Observador de Estrelas
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- O que faremos com o trouxa? – Draco apontou para o coveiro, que continuava caído tremulo no meio do cemitério.
- Vamos levar conosco. Nós tratamos dele, depois alteramos a memória... Procedimento padrão do Ministério. – Harry afirmou categoricamente.
Draco bufou, e claramente desgostoso ele se dirigiu até o coveiro e o ergueu nos ombros. Com dois estalos barulhentos, eles aparataram de volta a barraca.
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Hermione abriu os olhos penosamente. Ela ouvia os gritos distantes ecoando como se fossem de fantasmas. Diante dela, caído inconsciente e ferido estava Rony. Ela encarou horrorizada a poça de sangue se formando em volta dele. Uma mulher, de pele morena e com longos cabelos negros, usando roupas de seda e lenços amarrados no cabelo a fitou de maneira cruel com os olhos vazios e inexpressivos.
- É tudo culpa sua. – Ela disse lentamente.
Hermione ficou olhando para o corpo inerte de Rony no chão aos pés dela. Ela ergueu os olhos, decidida, e fitou a mulher de volta.
- Isso é só mais um sonho, não é Zayra? – Hermione perguntou.
Tudo se desmanchou e num borrão, Hermione viu várias cenas: Rony sendo atacado pela acromântula, lutando contra vários bruxos das trevas ao mesmo tempo, ela prestes a amaldiçoá-lo, ele caindo da vassoura quinze metros acima do chão... E por fim outra vez o corpo dele caído e ensangüentado. Tudo se tornou escuro. Uma voz fria e ríspida sussurrou para Hermione.
- Eu garanto minha criança, nada disso é ‘só mais um sonho’. – Era uma voz fria e arranhada, quase como um guinchar de um animal feroz.
Ela sentiu uma dor esmagadora contra o peito.
- Me dê essa chave, ou eu juro, eu vou tornar cada um dos seus mais sombrios medos realidade... Eu prometo que vou estripar esse seu namoradinho de dentro pra fora e vou te deixar assistir enquanto ele sofre!
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Hermione abriu os olhos e engasgou, estava sufocando. Ela piscou para a claridade ainda tossindo e confusa, um toque morno caiu sobre a face dela. Era Rony, ele segurava com uma força moderada o rosto e o corpo dela enquanto ela se debatia.
- Mione, se acalma! – O ruivo falou entre os dentes.
Mione tremia, ela olhou atenta para Rony, procurando por algum ferimento, mas o ruivo continuava em perfeito estado. – Onde... Onde eu... – Ela gaguejou debilmente.
- Aonde mais? Está na barraca! – Rony enfiou a mão no bolso e puxou um pedaço de chocolate. – Coma isso, vai fazer você se sentir melhor...
Hermione afastou o chocolate e se colocou sentada de uma vez. Estava no quarto dela na barraca. – Onde estão os outros? – Ela perguntou.
- Cuidando de um trouxa que também foi atacado... – Ele voltou a oferecer o chocolate.
- Nigel estava lá, ele estava de alguma maneira controlando os Dementadores... – Hermione franziu o cenho tentando entender.
- O Harry já me disse isso... – Rony bufou irritado. – Mas eu não dou a mínima pro Nigel, agora eu quero que você coma esse chocolate!
A garota notou que Rony parecia bem irritado, então timidamente pegou o chocolate e deu uma pequena mordida, ela sentiu calor irradiando pelo corpo. Rony se colocou de pé, com o andar vacilante ele foi caminhando pra fora do quarto.
- Vou ver se o trouxa está bem. – ele sentenciou.
- Não vai ainda. – Mione deixou escapar numa voz fraca. – Foi horrível. Quando os dementadores chegaram perto... Eu não consegui fazer nada.
Rony continuou de pé, na metade do caminho para sair do quarto, sem dizer nada, sem nem ao menos encarar Mione, algo que ela talvez nem tenha notado, pois ela encarava os próprios pés e se sentia meio nauseada.
