O REENCONTRO



CAPÍTULO I

O REENCONTRO


Área bruxa de Londres.
Inglaterra, início de outubro de 2004.


Hermione Granger saiu de costas pela porta de sua casa na área bruxa de Londres, equilibrando com cuidado o enorme e requintado bolo de Halloween, assado no formato de uma abóbora, cor de abóbora e de abóbora... De repente, sentiu um baque nas costas, tão forte que ela quase perdeu o fôlego. Ante seu olhar horrorizado, o bolo de abóbora se desfez numa massa cor de laranja e branca a seus pés. Nenhum feitiço a salvaria daquela tragédia, pensou desanimada.

_ Pelas barbas de Merlin! Desculpe, moça! – ela ouviu uma vibrante voz masculina exclamar. _ Você está bem?

Hermione afastou os cabelos que caíram sobre seus olhos e respirou fundo. Nem precisava se virar para saber quem era o responsável por aquela catástrofe. Não acreditou nisso! Era muita coincidência. Ronald Weasley deveria estar a milhares de quilômetros dali. Entre um misto de surpresa e raiva, ela optou pela segunda. Virou-se, disposta a derramar sobre ele toda sua irritação, mas as palavras morreram momentaneamente em seus lábios ao se ver cara a cara com ele.

Ela o fitou nos olhos, assaltada por emoções. Esperara não sentir nada ao revê-lo, o desejo diminuído, perceber que Ronald não passara de uma extravagante fantasia adolescente. Mas vê-lo tão alto e seguro, homem feito e ainda mais bonito do que se lembrava, fazia picadinho de sua resolução de esquecê-lo. Suas entranhas se alvoroçaram, como antigamente.

De pé em frente à porta da casa, ele ainda segurava a longa escada com que acabara de causar o desastre.

_ Hermione! – Rony exclamou e abriu-lhe um largo sorriso. _ Sinto muito pelo que aconteceu. Machucou-se? – ele largou a escada e abriu os braços sobre o corrimão que separava as duas casas geminadas, satisfeitíssimo com o reencontro. Puxou-a para um abraço.

Hermione manteve os braços esticados ao longo do corpo e acordou do torpor em que se encontrava. Apesar de surpresa com a presença dele, estava com raiva, muita raiva. Julie iria lançar um Avada Kedrava em si mesma quando soubesse que não haveria mais bolo na festa de Halloween para a qual tinha sido contratada, além disso, descobrira quem era seu vizinho barulhento. Desde que ele se mudara para o seu lado do sobrado dividido em duas moradias, trabalhava dia e noite fazendo reformas. E o barulho era infernal!

Ia dormir à noite e acordava de manhã ao som daquela sinfonia de martelos, serrotes e furadeiras enfeitiçadas. E agora ele acabara de destruir seu lindo bolo de Halloween. Dane-se a política de boa vizinhança, dane-se ele! Ele iria escutar poucas e boas, cobras e lagartos! Talvez assim aliviasse aquele mal-estar repentino há tanto tempo adormecido.

_ Ronald Weasley! – ela estreitou os olhos para ele. _Ora se não é o homem mais sem consideração que já conheci. Você está morando aqui ou está arrumando a casa para outra pessoa?

_ Prazer em revê-la também. – ele disse seco, mas sem perder o brilho no olhar. Hermione estava seis anos mais velha e seis anos mais bela do que quando deixara Hogwarts; jovem, pequena e dona de longos cabelos castanhos, onde um homem poderia se perder. Era a mesma Hermione que conhecera, só que adulta. Tinham sido grandes amigos. Quando garoto, sempre admirara o espírito indômito de Hermione. Passara muitas noites pensando nela, sorrindo das brincadeiras tolas com que se distraíam, das disputas que travavam; sofrendo com as brigas constantes e, depois, com as sensações diferentes que ela passara a lhe causar.

Jamais confessara o quanto seu sorriso bonito lhe aquecia o coração, ou o prazer que sentia ao ver as ondas dos cabelos cor de canela sendo arremessadas em seu rosto. Jamais declarara o quanto desejava que ela ficasse, a saudade que sentiria quando ela partisse.

