O encontro dos sobreviventes



––––CAPITULO DOIS––––

O encontro dos que sobreviveram


Voldemort sentiu seu coração (ou o que ele achava ser o seu) perder um compasso, seu estomago afundou e ele afrouxou a mão, deixando a varinha cair.

–Como? Como você ainda está vivo? –se perguntou Voldemort, mas sua voz saíra alta o suficiente para Harry escutar.

–O feitiço que você lançou em mim não me atingiu, mas quando me esquivei cai desmaiado, você pensou que eu havia morrido e foi embora, uma atitude tola, você deveria verificar se eu estava respirando...

Voldemort sentiu seu estomago afundar mais um pouco, como pudera ser tão tolo, em sua euforia desaparatara sem nem mesmo verificar se ele ainda estava vivo.

Harry ria abertamente, mas Voldemort sentia seus olhos arderem em raiva, ele tateou as cegas a procura da varinha.

–Co-como é possível? Como você se esquivou do meu feitiço? –perguntou Voldemort, seus olhos completamente fora de órbita.

–Realmente eu não sei, –Harry parecia ter parado para pensar um pouco –Mas acho que foi me jogando para o lado.

Voldemort se reergueu, a varinha em punho, seus olhos cheio de sangue. Ele apontou a varinha na direção de Harry, que não se moveu.

–Eu desaparataria se fosse você. –e indicou as costas de Voldemort com o queixo.

Voldemort se virou e teve uma não muito agradável surpresa, seus Comensais da Morte estavam pilhados e os aurores caminhavam em sua direção, Dumbleodore também estava de pe, um filete de sangue escorria pela sua testa.

–Pro-professor? Meus Comensais...

Voldemort os xingou de alguns nomes que na entenderam e depois, com um estalo, desapareceu.

–Professor? O senhor está bem? –perguntou Harry se aproximando de Dumbleodore.

–Acho que sim, Harry, acho que sim...

Dumbleodore olhou para Harry, e de repente pareceu se dar conta do que estava fazendo:

–Harry... Você está...

–Vivo? É estou, mas por um puro golpe de sorte.

–Mas... Como? –agora quem perguntara fora Hagrid.

–É, como? –perguntou a prof ª Minerva.

–Não sei direito, Voldemort me atacou, eu pulei, de repente eu acordei num necrotério, acho que até mesmo os trouxas pensaram que eu estava morto...

–Mas que sorte, Harry! –exclamou Hagrid, seus olhos se enrugando e marejando em lagrimas.

Dumbleodore sabia que não foi sorte, ele desconfiava do que foi.

–Harry?

–Sim, professor.

–Acho que você não teve nem um pingo de sorte, acho que o encanto que te protegeu de Voldemort não foi à única coisa que sua mãe te deu quando morreu.

–Como assim? –disseram Harry, a prof ª Minerva e Hagrid ao mesmo tempo.

Imobilus Mortis.

–O que? –perguntou a prof ª Minerva.

Imobilus Mortis. Um encanto antigo, acho que o mesmo que o salvou de Avada Kedavra.

–Eu já ouvi falar em alguma coisa assim, –disse Harry –a Mione já me falou sobre isso, ela tentou me fazer estudar, mas eu não estava a fim.

–Hermione Granger? –perguntou a prof ª Minerva.

–É, ela.

–Esse encanto, –disse Dumbleodore –é um dos mais poderosos que existem, Voldemort deve ter esquecido dele...

–Mas como ele funciona Alvo? –perguntou a prof ª Minerva.

–É mais ou menos como se a pessoa estivesse morta, para de respirar e seu coração para de bater, ninguém suspeitaria que a pessoa estivesse viva a não ser por uma única coisa: o corpo não esfria.

–Então, se Voldemort me tocasse... –começou Harry.

–Ele perceberia que você estava vivo.

Harry teve uma visão de Voldemort se inclinando sobre seu corpo e encostando a varinha em sua cicatriz.

