Capítulo 8
Capítulo 8
Gina não sabia quantas horas já estavam viajando, só sabia o quanto estava cansada. Era o segundo dia da jornada, e ainda faltava um.
Apesar de ter sido criada entre apenas irmãos e estar acostumada com a companhia de homens, nada podia a ter preparado para um acampamento com um exército. Nada.
A primeira coisa que lhe avisou que estava dentro de território desconhecido foi o cheiro. Depois disso tudo só piorou.
Entre o mau cheiro do suor de homens e cavalos, havia sons que ela preferiria tentar ignorar. Alguns armaram barracas precárias, cortaram lenha para fogueiras mais precárias ainda e se reuniram em volta delas, parar conversar.
Demorou muito tempo até ela se sentir segura o bastante para descer de seu cavalo. Quando o fez se distanciou, encostando nada confortavelmente em uma arvore.
Observou de longe a movimentação dos soldados e buscou não chamar atenção para si mesma. Era difícil pois era a única que escolhera tal distancia do acampamento e uma vez ou outra alguns soldados a olhavam estranhamente.
Passou o fim de tarde assim, desviando de olhares e tentando observar o que o rei e seus conselheiros faziam.
Tinham se reunido em na maior tenda do lugar onde ao seu lado estavam presos no chão os estandartes dos lordes e o leão do rei.
Estavam lá há um bom tempo, discutindo planos que Gina só podia imaginar. Sabia que cavalgavam em direção das terras do pai de Hermione, Lorde Uriens. E sabia que a razão disso fora alguma noticia que seu irmão Ronald trouxe.
Mas no fim, tudo isso pouco importava para Gina. Ela estava ali para se vingar, para descobrir quem matara seus irmãos e pessoalmente acabar com a vida do traidor. Os saxões eram um mal para ser combatido depois.
Um a um os homens mais importantes do reino saíram da tenda, indo informar seus exércitos o que fariam.
Sirius Black e um homem de cabelos castanhos longos até os ombros e barba rasa saíram por último e começaram a anunciar algo para as tropas mais próximas de Gina. Ela não podia ouvir direito daquela distância, então se aproximou.
- Descansem o máximo que conseguirem, rapazes. Porque vai ser o último descanso até chegarmos nos calcanhares dos saxões miseráveis! - gritou Sirius, claramente animado com a possibilidade de uma luta.
- Não vamos esperar até o amanhecer. - informou o outro - O rei tem a intenção de alcançar as tropas saxônias o mais rápido possível para evitar que elas reúnam mais forças e façam mais estragos. Portanto, estejam prontos para parir a qualquer momento.
Houve um som de reprovação entre os soldados mas um semi-rosnado de Black fez com que eles se calassem e voltassem a seus afazeres.
Gina também se distanciou mais uma vez, não querendo ser reconhecida por Sirius. Passou o resto do tempo sentada na grama, ao lado de seu cavalo, pensando nas próximas horas, quando teria que enfrentar mais sabe se lá quanto tempo sentada em uma sela.
Foi por isso que demorou a reparar que seus olhos começavam a fechar contra sua vontade. E foi por isso que não reparou que um olhar distante estava fixado nela, observando cada ação que tomava.
Antes de cair no sono por completo virou seu rosto na direção de um cavalo preto grande que sustentava um cavaleiro de armadura mais preta ainda. Sua armadura era leve e não possuía elmo assim seu cabelo loiro estava bem à vista. Ele estava distante o suficiente para ela não conseguir, com seus olhos cansados, distinguir seu rosto, mas algo a deixou incomodada.
E caindo no sono se perguntou o porquê disso.
Não dormiu o suficiente para poder se sentir recuperada da longa viagem. Logo foi acordada pelos barulhos de cavalos e cavaleiros.
As poucas tendas cheias de furos foram desmontadas e as fogueiras apagadas.
Relutantemente ela subiu em seu cavalo e esperou até que uma boa quantidade de soldados voltasse a marchar para os seguir mais afastada.
Sua roupa a incomodava mais do que os vestidos de que usava na corte, e isso ela achara que seria impossível. A falta de água limpa para lavar seu rosto ou mesmo para beber começava a ser sentida.
Mas ela resistiria a tudo isso com determinação fria.
E enquanto observava a paisagem ao seu redor lembrava dos rostos de seus irmãos, temia que um dia pudesse esquece-los. Temia que um dia a dor diminuísse. Ela não podia deixar que isso acontecesse, eles mereciam vingança.
Lembrava das lições de combate com Fred e George. Eles riram no primeiro dia quando ela veio trajada com um vestido de linho fino. Fizeram questão de joga-la numa poça de lama e depois lhe jogaram uma calça fedida que ela teve que colocar durante todas aulas.
Não se esquecera também das aulas de diplomacia que muito relutantemente Percival concordou em lhe ensinar. Ela se arrependeu logo, pois o irmão não podia ser um tutor mais tedioso. Quando ela adormecia durante as lições sobre política comercial e navios, ele simplesmente suspirava e a carregava para seu quarto, onde a deixava dormindo tranqüilamente.
Ela era muito nova para tudo aquilo, dizia. Mas mesmo assim ficava contente que havia alguém na família que via a importância da diplomacia sob a luta bárbara.