_ Sinto muito por isso também – ele disse com suavidade. _ Por que não bateu em minha porta e avisou que eu estava incomodando? Eu achava que as paredes destas casas antigas isolassem razoavelmente o som. Além disso, não me lembro de ter trabalhado depois das nove. E vou para a cama antes da meia-noite.

_ Você pode não se lembrar, mas eu me lembro! Há dois dias fiz um suflê que murchou às seis da manhã porque você fazia a casa tremer com suas marteladas. Acordando cedo agora, Rony? Que foi? Um balaço atingiu sua cabeça? – ela provocou.

_ Peço desculpas, então, a você e ao suflê – retrucou Rony. _ É verdade, estou acordando mais cedo agora, mas não tinha idéia de que o som se propagava assim. Ah, sim, estou reformando a casa para morar nela. É que daqui a uma semana começo a estagiar no Ministério e quero terminar a maior parte do serviço até lá.

Hermione balançou a cabeça e murmurou:

_ Que sorte a minha...

Ela sabia que estava sendo desagradável, mas aquele homem já lhe causara tantos transtornos suportados em silêncio, no passado e no presente, que agora não podia conter a avalancha de recriminações. Piorava o seu humor o fato de ele ser exatamente aquele a quem ela jurara evitar até o final de seus dias. Agora ele estava ali, morando do lado dela. Merlin!

Ainda por cima, destruíra seu bolo: E agora? Não daria tempo de assar outro, a festa estava pra começar. Todos os outros doces e salgadinhos tinham sido feitos no próprio bufê, mas a loja de Julie era tão pequena que ela precisava muitas vezes cozinhar em casa para que tudo ficasse pronto. E, com a quantidade de festas de Halloween que aparecera, ela convidou a amiga Hermione para lhe dar uma força, já que esta se encontrava de férias do seu primeiro ano de trabalho no Departamento de Execução das Leis da Magia e sem nada pra fazer nesse meio tempo. No entanto, estavam trabalhando feito loucas para atender a todos os pedidos.

Como se pudesse ler seus pensamentos, Rony sugeriu:

_ Não se preocupe com o bolo.Vamos agora até uma confeitaria, compramos outro bolo e assunto encerrado.

_ Encerrado pra você! – Hermione odiou a maneira com que ele pensava que podia resolver os problemas em um piscar de olhos. Sempre fora assim. Também odiava o fato de precisar levantar a cabeça para olhá-lo nos olhos. Dava-lhe uma incômoda sensação de inferioridade, como se estivesse olhando para o topo de uma montanha. Devido à sua altura, um metro e sessenta e cinco, sentia-se em nítida desvantagem em relação a Rony Weasley com seus um metro e noventa de altura.

_ Como assim?- ele perguntou, interrompendo a divagação de Hermione. _ Você não precisa de outro bolo?

_ Eu preciso deste bolo! – declarou ela.

_ Odeio ter de lhe dizer isso, – observou Rony, com um brilho divertido nos olhos – mas sinceramente não creio que haja possibilidade de recuperação para esse bolo. Eu não conheço nenhum feitiço. E olha que vi minha mãe fazer vários...

_ Não há. Graças a você! – rosnou ela.

_ Um momento. Eu não bati em você com a escada nem esmaguei o bolo de propósito. Não sabia que estava aí quando subi com a escada. _ Rony ergueu a mão, quando Hermione abriu a boca para falar. _ Tampouco tinha idéia que estava perturbando sua paz doméstica. Eu posso levá-la ao hospital se está machucada. Comprarei outro bolo. Farei qualquer coisa para melhorar a situação.

_ Não, obrigada – disse ela rabugenta – Só quero que me dê um pouco de paz e tranqüilidade e pare de infernizar minha vida, Ronald Weasley!

Inesperadamente, Rony saltou com facilidade por sobre o corrimão que os separava, o que não era difícil com suas longas e musculosas pernas.

_ Pare de agir como se meu único propósito fosse atormentá-la, Mione. Você está exagerando... Aliás, como sempre. Não mudou nadinha. Relaxe um pouco. Deixe pelo menos que eu veja se a escada não a machucou. Levante a blusa.

Hermione instintivamente recuou em direção à porta de sua casa ante a presença dele. Em seguida congelou ao escutar o apelido que há muito não ouvia. Basicamente Rony a chamava assim. Precisava de tudo, menos de um homem machista e grosseiro como ele, ruivo e lindo. Vinha lutando há muito tempo para escapar daquela armadilha.

