Instintos



Dorcas Meadowes sentia o chão esponjoso, com se o piso de mármore abaixo de si não fosse o suficiente resistente para suportar seu peso.
        Ao seu lado, gigantesco, ia Domini Bletchley, sorridente. Ela o olhou de canto de olho, quase com medo e se impressionou com suas feições. Em despeito do porte físico atlético, seu sorriso era infantil e sonhador. Domini era lindo, talvez só agora isso a tivesse ocorrido. Porém, quando girou o pescoço, para olhar de onde tinham saído, seu coração falhou e voltou a bater como se ela tivesse saído de lá correndo: todos os alunos os olhavam, inclusive suas amigas, entre cochichos. Virou a cabeça no mesmo instante, fechando os olhos. Era humilhação demais para um dia. Por que diabos tudo acontecia com Dorcas?
        - Não ligue para eles – Domini a falou, num sacolejo de ombros, com se completasse com “fracassados, puf” – Eu não ligo.
         Ela o fitou, incrédula. Ele parou de andar quando alcançaram um lugar mais distante dos olhares curiosos. Havia um brilho tão intenso e envolvente nos olhos claros dele que a fez desistir de dizer o que estava preparando – algo entre “você pirou?” e “cara, me erra?”. Tudo o que ela conseguiu fazer foi ficar ali, perdida no olhar de Domini.
         - Sabe, Dorky – ele começou, demonstrando uma intimidade inexistente há dois minutos atrás –, eu parei para pensar sobre minha vida, e eu entendi que eu tenho agido o tempo todo como um perfeito idiota. Mas agora, eu quero mudar isso, sabe?
         Dorcas levantou a mão, como se o impedisse de continuar. Ele estava com os lábios entreabertos, mas deu uma respirada e a respeitou.
          - Certo, Bletchley...
          - Me chame de Domini – ele deu um tapinha displicente no ar.
          - Domini, que seja... – ela prosseguiu. – Onde eu entro na sua decisão de ser menos idiota?
          Domini fez uma careta, Dorcas temeu que ele esquecesse sua resolução e a desse um golpe. Considerando que ela era magra e baixa e ele era gigantesco, ela sairia dali direto para Ala Hospitalar para ser remendada nos pedaços que sobrariam de seu corpo. Mas não era bem uma careta de ofensa, era de incredulidade mesmo, para sua sorte.
          - Como assim, onde você entra? É por você que repensei minha condição! – ele respondeu com naturalidade.
          A menina arregalou os olhos de tal forma que suas sobrancelhas claras quase se uniram aos cabelos dourados.
          - Você é a única garota dessa Escola que vale a pena, Dorcas – Domini continuou, seus olhos dentro dos dela. – Eu tenho te observado de longe, seu jeito decidido, sua... – ele parecia escolher uma palavra que lhe fugia – sua... marra! Bicho, você é demais! Ninguém tira vantagem de você, ninguém tem motivos para fofocar de você... Além de ser linda, é claro.
          Dorcas parecia ter sido petrificada, tamanha sua imobilidade e silêncio. Era muita informação para registrar. O rapaz a sua frente não tinha nenhum vestígio de ironia ou deboche nas suas palavras e, muito pelo contrário, seu sorriso era mágico e o brilho nos olhos era envolvente.
          - Eu não sei o que te dizer... – Dorcas falou, balançando a cabeça.
          Era estranho. Ela não tinha nenhuma intimidade com ele, nunca gostara do seu jeito bruto e maléfico de ser, tinha lá suas rinchas com a Sonserina... mas algo sobre ele mexia com ela, de uma forma que ela nunca sentiu. Nem por Edgar Bones, que era seu sonho de consumo, nem por ninguém mais. E sobre aquilo de almas gêmeas? Mas que inferno, ela teria que concordar com a pancada da Alice Prewett? Parecia que a garota estava certa quando dizia que uma parte da alma conhece a outra que a completa quando a vê. E, que ironia, sua metade de alma estava num garoto insuportável, debochado, malvado e com fama de briguento.
