teorias e encantamentos que encontrara e a cada palavra Ronald a observava mais ainda. Cada centímetro de seu rosto arredondado, cada movimento de seus lábios e mudanças suaves de expressão.
Em alguns momentos conseguia prestar atenção e compreender o que ela lhe explicava, em outros não. Perdia–se na face dela.
Alguma coisa afetava Hermione também. Às vezes ela se perderia, esquecendo–se do que falava por nenhuma razão aparente. Nesses momentos ambos ficaram em silêncio e trocavam um olhar onde sentimentos escondidos a sete chaves surgiam sem querer.
Tais sentimentos se intensificavam a cada olhar trocado e contato acidental. Bastava a mão dela tocar de leve na dele que arrepios corriam por seu braço.
Estavam sozinhos naquela torre e de algum modo aquilo era libertador. Por um momento apenas tinham o luxo de ficarem à sos.
– ... Essa poção tem duração de não mais que uma hora. Não acho que foi usada em nosso caso. O assassino precisaria de muito mais tempo. Enfim, fora as duas últimas e essa, há dezenas de formas para se tornar invisível. O que não nos ajuda em nada. Alguma idéia?
Quando Ronald não respondeu, ela pigarreou de leve, bochechas vermelhas. Depois ele passou a mão no cabelo, percebendo que a encarava.
– Acho que precisamos diminuir o número de possibilidades. Deve ter algo particular que vimos – fez uma pausa, lembrando–se do que o chefe da guarda lhe mostrara. – O assassino deixou suas roupas para trás.
– Mas...Por que ele faria algo do tipo?
– Não sei. Há algum feitiço ou poção que exija isso?
Hermione pensou um momento, antes de continuar:
– Não... Não há – olhou para os livros a sua frente. – Há menos que... Que não seja um feitiço de invisibilidade.
– O que poderia ser então?
Hermione começou a procurar alguma coisa entre as pilhas de livros sobre invisibilidade. Embaixo de um grosso de capa marrom, ela achou um pergaminho amassado. Nele, Ronald observou, havia várias coisas escritas em uma letra de difícil compreensão.
– O que é isso?
– Anotações de Dumbledore. Esse pedaço de papel estava entre as páginas do livro de Transfiguração que já estava aqui em cima da mesa, antes de eu começar minha pesquisa. Não achei que ia ser relevante para a situação mas...
– Mas...?
– Não pode ser... É magia muito avançada – murmurou para si mesma.
– Que magia? Você vai ter que me explicar o que está se passando na sua cabeça, Hermione.
– Dumbledore estava fazendo uma pesquisa sobre animagos.
– Ani–o que?
– Magos que conseguem se transformar em animais.
– Lobisomens?
– Não. Lobisomens não têm controle sobre sua transformação. Animagos têm. Isso explicaria as roupas deixadas para trás e sua entrada fácil.
– Mas alguém teria notado um animal andando pelo castelo ou mesmo na muralha.
– Não se fosse algum pequeno. Ou talvez comum, como um cachorro, gato ou rato.
– Isso quer dizer que ele poderia estar em qualquer lugar do castelo, agora mesmo – murmurou preocupado. – Nenhum lugar é seguro.
– Ruiva! Ruiva, acorda!
O cheiro de fumaça invadiu suas narinas. Estava completamente desnorteada.
Sentiu duas mãos a sacudirem, abriu os olhos devagar e tentou se soltar violentamente de quem a segurava em protesto ao gesto violento. Quando acordou por completo estava encarando Draco Malfoy, o que a fez logo em seguida a lembrar–se que não estava em Camelot e de todos os eventos dos dias anteriores. Para sua frustração.
– Rápido, coloque alguma armadura. Não temos tempo!
– O que há com você? Onde é o fogo? – reclamou o empurrando para longe.
– Em todo o lugar.
Levantando a sobrancelha, Gina finalmente entendeu a urgência na voz de Malfoy. Ouviu os gritos e o barulho de espadas batendo contra escudos. Estavam sendo atacados! Mas como aquilo era possível? Como Servolo saberia a localização do acampamento?
– Não é hora de ficar contemplando possibilidades, ruiva – a lembrou Draco, colocando o cinto de sua espada na cintura. – Levanta! Temos que sair daqui ou você vai virar o prato principal dos saxões.
Ignorando o último comentário do loiro, ela se levantou rapidamente e começou a vestir sua armadura o mais depressa que conseguia.
– Não adianta colocar tudo. Não há tempo. Pegue sua espada e o escudo, o resto só vai atrapalhar – informou a ela, impaciente.
– Se esqueceu que eu sou mulher e não posso sair em minhas roupas de baixo? – respondeu irritada.
Por um momento Draco abriu um sorriso legítimo.