Harry olhou para o bebe que estava deitado em cobertores no chão, lembrava muito ele mesmo, um ferimento em sua testa sangrava, tinha o formato de um raio.

–Professor, esse ferimento...

–É idêntico ao seu.

–Então...

–Você foi livrado de sua missão, Harry, o garoto agora carrega o fardo.

–Mas ele é muito jovem...

–Você também era, Harry...

Harry pegou o garoto no colo, sentia um enorme peso em seu coração, gostaria que aquele pobre garoto nunca tivesse se envolvido naquela guerra, sentiu seus olhos marejarem.

–Professor, eu quero ficar com ele, protege-lo.

–Desculpe Harry, mas ele deve ficar com os pais, precisa crescer ao lado deles.

–Mas ele precisa conhecer o mundo que terá que enfrentar, precisa crescer no nosso meio!

–Ainda não, ele jovem demais, não vai entender, precisa ter idade suficiente, não vai adiantar faze-lo crescer morrendo de medo.

Harry olhou para o garoto de novo, a pena que sentia nem chegava perto da raiva que sentia de Voldemort.

–Tudo bem, mas o que vamos fazer, precisamos entrega-lo aos pais.

Dumbleodore não falou nada, apenas olhou para a porta da casa dos Hunter, por onde os dois saiam. Harry viu que a Sra. Hunter chorava, não se dera conta de como tudo fora tão rápido.

–Kyo! Oh, Kyo, você está bem!

Dumbleodore sorriu para a Sra. Hunter enquanto Harry entregava o bebe. Mas o Sr. Hunter não olhava para o filho, estava observando um corpo inerte perto de onde estavam.

–Alvo, aquela não é...

–Desculpe Mattew, Matilde tentou proteger Kyo, Tom não a perdoou.

O Sr. Hunter respirou fundo e se largou de joelhos no chão, chorava.

–É por isso que não entrei nesse inferno! Sabia que um dia uma coisa dessas aconteceria! –gritou ele, se voltando para Dumbleodore.

–Calma, Sr. Hunter, não se desespere, eu sei como você se sente... –disse Harry, dando uns tapinhas nas costas do Sr. Hunter.

–SABE COMO ME SINTO?! VOCÊ NÃO SABE COMO ME SINTO, EU PERDI MINHA ÚNICA IRMÃ PARA ESSE MALDITO!!!

–E eu perdi meus pais, com apenas um ano. –disse Harry.

O Sr. Hunter virou-se para Harry, seus olhos visivelmente desolados.

–Me desculpe, eu...

–Tudo bem, eu já senti essa fúria por perder alguém de quem gosto muito.

O Sr. Hunter, sem perceber, abraçou Harry.

–Mattew, o garoto vai para Hogwarts. –disse Dumbleodore.

–O que? Agora?

–Não, daqui a catorze anos.

–Por que? Ele não tem... –perguntou a Sra. Hunter.

–Poderes? Sim, tem.

–Mas eu não quero! –Exclamou o Sr. Hunter.

–Não é questão de vocês quererem ou não, se ele quiser ir, nenhum de vocês o impedira.

–Mas, se ele não quiser? –perguntou o Sr. Hunter.

–Não o arrastaremos. –disse a prof ª Minerva.

–Mas eu lhes peço uma coisa, estão ouvindo, Mattew, Marta? Em hipótese alguma contem ao garoto sobre Hogwarts.

–E por que? Vocês não querem que ele vá para lá? –perguntou a Sra. Hunter, interessada.

–Hum, preciso lhes explicar uma coisa, Minerva vá com Hagrid de volta ao castelo. Sim?

A professora consentiu e montou a moto atrás de Hagrid olhando com insegurança para o gigante.

–Ah, e por favor, –disse ele acariciando as penas de sua fênix e logo após arrancando uma –leve Fawkes de volta a minha sala, sim?

A professora desmontou a moto e pegou a fênix na mãos de Dumbleodore, que olhou para os Hunter:

–Creio que devamos entrar, –e olhando para o céu continuou –logo vai chover.