Charles, antes de ir embora para Camelot, a lhe dera algumas lições de magia. Aprendera algumas poções de cura com sua mãe mas Charles a mostrou muito além disso. Ele era o único dos irmãos que conseguia enfeitiçar sua espada com eficaz assustadora. O metal era possuído por chamas, para depois ser consumido por um frio nórdico. Isso sem mencionar as flechas em fogo que não viravam cinzas.
Todos seus irmãos conseguiam fazer isso, no entanto não durante uma batalha em grande escala. Era necessária enorme concentração e os únicos cavaleiros conhecidos por lutar assim eram Charles, o grande rei James, Severus Snape, Dumbledore, o líder saxão Servolo e agora o novo rei, Harry.
Gina nunca tentara magia durante uma luta e duvidava que conseguiria. Não sem muita prática. Suspeitava que Hermione era capaz, mas sem chances de provar isso, confinada ao papel de noiva do rei.
Gina olhou para frente, tentando reconhecer alguma coisa. Como anunciado, eles partiram antes que o céu pudesse ser iluminado pelo sol e agora o máximo que cada um podia enxergar era o traseiro do cavalo da frente.
Algumas tochas distantes e fracas, para evitar chamar atenção, eram carregadas muito mais à frente, iluminando o caminho da comitiva do rei. Mas fora isso todos ali dependiam de batedores trazendo informações do caminho que os esperava.
Gina mesmo assim procurava inutilmente pelo cavaleiro de armadura negra e a observara tão intensamente. Algo inconsciente lhe dizia que ele seria importante. Restava saber se seria um inimigo ou aliado.
E qual era a sua identidade.
Finalmente o sol começou a nascer, sem trazer qualquer mudança, no entanto.
Eles continuaram a calvagar sem descanso até que as primeiras nuvens de fumaça anunciaram que tinham chegado na terra de Uriens.
As poucas cabanas que se encontravam de pé estavam prestes a tombar perante o poder do fogo que as consumia.
Era uma visão desoladora, tudo em cinzas, casas, árvores, animais. A fumaça fazia seus olhos lacrimejarem desesperados para poder enxergar algo. O cheiro de queimado invadiu suas narinas e ela tossiu forte engolindo cinzas e fumaça.
Não parecia ser a única afetada mas sim a única surpresa em ver tamanha destruição. Era claro que para aquele exército cenas como aquela já haviam sido encontradas.
Um sentimento de tristeza tomou conta de Gina, contra seu desejo. Como tal horror poderia se tornar comum?
Havia algumas pobres almas olhando sua casa virar cinzas, em silêncio. Um homem velho, uma mulher cansada e uma criança que mal saíra do colo da mãe. Estavam todos encobertos por sujeira e cinzas, tossindo fortemente quebrando o som da madeira queimando.
O fogo parecia estar causando sua destruição há horas, e agora estava baixo como se descansasse depois de uma longa ceia.
Gina ouviu a conversa em voz baixa entre tosses de dois soldados um pouco a sua frente:
- Os malditos devem ter passado por aqui no começo da noite. Eles atacam assim...No escuro, os covardes malditos. Uma prima perdeu tudo, bois, vacas até as malditas ovelhas para um ataque desses. Deu graças a Merlin que não perdeu a roupa da pele também...Mas ela morava perto do mar, nunca vi eles tão longe da costa.
- Estão ficando corajosos. - tossiu o outro, com um tom preocupado.
- Sabem que estamos nas mãos de um cordeiro agora.
- O rei?
- Não, o imperador romano. É claro que o rei, seu idiota. Eles sabem que estamos enfraquecidos. As cobras não pararam de se envenenar entre si.
- Cobras? Eu achei que era cordeiro...
- Cobras, idiota, cobras. Os idiotas que mandam nas terras. O idiota que você tem que pagar todo hora para poder passar em cima de uma maldita ponte.
- Os lordes!
- É, idiota. Eles só obedecem a uma cobra, mas o novo rei...
- É um cordeiro. - completou o outro, finalmente parecendo entender as expressões do colega.
- Isso.
Gina discordava. Harry era tudo menos um cordeiro. Ou então um lobo em pele de cordeiro. Ele não era um político, isso era verdade. Mas assim como o pai, nascera para ser líder. Para ser um herói. E iria mostrar isso a todos que duvidavam, ela tinha certeza.
Continuaram a calvagar sobre a grama queimada, tentando lutar contra a fumaça.
Gina não tinha certeza por quanto tempo a paisagem permaneceu cinzenta, mas sabia que depois da destruição algo pior seria encontrado.
Os saxões.
O som das agulhas entrando no tecido, as rocas girando...Murmúrios de meninas bobas da corte conversando sobre besteiras e cavaleiros. Narcisa quase abriu um sorriso. Quase.
Era a perfeita hora para começar uma conversa interessante com a futura rainha. Essa estava fingindo estar concentrada em seu bordado, mas Narcisa sabia que ela só pensava em um certo cavaleiro que chegara há dois dias trás:
- Diga, Hermione, onde está Ginevra Weasley? Não a vejo desde que o rei partiu com meu filho. -Começou sutilmente.
A moca hesitou um segundo, para se recuperou de forma rápida. Narcisa precisava admitir que ela seria uma rival admirável se não fossem suas origens plebéias.