- Quando eles se aproximaram... – Ela continuou a falar. – Eu vi o dia em que eu terminei com você.
Os dois ficaram em silêncio. Hermione nem se atrevia a olhar pra Rony. Ela respirou profundamente, tentando conseguir coragem, e foi falando lentamente. – Eu ando agindo feito idiota ultimamente... Te evitando. Mas é por preocupação Rony... Eu jamais iria...
- Hermione, eu não quero ouvir a sua voz nesse momento... Então por favor, fique quieta. – O ruivo, quase grunhindo, disse interrompendo a garota. – Eu já perdi minha paciência com esse joguinho seu... Não agüento mais ser deixado de lado, não agüento mais você cheia de segredos... Não agüento mais esse muro que você colocou entre nós. Droga Mione! Mais um pouco disso e eu não vou mais agüentar você!
- Rony... Eu... – Ela tentou argumentar.
- Você esqueceu sua bolsa. – Rony disse sem olhar pra ela, cortando imediatamente o que quer que ela estivesse tentando dizer. – Você esqueceu sua bolsa de fundo extensivo entreaberta sobre a cama. – Ele jogou a bolsa ao lado dela na cama, ela caiu fazendo um estrondo muito maior do que o tamanho dela permitia.
Hermione continuou encarando os próprios pés, mas com os olhos tão arregalados em espanto que pareciam prestes a saltar das orbes.
- Você... Você viu dentro da bolsa? – Ela perguntou da maneira mais displicente que pode.
- Sim. – O ruivo disse secamente. – E eu não compreendo o motivo de você trazer uma coisa dessas nessa viagem.
- Rony não é isso que você...
- Pra que diabos você precisa de uma Penseira, Hermione? – Rony falou um pouco mais alto do que pretendia.
Mione engoliu em seco. Pensando o mais rápido que pode, tentando achar uma desculpa, um motivo...
- Eu não sou estúpido Mione. – Ele respirou fundo. – Ao contrario do que você provavelmente pensa. Eu te conheço, eu sei que você só carrega o que acha ser necessário nessa bolsa... Mas uma Penseira custa uma fortuna, é grande e pesada, é algo difícil de transportar... Não faz sentido... Não tem nenhuma utilização prática nessa viagem, nessa busca... Não tem nenhuma relação com a minha família, que eu achei que você estava tentando salvar!
Hermione sentiu um aperto no coração. Apesar das boas intenções que ela possuía, ela não havia pensado no quão egoísta isso soava até ouvir o próprio Rony falando.
- Por que diabos você veio carregando uma Penseira? – Rony grunhiu outra vez.
Não havia mais sentido em remediar ou tentar mentir. Precisava revelar a verdade. Ou ao menos, parte dela. – É isso que eu tenho feito com o Malfoy. – Ela falou decidida, mas encarando os pés novamente, com medo da reação de Rony.
- Eu imaginei que tivesse relação... Não torna o fato de que você tem escondido algo sério de mim esse tempo todo e revelado pro Malfoy, de todas as pessoas, algo mais fácil de suportar. Se fosse o Harry eu até entenderia... – Rony continuou cético.
- Desde que saímos de Londres eu suspeitava que alguém estivesse tentando invadir minha mente... – Hermione continuou. – quando estávamos no Beco Diagonal, e eu vi o Malfoy, a idéia apareceu na minha cabeça.
Rony finalmente foi girando o corpo para encarar Hermione.
- Você se lembra? – Hermione falou, mais pra ela do que pra Rony. – No nosso sexto ano Harry descobriu que Malfoy tinha aulas de Legimência com a Bellatrix Lestrange... E pelo que soube, Snape concluiu essas aulas...
O ruivo pensou com clareza: Draco Malfoy sabia ler mentes. Teria mais cuidado da próxima vez que começasse uma discussão com ele.