– Acho que seria uma ótima estratégia para a luta. Aposto que os saxões iriam ficar desnorteados.
Em resposta a ruiva apenas revirou os olhos para cima enquanto terminava de se vestir. Deixara as peças mais pesadas, só colocando o essencial para que sua verdadeira identidade não ficasse óbvia. Mas ainda faltava algo para esconder seu rosto.
Os gritos estavam cada vez mais próximos quando ela finalmente pegou sua espada, se preparando para sair da tenda.
Draco e ela pararam um minuto, se preparando para as lutas que viriam. Antes de saírem, Draco a segurou, seu rosto sério:
– Fique próximo de mim.
– Não preciso de proteção – respondeu, irritada.
Ela saiu da tenda determinada, o deixando para trás. Não demorou para que ele a chamasse:
– Ei, ruiva.
Contra sua vontade, virou–se para ver o que ele queira.
– Pega! – disse antes de jogar um elmo para ela com um sorriso arrogante no rosto. – Mais uma coisa: não morra.
– Ronald, não posso.
O cavaleiro soltou um longo suspiro. Mesmo antes de fazer a pergunta já sabia da resposta porém, infelizmente, teria que insistir no assunto.
A nova informação que Hermione descobrira só o deixara mais e mais preocupado. Seus planos de dar a segurança dela nas mãos de outro soldado agora lhe pareciam absurdos, não poderia confiar em ninguém mais para o cargo e por mais que a proximidade dela fosse algo difícil de lidar seria muito pior perde–la para sempre.
– O que eu posso fazer para você entender? Me diga, que eu farei com gosto! – suplicou, em outra tentativa frustrada.
Entraram mais uma vez naquela discussão após descobrirem que o assassino podia se transformar em um animal e atacar em qualquer lugar e momento. Ronald sabia que era inútil tentar manter Hermione segura sem que ela percebesse. Apesar de que a idéia de carrega–la a força e trancá–la em seus aposentos era incrivelmente tentadora.
Seu pedido era tão simples e no entanto Hermione parecia preferir a morte a ter guardas em sua porta, o que seria o caso se ele não tomasse previdências.
Então lá estavam ambos de novo, discutindo mais uma vez.
– Por que insiste em resistir? Você é inteligente, prática e lógica... Não consigo compreender porque ignora a razão! – disse, frustrado.
– Não é isso... Se... Se eu permitir que você controle minha vida, Ronald... Estaria provando que sou incapaz de me cuidar – Hermione suspirou, virando o rosto para não encara–lo. – Minha vida não é exatamente o que eu gostaria que fosse.
– Hermione...
– Sempre quis viajar, conhecer lugares novos e aprender tudo que pudesse... Queria tomar as rédeas, fazer algo para melhorar alguma vida que fosse... Um sonho tolo, eu sei... Mas... É o único que tenho – deixou um suspiro escapar. – Estou cansada de ter minhas mãos atadas, de não poder fazer nada para ajudar. Mas mais do que isso, toda essa minha insistência para reter um último fio de independência serve para... Para que eu finja que ainda posso fazer algo. Entende? Se você ou Harry tirarem isso de mim, o que vai me restar? Uma gaiola. Uma vida sem sentido. Achei que talvez me casando com... Com Harry seria suficiente. Mas não é, apenas piorou as coisas... Me sinto só. Como se estivesse fria por dentro e por fora... E minha única arma contra isso é manter a ilusão de que sou livre para fazer o que bem entender ou se não... Acho... Acho que seria meu fim.
– Eu... Eu não sabia – foi o máximo que o ruivo conseguiu murmurar.
– É claro que não – virou o rosto Hermione, um sorriso fraco nos lábios. – Como poderia?
– Hermione... Eu...
Ela o interrompeu, passando a mão de leve nos olhos para ter certeza que não havia nenhuma lágrima ameaçando cair:
– Está tudo bem, Ron – o assegurou em um tom falso de alegria. – Está tudo bem. Nem sei por quê falei todas essas coisas... É realmente muito tolo da minha parte e eu não farei de novo.
Como ele poderia explicar–lhe que nada estava bem? Que ele deveria ter estado junto dela todo aquele tempo? Que faria tudo para que ela jamais se sentisse só?
– Bem... Acho que... Que seria melhor formularmos um plano para pegar esse animago – começou terrivelmente encabulada com a falta de resposta da parte de Ronald.
– Eu deveria saber.
– O quê?
– Eu deveria ter estado aqui com você. Você não devia ter aceitado se casar com Harry. E eu não deveria ter deixado isso acontecer.
– Ronald, o que você está falando? Vamos... Pare de bobagens... Já disse que estou bem...