-Você não sabia? Ela está a caminho das terras do seu pai. Foi avisar sobre a morte de Sir. Percival. E da chegada de Ronald.
O sorriso de Narcisa se abriu. Sabia muito bem que isso não era verdade e lhe agradava saber também que Hermione estava ciente da façanha da ruivinha.
- Ah, claro. Naturalmente. Posso lhe fazer uma sugestão, querida?
Hermione ficou nervosa com a pergunta. O sorriso de Narcisa cresceu:
-Claro.
-Refaça o ponto. Está longo demais. Vai estragar o bordado.
-Ah sim. Obrigada pelo aviso. - Ela estava claramente aliviada que Narcisa não continuou a falar sobre Ginevra.
Narcisa esperou um bom tempo até continuar a conversa. Esperou até que o barulho de espadas fosse ouvido claramente vindo de lá embaixo. Com isso, Hermione levantou os olhos do bordado para a janela à sua esquerda:
-Sir Ronald Weasley não partiu com o rei, não é verdade?
-Sim.- respondeu simplesmente. Mas Narcisa sabia que suas bochechas estavam um pouco rubras.
-Permite que eu faça uma pergunta um pouco atrevida, Hermione?
-Fique à vontade.
-O que você acha de Ronald?
A conversa tinha sido ouvida pelas insuportáveis donzelas que também bordavam ali, uma delas entrou na conversa, seguida depois de outras:
-Ele é charmoso, não? Eu não me importaria de ter a atenção dele!
-Ah...Sim! Ele é charmoso, mas é um pouco desajeitado não? Não consegue lutar com espada muito bem, não é mesmo?
-Isso é porque ele está machucado, Parvati. – defendeu Hermione e Narcisa não podia estar mais contente.
Com o tom de reprovação de Hermione as outras decidiram se concentrar novamente em seus respectivos bordados. Narcisa continuou:
-Essas meninas tolas não sabem julgar caráter. Eu gostaria de ouvir a sua opinião sobre o jovem cavaleiro. Para que eu possa começar a formar a minha.
-Você me lisonjeia, Narcisa. Não sabia que considerava tanto minha opinião.
O tom doce das duas era falso, e elas sabiam disso. Mas permaneciam fingindo desconhecer. Assim era a corte. Assim era como o poder da influência feminina funcionava em Camelot. Narcisa quase sorriu. E que influência. Que os homens lutassem suas batalhas ridículas. E que as mulheres os governassem.
-Você é a noiva do rei, querida. E isso não é por acaso. Não fui eu quem incentivou meu marido a te indicar para o jovem Harry? Teu valor é grande, assim como tua inteligência. Agora, não seja tímida, me fale o que acha do herdeiro de Lorde Arthur.
-Ele é bom, honrado e corajoso. Não há nada que não lhe recomende.
-Imagino que ele irá se tornar um dos cavaleiros do rei, não?
-Não sei.
Agora era o momento de Narcisa ir um pouco mais a fundo:
-É ótimo ter ele por perto, não? O castelo andava sempre tão silencioso quando o rei e seus cavaleiros partiam.
-Ele é uma grande adição a corte, sem dúvida. Mas só não foi com o rei porque não permitiram. Quando estiver curado, provavelmente partirá.
Para seu desgosto não havia nada no tom de Hermione que indicasse que algo mais estava acontecendo entre eles. Narcisa teria que tomar as rédeas da situação. E o faria em breve.
A conversa estava terminada para ela, voltou-se para seu bordado.
Foi então a vez de Hermione:
-Você me fez uma pergunta atrevida. Teria eu o direito de fazer a minha agora?
-Claro, querida. Vá em frente.
-Por acaso, seu filho, Sir Draco, tem algum interesse em Lady Ginevra?
Narcisa sorriu.
-Há muito tempo meu filho deixou de falar comigo sobre seus interesses e intenções. Ele cresceu, como todos os filhos crescem. Mas se você pergunta isso para mim é porque também viu os mesmos sinais que eu vi. Parece sim, que ele tem um interesse nela.
-Nela ou em suas terras?
“Direta...Direta e astuta demais você é Hermione” Narcisa pensou.
-Nesse ponto, minha querida, eu não sei lhe dizer.
Ela pareceu satisfeita.
O som das agulhas, do tecido, das rocas e o burburinho das damas ao longe foram em fim apenas o que podia ser ouvido. Mais uma vez Narcisa ficou apenas com seus pensamentos. Tinha muito que planejar se quisesse seu filho no trono e ela como a mulher mais poderosa do reino.
Confie em Narcisa Malfoy para transformar uma irritante seção de bordados e fofocas em um campo de batalha político.
Hermione bordava horrivelmente (não tinha aptidão alguma para aquela atividade supérflua) e lutava para evitar pensar em cavaleiro em particular e na conversa que teve com ele há dois dias atrás quando Narcisa resolveu iniciar uma conversa cheia de sutilezas e falsos elogios como sempre fazia.
Agora, terminado o rápido duelo de indiretas Hermione observava Narcisa, em silêncio. Não conhecia cobra mais perigosa do que aquela mulher. Seu veneno era silencioso e fatal.
Anos na corte, observando com cuidado cada falha, cada fraqueza...A tornaram uma mestra na arte de influenciar pessoas e manipula-las da forma que lhe convinha.