- É isso que eu e Malfoy fazemos escondidos. Ele está me ensinado a bloquear minha mente... Estou tendo aulas de Oclumência. Foi a melhor maneira que eu encontrei de fazer esses pesadelos pararem. Eu não contei, justamente por saber que quanto menos vocês soubessem menos informações o inimigo poderia arrancar de mim. E eu sei que você não confia no Malfoy... E jamais iria permitir que ele ficasse passeando na minha cabeça. – Hermione esfregou os olhos com força. Aparentemente cansada demais pra continuar escondendo tanta coisa, ela agora colocava tudo pra fora. – Eu e o Draco compramos a Penseira na Travessa do Tranco pouco antes de virmos pra cá... Eu a uso pra colocar pensamentos que eu não quero que ele veja... Coisas íntimas... Memórias pessoais... Lembranças sobre você...
Rony não sabia o que dizer.
- Eu não gosto disso... Dessas aulas com o Malfoy... – Ela continuou falando. – Acho que ele gosta de me torturar, ele fica procurando coisas embaraçosas na minha cabeça... É horrível, mas é o único jeito que eu encontrei.
- Têm alguma chance de ser o próprio Malfoy te causando esses pesadelos? – Rony foi caminhando de volta, e se sentando ao lado dela.
- Não. Ele até ficou preocupado quando percebeu que meus pesadelos pioraram... Me disse que era assim mesmo, que minha mente fica mais aberta no começo do treino. – Hermione encarou Rony. – Me desculpe... Eu não queria que você se preocupasse... Eu não devia ter escondido isso de você.
Rony enterrou o rosto nas mãos. Hermione olhou de esguelha, sem realmente saber o que deveria fazer. Sentia uma irrefreável vontade de abraçá-lo e confortá-lo, mas não sabia como ele reagiria. - E quem é Zayra? – O ruivo falou com a voz abafada.
- Uma memória. – Hermione falou lentamente. – Uma lembrança pessoal, e horrível. Da qual eu não gosto de falar.
- É a única coisa que você anda escondendo de mim? – Ele falou de repente, assustando um pouco ela.
Hermione engoliu em seco, e fechou os olhos, se concentrou por um momento. Ela pensou no segredo que ela guardava há tanto tempo, e em contar como ela roubou o livro de Dorian Blake. – Na verdade não. Eu não sei se eu posso te...
- Rony? – A voz de Harry falou de súbito, interrompendo os dois. Harry havia colocado a cabeça dentro do quarto através da porta, ele olhou para os dois sentados juntos na cama, e notando a tensão entre os dois, apressou-se em dizer algo. – Eu... Hã... Desculpe interromper. Eu estou feliz que você esteja bem Mione, mas... Rony nós meio que precisamos da sua ajuda aqui... Agora. – O rapaz fez questão de frisar a ultima palavra, não deixando dúvidas de que só estava interrompendo os dois por um bom motivo.
Rony se colocou de pé, e foi caminhando para a saída do quarto, nenhuma vez ele olhou para Hermione. Ela mordeu mais um pedaço de chocolate, e foi saindo atrás dele, timidamente, e ainda se sentindo meio fraca.
De inicio Hermione se espantou com a imagem, afinal, ela havia ficado tão acostumada com a barraca vazia no ultimo mês em que viveu lá dentro, que era estranho ter um visitante. Sentado na mesa, bebendo o que parecia chá, estava o trouxa que ela havia visto sendo atacado, Angus, todos ao redor ficavam olhando com faces intrigadas do coveiro para Rony.
- Senhor Ronald Weasley! – Angus exclamou, visivelmente feliz, quando viu o ruivo saindo de dentro do quarto. – Nós temos esperado por você por um longo, longo tempo.
Rony simplesmente não conseguia entender da onde aquele coveiro o conhecia.
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Harry, tão confuso quanto Rony, olhava de esguelha para o amigo, na esperança de que ele compreendesse o que estava acontecendo.
