Capítulo 02
Capítulo 02
Quando todos estavam sentados à mesa na Toca, Hermione teve que admitir que nunca tinha visto Harry tão feliz quanto ele parecia no momento. Hermione supôs que ele percebia isso, principalmente quando seus dois amigos brigavam como agora; depois de seis anos, eu acho que você se acostuma a estar sempre com eles. Você começa a saber o que eles estão pensando pela maneira como eles agem com as pessoas ao redor deles.
Harry estava conversando animadamente com Gina. Ambos estavam sendo observados pelo olhar onisciente da Sra. Weasley, que os observava com uma mistura de intriga e pena. Era o mesmo tipo de olhar que ela reservava a Rony e Hermione quando achava que nenhum dos dois estava olhando.
- Então, Harry, como se sente finalmente livre dos seus tios? – perguntou Carlinhos do final da mesa.
- Eu me sinto bem. É bom saber que existe um lugar onde eu possa ficar. Obrigado, Sra. Weasley. Sr. Weasley. – Harry acenou na direção deles.
- Não seja bobo, querido. Você sabe que é tão da família quanto Hermione. – a Sra. Weasley sorriu para Hermione que, relutante, sorriu de volta.
- Se eu vier em casa no verão e vocês dois não estiverem aqui, eu nem poderia imaginar o que aconteceu. – Carlinhos disse com uma voz alegre.
Rony passou o jantar inteiro ignorando Hermione. Ele nem sequer olhou na direção dela e se sentou o mais distante possível. Isso não passou despercebido por Gina, que lançava olhares preocupados aos dois entre as risadas que dava da história de Carlinhos: um homem que confundiu a cauda de um Rabo-córneo Húngaro com um descanso para chapéus. Quando a conversa começou a diminuir e os pratos estavam vazios, primeiro Carlinhos e depois o Sr. Weasley pediram licença e se retiraram para voltar aos trabalhos da Ordem. Enquanto a Sra. Weasley retirava os pratos, Hermione observou Rony se levantar silenciosamente e deixar a mesa.
- Você tem que deixar ele se acalmar. Você sabe como ele é. – disse Harry encolhendo os ombros.
- O que aconteceu? – Gina perguntou. Hermione balançou a mão displicente e Harry contou a Gina o que tinha acontecido desde a hora que ele havia chegado naquela tarde.
- Se quiser falar com ele, sei onde ele deve estar. – ela disse simpaticamente.
Hermione empurrou os cabelos para trás e os amarrou com o elástico que estava em seu pulso.
- Ele não quer falar comigo, quer? – ela disse exasperada.
- O que o Rony quer e o que o Rony precisa são duas coisas completamente diferentes. – disse Gina rindo – Rony precisa de um bom tapa na cabeça, mas ele não quer isso. – ela se explicou.
- O que, exatamente, eu vou dizer a ele? – Hermione perguntou desejando, mais do que qualquer coisa, que Harry desmanchasse aquele ar de presunção. Ou melhor: saísse dali.
- O que você quer dizer a ele?
- Isso eu simplesmente não sei.
Novamente, Harry começou a sorrir.
- Qual o seu problema hoje?
- É interessante ver mais alguém fazendo drama, pra variar. – disse sorrindo.
Gina lhe deu um doloroso tapa no braço. Hermione fez uma careta quando ouviu o tapa.
- Ow... – disse Harry esfregando o local do tapa.
- É fácil perceber quem dá as regras no seu relacionamento. – disse Hermione zombando.
- E é por isso mesmo que não vamos mais ajudá-la. – disse Gina ficando de pé. – Venha Harry, tem alguma coisa sobre faltas no Quadribol que eu não entendo e acho que você pode me explicar. – disse agarrando Harry pelas costas da camiseta e arrastando-o pela porta. Hermione os observava.
- E o que eu faço com o Rony?
- Hermione, acho que você sabe o que tem que fazer. Você esteve com ele mais do que nós esses dias. Você consegue.
Harry lançou um olhar estarrecido a Gina quando ela o empurrou pela porta.