Mas Hermione não seria um delas. Não seria mais uma boneca nas mãos dela.
"Estou pronta para você, Narcisa." ela pensou, triunfante.
As pequenas indiretas da conversa anterior eram claros avisos de que Narcisa sabia, ou planejava saber, onde Gina estava de verdade.
Por qual motivo, no entanto, Hermione ainda precisaria ponderar. Draco estava longe nas batalhas, longe demais para corteja-la (pelo menos era o que ele pensava). Então qual seria a utilidade de possuir a informação de onde estava Gina? A quem Narcisa pretendia vender esse pedaço de conhecimento?
Não era apenas interesse em fofocas, isso era certeza.
Hermione ficara incrivelmente chocada ao descobrir um bilhete amassado debaixo da sela de Shanks que continha uma despedida curta assinada por Ginevra.
Ela sentira uma pitada de inveja por Gina ter conseguido finalmente lutar. Mas a inveja logo foi posta de lado para dar lugar a preocupação.
Mais uma pessoa que talvez Hermione nunca mais voltaria a ver.
Gina sabia muito bem que Hermione cuidaria que ninguém soubesse de seu segredo. Se fosse descoberta seria enviada de volta para Camelot e além do escândalo que isso causaria, ela seria levada de volta para as terras do pai onde provavelmente se casaria obrigada com um lorde obeso e preguiçoso que a usaria como um troféu e uma fazedora de herdeiros.
Portanto a primeira coisa que Hermione fez foi informar, sutilmente para algumas pessoas, que Gina fora embora de volta para as terras do pai, para informa-los da morte de Percival.
Ginevra sempre viveu junto com irmãos. A corte de seu pai era pequena e lá ninguém a julgava por aprender combate e magia. Lá ela tinha certa liberdade por ser a única filha mulher do casal Weasley. Seus pais sempre a mimaram e nunca foi lhe imposto o peso de se casar. Ao contrário de Hermione, que aos quinze anos já era obrigada a ser cortejada por vários tipos e tamanhos de lordes e cavaleiros.
Certa vez ela foi até cogitada para se casar com um herdeiro de uma família germânica rica, os Krums.
Não e preciso mencionar que ficou aliviada quando Harry, seu amigo de infância, a pediu em noivado.
Pensar nisso a lembrou de outra indireta que Narcisa sibilou.
Ronald. Mais precisamente Ronald e ela.
Hermione não possuía a menor idéia de como Narcisa sequer pensou em tal possibilidade mas a pergunta quase nada sutil não deixara menor dúvida.
Narcisa sondava por uma oportunidade, buscava o poder. Não havia nada por trás dela a não ser ambição pelo trono.
E nada melhor do que colocar em dúvida a lealdade da noiva do rei para enfraquecer mais ainda seu poder perante o resto de Camelot.
Mas o que mais assustava Hermione era o fato de que havia um fundo de verdade em tudo aquilo. Ela possuía sentimentos por Ronald, por mais que negasse e batalhasse contra eles. E a noção de que isso poderia se tornar uma arma nas mãos de Narcisa, uma fraqueza a se explorada em Hermione, era assustadora.
De repente a pequena sala onde as mulheres da corte e suas damas de companhia se reuniam para bordar, além de ser irritante sem medidas agora se tornara perigosamente sufocante.
Felizmente Hermione sempre saia do lugar antes do resto, pois além de ter que administrar a cozinha para a refeição seguinte, também possuía uma pequena rotina que apesar de ser malvista pelas outras donzelas da corte, a relaxava.
Todo dia durante a tarde ela andava pelo jardim interno do castelo, sozinha.
Hermione se levantou e após se despedir brevemente foi em direção ao jardim. Sendo observada pelos olhos astutos de Narcisa Malfoy.
Ronald buscava ocupar sua mente com outras coisas. Faria qualquer coisa para tirar Hermione de seus pensamentos. Pagaria todos os cavalos do reino se pudesse para que parasse de pensar nela.
Como não tinha todos os cavalos do reino, fez a única coisa que podia fazer: lutar.
Estava determinado a treinar seu braço esquerdo para conseguir manejar uma espada. Era uma tarefa difícil, cansativa e provavelmente demoraria anos para ser concluída. Mas era exatamente o que ele procurava, algo para fixar-se.
Se cansar tanto a ponto de cair na cama e dormir sem sonhos devido à exaustão.
Fazia dois dias desde que o rei partira e ele e Hermione conversaram.
Desde então ele a evitava como uma praga. E se sentia um idiota por fazer isso.
Prometera a Harry a protegeria e no entanto não conseguia nem chegar a dois metros dela sem temer por sua própria segurança.
Agora andava pelo pátio do castelo em direção ao estábulo onde deixara suas armas. Pichi ficou decepcionado por não ter sido escolhido, mas Ronald não tinha intenção nem concentração suficiente para calvagar sem bater em arvores.
Pegou sua espada e deixou o escudo que Luna dera para ele. Só depois, é claro, de varias tentativas frustradas de o carregar com uma só mão, ocupada já por sua espada.
Sabia que Harry possuía um salão especialmente para treinamento de combate. Um salão onde em tempos de paz, eram feitas festas e competições de combates amigáveis.