- Olha, nós não temos tempo. – Angus foi falando apressado, abaixando a xícara do chá. – quanto antes sairmos melhor... Temos muito que fazer, e já esperamos tempo demais.
- Do que raios você está falando? – Rony disse confuso.
- Quando ele acordou, nós demos chocolate pra ele... – Harry foi falando. – Malfoy estava prestes a apagar a memória do trouxa, mas ele começou a falar sobre você Rony, disse que precisava ver você.
- Eu nunca vi esse cara na minha vida! – Rony exclamou.
- Ora, mas é claro que não! – Angus disse, com a voz rouca. Ele se levantou penosamente. – Se eu te conhecesse isso tudo já teria se resolvido há muito tempo, é por isso que eu disse, estivemos te esperando.
Rony olhou confuso pra Harry, que por sua vez, apenas balançou a cabeça e deu de ombros, indicando que também não tinha idéia do que estava acontecendo.
- Não temos tempo a perder... – Angus caminhou em direção a Rony. – Se me atacaram, então deve haver mais gente atrás das chaves... Vocês têm barco?
- Infernos Sangrentos! – Rony esbravejou. – Do que diabos você está falando?
- Senhor Weasley, - O velho coveiro falou com voz arrastada e rouca. – estamos esperando pela sua chegada há muito tempo, desde que eu era um garotinho eu venho sonhado com esse momento... Então eu sugiro que desmontem essa barraca e venham de uma vez comigo até o farol. Antes que aquele bruxo que me atacou volte.
- Quem é você, algum aborto bruxo? – Draco disse com uma voz intimidadora.
- Eu não sou nenhum aborto! – Angus ficou furioso. – Sou tão trouxa quanto se pode ser... E eu sei bem o que vocês procuram aqui... Sei o que têm feito no meu cemitério, e por isso não temos tempo a perder... Temos que ir para o farol imediatamente! Lá o mestre pode explicar tudo!
- O farol lá fora? – Hermione sussurrou.
- Sim! – Ele gritou. – O farol lá fora! É onde vocês deveriam estar! É o que deveria estar acontecendo nesse momento!
- Eu não entendo... – Rony foi falando lentamente.
- Me escutem claramente. – O coveiro se aprumou de maneira ameaçadora – se vocês querem tanto conseguir aquela chave, vocês virão comigo. Eu sei como consegui-la. E antes que digam alguma coisa, eu sei que vocês vão me seguir. – Dizendo isso, Angus saiu da barraca em direção a forte chuva.
Rony trocou um olhar rápido com Harry. – O que fazemos? – O ruivo perguntou.
- Temos escolha? – Harry deu de ombros. – Ele parece saber onde a chave está! – O moreno apontou para a entrada da barraca por onde Angus havia acabado de sair.
Todos se encararam, sem saber o que fazer. Astória tinha um olhar apavorado, e quando Hermione saiu da barraca seguindo Angus, Harry instintivamente observou Rony, em seguida o moreno foi atrás da amiga. Rony ficou vendo a entrada da barraca por onde os melhores amigos haviam saído, estava se decidindo se deveria ir ou não, quando Draco cortou o silencio.
- Isso é idiotice! – O sonserino declarou – Não sabemos nada sobre esse trouxa! Não podemos seguir ele! – Ele deu um grunhido impossível de se compreender. – Eu não confio nele.
- E eu não confio em você... E mesmo assim você está aqui. – Rony então saiu atrás dos outros.
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Quando Rony chegou ao lado de fora, Angus lançou-lhe um olhar por cima do ombro, ele deu uma risadinha e Rony pode jurar que ouviu o velho murmurando algo como “Tudo como deve ser”. Antes de aumentar o ritmo dos passos.
Astória saiu logo atrás arrastando Draco pela mão, e ele parecia claramente incomodado com o gesto.
- Você... Menina... – Angus falou encarando Hermione. – Você recolhe a barraca, é assim que vai ser. – Hermione continuou parada, Angus bufou. - Vocês não vão mais voltar aqui.
- Como você pode... – Ela foi dizendo.
