People don't change



Point of View
por Luna Black

E a boca dele se apaixonou pela orelha dela.

#

#Capítulo 1 - People don’t change

#


E aquele era meu momento preferido. A chuva fraca que ainda gotejava, o sol aparecendo, tímido, entre as nuvens, e o arco-íris saindo de algum ponto secreto do céu. O gosto de café ainda se impregnava à minha boca enquanto o cheiro de torta vinha sorrateiro da cozinha. Um livro qualquer estava posto sobre minhas pernas erguidas sobre o parapeito da varanda.

Ouvi a porta do quarto dos meus pais bater uma, duas vezes. E lá iam eles, brigando mais uma vez. Eram comuns essas brigas. Era normal, no meio do domingo, mamãe chamar papai para “discutir a relação” e jogar um abaffiato no quarto. Então, pouco tempo depois, ela sai e bate a porta, ele sai e bate a porta. Mamãe aparata para a casa dos meus avós. Papai fica com cara de idiota, olhando por um longo tempo para o ponto em que ela desapareceu.

Hugo era cego demais para perceber e fazer alguma coisa. E eu era covarde o suficiente para fingir que não via nada. Eu gostava de estar acomodada e me irritava se aquele ambiente mudava. Pessoas não mudam. Papai não vai mudar, mamãe não vai mudar. Papai vai agir infantilmente para sempre, mamãe vai ser mandona para sempre. Papai e mamãe vão ser incompatíveis para sempre.

E os dois vão brigar para sempre. E um exemplo de que pessoas não mudam é: eu vou continuar repetindo “pessoas não mudam”. E eu vou continuar acomodada, esperando que ninguém mais ouse atravessar a linha que eu estabeleci.

Curiosamente para a surpresa de todos, inclusive a minha, fui parar na Slytherin juntamente com Albus. E agora, depois de cinco longos anos, eu percebia o porquê estava naquela casa. Meu pai chegou a ir a Hogwarts para saber se não haviam se confundido. Eu até cheguei a ficar irritada.

De qualquer forma, eu era mestiça. Albus e eu somos. Ele por parte dos bisavós e eu por parte dos avós. E mestiços não vão parar na Slytherin e eu me detestava por ter preconceito comigo mesma. Eu não merecia estar lá.

Eu possuía mil faces. E todas elas estavam escondidas sob uma face. Afinal, quem poderia imaginar que a Rose, a doce e estudiosa Rose, poderia ser ardilosa, astuta e ambiciosa?! Ninguém da minha família conhecia a verdadeira Rose Weasley.

Era tão fácil carregar um livro por qualquer parte, fingir uma concentração extrema – o que não passa de ignorar as pessoas -, enquanto presto atenção a tudo que acontece. Eu era uma verdadeira Slytherin, tão ou mais que Albus. Meu primo era idiota. Ele mostra suas fraquezas se expondo daquela maneira – seu sarcasmo e ironia típicos.

E eu detestava todos aqueles laços. Eu os via sempre. James, Albus, Lily, Hugo. Era ficção demais para minha cabeça e eu sabia que o casamento dos meus tios também não ia bem. Eu observava. Harry vive no Ministério. Minha mãe vive no Ministério. E minha mente pouco inocente não deixa de pensar que eles devem ter um affair.

Olhava o céu, as cores do arco-íris distinguiam-se do branco das nuvens. Suspirando, me levantei e fui até a cozinha. Observava a chaleira com água ferver, o cheiro do pó do café invadindo minhas narinas. Enchia minha xícara quando Hugo adentrou a cozinha.

“Isso parece água suja”, disse rindo e eu o ignorei.

Com o livro preso em baixo do braço, peguei a xícara e fui para a sala. Havia milhares de livros por todas as estantes. E eu nunca lera realmente nenhum deles. Mesmo assim, muitos deles já haviam passado por minhas mãos. Dei um pulo para o lado quando a lareira se acendeu, ficando verde e o corpo de Lily Luna apareceu em minha frente. Observei-a saltar com elegância e sorrir para mim.

“Assustei você”, ela afirmou sorrindo e eu a cumprimentei com um falso sorriso.

“Olá, Lily. O que faz aqui?”, perguntei, bebendo um gole do meu café.