Pediu a um garoto de não mais que 7 anos, uma ajudante na cozinha, para que lhe apontasse onde esse salão ficava.
O menino olhou estranho para ele.
- O senhor é um cavaleiro?
- Mais ou menos...
- Cavaleiros não se machucam.- o garoto apontou para o braço imobilizado de Ronald - Eles morrem lá longe. Mas aqui eles não se machucam, são invencíveis! Então como você se machucou?
- É...Certo. Onde fica o salão?
- Meu pai foi para lá longe. Mas ele não é um cavaleiro. Ele vai a pé.
- O salão? - um pouco mais rude do que pretendia.
- Não posso dizer, senhor. Quando o rei está longe, só os criados entram pra limpar. Ninguém mais.
- Por quê?
O menino deu os ombros.
- Ordens da princesa, senhor.
- Princesa?
- Ela vai casar com o rei, senhor.
Hermione.
Que ironia. Para poder não pensar nela, teria que falar com ela.
- Onde ela está agora?
- Ela passeia lá fora - o menino apontou para uma grande passagem que dava para jardim interno do castelo - Todo dia. Sozinha.
Ronald agradeceu e o menino saiu correndo de volta para cozinha.
Engolindo seco o ruivo seguiu até o jardim.
O lugar era enorme. Mas pensando bem, toda Camelot era gigantesca.
Era longe de ser um jardim romano, onde tudo era organizado, cada planta e árvore plantadas em lugares específicos por razões estranhas, como estrelas ou que deus eles pretendiam agradar mais.
Romanos loucos.
Aquele jardim não era assim possuía vários tipos de flores, arbustos, árvores de altura média e alguns caminhos de pedras que se aventuravam por meio de tudo aquilo. Ele gostava daquele lugar.
E há uma certa distância, andado calmamente e distraidamente estava Hermione.
Ronald pensou que talvez ele não precisasse ir ao salão de armas, afinal de contas. Quem sabe era melhor pegar Pichi e se perder na floresta. Ser atacado por lobos era mais fácil do que olhar nos olhos dela.
A idéia pareceu mais tentadora porque ele se virou e estava preste a entrar novamente no castelo quando ela o chamou.
Se ignorasse, se fugisse, não só seria um covarde mas daria motivos para que houvesse suspeitas de seus sentimentos. “Aja com naturalidade e ela não vai suspeitar de nada...”
- Ronald...Precisamos conversar. - ela falou acenando para ele.
Ele se aproximou, caminhando entre as flores.
- Eu estava justamente lhe procurando - Ronald decidiu que se falasse logo o que queria sairia o quanto antes dali.
- Estava?
- Sim. Quero pedir que abra o salão de armas, desejo treinar lá.
- Treinar? Mas e seu braço? - sua voz mostrava que estava genuinamente preocupada.
- Justamente por causa dele que preciso treinar.
Hermione começou a andar novamente, e indicou com a cabeça para que ele a seguisse. Relutantemente ele o fez.
- Eu providenciarei isso. Mas...no momento...precisamos conversar sobre outra coisa. - ela fez uma pausa, e os dois permaneceram em silêncio ouvindo pássaros ao longe - Em Camelot todos tem seus próprios planos. Pequenos, grandes...Alguns inofensivos, outros não.
- Se deseja me alertar sobre o perigo da corte e suas tramas, não se preocupe, eu as conheço bem.
- Não tanto quanto eu, no entanto. E sinto que é o meu dever lhe avisar sobre uma em particular. Uma que envolve você e sua família.
Ronald riu baixo.
- Dois dias em Camelot e já estou nos planos de alguém? Vocês não perdem tempo.
Hermione não gostou da afirmação e quando falou sua voz mostrou indignação:
- Como assim "vocês"?
- Você mesma disse que todos em Camelot têm planos. Vai negar que também não tem os seus?
A indignação só aumentou:
- Não me lembrava dessa característica sua, Ronald.
- Que característica? - ele riu.
- Petulância.
Ele riu, se sentindo finalmente confortável perto dela. Como nos velhos tempos.
- E parece que você continua com a mesma insistência de se recusar a admitir que eu estou certo.
- Você nunca está certo, Ron...A sua falha é justamente não admitir isso - ela disse um pequeno sorriso se abrindo.
Ele riu mais uma vez.
Permaneceram em silêncio, caminhando calmamente e apreciando o momento.
Ronald se viu não querendo quebrar o instante, parcialmente por temer o resto da conversa. Planos, tramóias, cobras, nada disso o agradava. Não era algo que estava acostumado.
Vivera dois anos em lugares onde quem retinha o maior poder era aquele que possuía uma melhor espada ou arco. Aquele que sobrevivia a mais lutas.
Dente por dente, olho por olho.
As sutilezas da corte, as punhaladas nas costas...Nada disso fazia seu estilo.
Um costume em particular ele odiava: traição.
Dizia-se que um rei bom era um rei que sentia o faro de um traidor do outro lado do mundo. Era o rei que não confiava em ninguém, principalmente naqueles que estava mais próximos do seu trono.
E Ronald achava isso nojento. Acreditava na lealdade acima de tudo. E uma corte onde um bom rei era aquele que tinha olhos na nuca e que dormia com um olho aberto e outro fechado, não era uma corte que pretendia participar.
