O abandono



Belo Horizonte, alguns anos atrás... Gregório e Dolores são um simpático casal de idosos, que mora na Vila Santo Antônio. Eles são casados há 40 anos, e desde que nasceram sempre moraram em Belo Horizonte. O casal mora sozinho, eles não tem família nenhuma aqui em Belo Horizonte, pois a maioria dos familiares foram para outros Estados tentar a vida e outros morreram. Nesses 40 anos de casados eles nunca tiveram nenhum filho, pois Dolores tem um sério problema: Ela não pode engravidar! Assim que se casou Dolores descobrira que era estéril e que nunca poderia dar filhos para seu esposo. Isso sempre fez com que ela se sentisse infeliz. Mas eles têm muita fé e nunca desistiram de acreditar que um dia pudesse acontecer um milagre. E eles alimentam essa esperança á anos.
....

Na rua onde Gregório e Dolores moram é calma, não se vê nenhuma briga, ninguém falando alto... Tudo é muito calmo. E nas noites de verão as ruas ficam mais vazias ainda. Não se vê ninguém perambulando por elas. E numa dessas noites as ruas estavam escuras mais do que o normal e chovia muito, uma tempestade incontrolável. Todos os moradores se trancaram em suas casas comedo da tempestade. No final da rua, uma mulher toda coberta vem com uma criança nos braços. A criança estava enrolada em alguns pedaços de panos velhos. A mulher que a-trazia parecia esta com muita pressa e ao mesmo tempo muito nervosa. A tempestade estava tão forte, que era quase impossível ficar de pé no meio daquela chuva que estava acompanhada com rajada de vento muito forte.
A mulher conseguiu ir em direção a casa do Gregório e da Dolores. Com muito custo ela ficou ali tentando se equilibrar no meio daquele vento que chegava assobia de tão forte. Ela se abaixou aos poucos na porta, para que a tempestade nem a rajada de vento a derrubassem a fazendo deixar a criança cair no chão. A criança chorava sem parar, pois esta muito frio, a única cor que se viu na criança era a roxa. A mulher beija a criança e a coloca no chão, em frente à porta da casa do casal de idosos. Aos poucos, a mulher se levanta, e com um simples gesto ela se despede da criança como se algum dia elas fossem se reencontrar. Já não agüentando ficar naquela tempestade, ela tocou a campainha da casa, e saiu correndo dali.
Dolores, ao ouvir a campainha ficou comedo de abrir a porta, pois naquela tempestade quem iria bater na sua porta? Ainda mais àquela hora da noite. Mais ao mesmo tempo em que ela sentia medo alguma coisa falava dentro dela pra ela não ter medo, pois nada de mal iria acontecer. E acreditando nessa confiança que ficava cada vez mais forte dentro do seu coração, Dolores, sem mais nenhum medo abriu a porta e ao ver que uma criança estava na porta da sua casa, ela se emocionou. A tempestade estava tão forte, que Dolores, nem conseguia ouvir o choro da criança. Sem reação, Dolores não sabia o que iria fazer. A criança como se pedisse socorro ficou olhando a Dolores que estava tremendo de frio e toda ensopada. Ao perceber que estava quase sendo levada pela forte pancada de vento, ela começou a pedir a ajuda ao marido.
- Gregório! Gregório! Gregório vem cá! Corre! – Disse Dolores
Desesperadamente, sem força para sair dali.
Sem entender nada o Gregório vem até a porta.
- O que foi querida?
- Gregório, olhe uma criança... Uma criança, Gregório!
Gregório não conseguia acreditar no que os seus olhos estavam vendo: uma criança enrolada com alguns pedaços de panos velhos, roxa no meio daquela tempestade. -“O que é isso? Como será que essa criança veio parar aqui?” Essas perguntas não saiam da cabeça de Gregório. Vendo que a criança poderia morrer naquela tempestade, Gregório, resolveu levar a criança para dentro de sua casa. Sem perder tempo, Dolores foi pra dentro junto com Gregório. Dolores, logo percebeu que aquela criança estava com fome, então deu leite em um copo de plástico pra ela. Foi um sacrifício danado a criança tomar leite no copo. Mais aos poucos ela foi tomando. Em seguida Dolores, trocou os panos velhos que ela carregava consigo por uma linda frauda de pano. A criança que até pouco estava
com fome, com frio e com alguns panos velhos, agora estava com uma linda roupa improvisada com uma camisa de Gregório, aquecida e com a barriga cheia. Tão cheia que logo adormeceu.