Hermione ficou na cozinha tentando pensar. O relógio dos Weasley estava em cima de uma pilha de roupas em um canto. Os olhos de Hermione passearam pelos vários ponteiros com o nome de cada Weasley até recair sobre um com o nome de Rony pairando entre “perigo mortal” e “quadribol”. Hermione suspirou. É lógico. Quando tudo dá errado, tem sempre esse jogo estúpido. Todo o tempo perdido sentada ouvindo Rony contar animadamente a sua última defesa. Deus, que assunto chato. Bem, não a teoria. A teoria é fascinante. Mas não era preciso que seus dois melhores amigos fossem obcecados por uma coisa que ela não entendia muito bem; alguma coisa, como Harry tinha dito, que ela não poderia aprender em um livro. Como todos sabiam que ela tinha medo de voar, brigavam para ver quem a teria no time que, obviamente, seria o time perdedor. Mas Rony não fazia sempre questão que ela ficasse no seu time? E ela tinha que admitir que sob sua supervisão ela tinha ganhado alguma habilidade com arremessos. Bem, pelo menos ela podia voar em linha reta e fazer o balaço atravessar o aro. Não é que ela discordasse totalmente do quadribol. Até que tinha suas vantagens. Uma delas era ver como Rony ficava bem nas vestes de Quadribol. Bom, isso dava uma nova dimensão ao jogo. De fato, pensando bem, Hermione não era tão entusiasta assim por Quadribol. Enquanto ela pensava nessas impressionantes revelações, seus pés a levaram para fora da Toca, passaram pelo jardim ignorando a zombaria dos gnomos que saíram para comer os gerânios, até o campo com um largo pomar que os Weasley usavam para jogar Quadribol.
Como Hermione pensou, Rony estava no meio do campo atirando maçãs num dos aros que os gêmeos haviam colocado na clareira. A vassoura dele estava esquecida perto do tronco em que Hermione se sentou, quieta, para assistir Rony descarregar sua raiva.
- Ficar calmo... Vou mostrar a eles... Estúpido Krum... Harry e sua boca grande... Idiota! Nunca fiquei tão sem graça... – a cada murmúrio uma maçã encontrava o seu fim, esmagada contra a árvore do aro do meio.
Hermione se levantou e caminhou silenciosamente até ele depois de assistir a pilha de maçãs virar uma única e solitária maçã perto do pé esquerdo de Rony. Ela a pegou e olhou para a nuca de Rony.
- A morte de todas essas maçãs sem esperança faz você se sentir melhor?
Ele encolheu os ombros.
- Você sabia que eu estava lá? – ela perguntou virando-o pelos ombros. Ele acenou com a cabeça confirmando.
- Como, se você nem se virou?
- Senti o seu perfume. É o que eu lhe dei, certo?
Hermione disse que sim. Estava impressionada.
- Então, vai falar comigo ainda? Ou vai continuar se fazendo de vítima?
Rony tentou lançar a Hermione o olhar mais malévolo possível, mas o canto de sua boca estremeceu.
- Vamos lá, Ronald. Não tem graça.
- Me deixe sozinho, Hermione. – ele disse olhando para longe dela.
Hermione se perguntou se aquela era uma boa hora pra notar como ele ficava bonito quando afastava os cabelos do rosto daquele jeito. Um sorriso brotou em seu rosto; ela não pôde controlar.
- Está rindo do quê?
- Nada. – ela mentiu.
- Eu sei que você me acha um idiota. É isso que você veio me dizer, que eu sou um bobo?
- Rony, eu não acho que você seja bobo ou idiota. É natural que você tenha ciúmes do Victor.
- Eu não tenho, eu só não... Eu não gosto dele, é só isso.
Hermione ergueu uma sobrancelha.
- Eu não gosto dele... E não é minha culpa se ele...
- Faz com que você queira estrangulá-lo bem devagar? Você vai superar isso, eu garanto. – disse Hermione pensando na maneira que ela própria costumava se sentir em relação a Fleur. – Eventualmente.
Rony deu de ombros e usando a varinha retirou mais maçãs das árvores para usar como munição.
- Posso tentar uma vez? – Hermione perguntou pegando da mão de Rony a maçã e arremessando-a em direção ao aro do meio. A maçã atravessou o aro e se juntou às que estavam amassadas no chão, atrás do aro.
- Bom arremesso. – disse Rony olhando para Hermione com uma expressão orgulhosa.
- Eu estava fingindo que era a Lilá. – Hermione confessou.
- Sério? O que fez você agir assim?
- Já que você não sabe... – e arremessou outra maçã.
- Não, Hermione. Eu não tenho idéia de porque você não gosta da Lilá. – uma das maçãs de Rony errou por pouco a haste de metal do aro.
Isso não passou despercebido por Hermione: era a primeira maçã que errava o alvo desde que ela havia se sentado ao lado dele.
- Pela mesma razão que você não gosta do Victor, eu acho. Ver você “se afogar” é suficiente para fazer qualquer um desistir de viver.
Nessa hora, a maçã de Rony rebateu na haste de metal e errou por pouco a sua própria cabeça.
- Aquilo foi inominável, culpa da Lilá...