Os Hunter aceitaram bem a proposta e seguiram, junto com Harry, Dumbleodore para dentro de casa, o ronco da moto sumindo ao longe, mas não longe o suficiente para distanciar o grito da prof a Minerva. Dumbleodore olhou bem a casa e sorriu levemente, era bem agradável, alguns moveis bem ao estilo trouxa, uma poltrona macia e uma tv ao centro numa mesinha quadrada.

–Muito bem, acho melhor se sentarem. –Disse Dumbleodore, apontando o sofá, ele próprio se sentou na poltrona, Harry ficou em pe, encostado a parece.

Depois que os Hunter se sentaram o Sr. Hunter perguntou:

–E minha irmã? Vão deixar o corpo dela lá fora?

–Calma, os aurores vão leva-la para um lugar onde ela poderá ser tratada para ser velada.

O Sr. Hunter consentiu e abaixou o rosto:

–Muito bem, o que vocês querem nos dizer?

–É o seguinte, –começou Dumbleodore –como vocês sabem seu filho acabou de sobreviver ao maior bruxo das trevas de todos os tempos.

Os Hunter concordaram com a cabeça, Harry apertava a varinha na mão.

“No nosso mundo, isto é, no mundo da magia, existem leis impostas pelo ministério da magia, como no seu mundo, a principal das leis é: Nunca usar uma Maldição Imperdoável, a maioria dos bruxos rege suas vidas a partir desta regra, mas existem bruxos que não ligam para ela e fazem tudo do jeito que bem entendem, dentre as Maldições Imperdoáveis a pior é o Avada Kedavra, a maldição da morte, a pessoa que for atingida por este feitiço morre instantaneamente, sem chance de defesa, jamais ninguém sobreviveu, a não ser...”

Dumbleodore parou e olhou significativamente para Harry e logo após para Kyo.

–A não ser quem, Alvo? –perguntou o Sr. Hunter.

–A não ser por Harry Potter e seu filho, Kyo Hunter. –disse Dumbleodore, olhando diretamente para os olhos do Sr. Hunter.

–Mas... –começou a Sra. Hunter.

–Mas como? Como eles sobreviveram? Como Kyo sobreviveu? –perguntou o Sr. Hunter.

–A principio eu não entendi, como poderiam sobreviver a um feitiço composto de tanta maldade?

“Durante anos eu estudei o que havia acontecido na noite em que os pais de Harry foram mortos por Voldemort, não havia nada de estranho: Voldemort entrara, matara os Potter que tentavam proteger o filho e tentou matar Harry, e falhou. Ai estava a duvida, no momento em que tentara matar o garoto seus poderes desapareceram. Mas então ele ressuscitou, ai grande parte das coisas ficaram claras para mim: se ele ressuscitara então tinha que ter morrido e para morrer teria que ter sido atingido pela maldição da morte, eu encaixei algumas pecas, estudei feitiços e encantos, os mais antigos possíveis. Há dez anos descobri o porque: quando morreram tentando salvar Harry, o amor que sentiam pelo garoto criou nele uma barreira mágica que impediu que o feitiço o atingisse, por isso ricocheteou, e quando atingiu Voldemort este não morreu, não possuía mais mortalidade o suficiente para isso.”

–Então o sacrifício dos pais do garoto o livraram da morte? –perguntou a Sra. Hunter.

–É, mais ou menos. –concordou Kyo.

–Então, Matilde... –o Sr. Hunter acabara de entender, e não sabia se ficava feliz ou triste.

–Quando morreu Matilde concedeu a Kyo um encanto muito antigo que o protege a todo custo da pessoa que a matou. –explicou Dumbleodore.

O Sr. Hunter enterrou as mãos no rosto, detestara perder a irmã, mas sabia que seria pior perder o filho, ou não? Ele apertou os olhos, como pudera pensar aquilo? Ergueu os olhos para Dumbleodore, Harry o olhava perplexo.