Infelizmente era tarde demais para isso. Já estava, ao que parece, nos planos ambiciosos de alguém.
Hermione o tirou de seus pensamentos.
- Quero agradecer...pelo outro dia...pelas suas palavras. Precisava ouvi-las.
- Eu...
- Também quero me desculpar por me exceder.
Ronald levantou a sobrancelha. Exceder?
- Não era meu lugar coloca-lo em posição tal delicada. Falar algo tão pessoal... - ela deu uma pequena risada nervosa - Sinceramente, não sei o que houve comigo. Me desculpe.
- Não há nada que desculpar.
Ela sorriu para ele. E os dois continuaram a caminhar mais uma vez em silêncio. Desta vez, porém, Ronald voltou a se sentir incomodado. Eram duas pessoas estranhas, novamente.
Por um momento achou que ela não se desculpara sinceramente. Por um momento pareceu que ela falara mais alto para que alguém ao longe a ouvisse. Mas ele não tinha certeza, e suspeitava que estava imaginando coisas.
Hermione resolveu mudar de assunto. E ele não sabia se isso era bom ou ruim.
- Por mais que você desdenhe, Ronald, preciso avisá-lo que cada movimento seu pode ser utilizado contra você. E não diga que estou sendo paranóica. Meu convívio com essa corte provou que não existe tal coisa - ela agora sussurrava - Você conhece os Malfoy, não? Eles continuam aqui.
Ronald sabia disso, vira Draco Malfoy.
- Continuam aqui e não pretendem sair. E sinto que você vai ser utilizado em seus planos.
"Por minha causa" foram as palavras que ela não pronunciou.
- Não pretendo ser usado. Não se preocupe.
Ah sim, Ronald Weasley, sempre tão confiante. Hermione resolveu sabiamente não comentar a afirmação do ruivo, sentindo que começariam a discutir.
Eles voltaram ao silêncio. E Hermione deixou que o fizessem. Talvez não fora uma escolha boa mencionar teorias de conspiração com Ronald.
Talvez não fora boa idéia deixar-se aproximar dele. Não conseguia pensar claramente quando os dois estavam próximos um do outro.
Foi a vez de Ronald resolveu recomeçar a conversa.
- Se os Malfoy são tão perigosos, por que o rei permite a presença deles?
- Influência. Para o meu desgosto, os três: Lucius, Narcisa e Draco, conseguem o apoio de qualquer um. Seja por meio de ouro, chantagem ou falsos elogios. Metade daqueles nos apóiam foram convencidos por Lucius. A questão é: eles realmente nos apóiam ou só são uma carta de Lucius para permanecer na corte? Eu acho que nós dois, e Harry também, não têm duvidas quanto à resposta...Mas infelizmente os tempos de agora não são para perguntas. Com os Malfoy contra Harry, ele fica mais isolado ainda. Por mais que a aliança seja traiçoeira, é melhor do que mais batalhas.
- Política. - rosnou Ronald, segurando uma terrível vontade de cuspir enojado. - Odeio política.
- Entendo perfeitamente seu desgosto.
Alguns minutos de silêncio. Os passos dos dois eram calmos, e um tanto relutantes. Contra seu julgamento Hermione não podia deixar de apreciar aquela caminhada. Harry nunca se andara com ela daquele modo.
E no entanto, uma questão surgiu na sua mente. Não estava sendo justa com Harry, se Ronald fosse rei...Também não iria estar ali.
- Então...qual o plano traiçoeiro que as cobras pretendem me incluir?
Hermione relutou em mencionar o assunto que, para seu arrependimento, ela própria havia trazido a tona.
Temia que ao falar sua opinião, Ronald percebesse que o perigo era verdadeiro...Que talvez...Hermione realmente quisesse que Narcisa acertasse, e que os dois ficassem juntos.
- Narcisa...Parece apreciar a idéia de intrigas matrimoniais. Ela daria tudo para nos ver juntos. Adoraria me ver traindo a lealdade de Harry, com você.
Ronald não respondeu, parecia nem respirar. Mas talvez fosse apenas sua impressão.
- O conceito, é claro, é totalmente ridículo. - ela acrescentou rapidamente quando a reação dele se mostrou gelada - Mas achei que você deveria ser informado mesmo assim.
- Ridículo...sim...Ridículo. - ele murmurou. Para depois acrescentar em uma voz que mostrava falsa calma - Por que você acha que Narcisa tem isso em mente? E qual seria a utilidade...para ela, que você, sem se casar, trair Harry? Sem querer te ofender, é claro, mas...isso não acabaria com o reino dele. Outra noiva ia ser colocada no lugar.
Hermione fingiu não ficar ofendida com o modo fácil que parecia ser encontrar uma substituta para ela. Quando ela voltou a falar, no entanto, o seu tom de irritação era óbvio.
- Narcisa pensa a frente de mim. Não posso prever claramente todos os planos venenosos dela. E sim, outra seria...colocada...no meu lugar. Mas...não querendo parecer presunçosa...um acontecimento assim atingiria a moral de Harry. Não apenas graças a mim mas como você causaria grande decepção. Você é o melhor amigo dele...Mesmo depois de dois anos de ausência. Arrasado, como sei que Harry fica, ele provavelmente enfraqueceria seu poder, e quem sabe, até daria seu trono de mãos beijadas para Lucius, ou Draco.