          Espera aí... essa não era a descrição de Dorcas também? Ela não era também irônica, debochada, insuportável (as amigas às vezes são tão amigas que valem por inimigas quando são sinceras...) quase malvada e... briguenta? Os rapazes não tinham medo de chegar nela por isso?
          Oh, não. Eram iguais!
          - Não diga, então – Domini deu um passo a frente e tão rapidamente lançou sua cabeça contra a dela que não a deu tempo nem para pensar.
          Ainda que sua aparência fosse bruta, Domini tinha uma graciosidade e delicadeza nos seus movimentos, quando a envolveu nos seus braços enormes e a beijou nos lábios. Era tudo tão delicado que Dorcas sentiu-se como beijando um fantasma, só tirando a parte que havia calor e carne por ali. E era tão delicioso que ela nem pensou em lutar contra ele, primeiro porque era causa perdida e segundo porque ela queria beijá-lo também. Será que tinha alguém os vendo – ou melhor, vendo Domini, porque com certeza ela estava escondida dentro do abraço dele – e dentro de alguns instantes Hogwarts inteira saberia do casal mais improvável que acaba de se unir?
           - Quer saber? – Dorcas se descolou dele, o olhando com atenção e respondendo a ele a pergunta que se fazia mentalmente. – Que se dane, eu quero você.
          - É essa a ideia! – ele respondeu antes dela se jogar de volta contra ele e beijá-lo com fúria e vontade.


 


Héstia Jones corria pelo corredor, sabendo exatamente para onde ia. Quando cortou uma saída de portas de madeira imensas, ganhou o pequeno jardim mais próximo do Castelo, onde sua amiga, Rachel Clearwater, sempre se refugiava quando algo a afligia.
            Sem erros, lá estava a menina morena, sentada num canto, com a cabeça entre os joelhos. Héstia fechou os olhos e suspirou. Acalmou os passos e silenciosamente sentou-se ao lado dela, colocando seu material ao seu outro lado. Ficou assim por uns momentos, até que Rachel tivesse levantado sua cabeça. Os olhos tremiam devido ao efeito das lágrimas neles acumuladas. Hestia permaneceu em silêncio.
            - Você sempre me acha – Rachel comentou, sua voz não era mais alta que um sussurro.
            - Ray – Héstia começou calmamente, olhando a amiga com uma expressão preocupada. – Escuta, eu não sei o que está acontecendo com você, porque você simplesmente não me fala, mas eu só tenho uma pergunta, e eu preciso que você me responda, seriamente.
            Rachel apenas meneou a cabeça, concordando. Que fizesse a pergunta.
            - Se você gosta do Bones, por que está fugindo dele?
            Toda a pouca cor que havia no rosto da amiga sumiu quando ela ouviu a pergunta.
            - Nem pense em me dizer que não gosta dele, Ray – Héstia completou, quando viu essa reação exagerada. – Está super na cara, e ele é simplesmente louco por você.
            A amiga negava com a cabeça, sem emitir qualquer som, só abrindo e fechando a boca, estupidamente. Héstia guardou o silêncio.
            - Você não entende... – Rachel disse, finalmente.
            - Claro que eu não entendo, você não explica! – Héstia explodiu. – Ray, por favor, você precisa esquecer o Edward! Eu sei que foi um choque, essa perda, mas você ainda está viva! Precisa viver, precisa...
            - CALA A BOCA, HÉSTIA! – Rachel se levantou numa rapidez tão grande, tão atípica, provavelmente movida pela adrenalina que circulava em seu corpo ao ouvir sobre Edward. – Você não sabe nada sobre Edward, você não sabe! Então não fale do que você não sabe! Não se meta na minha vida!
            Héstia sentiu como se a amiga a estivesse esbofeteando, tamanha sua mágoa e dor com aquela reação exasperada e desnecessária. Rachel sempre fora um poço de carisma, educação e gentileza, o que estava acontecendo com ela?
            Rachel não parecia nenhum pouco comovida com as lágrimas que começavam a se juntar nas pálpebras da amiga. Seu olhar estava completamente transtornado e quase dissimulado, antes dela girar nos calcanhares e deixá-la sozinha no jardim anexo. A outra sentiu as lágrimas correndo pelas bochechas e, imitando a posição da amiga. minutos antes, abraçou os joelhos. Só reergueu a cabeça quando sentiu uma mão delicada deslizar pelos seus cabelos escuros e lisos.