_ Não vou levantar minha blusa! – exclamou, indignada, ao mesmo tempo em que, em seu nervosismo, pisava no que sobrara do bolo. _ Olha só o que você me fez fazer!

Aquilo não podia estar acontecendo. Já estava atrasada, mesmo antes do incidente. Agora, mergulhara os tênis brancos na massa alaranjada, enquanto Rony a encurralava. Por que o destino a colocava em tais situações? Não era justo!

_ Só estou tentando ajudar, Mione, mas se não quiser eu entendo. – informou Rony. _ Vamos, relaxe. Não sou um cara tão mau assim. E entendo bastante de ferimentos.

_ Verdade? – ironizou ela. – “Pode até entender de ferimentos do corpo, Ronald, mas do coração... É uma negação.” – ela pensou. _ Suponho que a próxima coisa que dirá é que pode resolver todos os problemas para a coitadinha de mim. – completou, deixando a amargura do passado soar em suas palavras.

_ Ei, de onde tirou essa idéia de que eu te acho uma coitadinha? Sempre a achei corajosa, perspicaz, criativa, inteligente... Uma chata sabe-tudo – nesse trecho ele sorriu. _ E um monte de outras coisas. – Rony olhou para Hermione e balançou a cabeça. Era difícil ficar zangado com alguém que estava com bolo até os calcanhares. Ela era durona, mas ele também já aprendera o que era sofrer. Não se deixaria abater. Notara a amargura na voz dela. E isso só podia se dever ao fato de que ele não tivera o bom senso de se declarar a ela no passado.

Mas mudaria aquela situação. Sua linda Hermione era um desafio estimulante. Gostava de sua petulância. Gostava de sua aparência frágil em contraste com a determinação de seus belos olhos castanhos. Sim, valeria à pena descobrir as armas que derrubariam as barreiras de Hermione Granger.

_ Olhe, Mione, deixe isso pra lá. Quero apenas compensar o estrago que causei a seu bolo. – ele olhou para baixo. _ E a seus sapatos. Permita que eu também veja se não machuquei suas costas.

Hermione não tinha percebido que ainda estava com os pés mergulhados no bolo, até que ele olhou para baixo. Deu um passo para o lado e, antes que se desse conta do que estava acontecendo, ele a tomou nos braços e a levantou como se não pesasse mais do que uma folha solta ao vento.

A surpresa a paralisou, e ela não esboçou nenhuma reação, quando ele levantou a jaqueta e a blusa, expondo-lhe as costas ao ar frio.

_ Nem um arranhão – anunciou ele alegremente.

_ Como ousa...

As palavras de Hermione morreram na garganta. Rapidamente, Rony a colocou sobre o corrimão de ferro e, tirando a varinha do bolso da calça, começou a limpar o bolo grudado no tênis dela.

Era inacreditável! Como ele ousava tomar liberdades que ela tanto detestava?

_ Escute, Ronald, quer me deixar em paz? – disse com exasperação. Não é porque tivemos uma amizade no passado que você pode se aproximar de mim assim. Já estou atrasada e você está me atrasando mais ainda!

_ Falando assim, até parece que nunca fomos amigos. – ele retrucou. _ Será que não sentiu um pingo de saudades de mim em todos esses anos?

_ Ei, será que estou falando em élfico? – ela perguntou inebriada pelo cheiro dos cabelos dele... Aquela mistura de terra e alfazema de que tanto gostava. Ignorou esse pensamento. _ Quero que você vá cuidar da sua vida e me deixe cuidar da minha. Estou atrasada para ajudar minha amiga. Entende o que eu digo? – ela estava parecendo um touro bravo, levantando areia a cada bufada de ódio, ou melhor, levantando pedaços de bolo de abóbora...

Hermione pensou no que poderia dizer para ofendê-lo e encerrar logo aquela discussão. Antes que pensasse em algo, Rony prosseguiu:

_ Entendo que precisa conseguir outro bolo. Vamos embora.