Hermione já sabia disso tudo, mas ao falar em voz alta...Se sentiu mais assustada ainda. E teve um súbito desejo de não estar ao lado de Ronald. Estar longe dali, onde era tudo mais simples. Menos aconchegante, mas mais simples e fácil. Sem tentações e pensamentos que ela não podia controlar.
Ronald também pareceu chocado com a noção de Draco Malfoy no poder. E pareceu, a menos que os olhos de Hermione estivessem errados, se distanciar dela um pouco.
As noticias ruins, infelizmente, estavam ainda para terminar.
- O pior, tristemente, é que apenas um rumor...Uma fofoca entre os cozinheiros já basta para começar um efeito dominó. Por isso precisava conversar com você. Não acho que é uma boa idéia....sermos vistos juntos.
As palavras de Hermione o atingiram como um raio. Está certo...Ele lutava para não pensar nela...Sofria ao ficar ao seu lado...Mas ao ouvir que agora não estar perto dela não seria mais um desejo a ser combatido mas sim uma ordem; uma regra imposta para que o reinado de Harry não fosse posto em risco...Fazia ele se sentir mal.
Uma mistura de raiva, tristeza e medo.
Parecia que ficar junto dela não só era algo ruim (por ser incrivelmente bom) mas também um feitiço de fogo pronto para explodir.
E algo mais atrapalhava essa nova regra.
A promessa que ele tinha feito a Harry. Prometera que a protegeria com sua vida. E como faria isso sem chamar a atenção da víbora Malfoy e da metade do maldito castelo inteiro?
Por que nunca nada era simples?
Mas ele não aceitar aquilo tão fácil assim!
- Um rumor? Um burburinho entre ajudantes de cozinha? Hermione, tenha mais fé em Ha...no rei. Ele confia em você...e até em mim. - "O suficiente para me encarregar de protege-la pelo menos" ele pensou amargo - Não vai cair por causa de um simples rumor.
Isso pareceu animar um pouco Hermione.
- Espero que você esteja certo. Mas preferiria que mantivéssemos o máximo possível afastados.
Ele não conseguiu não se sentir ofendido com a insistência. Por Merlin, não estava pedindo o amor dela, mas ser evitado como a praga tão claramente assim já era demais.
- Não sabia que a minha presença era tão horrível assim. - ele comentou, amargo.
- Não, não é isso! - ela disse rapidamente - Eu...gosto da sua companhia...Mas não podemos nos arriscar.
Ele deveria ter dito que concordava...Que a deixaria em paz.
Mas não era assim que queria. E tinha uma promessa a cumprir.
Ele cruzou os braços e tomou coragem para dizer:
- Sinto muito mas não posso fazer isso.
As bochechas dela ficaram rubras, Ronald ficou em duvida se isso era devido à vergonha ou raiva.
- E por que não? Quer acabar com Harry, é isso? Quer que Narcisa ganhe?!
Os dois tinham parado de andar, e encaravam um ao outro.
- Se você acha que é por isso, então eu realmente não conheço mais você...E nem você me conhece - ele disse, enfurecido com o questionamento de sua lealdade.
- Eu realmente não conheço! Nem sei porque sequer comecei essa conversa...Você não poderia compreender? Não vive nesse inferno disfarçado de paraíso! Nessa...nessa...prisão...Você fugiu. - ela o acusou, e quase pareceu que havia cuspido as palavras em seu rosto - Fugiu.
Nenhum dos dois entendeu porque tanta raiva aflorou tão rapidamente. Mas agora era tarde demais para parar.
- E você se vendeu. - ele disse com raiva.
Com isso ela parou, confusa com suas palavras.
Ele se virou para ir embora mas sem antes completar, para deixa-la mais confusa ainda:
- Quer você queria ou não....Eu tenho uma promessa a cumprir. E não vou deixar de cumpri-la por causa de uma estúpida teoria sobre conspirações. Eu vou ser sua sombra, Granger.
Pouco ele sabia, enquanto caminhava de volta para o castelo, que alguém já era à sombra dela. E esse alguém observava com interesse mórbido a discussão enquanto preparava uma flecha em sua besta e apontava para Hermione.
Gina não sabia quanto tempo estavam ali, sentados na lama, esperando movimento do exército inimigo. Só sabia que a lama invadira até seus pensamentos e ela começava a duvidar de que a sua idéia tinha sido boa.
Em todas as direções, ao lado, na frente, atrás...havia uma fileira enorme de soldados agachados em uma barreira preparada precariamente há algumas horas antes.
Depois de dois dias de jornada eles finalmente tinham alcançado o exército saxão. E a visão do inimigo foi assustadora.
Eles estavam em um número muito maior. Em seu favor tinham flechas incendiárias, uma arma que até o momento nunca fora usada, e um ódio que os enlouquecia. Do lado do rei, havia seus cavalos e cavaleiros bem treinados. E só.
Tirando os cavalos, o que restava era uma jovem fora do ninho e uma centena de soldados a pé que apesar de ter experiência, não possuíam moral alta o suficiente para combater uma manada de saxões enlouquecidos de ódio.
Logo que os batedores (que não foram decapitados por saxões) voltaram com a localização do acampamento saxão o rei ordenara que todos os soldados se armassem e estivessem prontos para a luta. Barreiras foram construídas e cavalos selados.