            - Oh, Ben! – ela se jogou contra Benjamin Fenwick, encaixando sua cabeça eu seu peito. – Rachel, ela foi tão... cruel! Eu só queria ajudar!
            - Querida, não fica assim – ele beijou os cabelos de Héstia, depois apoiando seu queixo no alto da cabeça dela. Héstia escutava o coração dele batendo tão serenamente, aquilo a acalmou um pouco. – Rachel está num momento difícil, ela vai te pedir desculpas, eu sei que vai.
            - Como você sabia que eu estava aqui? – ela perguntou, acomodando sua cabeça.
            - Rachel me disse.
            - Você a viu?
            - Vi sim.
            - Para onde ela estava indo? – Héstia ergueu a cabeça para olhar o rapaz.
            Benjamin fez uma cara de pensativo.
            - Bom, isso ela não comentou, mas suponho que tenha ido para aula.
            - Espera, Ben... alguém mais viu a Rachel? Digo, tinha alguém com você?
            - Não, depois que você saiu, eu tinha ficado para trás porque fui conversar com a professora de Herbologia sobre o último dever. Eu estava indo para a próxima aula quando ela me puxou num canto e me falou apenas “Héstia está no jardim anexo, vá atrás dela”.
            Héstia sentiu algo próximo a um péssimo pressentimento. Ela se largou de Benjamin e levantou-se. O rapaz a mirou, confuso.
            - Preciso ver Alice Prewett... – Héstia pegou seus pertences jogados.
            - Você não tem aula agora? – Benjamin lembrou. – E não é com a Sonserina? Nós teremos aula com a Grifinória e...
            - Vem comigo, eu preciso ver Alice – ela repetiu e estendeu a mão para o rapaz que já estava de pé. – Vou matar aula, se preciso... Antes vou ver se ela está na aula ou no Salão Comunal, só para garantir... mas Ben... tem algo muito errado com Rachel e eu tenho que saber o que é! Acho que só Alice poderá nos ajudar a entender, já que ela não nos conta o que é... vamos!


           


 Quando Remus Lupin entrou na sala de Albus Dumbledore, escoltado por Argus Filch, sua expressão era confusa e aturdida.
            De repente, um tipo de alarme soou dentro dele, algo estranho, que fez sua nuca arrepiar. Era como se uma descarga elétrica lhe tivesse sido aplicada, ampliando seus sentidos e senso de defesa. “Eu estou em perigo!”, pensou ele e numa reação impensada e rápida demais ele sacou sua varinha de dentro das vestes e se colocou numa posição de ataque, quase rosnando.
            - Uau, é assim que vocês recebem as visitas por aqui? – a mulher loira falou em tom divertido e nada irônico, a varinha de Remus apontava diretamente para sua testa.
            - Remus, baixe sua varinha – Dumbledore falou serenamente, como se ao invés de quase matando uma mulher ele estivesse apenas convidando-a para jantar.
            - Diretor! Ela...! – Remus tremia, mesmo sem entender o que estava acontecendo.
            - Está tudo bem, Remus, baixe sua varinha – repetiu o Diretor, dessa vez apontando para ele uma cadeira. – Sente-se, meu caro.
            Só então Remus agiu por si mesmo, sentindo uma névoa de tranquilidade o envolver e aquietar seu interior. Era Dumbledore, com certeza, fazendo com que ele saísse da sua posição de guarda. E assim ele conseguiu entender o que fizera: quase atacara uma desconhecida que, aliás, era uma mulher linda de doer. Olhou para Catherine Mayfair e, mesmo com a mente entorpecida parcialmente, ela ainda era uma inimiga para ele. Mas, por que temia uma mulher tão delicada, bonita e gentil – que agora o sorria sem nenhum traço de deboche. Ele estava parcialmente envergonhado por sua atitude grotesca, mas algo ainda o alarmava.
            - Não precisa se preocupar, Remus – Dumbledore o respondeu, como se lendo sua confusão mental. – O que acabou de acontecer aqui nada mais é que seus instintos de defesa.