“Ah”, ela sibilou e eu arqueei as sobrancelhas.

“Hugo está na cozinha”, disse ainda sorrindo e ela corou.

Abaixou a cabeça, quase em submissão e entrou pela porta cozinha. Quase tive náuseas. Era absurdo. E era tão mais absurdo do que meu pai ter se casado com sua melhor amiga e a irmã ter se casado com o melhor amigo dele. E o que eu mais detestava era que minha família tinha uma mania irritante de homenagear a todos. Homenageavam até mesmo os vivos.

Eu tinha que fingir que gostava. E fingir ainda que gostava de todos, que não achava a super-proteção da minha avó ridícula, que não achava o fato de Lily Luna apaixonada por meu irmão ridículo. Porque eu era Rose Weasley. Eu era a menina perfeita, as notas perfeitas, a personalidade, a vida perfeita. Eu era envolvida em luz, mas só o que se encontrava no meu interior eram trevas.

E eu gostava de ser trevas. Eu gostava de ver mais do que os outros, de ser mais do que todos. Eu olhei assustada mais uma vez para a lareira, o tom de verde mostrou-se gradualmente enquanto a silhueta dela aparecia. Saltou para fora, em sua comumente elegância felina.

“Christyn!”, eu exclamei, entre surpresa e assustada.

“Oh, Rose. Não brigue comigo”, arqueei as sobrancelhas, pulando do sofá e largando meu livro.

“O que você está fazendo aqui?”, perguntei, já de pé.

“Você não sabe quem acabou de sair da minha casa!”, ela disse, os olhos verdes arregalados e aquele tom radiante de seu cabelo loiro.

“Hum”, eu fiz e ela aproximou-se de mim, sacudindo meus ombros.

“Malfoy”, respondeu e andou até a janela.

“Certo...”, continuei e uma luz se acendeu em minha cabeça. “O que foi que você fez?”

“Eu...”, eu comecei a gargalhar e ela virou-se para mim, o rosto rubro.

“Vocês se beijaram!”, exclamei alegre. “Muito bem, vocês estão namorando!”, comecei a rir e ela me olhou com aquela expressão de visível confusão.

“Não, eu não acho”, retrucou, meneando a cabeça.

“Eu acho”, insisti e ela deu de ombros.

Christyn começou a caminhar para a cozinha e eu a segui. Entrei logo atrás dela, deparando com Hugo e Lily comendo a torta que minha mãe havia feito. Reparei no olhar de adoração com que meu irmão olhou para ela, seguindo o de desprezo de Lily.

“Olá, Hugo, Lily”, ela cumprimentou e saiu pela porta dos fundos.

E ao passar por meu irmão, percebi que ele se engasgara. Dei meu olhar de irmã compreensiva, retendo um sorriso debochado. Christyn caminhava pela grama molhada. Parou a alguns metros da varanda, cruzando os braços.

“Eu gosto das chuvas de verão”, comentou. “Sempre aparece o arco-íris depois”, ela completou e continuou sua contemplação.

Eu não disse nada, permaneci em silêncio. Aquela era Chrystin Slade, minha melhor amiga, minha confidente, minha irmã. Ela era única, a única que conhecia todas as minhas faces, toda a minha escuridão. Ela era só luz e talvez, por isso, me completasse. Christyn me conhecia desde o primeiro ano e sabia tudo sobre mim.

“Você muito gosta dele”, eu afirmei e ela deu de ombros.

“Tenho medo”, ela se virou e caminhou em minha direção, sentando-se nas escadas. Eu a acompanhei, esperando que falasse. “Rose, a alma dele se reflete na neve”, ela disse e eu continuei a olhar o arco-íris. “Tenho medo que o encanto se perca”.

“Porque isto aconteceria?”, perguntei curiosa, Christyn sempre me surpreendia.

“Há um acordo”, disse somente e suspirou. “Entre nossas famílias, Scorpius e eu devemos nos casar”, ela disse e eu arregalei os olhos.

“Isto ainda existe? Este tipo acordo?”, perguntei perplexa e ela assentiu.

