Eu sei que ele me ama...



III. Paixão que ressuscita.



17. Eu sei que ele me ama...



Hermione estava muito fraca por fora, mas tinha a primavera por dentro, como todos os seus pássaros e borboletas azuis. A batalha dos médicos tinha sido terrível. Inconsciente, ela não percebera aquela batalha. Ela só vivera aquela batalha. E, por fim, sobrevivera a ela.
Sobrevivera como se tivesse acabado de nascer, com o humor e a alegria de alguém que, a custo, foi arrancado da morte. De alguém que, à frente, só vê felicidade sem barreiras.
O pai veio e, dessa vez, trouxe Helena (Ou seria Lúcia? Ou Cristina?). A mãe, agora que Hermione estava fora de perigo, tinha deixado o hospital para buscar algumas roupas, sempre com a certeza de que a filha passara por tudo aquilo só para agravar-lhe a enxaqueca.
Mesmo fraca e debilitada, em seu primeiro dia de plena consciência, Hermione portou-se mais como visita do que como doente, sorrindo sempre, brincando com voz alegre e transmitindo ânimo a quem se aproximasse de sua cama.
Duas batidinhas e entrou uma atendente, trazendo mais uma dose anônima de comprimidos.
— Bom dia, querida. Que bom ver a sua carinha animada desse jeito!
— Bom dia! Isso não é animação, isso é vida! Viver é lindo. Amar é lindo. Ser amada é mais lindo ainda!
— Nossa! Como está a nossa ressuscitadinha! Se todos os nossos doentes fossem como você, este hospital seria uma festa...
— Então vamos fazer uma festa. Precisamos animar este hospital!
— Você precisa é descansar sossegadinha para sair logo daqui. Todas as festas estão esperando por você lá fora.
— Eu dei muito trabalho, é?
— Se deu! Quando você chegou aqui disseram que era envenenamento por cianureto. Naturalmente, isso não era possível, porque o cianureto mata em poucos segundos. Tinha sido um calmante, não é? Mas os médicos demoraram a descobrir o que era.
— Puxa, eu só tomei dois comprimidos!
— É, você teve uma forte reação. Às vezes acontece. Eu nunca confio nesses remédios. Eu trabalho aqui, mas, quando estou nervosa, só tomo chá de erva-cidreira.
— Vou me lembrar disso, da próxima vez... — sorriu Hermione.
— O problema mesmo foi aquela professora louca. Ela injetou o mesmo calmante em você. Só que uma dose capaz de matar um cavalo! Se não fosse aquele rapaz...
— Draco...
— É esse o nome dele? Você tem sorte de ser tão amada por um garoto como ele. Ele arrebentou um frasco de sangue na cabeça da tal professora Bellatrix, bem a tempo de...
Era a última recordação de Hermione: o sangue esguichando na cabeça da vice-diretora, escorrendo por todos os lados, empapando sua camisola.
— Deu até na televisão! Agora, aquela mulher maluca está toda costurada, lá na enfermaria da prisão. Se não fosse o seu garoto...
— Draco... ele me salvou a vida!
— Duas vezes! Foi ele quem encontrou você em casa, caída no sofá, e chamou a ambulância. Depois, ficou o tempo todo por aqui, pressionando os médicos, perguntando por você a toda hora, chorando...
— Chorando!
— Só arredou pé do hospital quando soube que você estava fora de perigo. Acho que foi em casa se arrumar para que você o veja bem bonitinho...
— Draco! Chorando por mim...
A atendente ajeitou os travesseiros atrás de Hermione e preparou-se para sair.
— Você é uma garota de sorte, mas vai ter um probleminha para resolver.
— Um probleminha? Qual?
— Há outro garoto, não é? Apareceu aqui várias vezes, também desesperado, dizendo a todo mundo que ama você, que não pode viver sem você...
Uma sombra passou pelos olhos de Hermione.
— Esse é Harry. Um rapaz maravilhoso. O melhor amigo que uma garota como eu poderia ter. Ah, se não fosse Draco...
— Então você já escolheu, é? Um dos dois vai sofrer.
A alegria da sobrevivente diminuiu um pouco. Por nada deste mundo ela gostaria que Harry sofresse. Mas ela estava amarrada para sempre pelo beijo apaixonado no jardim, pelo beijo da vida no sofá, pelo roçar da correntinha...
— Ah, Harry, você vai ter de me compreender...