            - Instintos... de defesa? – Remus fez uma careta.
            E desde quando precisava se defender de uma criatura divina como aquela mulher ali ao seu lado?
            - Ah, que indelicadeza a minha – o Diretor deu um sorriso. – Sim, claro, Remus Lupin, essa Catherine Mayfair – e apontou para a mulher.
            - Olá, Remus – Catherine alargou o sorriso. Algo nela o lembrava de Emmeline Vance, o jeito delicado do rosto, a graciosidade ao falar, o sorriso infantil e sonhador, mas os olhos dela eram negros, tão negros que parecia não ter pupilas. Por que queria a atacar e ainda estava irritadiço em sua presença? Ela parecia tão inofensiva, como Emmeline... – Não precisa mesmo se preocupar com essa coisa de primeira impressão, eu já estou acostumada com esse tipo de recepção de um lobisomem, sei que não é pessoal.
            - Que...?! – ele exclamou, tão pasmo que se sentiu um idiota. Sua expressão era de um, inclusive.
            - Foi para responde às suas perguntas que eu o chamei aqui, Remus – Dumbledore respondeu. – Catherine substituirá o professor McHale, que teve um pequeno contra tempo, em Defesa contra as Artes das Trevas, mas você precisa primeiro se acostumar com ela e... entender isso que aconteceu com você quando a sentiu por perto.
            De repente, um estalo de entendimento se fez. Agora que ele podia pensar melhor, era claro como água. Graciosa e bonita demais, olhos sombrios, Defesa contra as Artes das Trevas, Lobisomens e instintos de defesa...
            “Oh, Catherine é uma...?”
            - Exatamente – o Diretor o disse, quase animado, novamente conferindo seus pensamentos. – Você é um dos alunos mais inteligente de Hogwarts, eu ousaria dizer.


 


Os alunos da Grifinória já estavam na sala de aula de Defesa contra as Artes das Trevas, tomando seus lugares. Marlene McKinnon, Emmeline Vance e Lily Evans especulavam sobre o que Dorcas Meadowes estaria fazendo que ainda não estava por ali – embora no fundo elas soubessem o que ela realmente estava fazendo.
            Enquanto isso, James Potter e Sirius Black tinham as testas franzidas e o pensamento em Remus Lupin.
            - Não estamos próximos da lua cheia – Sirius murmurou, dando de ombros. – A última foi... meio desastrosa – ele olhou para o próprio braço, agora só uma pequena cicatriz onde tinha sido ferido ao cuidar do amigo transformado – mas nos saímos bem, contudo.
            - E Dumbledore nem soube disso – James completou, jogando o cabelo para trás. Parecia concentrado demais. – Almofadinhas, não é bem com Remus que estou preocupado... mas... você já reparou que Rabicho anda sumindo do nada? Onde está agora?
            Sirius olhou em volta inutilmente. Quando Peter Pettigrew não estava sumido, estava colado com eles. É, ele não estava ali.
            - Vai ver é essa coisa de ser Alquimista que está mexendo com os poucos neurônios do cara – Sirius voltou a olhar para o amigo. A expressão de James, no entanto, era desconfiada.
            - Não... ele tem feito de propósito. Ele some entre as aulas, porque sabe que não temos como abrir o Mapa do Maroto na frente dos outros, para saber por onde ele anda.
            O rapaz moreno arregalou os olhos, sua face tomou uma compreensão imediata.
            - Faz sentido... – sussurrou, levando a mão ao queixo quadrado, como assumindo uma posição digna de pensadores. – Quando some fora do horário de aula, sempre está na biblioteca, para pensarmos que anda estudando...! Jay, ele está metido em algo e não quer ser descoberto! É isso!
            - Shh! – James deu um tapa no ombro do amigo, que tinha se exaltado na descoberta incrível. – Fala baixo, descobridor da pólvora!
            - Desculpa – ele olhou para os poucos alunos, um sorrisinho maroto nos lábios. – Pontas, precisamos descobrir qual é a dele.