“Eu gosto dele, realmente gosto”, continuou a dizer, algo que eu sabia muito bem. “E tenho medo de que isto acabe com o que eu sinto por ele”, explicou-me e eu assenti.

“Não pode ser quebrado?”, perguntei, bolando mil planos de ajudá-la, afinal.

“Eu não quero quebrá-lo”, respondeu e eu comecei a entender. “Os avós dele, Lucius e Narcissa, tinham um desses acordos e bem, Scorpius me disse que eles se amam”, continuou e eu assenti. “Eu ainda vivo no século XIX, Rose”, ela suspirou e eu me mexi, desconfortável. “Eu sou uma dama, deve obedecer às regras”, encerrou seu discurso.

“Você gosta disso”, ela virou-se para mim, sorrindo e deu de ombros.

Ficamos em silêncio, minha camisa listrada e o shorts curto do século XX contrastando com o vestido branco amarrado com um fita preta na altura da cintura do século XIX. Nós duas éramos um grande contraste, tanto por fora quanto por dentro, e talvez por isso nos déssemos tão bem. Christyn era a figura retratada de antigamente, como uma boneca de porcelana.

Meu fio de pensamento foi quebrado com um grito histérico do meu irmão e então a porta dos fundos abrindo com força. Nós duas nos viramos e demos de cara com Scorpius, trajando um Armani, sentando-se no degrau de baixo de Christyn.

Ela virou sua atenção totalmente para ele. Scorpius tirava do bolso um maço de cigarros e o acendia com um isqueiro de prata finíssimo. Era a primeira vez que o via fumar e contive minha curiosidade de saber por que um Sangue-Puro estava fazendo uso de algo tão trouxa.

Scorpius soltou lentamente a fumaça, observando-a sumir a sua frente. Percebi que Christyn o observava daquela maneira quase doce e não imaginava como ela poderia, algum dia, deixar de gostar dele. Sentia-me curiosa com a relação dos dois. Afinal, Scorpius Hypherion Malfoy não era a pessoa mais doce do mundo e isto contrastava com a doçura de Christyn Mary Slade. E mesmo sem querer, me pegava imaginando como ele agia quando estava a sós com ela.

“É um peso demasiado grande para não ser carregado espontaneamente”, ele usou seu tom misterioso e eu sabia que ela devia estar à beira das lágrimas. Poucas coisas não a emocionavam.

Christyn sacudiu dos cílios uma lágrima rebelde e esticou a mão, pondo-a sobre o ombro de Scorpius. Era a primeira vez que ela demonstrava algum tipo de envolvimento com ele na presença de outra pessoa, mesmo que fosse a melhor amiga de ambos há tantos anos. Ele mesmo havia parado com o cigarro a meio caminho da boca, tão surpreendido quanto eu com aquele gesto. Por um segundo, vi o menino de gelo se derreter. Scorpius levou uma de suas mãos até seu ombro e a colocou sobre a mão dela.

Ele voltou a tragar o cigarro, seu dedo acariciava a mão dela. Senti por ele certa compaixão em um ato tão bonito e simples. Vi Christyn construindo toda a sua vida em Hogwarts a nossa volta. Vi o amor de irmãos, tão compreensiva, todos os seus sacrifícios e toda a sua tolerância com Scorpius tornarem-se, lentamente, amor. Por que eu sabia que aquilo não era um simples gostar.

E até mesmo Scorpius acabava com os encontros dela com outros garotos. Cheguei a pensar que era por que ele queria se divertir, se fazer de menino mau. Mas, agora, era tão claro quanto cristal. Toda aquela super-proteção, toda a ajuda que nunca dera certo, todos os conselhos que eram a maior furada. Scorpius sempre tivera ciúmes dela e aquele era o ponto.

Eu ouvi a porta se abrindo mais uma vez e me virei. Era minha mãe fazendo sinal para entrar. Levantei, subindo os degraus restantes e os deixando lá fora. Acompanhei minha mãe até a cozinha e parei na frente da janela, observando-os.

“Precisamos conversar”, ela disse e eu assenti. “Eles estão juntos?”, perguntou parando ao meu lado. Scorpius levantara-se e sentara ao lado dela, passando um braço por sua cintura, trazendo-a mais perto de si num ato protetor.