***


— Ah, Harry, que rosas lindas! Obrigada, você é mesmo um amor!
Hermione teria preferido que a primeira visita não fosse de Harry. Mas agora o rapaz estava ali, cheio de rosas e esperança, e ela iria fazê-lo sofrer. Gina também sofreria, mas o que fazer?
"É melhor um fim trágico do que uma tragédia sem fim", pensou ela pela segunda vez..
— Senhorita Ilusão... a professora Bellatrix enganou a todos nós, não foi?
— Quase que eu pago com a vida por esse engano... E o próximo seria você. Ela sabia que eu tinha falado das minhas suspeitas com você.
— Ela não pararia mais. Pobre mulher louca! A polícia já conseguiu levantar todos os dados para encerrar o caso. Falei com o investigador. Bellatrix era uma mulher brilhante, mas a loucura estava tomando conta dela. Foi por isso que dona Minerva morreu. As duas eram grandes amigas, e a diretora estava percebendo os sinais de desequilíbrio mental que a professora Bellatrix começava a apresentar. Primeiro, para protegê-la, encostou-a no cargo de vice-diretora, sem nenhuma função prática. Por fim, parece que ela estava cuidando da internação da amiga em uma clínica psiquiátrica. Foi aí que os delírios de perseguição da professora Bellatrix transformaram a amizade por dona Minerva em ódio...
— Que horror, Harry!
— O estranho é que ela não perdeu a genialidade, apesar da loucura. Muita coisa ela falou à polícia, depois de presa. Ela imaginou que precisava de um cúmplice, se bem que poderia ter feito sozinha tudo o que fez. Brucutu só serviu para caçar você e eu no pátio, de modo que nossa presença inocente na hora da descoberta do cadáver fosse uma garantia de que dona Minerva morrera sozinha e fechada na diretoria. E para abrir a porta com a chave mestra, é claro. Por coincidência, a professora Tonks apareceu também e Bellatrix conseguiu uma testemunha a mais.
— Pobre Tonks! E eu que cheguei a pensar...
— Mas deixe eu lhe contar o que fez Bellatrix para envolver Brucutu. Ele estava com problemas de dinheiro e ela o convenceu a roubar certa quantia da gaveta de dona Minerva. Depois, disse ao coitado que a diretora descobrira o roubo e que a única forma de livrá-lo da prisão seria matando-a. Só que dona Minerva jamais descobriria esse roubo, porque o roubo praticamente não aconteceu: a própria Bellatrix tinha posto o dinheiro na gaveta para Brucutu roubar. O dinheiro era dela mesma!
— Genial! Com isso, Brucutu ficou nas mãos dela como um fantoche!
— Só que ele se apavorou quando ouviu nossa conversa na pracinha e resolveu ameaçar você. Aí, Bellatrix ficou com medo que ele fosse preso e acabasse falando demais e o envenenou. Foi encontrado morto no quartinho onde morava com um papel de bombom ao lado...
— Coitado! Ele me assustava tanto, mas era apenas uma pobre vítima, como dona Minerva...
— Ou como você. Até o investigador ficou espantado com a ousadia da professora Bellatrix. Ela o procurou e o convenceu a irem juntos à sua casa, pois devia haver alguma coisa que você sabia e não dissera no interrogatório. Uma idéia brilhante: quando você aparecesse morta, quem iria desconfiar que o veneno estava em um bombom oferecido a você na frente de um policial?
— Eu não esperava aqueles dois. Eu esperava que Tonks chegasse...
— A professora Tonks chegou um pouco depois, quase junto com a ambulância que foi buscar você.
— Eu nem desconfiei quando Bellatrix deixou o bombom sobre a mesa. Ela comeu todos os outros do saquinho... Quem havia de desconfiar que justo aquele último estivesse envenenado?