            - Jura? Podemos comer biscoitos antes? – James fez cara de tédio. Sirius fechou a cara. Depois, os dois começaram a rir sem nenhuma explicação.
            - Onde está o McHale? – Emmeline Vance levantou a cabeça e parou de escrever um momento, olhando para Marlene McKinnon, que estava se olhando em um espelhinho ao seu lado. – Ele sempre chega mais cedo na sala...
            - Boa pergunta – Marlene olhou ao redor. Parou os olhos um pouco em Sirius, que ria lindamente, mas voltou a olhar para Emmeline. Se deteve no livro que ela tinha em mãos. – Emme, sabe que se um professor te pegar escrevendo do diário durante a aula, ele vai te deixar sem ele, não sabe?
            Emmeline olhou para o livro no qual ainda mantinha a ponta da pena apoiada, e num repente, o fechou. Olhou para Marlene com uma expressão horrorizada.
            - Eu já te disse, escreve nesse troço só no Salão Comunal, não traga para as aulas! A menos que você queira ter seus segredinhos revelados por aí...
            - Não, está louca! – Emmeline empalideceu e jogou o diário dentro da bolsa, com seus demais pertences. – Nunca!
            Peter Pettigrew passou por elas no mesmo momento em que Marlene ria da atitude. Ele olhou para o livro que Emmeline guardava e quase sem querer a ouviu chacotear a amiga.
            - Deve ter muita coisa legal de se ler aí, não é? – a garota morena zombou. – Algo como “Oh, Remus é tão lindo” e “Eu vi Remus hoje e ele me sorriu, foi tão mágico!”?
            Emmeline engoliu seco. Tinha muito sobre Remus, sim. Esse era o problema.
            - Melhor escrever que contar para amigas que não estão nem aí para o que eu penso e passo com Remus, não é verdade? – e a loira olhou para frente com a cara amarrada.
            Peter dirigiu a ela um olhar de soslaio e foi sentar-se próximo aos outros Marotos, enquanto Marlene revirava os olhos e voltava a se olhar no espelhinho.
            - Ah, olha ele aí, Jay! – Sirius falou, quando o garoto gorducho sentou-se na mesa atrás dele, quieto e um tanto pensativo.
            - Rabicho, onde esteve? – James ajeitou o óculos ao virar-se para mirá-lo.
            Ele não respondeu. Parecia estar em transe.
            - Peter! – Sirius deu um tapa estalado em sua nuca. – Acorda, cara!
            Peter levantou os olhos para ele, com tanta raiva que nem parecia ele mesmo. Sirius e James se entreolharam, divertidos.
            - Está hipnotizado, mané? – o rapaz de óculos zombou.
            - Não, só não quero conversar, estou pensando aqui... – Peter disse e manteve-se novamente em silêncio.
            James e Sirius passaram de risinhos para gargalhadas escandalosas. Peter os olhou com ódio novamente.
            - Pensando, aham... – James virou-se para frente, seguido por Sirius. – Vamos colar nele, caro Almofadinhas... – sussurrou depois para Sirius que entendeu imediatamente o recado.
            - Pode crer que vamos – o outro o respondeu com uma piscadela.
            - Vamos ver quem rirá por último, amiguinhos – Peter murmurou para si mesmo, olhando para o lado, onde via Emmeline, Marlene e Lily tagarelando animadas agora. Dorcas Meadowes se unia a elas com uma expressão de vitória.
            - Conta tudo, vamos, anda, antes que McHale chegue! – Marlene falou, sacudindo as mãos na sua emoção.
            - Não aqui! – Dorcas sentou-se ao lado de Lily Evans. Suas bochechas estavam coradas e um sorriso meio bobo desenhava seus lábios.
            - Ah, Dorky, que malvada! – Emmeline suspirou.
            - Estávamos aqui em cólicas! – Lily engrossou o coro de “não creio”. – O que ele queria com você, só isso, responda só isso para nós ficarmos menos... hã...
            - Menos curiosas! – Marlene completou num gritinho contido. – Você está nos matando de curiosidade!
            Dorcas riu. Olhou para os lados e viu Peter virar-se de relance, mas ignorou, ela tinha mais com o que se preocupar.
