Sentido
“Eu te daria sua liberdade infinitas vezes só para te ver sorrindo”. Eu quis dizer essa bem dita frase tantas vezes que perdi a conta, mas isso é a mais pura verdade. Buscamos nos outros aquilo que nos falta, eu procurei em você esse jeito todo seu de seguir regras e corresponder expectativas, não porque eu gostasse daquilo, mas pelo fato de toda aquela rigidez não condizer com a chama dos seus olhos.
Perdas e ganhos é parte da vida e nós parecíamos predestinados à vitória. Eu desconhecia o significado da palavra derrota e, aparentemente, era toda essa capacidade de multiplicar sucesso que você estava procurando. Nas minhas mãos havia sempre tudo o que eu desejava. Eu era a perfeição ou algo muito próximo disso. O céu e o inferno num único lugar e eu poderia te trazer comigo, se você quisesse. Eu tinha tudo, mas nada do que eu tinha possuía significado.
Procuraria uma vida inteira as respostas certas para minhas duvidas intermináveis. Eu iria me perder e me encontrar tantas vezes antes de descobrir que tudo estava mais próximo do que eu imaginava. Sou um incapaz em vários sentidos, mas acredito que eu tenha conseguido te fazer sorrir naquele momento em que você abaixou a guarda.
Você estava com o olhar mais vago que eu já tinha visto e logicamente este foi o convite perfeito para a chacota perfeita.
- Você passa tempo de mais com a Loony Lovegood. Está ficando com a mesma cara lerda dela, Weasley fêmea.- o meu sorriso debochado veio naturalmente, mas a despeito do seu sangue Weasley, suas orelhas continuaram na coloração normal e você agiu como se eu tivesse acabado de lhe cumprimentar.
- Não que isso seja da sua conta, não é mesmo? – você permaneceu olhando para o lago – Pessoas que tem sangue correndo nas veias e que conseguem criar laços de amizade costumam passar tempo com quem amam. Malfoy’s não amam, vocês simplesmente passam pela terra sem registrar esse sentimento.
- Devo supor que é justamente por causa deste nobre sentimento que você parece ter sido beijada por um Dementador. – sentei-me ao seu lado, mesmo que não houvesse me ocorrido o quão estranho essa cena parecia na época.
- E o que você entende sobre isso? – sua voz indiferente me incomodava – Há uma guerra lá fora e ela foi criada por pessoas como você. Gente inocente morrendo enquanto trocamos palavras. Não tenho nem mesmo a certeza de ter uma casa quando sair daqui.
- A quem você quer enganar, Weasley? – eu continuei debochando – Admita que está assim por causa do Potter e pare com essa cara de tragédia.
- Harry é importante sim, mas existem coisas que eu posso perder a qualquer momento e que acabariam com a pouca referencia que eu tenho. – finalmente você me encarou nos olhos e eu estremeci com tamanha certeza dentro deles – Harry é um egoísta.
- Eu sempre soube disso. – ri do comentário – E você é uma idiota por ainda gostar dele.
- Se você soubesse como é entenderia que amor não se escolhe, se aceita a pesar dos defeitos. Harry pode ser um egoísta, mas tem motivos de sobra pra isso.
- Por que diz que ele é um egoísta? – perguntei sem demonstrar interesse.
- Ele nunca pensa duas vezes antes de se atirar para a morte, mesmo que a morte dele seja algo que me causaria imensa dor. Não sei se ele está bem, se pode morrer no próximo minuto ou se encontrou outra, e ele também não se importa nem um pouco com o que eu sofro toda vez que ele faz algo incrivelmente heróico e idiota. Mas eu deveria entender que ele tem muito mais motivos para preferir a morte.
- É incrível a capacidade das mulheres em se culparem pelas asneiras de quem amam. Se Potter é um idiota suicida, isso não é culpa sua. – ela pareceu surpresa com a minha fala, e pra falar a verdade, até eu fiquei. – Dês de que você pisou nessa escola você mendiga a atenção e o amor dele. Sabia que Weasley’s gostavam de se rebaixar, mas você é o cumulo da subserviência. Mesmo que ele agarrasse a Chang na sua frente você agiria como se nada tivesse acontecido e o esperaria de braços abertos.
- Você tem razão. Acho que eu realmente faria isso. – você fez algo que eu jamais imaginaria naquele momento, você sorriu. – Quem diria que logo um Malfoy poderia me consolar numa hora dessas?
- Você é estranha.
- Você também.
- Weasley, sua cara está péssima. – ela riu.
- Não consigo dormir a dias. – ela disse tão abertamente que eu tive a sensação de que nós havíamos passado uma vida inteira naquela conversa boba. Puxei um frasco de dentro da minha veste.
- Bebe isso, você está precisando mais do que eu. - você me olhou desconfiada – Relaxa, é só poção do sono.
- Quem me garante que não é veneno?
- Eu já perdi muitas chances de fazer a coisa certa, isso eu não posso mudar, mas posso pelo menos tentar não repetir os erros. Ao menos você tem uma razão para estar nessa luta e quero me assegurar de que isso não será em vão.
- Você não faz o menor sentido.
- Não é pra fazer...
“Quando você faz o seu melhor, mas não tem sucesso
Quando você tem o que quer, mas não o que precisa
Quando você se sente tão cansado, mas não consegue dormir
Preso ao contrário”
O que eu sentia naquele momento não era pra fazer sentido. Aquela foi a primeira vez que eu provei que você estava errada. Inexplicavelmente eu estava amando uma criatura que eu deveria odiar.