- Garota, eu sei. Vocês não vão mais voltar aqui. Recolha a barraca. – O coveiro atropelou rispidamente as palavras dela. – Deu as costas e continuou seguindo.
Hermione fez um pequeno floreio de varinha, e a barraca desabou sobre o chão, ela recolheu o que pareceu apenas um punhado de pano e armações e enfiou de qualquer jeito na bolsinha de fundo extensivo.
- Agora, - O velho coveiro falou baixo somente para Harry, enquanto caminhavam pela chuva. – O loiro lá atrás vai me perguntar uma coisa, que ele já sabe a resposta, só por que não confia em mim.
- A onde está nos levando Trouxa? – A voz de Draco soou ao fundo, encoberta parcialmente pela chuva.
Angus deu um sorrisinho de triunfo para Harry. – Eu não disse? Exatamente como o mestre falou... – O coveiro deu uma risadinha e gritou por sobre o ombro. – Até o farol! Eu já disse isso garoto. Mas não se preocupe o mestre já havia me avisado que você seria o mais desconfiado...
Eles caminharam em silencio, desconfiados do que aconteceria a seguir, até a margem rochosa da colina, onde o mar batia com força. – Vocês têm barco? – O coveiro falou aparentemente como se declamasse falas em uma peça.
Hermione viu o imponente farol, numa ilhazinha a poucos quilômetros da costa. - Não, não temos um barco... – Hermione falou o mais alto que pode. – Mas se é até o farol que você quer chegar, podemos aparatar direto pra lá.
- Perfeito! – Angus abriu um grande sorriso, e ofereceu a mão para Hermione. – Nos leve pra lá garota.
Aprensivos e com as varinhas em punho, Harry e Rony seguraram com firmeza nos ombros de Angus, Hermione esticou uma mão tremula e segurou firmemente a mão estendida do coveiro. Todos aparataram ao mesmo tempo, Harry, Rony, e Draco apontaram as varinhas em todas as direções esperando que tivessem caído numa armadilha certa.
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Eles sentiram o chão firme sob os pés, e souberam que haviam chegado.
- Abaixem as varinhas rapazes... – Saiu mancando em direção ao farol. – Ninguem vai atacar vocês enquanto estivermos aqui. – Ele subiu um pequeno lance de escadas, até uma enorme e pesada porta de madeira, afastando-a com esforço ele permaneceu de pé oferecendo entrada a todos. Todos se entreolharam rapidamente antes de caminhar de maneira penosa para dentro do farol, com as roupas coladas no corpo e pingos de chuva escorrendo pelo roso. Do lado de dentro, Astória foi a única a soltar uma audível exclamação de surpresa. Do lado de dentro, havia um grande salão, muito maior do que as dimensões do farol, havia arvores e plantas de todos os tipos espalhadas ao redor, e no teto, uma visão clara da noite chuvosa do lado de fora do farol, assim como o teto encantado no grande salão de Hogwarts.
Quando três figuras imponentes saíram de trás das arvores caminhando de maneira altiva e serena, foi a vez de Draco exclamar em surpresa. Três centauros pararam diante deles, numa clareira à entrada do farol. O primeiro, e maior, tinha o pelo marrom escuro e uma longa cauda preta, sua metade humana era a de um homem forte e bonito, com longos cabelos negros e olhos azul piscina penetrantes. O seguinte era claramente uma fêmea, tinha coloração perolada, e um tronco feminino esbelto, loira e de feições delicadas. E trotando em volta dos dois, algo que nenhum deles jamais havia visto: um filhote de centauro. Uma garotinha loira e bonita, que não aparentava ter mais de dez anos saltitava com um pequeno corpo de cavalo em volta dos dois maiores.
- Bem vindos. – O macho saudou numa voz carinhosa e profunda. – Meu nome é Typhon, essa é minha companheira Odara, e nossa filha Hipólita. – Ele fez um aceno de mão indicando que entrassem. – Temos esperado pela sua chegada há muito tempo, Ronald Weasley.