            - Vamos aproveitar que o McHale ainda não chegou, venham – ela levantou-se, chamando as amigas com um gesto. As outras três saíram animadas atrás dela, deixando tudo como estava por ali.
            - Pet – James falou e ele o olhou sem vontade. – Estaremos lá fora, McHale está atrasado e vamos esperar Remus no corredor. Vem com a gente?
            Peter olhou novamente para a cadeira onde Emmeline estava sentada. Sua bolsa estava entreaberta. Olhou para conferir quantos alunos ainda estavam ali: uns cinco ou seis, o resto estava deixando a sala para os corredores, irritados com o atraso do professor que nunca se atrasava.
            - Não, eu vou ficar – respondeu afinal.
            James e Sirius deram de ombros e saíram da sala.


 


Alice Prewett e Frank Longbottom estavam aguardando o professor do lado de fora da sala, abraçados, mas em silêncio. O rapaz deu um beijo na testa da menina, que ergueu a cabeça para lhe sorrir.
            - McHale nunca se atrasa, estranho não é? – Frank comentou, passando a mão pelo rosto dela.
            Alice meneou a cabeça, desconfiada.
            - O que foi? – essa tinha virado a “pergunta que não quer calar” de Frank nos últimos dias.
            - Não sei. Algo deve ter acontecido com ele... não lembro dele ter faltado ou chegado atrasado um só dia e... – ela virou distraidamente a cabeça para o lado e parou de falar, os olhos arregalados. –Edgar?! – Frank olhou para onde ela olhava.
            O rapaz da Lufa-Lufa se aproximou deles com uma expressão de derrota no rosto.
            - Oi, Alicinha – ele sorriu amarguradamente. – Frank.
            - O que houve? – Alice saiu dos braços de Frank e abraçou Edgar. O rapaz a envolveu protetoramente, fazendo a menina sumiu, praticamente.
            - Ah, Alice... – ele suspirou, levantando a cabeça e acariciando os cabelos dela. – Eu tenho feito umas besteiras.
            - Não acredito. Você, não – Alice o apertou com sua pouca força. Era quase isso que ela fazia com seu irmão quando eles estavam se consolando.
            Edgar novamente sorriu ressentido, ele olhou para Alice e seus olhos estavam tão tristes que ela sentiu vontade de chorar ao vê-lo tão abatido. Ela separou os lábios para falar, ia acabar logo com aquilo tudo.
            - Ed, olha só...
            - Alice! – alguém a interrompia, uma voz feminina a chamava. Ela olhou para a direção da voz e viu Héstia Jones correndo em sua direção. Benjamin Fenwick logo atrás dela, andava um pouco mais devagar e não deixou de sorrir quando chegou perto dos outros.
            - Héstia...? – Edgar foi quem falou, olhando em volta, como se esperasse mais alguém chegando à cena.
            - O que houve? – Alice se soltou de Edgar e mirou a menina de bochechas vermelhas atentamente.
            - É sobre Rachel – Héstia disse ofegante e cansada, olhando de Edgar para Alice. – Eu estou preocupada com ela, agora ela sumiu, não foi para aula e não está no Salão Comunal!
            - Ela não estava com você? – Edgar perguntou, quase aflito.
            - Estava – Benjamin respondeu ao amigo, já que Héstia tentava se recuperar da corrida. – Mas quando eu estava voltando das estufas, eu a encontrei no corredor e ela me mandou ir atrás de Héstia e depois sumiu. Ela estava meio... estranha.
            - Mas o que aconteceu antes de... – Alice começou a perguntar, mas de repente, ela calou-se, olhando para frente. Os demais olharam para ver quem interrompia novamente, mas ela não olhava para lugar nenhum, exatamente.
            - Alice...?! – Frank pegou seu pulso. Estava tão acelerado, ele sentiu.
            Mas Alice não respondeu. Eles ficaram a olhando, esperando alguma reação. Nesse mesmo instante, Albus Dumbledore chegava ali, acompanhado por Remus Lupin e uma estranha e belíssima mulher loira.