Queria entender por que você me fazia sentir tanta segurança. Era como se você pudesse enxergar o seu futuro logo a frente, ignorando todo mundos sombrio que nos cercava. Você tinha sempre as melhores esperanças, enquanto eu temia o meu amanhã.
O seu futuro brilhante veio e mesmo que o meu não fosse tão terrível quanto eu esperava, faltava algo crucial em tudo aquilo. Eu te vi subir no altar com o seu príncipe encantado e foi como uma chama se apagasse dentro de mim. Na minha ausência de discernimento eu te procurei, só pra ver no fundo dos seus olhos se havia algo que justificasse a minha falta de bom senso. De presente de casamento eu só lhe dei meu sarcasmo.
- Você realmente gosta de se rebaixar. – você me olhou confusa até perceber sobre o que eu estava falando. – Quere-lo não faz o menor sentido, Weasley.
- Faz mais do que eu querer você. Acho que nós não fomos feitos para fazer sentido, a final.
“E quando as lágrimas escorrem pelo seu rosto
Quando você perde algo que não pode substituir
Quando você ama alguém, mas não dá certo
Poderia ser pior?”
Depois daquele dia, minha vida foi um emaranhado de tentativas sem futuro para suprir a necessidade que eu sentia de ter você sorrindo de novo. As escolhas erradas, o lado errado, a família errada, nada em mim se encaixava na sua vida.
Eu te evitei ao máximo, fugi de você para não ter de conviver com a minha única derrota significativa. Tudo o que eu queria saber é se você estava feliz com ele, se ele valia tamanha dedicação. Foi numa noite de chuva que minhas respostas foram respondidas. Naquela altura você já tinha dois filhos e eu um.
Eu estava sozinho em casa. Chovia muito e eu me sentia particularmente saudoso naquela noite. Na lareira acesa no meu escritório, o seu corpo surgiu em meio às chamas. Olhos vermelhos e molhados, cabelos bagunçados, uma lembrança daquele dia a beira do lago.
- O que está...? O que houve com você? – eu a encarava atônito.
- Você tinha razão. Eu acho que gosto de me rebaixar. – eram lagrimas que corriam pelo seu rosto e eu não fazia idéia dos seus motivos, mas estava disposto a ignorar tudo se isso significasse uma chance. – Discutimos feio.
- E por quê? – eu tirei a capa que ela usava e a abracei como desejei ter feito quando conversamos na beira do lago.
- Eu queria voltar pra minha carreira, Harry não concorda. Eu não agüento mais ser a Sra. Potter, não agüento mais viver no mundo perfeito dele. – ela parecia tão perdida, tão sozinha e eu não entendia o porquê dela ter me escolhido como apoio ao invés de correr para um dos amigos.
- Sabe, acho que você poderia ter notado o quanto você é melhor do que isso um pouco antes. Pelo menos esta cena não seria tão errada.
- Eu não sei por que eu vim pra sua casa. Eu só queria um pouco de segurança.
- O mais irônico é você esperar isso justo de mim. – você se agarrou mais a mim e eu só podia pensar no quanto desejei aquele abraço durante todos esses anos. – Estou feliz por você estar aqui, Ginevra.
- Repete... – você disse baixinho – Repete meu nome.
- Ginevra...
- Não me deixe esquecer quem eu sou. Me faça lembrar quem eu realmente sou.
- Como eu poderia permitir? Você é parte de mim também, não há sentido em um Malfoy sem uma Weasley. Como Potter conseguiu te deixar assim?
- Como eu consegui deixar você?
- Não faz o menor sentido.
- Não é pra fazer.
“ Luzes vão te guiar para casa
E incendiar seus ossos
E eu vou tentar te consertar
Bem lá em cima ou embaixo
Quando você está tão apaixonado para se libertar
Mas, se você nunca tentar, nunca saberá
exatamente qual é o seu valor”
Eu desejei aquele momento mais do que tudo. Eu estava disposto a tudo por você. Você foi minha certeza quando nada ao meu redor era confiável, minha luz quando tudo em mim eram trevas. E logo você, perdida daquele jeito. Logo a minha única direção certa havia perdido sua referencia.
Se era isso o que você buscava, eu não me importaria em te dar um lugar para chamar de lar. Eu seria sua casa, seria seu porto e se precisasse, colocaria seus pedaços no lugar. Porque com o seu coração quebrado, a minha vida não fazia sentido. Você, Ginny, sempre foi a minha peça fundamental. Minha única certeza.
“Luzes vão te guiar para casa
E incendiar seus ossos
E eu vou tentar te consertar
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
Quando você perde algo que não pode substituir
Lágrimas escorrem pelo seu rosto e eu
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
Eu te prometo que aprenderei com meus erros
Lágrimas escorrem pelo seu rosto e eu
Luzes vão te guiar para casa
E incendiar seus ossos
E eu vou tentar te consertar”
Ao menos desta vez eu não cometeria o erro de não te beijar. Meu agora, meu desejo, minha única certeza, dessa vez tudo seria completo, mesmo não fazendo sentido.
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Site tá de mau humor comigo ¬¬
Well, fic nova, musica do Coldplay.
Leiam e comentem
Enjoy it
Bjux
Bee
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