Tirou-a do corrimão com a mesma facilidade com que a sentara lá. Hermione se viu de novo no chão, sentindo-se em total desvantagem e furiosa por não estar senhora de seus atos. “Será que estava usando um cartaz dizendo “Carente e Desprotegida: Por Favor, Tome Conta de Mim”?”

Hermione pensou em desdenhar da inteligência do ruivo.

_ Não podemos ir à confeitaria mais próxima e comprar um bolo em formato de abóbora, entendeu? Este foi assado especialmente para uma festa de Halloween. Minha amiga Julie fornece bufê para festas e estou ajudando. Os clientes querem este bolo. – concluiu enfaticamente.

Rony arqueou as sobrancelhas ruivas.

_ Hum, entendo. Temos um problema. De qualquer maneira, Mione, outro bolo qualquer de Halloween não seria melhor do que nenhum? Os convidados devem estar esperando pelo bolo. Será que o formato, no caso, é tão importante?

Hermione crispou os lábios, respirou fundo, porém resignou-se com a falta de tato do ruivo.

_ Minha amiga está estabelecendo um negócio, Rony. Precisava deste bolo.

_ Claro que precisava – replicou ele, calmamente. _ Mas o destino e eu mudamos o curso da história. Não poderia levar este bolo, nem se o recolhesse com uma pá.

_ Pensou nisso sozinho? – ela perguntou colocando as mãos nos quadris.

Rony, então, avançou e tomou a mão de Hermione. Ela se perturbou ao vê-la literalmente tragada pela dele.

_ Pare de criar dificuldades. O tempo está passando. Feche sua porta. Tem uma boa confeitaria perto daqui.

“Recuse! Não vá com ele! Mantenha sua posição!”, foram as ordem frenéticas emitidas pela mente de Hermione. Mas, de repente, sentiu-se exausta da batalha. Alguma vez realmente ganhara alguma batalha contra Rony? Não fora esta a razão que a levara a fugir dele? Nem Voldemort fora tão poderoso para afastá-la...

Ainda estava se estruturando, encontrando sua identidade. Quanto mais resolvesse o caso e se livrasse de Rony, melhor seria. Por que perder mais tempo e energia? Afinal, precisava mesmo de outro bolo. Ainda assim, enquanto fechava a porta sobre a massa que antes fora um belo e enfeitado bolo de abóbora, sentiu uma familiar revolta brotar no íntimo de seu ser.

Segurando-lhe a mão no calor da sua, Rony a conduziu até uma belíssima e cara vassoura bruxa, sem perceber que ela o acompanhava sob protesto. Enviou-lhe outro sorriso. Hermione sentiu suas entranhas se contorcendo. O cheiro dele penetrava por suas narinas, deixando-a tonta. Sentiu-se literalmente arrastada por ele. Detestava quando não tinha o controle da situação.

Ela brecou subitamente em frente à vassoura.

_ Espere! – ordenou. _ Eu mesma irei até a confeitaria... Desaparatando.

_ Bobagem.

Rony colocou Hermione sobre a vassoura e sentou-se atrás dela em seguida.

Hermione não cabia em si de irritação. Aquilo não podia estar acontecendo.

_ Ainda tem medo de voar numa vassoura, Mione? – Rony fez a pergunta sorrindo. E antes que ela pudesse responder, ele arrancou. Hermione ouviu-se gritando:

_ Rony... Não!!!

Ela o chamara pelo apelido e Rony sentiu-se imensamente feliz. Sim, senhor, ainda faria Hermione gostar dele outra vez. Sendo ex-jogador de quadribol, conhecera mulheres por todo o Reino Unido e fora dele também, mas nunca se sentira tão atraído como por sua teimosa Mione. Havia algo nela, aquele algo indefinido, sobre o qual lera em algum lugar, mas nunca experimentara e que lhe dava uma irresistível vontade de tomá-la nos braços e cobrir de beijos seus lábios tentadores.

É claro que já a tomara nos braços duas vezes, e não podia negar que a sensação compensava a surra verbal que ela lhe dava. Percebeu que essa sensação não ficara no passado e, agora, precisaria de estratégia e persistência para conquistar o coração arredio de Hermione Granger.

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Olá, meninas! Espero que estejam gostando da nova fic. Estou me reanimando para terminar a Irresistível e me veio essa idéia a cabeça. Deixem coments com Beth.
Beijos.

Aeshma.

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