Servolo também se preparou e ao longe podiam ser ouvidos os gritos de raiva e barulhos de armas sendo equipadas.
Depois disso Gina ficou perdida.
Cavaleiros eram chamados para ficar nas linhas de trás...Deixando que os soldados a pé diminuíssem o contingente inimigo mais raivoso. Ou melhor, que os mais pobres e menos caros morressem antes para que os cavalos, mais caros e difíceis de se treinar, sobrevivessem.
Gina tinha um cavalo. No entanto, não era um cavaleiro.
Não tinha experiência nem aprendizado suficiente para conseguir brandir uma espada sob um cavalo. Então deve que se juntar ao rebanho de sacrifício.
E enquanto esperava o final próximo, ela sentiu a amarga sensação de que não só não vingara a morte dos irmãos como também morreria ali mais um corpo entre tantos.
"Gloria em batalha meu traseiro....Meu traseiro cheio de lama" foi o pensamento amargo que a dominava naquele momento.
Lembrou das palavras de Sirius Black....Será que sobreviveria mais que cinco minutos?
Os soldados ao seu lado cheiravam mal, assim como ela, provavelmente. Cheiravam a esterco, suor e lama.
Uma vez na sua vida Gina pensou com carinho nas sessões de bordado no castelo. Ela realmente estava ficando louca se aquela lembrança lhe trazia conforto.
Procurando se distrair ela olhou para cima, ao longe, onde os cavaleiros e lordes esperavam pela matança.
E lá estava novamente o cavaleiro de armadura negra. Desta vez seus papéis invertidos...Ela que o observava atentamente e ele que fixava o olhar em algum lugar distante.
Não parecia afetado pela iminente batalha...Céus, Gina podia jurar que ele estava sorrindo.
Foi ai que ela reconheceu o rosto...
Draco Malfoy.
Não houve mais tempo para pensar porque de repente o som de centenas de pés rugiu em seus ouvidos. Não só pés mas gritos de raiva e machados.
Os saxões estavam prontos para matar.
Todos os soldados se levantaram, alguns mais raivosos que outros, a adrenalina da batalha já fazendo seu efeito.
Gina também se levantou, com certa dificuldade, ainda sem se acostumar com o peso da armadura.
Na frente das fileiras de soldados estava Harry em cima de sua égua branca, Edwiges, e ela o carregava de um lado para o outro enquanto ele gritava algo que provavelmente era um discurso para levantar a moral daqueles que iam morrer por Camelot.
Ela não conseguia ouvir nada do que ele falava, o som do inimigo muito mais alto e assustador.
Draco tentava conter o sorriso que gostaria de abrir perante aquela vista.
Ao ver o enorme exército saxão e calcular as pequenas chances de vitória do lado de Camelot, ele não conseguiu tirar a imagem de sua mente de Harry sendo derrubado do seu fraco cavalo e massacrado por machados.
E foi por isso que era difícil não sorrir.
Enquanto admirava vários possíveis modos de seus inimigos morrerem reparou que alguém o observava.
Tratava-se de Ginevra.
A boa noticia era que ela estava ainda ali, não desistira do seu plano ridículo de tentar ser uma princesa guerreira. A má noticia era que ela estava entre as ovelhas do sacrifício.
Estava na segunda fileira de soldados a pé. Se sobrevivesse a primeira leva de saxões mal cheirosos completamente loucos e cegos de raiva, seria um milagre.
De que adiantaria tudo que ele havia feito se ela morresse ali?
- Goyle, Crabbe...
Os dois brutamontes montados em brutamontes ainda maiores se viraram para Draco.
- Estão vendo aquele soldado ali, o único de armadura decente?
Após uma rápida inspeção nas fileiras os dois assentiram.
- Se ele morrer nessa batalha estúpida, vocês vão se unir a ele debaixo da terra. Entendido?
Os dois grunhiram algo que Draco ignorou completamente. Inúteis idiotas. Depois assentiram debilmente.
Outra idéia surgiu em sua mente. Uma que, se funcionasse, seria incrivelmente divertida.
- Bom. Depois de algum tempo...Quando os cavaleiros entrarem na luta...Quero que vocês....tragam esse soldado para fora da batalha....inconsciente e levem-no para a minha tenda.
- Por quê? - Goyle se atreveu a grunhir. O infeliz pensava? As surpresas não paravam, ao que parece.
- Que te interessa, imbecil? Faça o que eu mando e cale a boca!
Mais grunhidos...Draco revirou os olhos para cima. Completos idiotas.
Voltou a se concentrar na batalha que se aproximava.
Harry calvagava para lá e para cá, como um completo idiota enquanto gritava frases saídas do manual "Eu sou um idiota que brinca de rei".
O garanhão negro de Draco começava a ficar agitado, ansioso para correr. Fungava impaciente.
Draco também fungaria se estivesse no lugar dele. Estava começando a ficar irritado com toda aquela demora. Queria voltar logo para sua tenda e se alimentar. Quem sabe tomar um pouco de vinho.
Batalhas não eram a sua especialidade. Nojentas, suadas e barulhentas demais para ele.
Não via hora de jantar...De preferência na companhia de uma certa ruiva.
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