Todos os olhos estavam voltados para Rony, e ele sentiu uma sensação incomoda.
- Desculpe... – O ruivo balbuciou o mais audível e claro que pode. – Mas eu não conheço você.
- Mas eu conheço você. – O centauro sentenciou.
- Por anos eu e meu companheiro estivemos acompanhando a sua vida... – Disse Odara, a fêmea. – Sabemos tudo sobre você Ronald Weasley, e seus companheiros.
- Quem são vocês? – Harry falou, num rosnado que pareceu mais uma ameaça do que uma pergunta.
- Eu sou o Typhon, o guardião da chave – O centauro voltou a falar calmamente. – Observador de estrelas, adivinho dos adivinhos, senhor do passado, presente, e futuro. Eu vi eventos sobre cada um de vocês, eventos grandiosos que marcam sua vida, e eventos tão pequenos que mal poderiam ser notados.
- É você! – Hermione falou de repente. – Eu li sobre você no livro!
- Sim. – O centauro trotou em direção de Mione. – A essa altura da linha do tempo você já adquiriu um livro muito importante, com informações cruciais... E nele você soube sobre mim, sobre o cálice, e sobre o necromante.
- O que raios está acontecendo Mione? – Harry falou com um leve desespero na voz.
- Vocês realmente pensaram que as chaves mágicas que procuram, os itens essenciais para obter um dos objetos místicos mais poderosos já criados, estariam apenas escondidas? Ou passados de geração em geração? – Anunciou o centauro em desdém. – A senhorita Granger sabe, está no livro que ela obteve a um grande preço.
Hermione sentiu um frio passando pela espinha. O centauro sabia sobre tudo, na cabeça dela montes e montes de perguntas brotavam. – Esconder as chaves não seria o bastante para protegê-las, é obvio que haveria gente guardando elas... – Hermione disse, tentando manter a calma.
- Eu e Typhon viajamos o mundo durante anos com uma sociedade de bruxos em busca de conhecimento – Anunciou a centauro fêmea, Odara. – Um dos bruxos que nós acompanhávamos foi o criador do cálice que vocês buscam. Ele nos deu a missão de proteger a todo custo uma das chaves.
- Então o Cálice de Fazel é real? – Astória disse baixo.
- Extremamente real criança. – Typhon bradou. – Está tudo no livro da senhorita Granger. – Ele olhou na direção de Harry subitamente. – É a sua vez de falar Senhor Potter.
- O que? – Harry disse ainda mais confuso do que estava.
- Você, Harry Potter, deve dizer: “É impossível que você tenha viajado com Fazel, isso foi há trezentos anos.” – O centauro recitou como se fosse um texto pronto.
- Como você sabia o que eu estava pensando? – Harry balbuciou.
- Eu sabia o que você iria falar. – Typhon disse sorrindo.
- Por mais de trezentos anos nós temos observado as estrelas, lido os sinais, prevendo o futuro. – Odara recitou. – Não há nada sobre vocês que nós não saibamos. Passado, presente e futuro.
- Agora eu devo dizer calmamente. – Typhon se aprumou para falar. – "Minha vida prolongada não é impossível Harry Potter, a resposta para sua pergunta está na chave que você procura."
- Eu não estou entendendo absolutamente nada! – Rony bufou irritado, ele caminhou decidido com a varinha apontada para o centauro. – É bom que você comece a se explicar antes que eu perca minha paciência.
- Você não irá me atacar Ronald Weasley. – Typhon sorriu. – Eu já vi toda a sua linha do tempo, eu sei de todas as suas ações, sei de como tudo termina, nem mesmo essa conversa é uma surpresa para mim. Nossos destinos estão cruzados Ronald Weasley... Sempre estiveram.
Rony manteve a varinha apontada para o centauro.