Gregório ficou o tempo todo pensativo. Ele queria entender como que aquela criança havia conseguido sobrevive no meio daquela tempestade, e por que motivo alguém a - abandonaria na porta dele. Sem obter nenhuma resposta ele e Dolores, resolveram dormir e combinaram que no dia seguinte decidiriam o que iriam fazer. E assim eles fizeram, ou pelo menos tentaram...

....

No dia seguinte, Dolores ao despertar se de seu sono, pensou que o que acontecera na noite anterior tivesse sido um sonho, mas logo ela teve a certeza de que não era um sonho e sim a mais pura realidade. A criança começou a chorar desesperadamente como se ela tivesse sentindo uma dor muito forte. O choro foi tão alto que não demorou muito para que Gregório acordasse
Dolores, então levantou e deu leite pra ela no copo como tinha feito na noite anterior, mais ao contrário da noite anterior, hoje ela estava mais esperta, conseguia beber melhor o leite, que saia pelos cantos de sua boca como se estivesse furada.
- Gregório, o que será que aconteceu com essa criança?- Perguntou Dolores,
ainda dando leite pra criança.
- Dolores, é claro que a mãe dessa criança é sem juízo! Desde quando
uma mãe abandona o seu próprio filho? Isso não existe!
- Mas, o que a gente vai fazer agora?
- Eu vou à vizinhança, vê se descubro alguma coisa. Alguma pista de como
isso tenha acontecido.
E assim Gregório fez. Foi por toda a vizinhança para ver se descobria
Quem tinha deixado aquela criança ali na sua porta. Ele perguntou todos os vizinhos mais ninguém sabia responder nada. Gregório ficou duas horas na rua e não descobriu nada. Sem outra saída ele tomou uma importante decisão: ir à delegacia.
- De forma nenhuma, Gregório eu vou deixar você ir à delegacia! – Disse
Dolores.- Eu me apaixonei por essa criança. A polícia não vai nus deixar ficar com ela.
- Dolores, eu entendo o seu lado. Mas nós temos que dar queixa na polícia.
Olha esse bebê, pode ser raptado. Já pensou nisso? Aliás, se a gente não for à polícia, podem falar por aí que nós raptamos ele. E aí? O que nos vamos fazer se isso acontecer?
Dolores tinha se apegado àquela criança, como se fosse à mãe dela. E a
última coisa que ela pensava naquele momento era deixar aquela criança. Mas com muito esforço, Gregório provou pra Dolores que era preciso que eles chamassem a polícia. Morrendo de dó, Dolores foi se arrumar, para ir à delegacia com Gregório.
Na delegacia, eles contaram o que tinha acontecido, e o caso foi encaminhado para o conselho tutelar. Logo após darem o depoimento, eles pegaram o bebê no colo para se despedirem dele.
- Gregório, está me cortando o coração deixar ela aqui! – Disse a Dolores
Não se aquentando de emoção.
-Eu sei Dolores. Eu também não queria fazer isso, mas é o certo! Agora
vamos para casa. Esse bebê está nas mãos da justiça agora. - Disse Gregório tentando acalmar Dolores.
Chorando sem parar como se fosse uma criança querendo algo, Dolores saiu
da delegacia acompanhada de Gregório, que a- abraçava fortemente. Eles foram
embora, dali. Morrendo de dó, de ter que deixar aquela criança ali, mas foram.
Com o passar do tempo Dolores e Gregório se apegaram ainda mais
àquela criança. Todos os dias eles iam ao conselho tutelar para visitar o bebê. Eles pegaram tanto amor por ele, que estavam decididos a adotá-lo.
- Dolores, você sabe a luta que teremos que enfrentar, não sabe? – Falou
Gregório. - A justiça não vai querer dar a guarda de um bebê, que não tem nem um mês de vida, para dois idosos como nós.
- Mas eu vou lutar Gregório... Eu vou lutar contra tudo e contra todos! Até
mesmo contra a justiça. Porque Deus, não colocou essa criança no nosso caminho à toa, não.
- Querida, se você quer mesmo adotar aquela criança eu estou do seu lado. Nós dois juntos vamos vencer todas as barreiras.
Sem perder tempo eles decidiram contratar uma advogada para cuidar do
caso. Eles sempre sonharam em ser pais. Agora como eles têm a oportunidade de realizar esse sonho, Dolores e Gregório, decidiram dedicar todas as suas vidas na esperança de poderem conseguir a guarda daquela criança que eles já consideravam como filha.