            - Caríssimos, poderiam por favor entrarem na sala de aula? – disse o professor gentilmente, olhando para Héstia logo em seguida. – Exceto a Srta Jones, que ao que me consta deveria estar na sala de aula de História da Magia...
            Mas Héstia piscou, como se forçasse a ouvi-lo. Estava vidrada na mulher ao seu lado. Não só ela, como Edgar, Benjamin e Frank também.
            - Ah, sim, é que eu... – ela começou, mas achou que seria meio inútil explicar. Os olhos daquela mulher o fitaram de forma tão decidida, seu sorriso era tão lindo, mas quem era ela? Enfim, alguém a contaria depois. Não queria se indispor com Dumbledore. – Com licença. – e virou-se para longe deles, dando ligeiras espiadelas por cima do ombro para vê-los.
            Remus parecia ter notado que a presença da mulher estranha estava aturdindo os amigos, por isso, tratou de ajudar. Seria tudo explicado, ou melhor, quase tudo, quando estivessem todos na sala de aula.
            - Vamos entrando, pessoal... – disse ele, mas a voz de Frank sobressaiu à dele.
            - Diretor! – o rapaz falou, sentindo a mão de Alice gelando. – Alice! Ela está com algum...
            A mulher que o acompanhava deu um passo a frente, sorrindo para Frank. Olhos curiosos a seguiram. Ela olhou diretamente para os olhos do rapaz quando falou com ele.
            - Deixe que eu cuido dela. Entre e leve os outros com você. Está tudo bem.
            Frank concordou com a cabeça e largou Alice. Deu um passo para trás e chamou os outros, ajudando Remus a colocá-los na sala.
            - Ed, Ben, venham... – disse ele, dando as costas para o Diretor e a mulher, que segurava agora Alice delicadamente.
            Remus passou por eles, pedindo para os demais alunos por ali também entrarem. Edgar e Benjamin se entreolharam, seguindo Frank. Estranho, ele nunca deixava Alice sozinha, ainda mais com uma desconhecida.
            - Ela é uma Veela? – Benjamin perguntou ao amigo, num sussurro quase apaixonado, olhando para trás, para aquela mulher.
            - Não sei – Edgar respondeu, um tanto curioso. – Veelas não exercem poder de persuasão em homens apaixonados por outra mulher.
            - Como é? – Benjamin fez uma careta. Do que ele estava falando?
            - Falo de Frank, entende?
            - Ah, sim – e Benjamin deu por encerrado o assunto, entrando na sala como os demais colegas da Grifinória e Lufa-Lufa.
            Alice ergueu os olhos esverdeados para Catherine Mayfair. Mas a loira linda não sorria mais. Olhou para o Diretor com uma expressão quase chocada.
            - Essa menina, é Alice Prewett – afirmou ela, não perguntou.
            Dumbledore ainda assim assentiu num menear de cabeça. Catherine a olhou novamente, quase chocada demais para ser gentil como tinha sido com os outros alunos.
            - Ela tem um dom lindo – continuou, encarando Alice, que parecia um filhote de gato assustado. – E trágico!
            - Ah, Cathy, não acredito que seja necessário... – Dumbledore começou, mas a mão da mulher já segurava Alice pela nuca, seus olhos negros dentro dos da menina.
            - Você precisa se esquecer disso, querida – disse, gentilmente. – Não vai comentar isso com ninguém e não se lembrará de nada mais.
            Alice fechou os olhos, como se estivesse cansada. Logo em seguida, Catherine a ajeitou de pé e ela reabriu os olhos. A primeira coisa que viu foi uma mulher loira e linda sorrindo para ela.
            - Tudo vai dar certo – ela a dizia. – Eu sei que a perda é complicada, mas nós estamos todos juntos, querida.
            A menina pequena sorriu alegremente para a outra, mesmo sem conhecê-la e girou nos calcanhares para entrar na sala. Catherine soltou o ar asperamente quando já estava fora do seu campo de visão.
            - Ah, por todos os céus... – murmurou.
            - Vamos, precisamos apresentá-la aos seus novos alunos, Cathy – Dumbledore passou a mão por seu ombro e os dois entraram na sala de aula, com todos os olhos dos presentes os mirando com expectativa e curiosidade.

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