“Estão”, respondi, cruzando os braços e suspirando. “Momento difícil”, murmurei e ela assentiu. De fato, eles combinavam. Por fora, eram iguais, as roupas, o cabelo, a beleza. Por dentro, eram diferentes, um contraste, completavam-se.

“Eles vão ficar para jantar?”, minha mãe perguntou e eu meneei a cabeça.

“Quer que os mande embora, mãe?”, perguntei sorrindo e ela balançou a cabeça com força.

“É claro que não”, retrucou e a vi corar. “Mas nós precisamos conversar”, emendou.

“Eu estou te ouvindo”, falei e ela suspirou.

“Me avise quando eles forem embora”, ela retorquiu e eu assenti.

Ouvi seus passos se distanciarem e continuei os observando. O arco-íris fazendo parte da paisagem. Scorpius afagava os cabelos enormes de Christyn. O ato me lembrava do apelido que ele dera à ela, quando encontrava-se com tranças no cabelo. Chamara-a de Rapunzel. E ele era um Sangue-Puro que conhecia contos trouxas. De fato, Scorpius também me surpreendia bastante. Suspirei e voltei para fora, fazendo um imenso barulho ao abrir a porta. Ele pulou, ficando de pé rapidamente e ela virou-se para mim, sorrindo.

“Eu tenho que ir”, Christyn disse e se virou para Scorpius.

“Eu vou com você”, eu dei um sorriso malicioso e notei a face pálida de meu amigo ruborizar um pouco.

“Pó-de-flu?”, perguntei e eles assentiram.

Os dois foram na frente e notei em como os dedos deles quase se tocavam, os braços se esbarravam a cada pouco. Entramos na sala e Christyn me abraçou rapidamente, entrando na lareira e acenando antes de sumir. Scorpius me olhou, arqueando as sobrancelhas.

“Não vou te abraçar”, retrucou e eu gargalhei.

“Eu acho que ela está em boas mãos”, comentei e ele rolou os olhos.

“Como se eu precisasse de sua opinião”, debochou e eu dei de ombros.

“É verdade. Não precisa”, disse e dei as costas para ele.

“Mesmo assim, é bom saber”, eu me virei, mas ele já havia sumido.

Dei um sorriso sincero, refletindo sobre aquilo. Ele era, no fundo, bom para ela. Subi as escadas e bati na porta do quarto dos meus pais, antes de entrar. Minha mãe estava sentada em uma poltrona com um livro nas mãos e a expressão concentrada. Sentei-me na cama e ela ergueu os olhos para mim, estudando-me.

Eu detestava esse ato. Ela sempre achava que conhecia a todos, mesmo não se dando conta do seu fracassado casamento. Observei então, com alguma surpresa, algumas malas arrumadas no canto do quarto e lancei a ela um olhar interrogativo.

“Estou me separando do seu pai”, explicou e eu senti um soco no estômago.

Era fato que ouvi-la enxergando tudo o que eu via há anos era estranho. Minha mãe insistia muito nas coisas e vê-la tentando mudar aquilo que ela acreditava com todas as forças era novo. E eu estava pressentindo que meu mundo iria sofrer aquela reviravolta. E eu odiava quando meu mundo mudava, por que eu já estava acostumada com aquelas brigas. Eu detestava quando ultrapassavam a linha.

“Vou fazer minhas malas”, disse olhando nos olhos dela.

Minha mãe assentiu e eu sabia que meu pai ainda não tinha idéia daquilo. Meu irmão provavelmente como bom ignorante que era, ficaria ao lado dele e continuaria em casa. Esperando, assim como meu pai, que mais cedo ou mais tarde minha mãe voltasse.

Pessoas não mudam, pessoas só se transformam. Mudanças não ocorrem lentamente, por que só é mudança quando está concretizada. E aquela era uma transformação, mudanças não acontecem com pessoas. Pessoas evoluem. Pessoas não mudam. Eu estava me mudando, não mudando.

#


N/T: Well, primeiro capítulo postado. Não tava muito afim de postar aqui, but, agradecendo a aluadahp que disse para mim postar aqui xD

E o próximo? Só depois de receber comentários LINDOS. Ui. HAHA.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.