Mais dias foram se passando. Gregório e Dolores teriam que lutar na justiça para poderem ficar com a guarda daquele bebê. Pois para a justiça eles não iam dar conta de criar um bebê, já que eram idosos e precisariam de descanso. E com uma criança em casa eles ficariam muito preocupados. Com isso o sofrimento e a indignação tomavam conta de Dolores e de Gregório. Eles não conseguiam concordar com a decisão da justiça. Mas eles não desistiram. Tentaram mais uma vez e felizmente dessa vez tudo terminou bem: Dolores e Gregório conseguiram provar para a justiça que davam conta de criar um bebê. E a guarda do bebê foi dada, para eles. Os dois não se continham de felicidade. Pois o sonho que eles carregavam á anos de serem pais estava se tornando realidade.
- Muito obrigada, por ficar do meu lado, Gregório. Obrigada mesmo. - Disse Dolores feliz da vida.
- Agora querida o nosso sonho de poder ter um filho vai se realizar! Nós vamos ser pais! – Falava Gregório se sentido o homem mais feliz do mundo.
Eles ficaram meia hora abraçados, comemorando a vitória que eles tinham conseguido. O caso de Dolores e Gregório virou motivo de debate, pois nenhum caso parecido com esse tinha acontecido, onde um casal de idosos teria brigado na justiça para ficarem com a guarda de uma criança. E com certeza esse caso entraria pra história.
Mas nada disso fez com que Gregório e Dolores se desanimassem. A única coisa que os preocupou foi só uma: O nome da criança!
- Mais espera aí, nós temos que dar um nome para ela.
- Você tem razão. E eu estava pensando em, Cecília, que tal?
- Ah, não! Cecília não. Eu prefiro larissa.
- Larissa, Gregório?Esse nome eu já não gostei. Eu sou mais Maria Clara, que tal?
- É! Maria Clara, eu já gostei. Taí! O nome da nossa filha vai ser Maria Clara.
Após decidirem o nome da menina que agora eles poderiam chamar de filha, eles foram comemorar. E foi quando eles estavam comemorando que a advogada que eles tinham contratado para cuidar do caso chegou.
- Dolores, você e o Gregório têm certeza de que vão dar conta de criar essa criança? Ainda mais sendo de apenas alguns meses de vida? – Perguntou a advogada com uma certa dúvida.
- Sim. Temos certeza! – Disse a Dolores, bastante firme no que dizia.
- Apesar deu ter 60 anos e o Gregório 62, temos a certeza de que conseguiremos cuidar dessa criança.
- Doutora, a senhora não sabe a luta que nós estamos vindo passando desde que eu e a Dolores nus casamos para ter um filho. Só quem conhece agente pra falar. Por isso, pode ter certeza que não vai existir cansaço no mundo que vai nus desanimar! – Completou Gregório bem convicto.
- É, se vocês estão falando... Mas olha eu quero dar os parabéns para vocês, pois não é qualquer pessoa que faz isso não. Já teve época em que as pessoas até brigavam para adotar uma criança, mas hoje não. Hoje como tudo esta difícil, ninguém quer mais responsabilidade. – Falou a advogada.
- Mas pode ter a certeza de que eu e o Gregório vamos cuidar muito bem dessa criança, doutora. Nós vamos educá-la e ela vai ser uma grande mulher no futuro. - Disse Dolores.
A Advogada saiu dali com a certeza de que aquele casal de idosos iria cuidar daquela criança muito bem, talvez até melhor do que um casal mais novo. Mais dias se passaram, e chegou o batizado de Maria Clara. Como madrinha, eles chamaram a melhor amiga que eles tinham: Dagmar. Eles sempre que precisavam era na Dagmar que eles iam. Era com ela que eles contavam os problemas. Então eles acharam mais do que justo coloca-la como madrinha da filha deles. O batizado foi lindo. Todos queriam pegar Maria Clara no colo, ela parecia uma boneca de porcelana. Era branquinha, os olhos pareciam duas jabuticabas de tão pretos. Era impossível não se apaixonar pela Maria Clara, quando a via.
Para comemorar, Gregório fez um churrascão na sua casa. Eles ficaram muito felizes, pois Maria Clara provou que por mais que o sonho seja difícil basta sonha que ele se torna realidade.
- Eu estou muito feliz, Gregório! – Exclamou Dolores. – Eu sempre quis ter uma filha e agora ele me deu essa oportunidade. Como eu estou feliz!
- Eu também, Dolores. Eu também estou muito feliz.
- Gregório nós três vamos ser muito felizes. – Falou Dolores.