–Mas... Mas e esse ferimento na testa dele? Vai ficar uma cicatriz, não vai? Você não pode tira-la Alvo? –perguntou o Sr. Hunter, queria esquecer aquele assunto.

–Acho melhor não, ela pode ser útil, assim como a de Harry também foi. –Harry mostrou a cicatriz que tinha na testa, que era bem no canto esquerdo, enquanto a de Kyo era no direito. –A cicatriz de Harry sempre o avisa quando Voldemort aumenta seus poderes ou até quando está feliz ou com raiva, isso pode ser muito útil, eu, por exemplo, tenho uma cicatriz acima do joelho que é um mapa exato do metrô de Londres.

Os Hunter acharam que aquilo não era hora de piadas, mas apenas Harry sabia que Dumbleodore não brincava, realmente tinha um mapa do metrô de Londres sobre o joelho, mas não comentou.

Houve uma longa pausa na qual Dumbleodore acariciou sua barba, Harry reparou como o Sr. Hunter se parecia com ele, os cabelos rebeldes, mas o rosto do Sr. Hunter era muito magro, quase esquelético e seus olhos eram tão negros quanto os cabelos. O Sr. Hunter apertou a mão de sua esposa, ele tremia e não continha as lagrimas grossas que lhe escorriam pelo rosto.

–Professor Dumbleodore? –disse a Sra. Hunter timidamente.

–Sim, Marta? –Dumbleodore levantou o rosto de repente.

–Eu não quero que ele se envolva com tudo isso.

–Sinceramente, eu também não quero, mas talvez isso seja o melhor para ele, algumas provações nos mostram quem realmente somos. –Dumbleodore disse com um leve sorriso, tentando animar os Hunter.

–Mas e se ele morrer? –agora quem falara o Sr. Hunter.

–Ele não vai morrer, nem mesmo que eu tenha que dar minha vida por isso!

Harry agora segurava sua varinha com força, seus olhos transmitiam uma fúria contida durante toda uma vida, até mesmo Dumbleodore se espantou com aquele olhar, nunca percebera como foi frustrante para ele perder os pais e passar a vida com os tios trouxas.

O Sr. Hunter, que nunca sentira simpatia por ninguém que pertencera aquele mundo de magia, somente sua irmã, mas até mesmo ela era motivo de raiva para ele, por ter pertencido aquele mundo, agora ela estava morta, e ele não podia mais mostrar para ela o quanto gostava dela, o quanto queria ter passado mais tempo com ela.

–Eu sei como é perder um irmão caçula, meu irmão, Alberforth, também morreu por causa de Voldemort. –disse Dumbleodore tentando consolar o Sr. Hunter.

Mais uma vez o Sr. Hunter ergueu os olhos para Dumbleodore, sabia que ele não era uma pessoa de mentir e que também não gostava de remoer suas recordações passadas, portanto isso só poderia ser uma tentativa sincera de ajuda-lo, de acalma-lo.

–Acho que eu e Harry devamos ir, –disse Dumbleodore –creio que você e sua esposa devam dormir, ou pelo menos tentar, e Kyo, não sei como ele não acordou, deve dormir numa cama, pelo manos um pouco essa noite.

E dizendo isso se levantou, tirando do bolso um aparelhinho muito parecido com um relógio, mas que em vez de números, os ponteiros apontavam para planetas que giravam na órbita de uma esfera prateada.

Todos os aurores que Dumbleodore convocara estavam lá fora, esperando por ele organizadamente. Uns seis seguravam um caixão de mogno, estavam pesarosos e, Harry reparou, alguns deles choravam, a maioria mulheres. Dumbleodore olhou para Harry que tomou a frente deles.

–Uma saudação em homenagem a Matilde Hunter! –gritou Harry.

Todos ergueram suas varinhas e soltaram fagulhas vermelhas e douradas que formaram no céu um leão sob o nome de Matilde. Harry abaixou a varinha e todos desapareceram.

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