- É claro que foi, Ron-Ron. – A maçã de Hermione triunfantemente atravessou o aro e caiu do outro lado.
- Nunca mais me chame disso. – disse ele trêmulo.
- Do que você prefere que eu te chame? De “doce coração”? – ela disse rindo.
- Eu vou matar o Harry. – disse arremessando outra maçã que apenas bateu no aro.
- Não foi o Harry que me disse, foi a Gina. E, de qualquer modo, é engraçado. – Hermione forçou uma risada.
- Ok. Então você veio aqui para rir de mim? Deseja passar mais alguma coisa na minha cara? Vá embora, Hermione, eu não sou o Krum. Deixe-me morrer em paz com a minha humilhação, por favor.
Hermione continuou olhando pra ele. Ela nunca se sentiu tão mal por Rony em toda sua vida. “Ele deve ser o homem mais estúpido do planeta”; ela concluiu enquanto pegava outra maçã e jogava contra ele.
- Para sua informação, você é mais parecido com o Victor do que imagina. Vocês dois são bons em quadribol; não faça essa cara, você sabe que é. Ambos são tímidos, ambos não sabem o quão adoráveis realmente são e os dois beijam como a lula gigante.
Rony a encarou inexpressivamente antes de arremessar uma maçã, tão forte, que rebateu na árvore e voltou na direção de Hermione. Rony a empurrou fora do caminho da maçã bem na hora; a maçã desmoronou 1 metro atrás de onde Hermione estivera segundos antes. Os dois olharam para a maçã destruída. Rony continuava com a mão no ombro de Hermione, onde ele segurou ao empurrá-la. Olharam um para o outro.
- Então você ficou com o Krum. Esperava que Gina estivesse me enrolando. – disse baixinho.
- Se você pensou que Gina estava te enrolando, por que você ficou com a Lilá na minha frente? O que pretendia com aquilo? – Hermione disse olhando para longe.
- Me fez sentir um pouco melhor.
- Você tem sempre que fazer tempestade em copo d’água por tudo. Você já pensou que eu poderia nunca arrumar um namorado? Você não percebeu que eu tinha que viver?
- Mas por que tinha que ser o Krum? – ele disse examinando atentamente os olhos dela.
- Victor não foi meu namorado. Sim, ele me beijou, mas apenas uma vez, no Baile de Inverno. Você sabe, o único que poderia ter me chamado era você, mas você estava muito ocupado perseguindo a futura esposa do seu irmão.
Rony ficou muito vermelho.
- Aquilo foi diferente, ela era parte veela...
- Isso não ameniza o fato de que eu fui a última pessoa em que você pensou. – Hermione disse amargamente.
- Você não iria comigo, de qualquer jeito. – Rony disse deprimido.
- Eu iria sim. Aliás, eu esperava que você me convidasse, mas o Victor chegou primeiro...
- Nem me lembre.
- E não fale daquela festa estúpida do Slughorn...
Rony hesitou diante do olhar homicida de Hermione.
- O que aconteceu?
- McLaggen foi o que aconteceu, aquele idiota. Tentou me agarrar, o nojento. Se eu quisesse beijar ralé, teria ficado com o Malfoy.
Rony gemeu.
- Hei, a culpa não é minha, é sua.
Rony compreendeu.
- O que você esperava?
- Bem, - disse Hermione passando pelo corpo mutilado da última maçã – da maneira que eu vejo, era pra ter sido você naquela festa. Eu convidei você, mas o que eu podia fazer? Você escolheu ficar com a Lilá. Além do mais, quem sabe o que teria acontecido, hum?
Hermione sorriu para si mesma quando viu olhar que passou pelo rosto de Rony, o olhar de compreensão pelo que ela havia acabado de dizer.
- Hermione, espere. – disse ele correndo para ficar ao seu lado.
- Sim, Rony? – ela perguntou inocentemente.
- Você gosta de mim? – ele disse num sussurro.
- Eu não sei, Rony, vai depender de quantas pessoas lançaram canários malvados em você ultimamente.
Hermione andou depressa e olhou para trás por cima do ombro. Agora ela sabia que a bola estava nas mãos de Rony. Ele não era mais tão estúpido como antes, ela sabia disso. Ela pôde ver o olhar confuso, mas feliz de Rony; mas por quanto tempo esse olhar permaneceria com a chagada iminente de Krum? Ele teve de admitir que se sentia melhor do que se sentiu por muito tempo. Ela apenas esperava que a técnica de beijo de Rony tivesse melhorado desde a última vez que ela testemunhara o “show” dele com a Lilá.
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