Dolores e Gregório, eram só felicidade. Pois o que eles mais queriam agora eles conseguiram. Ninguém nunca os viu tão feliz como agora. Mais eles que nem imaginavam que a felicidade que eles carregavam no rosto em breve seria ameaçada. Apesar de eles terem uma autorização especial para criar a Maria Clara, sempre que eles iam levar ela para passear na rua as pessoas ficavam olhavam torto para eles, como se eles tivessem raptado aquela criança. Tinha uns que até cochichavam, quando eles passavam. As pessoas não acreditavam que Maria Clara, tivesse sido abandonada na porta da Dolores e do Gregório, eles pensavam que o casal tinha raptado ela. Dolores e Gregório já não agüentavam mais essa situação. Eles não podiam chegar perto de criança nenhuma que a mãe da criança já estava em cima deles para ver o que eles estavam fazendo. Até os vizinhos deles começaram a tratar eles diferentes. Ninguém os-convidavam para ir a festas... A única pessoa que ficou do lado deles, foi a Dagmar. Ela nunca deixou de apoiar o casal. Mais nem a amizade de Dagmar conseguiu fazer a felicidade que o Gregório e a Dolores sentiam de ter uma filha permanecer. Logo eles estavam tristes. Não queriam nem sorri direito. Eles sabiam que aquela situação não poderia continuar, pois eles não queriam que Maria Clara crescesse num ambiente, onde todos pensassem que os seus pais adotivos a raptaram e tivessem vergonha deles. Por isso eles decidiram tomar uma decisão que com certeza mudaria a vida deles pra sempre: sair de Belo Horizonte.
- Mas nós vamos para onde, Dolores? – Perguntou Gregório, preocupado
de como seria a vida deles em outro lugar.
- Para qualquer lugar onde ninguém nos acuse de termos raptado a nossa
filha, Gregório. Se agente continuar aqui, quando a nossa filha crescer, ela vai sofrer muito preconceito. E isso eu não quero.
- Nem eu. Nós custamos para conseguir realizar o nosso sonho e agora que nós realizamos, nós temos que cuidar muito bem da nossa filha. – Disse Gregório, querendo concordar com Dolores.
- Pois é Gregório, só que se agente continuar aqui, nós não vamos conseguir cuidar bem da nossa filha, porque nós vamos ficar muito tristes. E essa tristeza vai nus atrapalhar na criação da Maria Clara. E eu não quero isso pra ela.
- Nem eu querida. Mais nós vamos nus mudar pra onde? Agente cresceu aqui em Belo Horizonte. Nós nunca saímos daqui nem pra passear.
Eles ficaram horas ali, tentando encontrar um lugar pra recomeçar uma nova vida. Mais não conseguiram entrar num acordo. Até que finalmente como se uma luz se acendesse no fim do túnel eles decidiram ir para São Paulo, para começar uma nova vida. Agora ao lado de Maria Clara. E mais do que depressa eles foram arrumar as suas malas para a viagem. E como tinham poucas roupas, não demoraram muito e já estavam com todas as malas prontas. Só faltava fazer a pior parte: Despedisse de Dagmar, a pessoa que mais os - ajudou.
- Gente, vocês não podem ir, para São Paulo assim de uma hora pra outra. – Disse Dagmar preocupada com os amigos. – Olha vocês podem esta indo para São Paulo pensando uma coisa, e podem descobrir que é outra completamente diferente. A vida lá é muito difícil!
- Mais Dagmar, pode ter certeza de que lá nós vamos ser mais felizes do que aqui. Pelo menos lá ninguém vai nus tratar mal, ninguém vai pensar que nós raptamos nossa filha. – disse Dolores.
- A Dolores, esta certa Dagmar aqui agente não vai consegui ser feliz. E além do mais agente vai tentar a vida em São Paulo, se não der certo, agente volta.
- Eu vou sentir muito a falta de vocês. Eu gosto muito de vocês. Muito. – Disse Dagmar já não segurando as lagrimas.
- Agente também ama muito você, Dagmar. Você é como uma irmã pra gente. E agente quer que você vá lá em São Paulo nus visitar, heim! – Disse Dolores.
- Pode deixar eu vou sim.
Com um simples abraço, eles se despediram, e foram pra rodoviária pegar o ônibus. Dagmar, não agüentou e chorou o tempo todo feito uma criança. Gregório e Dolores partiram para começar uma nova etapa da vida deles. Eles não sabiam se iam se adaptar em São Paulo, mais eles tinham a certeza de que lá, eles estariam fora do preconceito.



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