– Não, Hermione. Está tudo errado. Muito errado. E eu sinto muito por isso. Fui idiota... Fui incompetente como sempre... Deixei que as coisas acontecessem e não tive coragem de impedir. E eu podia ter impedido. Devia ter levado você comigo para longe. Poderíamos ter viajado por todo o reino e além... E você nunca ia se sentir só... Nunca.
– Por favor, Ronald... Pare! – gritou Hermione.
Ele olhou para ela, assustado.
– Pare de dizer essas coisas! Eu... não agüento! Não agüento ouvi–las então não as fale! Por que você faz isso comigo? Por que brinca com o que eu sinto?
– Não estou...
– Não me dê falsas esperanças – terminou. – Não quero mais sofrer por sua causa.
O coração de Ronald acelerou tanto que mal conseguiu respirar.
– Eu... – tentou dizer, engolindo seco. – Eu nunca, nunca quis fazer você sofrer, Hermione.
– Então por que foi embora? Por que me deixou sozinha? – murmurou, finalmente deixando lágrimas correrem.
O ruivo passou a mão de leve no rosto de Hermione, secando suas lágrimas, deixou–a parada na bochecha por mais tempo que planejara. Olhou nos olhos castanhos dela e tomou coragem para contar o que guardava a sete chaves.
– Por que... Eu não... – engoliu seco. – Não agüentaria ver você se casando com Harry. Não conseguiria olhar vocês juntos todos os dias e fingir que estava feliz com isso. Por isso fui embora. Não posso viver com você e... não tê–la ao meu lado.
Nenhum dos dois percebeu que seus rostos se aproximavam cada vez mais. E quando seus lábios se tocaram suavemente nada mais parecia existir.
Apenas por aquele momento e só aquele, estavam livres.
Sangue espirrou em seu rosto e Gina não notou. Sua espada já estava pesada em suas mãos e ela completamente perdida de seus arredores. Nunca esperaria tantos saxões, as tropas de Harry estavam ainda bêbadas, mal acordando e desorganizadas demais para conseguir vencer a multidão de machados que os acertavam.
Perdera de vista Draco em poucos minutos e agora estava cercada por tendas em chamas e saxões lutando com soldados.
Ainda não conseguia compreender de onde vieram tantos inimigos e como tinham achado aquele acampamento mas agora não havia tempo para encontrar uma resposta. Não estava preparada para uma luta tão intensa e o pouco que conseguiu descansar durante a noite não ajudava em nada.
A vantagem da batalha anterior também havia se perdido, não houve tempo para ninguém subir em cavalos.
Aquilo estava se tornando um massacre. E Gina começava a duvidar que Harry iria vencer. O ataque surpresa iria ser o fim daquela campanha ao menos que um milagre ocorresse.
Chutou um saxão magricelo com a maior força que conseguia reunir e bloqueou um golpe de espada de outro careca. De repente bateu de costas com alguém e se virando rápido encontrou Draco Malfoy com a expressão mais séria que ela já vira até o momento.
Não trocaram palavras, pois não possuíam tempo para isso, e no caso de Gina, nem desejo de o fazer.
Malfoy lutava contra um gigante de barbas ruivas e machado cumprido e não mostrou dificuldade ou prazer em cortar a garganta do saxão.
Enquanto isso Gina tentava fugir dos golpes ligeiros de um homem alto e magro que parecia estar possuído ou por um deus da rapidez ou pelo álcool. Tentava bloquear a maioria, mas era inútil e o melhor que pôde fazer foi pular para trás, recuando. Cada vez mais o inimigo chegava mais perto de corta–la e ela se cansava.
Foi então que tropeçou e caiu sob um corpo sem vida, aproveitando–se disso o saxão pulou em sua direção com o machado pronto para matar.
Gina se preparava para o inevitável quando o homem ao invés de atingi–la cuspiu sangue e caiu morto em cima dela. Quando empurrou o corpo do saxão para o lado, deu de cara com Draco que lhe ofereceu a mão, seu rosto molhado de suor.
– Essa foi por pouco – riu fraco. – Você luta bem, ruiva. Muito bem.
Relutantemente, Gina aceitou a mão do loiro e se levantou. Ia abrir a boca para agradecer (e acrescentar que não precisava da ajuda dele, só por orgulho) quando ele arregalou os olhos e a empurrou para o lado, tomando o seu lugar.
Apenas quando caiu no chão foi que compreendeu a atitude de Malfoy. Um cavalo em disparada, provavelmente fugindo do fogo e em desespero, corria em direção de Gina.
Foi sua vez de arregalar os olhos ao ver Draco cair, sua face pálida, levando o golpe que estava destinado a ela.
N/A: Ai está! Como prometido temos ação, batalhas, confissões... Beijos... E não para por ai. O próximo capitulo tem muito mais D/G. E finalmente Harry e seus cavaleiros voltam a ter uma chance de aparecer hahaha.
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