— Bellatrix foi mesmo brilhante, Hermione. O plano para matar dona Minerva era perfeito. Ela usou o regime da nossa pobre diretora. Que pessoa obesa não comeria às escondidas um bombonzinho deixado sobre a mesa? Depois que nós descobrimos o corpo, ela ficou fazendo aquele papel de histérica até entrar sozinha na diretoria, pegar o papel de bombom e deixar o envelope com veneno ao lado do corpo, depois de pressionar os dedos de dona Minerva contra o envelope para marcar as impressões digitais. Sua única falha foi deixar o frasco do laboratório limpo de impressões, mas este era um risco a enfrentar, pois não seria possível trazer o frasco até à diretoria, pressionar os dedos da diretora contra ele e depois colocá-lo de volta no laboratório.
— Isso tudo eu descobri, Harry. Um pouco tarde, mas acabei descobrindo. No começo, pensei que a culpada fosse Tonks, por causa das teorias dela sobre educação por indução subliminar. Mas depois eu percebi que Tonks poderia ter apanhado o papel de bombom e deixado cair o envelope com veneno, mas não teria a oportunidade de pressionar os dedos da diretora contra o envelope, na minha frente. A única que ficou a sós com a morta e teve essa oportunidade foi a professora Bellatrix. Eu pensei nisso tudo enquanto estava desmaiando naquele sofá. Tentei desesperadamente falar, contar tudo, mas a voz não saía!
— Como não saía? Você falou pelos cotovelos. Não calou a boca um só minuto. Você deu todos, os detalhes necessários à compreensão exata do crime. O investigador ficou admiradíssimo com a sua capacidade de dedução. Disse que você é um gênio. Graças a você, a polícia já estava atrás da professora Bellatrix antes que a ambulância chegasse ao hospital. Você falou do bombom, do regime, de tudo! Eu ouvi tudinho!
— Como? Você também estava lá?
— É claro que eu estava, meu amor. Recebi seu recado na livraria e fui correndo para a sua casa. Aliás, a professora Tonks também estava ao seu lado enquanto você a acusava de assassina...
— Ai, que besteira que eu fiz!
— Ela estava cuidando de você. O policial que guardava a sua casa quase chegou a prendê-la. Mas aí você virou o jogo e começou a acusar Bellatrix.
— Mas Draco...
— Draco? — cortou Harry com um tom de voz bem mais seco. — Sim, ele também estava lá.
Levantou-se e ficou olhando pela janela do quarto, que dava para o jardim do hospital.
Hermione decidiu aproveitar a deixa e dizer o que tinha de ser dito, do modo mais rápido possível.
— Sabe, Harry? Você é um grande amigo e eu quero que você saiba de uma coisa maravilhosa...
— Não sei se quero saber dessa coisa maravilhosa, Hermione...
— Eu quero que você saiba, Harry. Eu estou apaixonada por Draco e agora eu sei que ele me ama...
— Eu sou a pessoa menos indicada para você dizer que ama outro, Hermione. Porque você sabe que eu te amo...
— Oh, Harry, compreenda... - O rapaz ainda olhava para fora.
— Eu sei, Hermione. Você falou o nome dele o tempo todo, durante o seu delírio. Em sua casa e aqui, no hospital. Mas, se você quer dizer que ama Draco, diga a ele mesmo. Ele vem aí, acabou de atravessar o jardim.
— Harry, eu...
— Não se preocupe comigo, minha querida. Acho que chegou a hora de eu parar de insistir. Fique boa logo e seja muito feliz, meu amor...
Caminhou até a porta e voltou-se para Hermione, sorrindo, como se as palavras da menina não o tivessem ferido como punhais.
— Uma última pergunta, Hermione: por que você não comeu o bombom que a professora Bellatrix deixou sobre a mesinha?
— Bombons engordam, Harry. E eu estou de regime!
— Quer dizer... quer dizer que você não queria morrer?
— É claro que não! Pensa que eu sou idiota?

***


Snirf snirf o próximo é o ultimo!!!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.