- Trezentos anos atrás, eu e Odara viajávamos o mundo com uma comitiva de bruxos, nós dois éramos jovens aprendizes de adivinhação na época. – O centauro olhava diretamente para Rony ao falar. – Um dos bruxos que nos acompanhava se chamava Fazel, e ele era um curandeiro. Um homem gentil e bondoso, sempre me tratou com grande respeito. Ele achou uma fênix com as asas partidas caída numa floresta européia durante uma expedição. A fênix estava em grande agonia, nem tão forte a ponto de se curar, nem tão fraca a ponto de morrer, presa num estado de dor constante. Fazel cuidou e a tratou, e a fênix em retribuição lhe deu parte dos poderes dela... E foi assim que ele criou o cálice.
- Já sabemos de tudo isso... – Rony vociferou. – E para ser sincero, estou começando a me irritar toda vez que alguém conta essa historia.
- nós já sabemos que houve uma disputa pelo cálice... – Hermione disse. – Entre Fazel e o necromante.
- Callen. – Odara disse. – Ele era obcecado... Tentou roubar o cálice para enganar a morte, desvendar os segredos do alem vida. Tivemos uma batalha, ele foi banido do grupo, percebemos que o cálice era perigoso demais para ser possuído por alguém.
- E é aí que entra a resposta. – Typhon continuou. – Eu e minha companheira recebemos a tarefa de proteger uma das chaves, chaves que selam o poder do cálice, como pedido de Fazel. E para essa tarefa, fomos imbuídos com o dom da imortalidade. Enquanto o cálice existir, nós não podemos morrer.
- E você Ronald Weasley, você está destinado a destruir o cálice quando o momento chegar. – Odara falou.
Rony abaixou a varinha.
- Viemos levar o cálice... Não destruí-lo. – Draco disse se postando frente à Astória, ainda não confiando nos centauros, e notando que a informação foi chocante demais para Rony e ele ficou momentaneamente desarmado, o sonserino achou que seria prudente falar até que o ruivo se recompusesse. – Por que você iria querer isso? Se o cálice é o motivo da sua longevidade, você iria envelhecer e morrer se fosse destruído!
Harry lembrou-se de imediato, da vez em que conversou com o professor Dumbledore sobre a pedra filosofal.
- Eu tenho uma linda filha senhor Malfoy. – Typhon apontou para a pequena Hipólita. – e ao contrario de mim e minha companheira, ela não compartilha nossa imortalidade. Não é certo que um pai viva para sempre, e tenha de enterrar, um dia, sua filha. Vocês irão reunir as chaves, destruir o cálice, e eu irei envelhecer e morrer feliz, porque tive uma vida longa e completa.
- E quanto ao trouxa? – Draco acenou com a cabeça na direção de Angus.
- A família dele tem nos ajudado ao longo dos anos, fieis seguidores da causa. – Odara disse sorrindo para o coveiro, que olhava de maneira carrancuda para Draco.
- Então... – Rony foi tomando fôlego, sentindo mais uma vez uma sensação engraçada e desconfortável. – Vocês estão do nosso lado? Vão nos ajudar?
- É o nosso destino ajudá-lo a encontrar a chave. - Typhon sorriu bondosamente. – É o seu destino destruir o cálice e colocar um fim a nossa imortalidade, Ronald Weasley.
Rony se sentiu extremamente incomodado com a sentença do centauro.
- Quando o momento certo chegar, Ronald Weasley, - Odara declamou. – Você terá de escolher o que é certo, e o que é fácil.
Hermione fechou os olhos e respirou profundamente, Rony, sentiu um embrulho no estomago.
- O que? – Rony indagou. – O que isso significa?
- Você disse que já sabia nosso destino! – Draco disse, ainda postando-se na frente de Astória. – Você disse que o Weasley vai encontrar o cálice e destruí-lo, então... Não importa o que façamos vamos conseguir no final?
- As linhas do tempo não são sempre exatas... – Odara falou – há infinitas possibilidades. Se vocês permanecerem nessa busca, se continuarem a procurar o cálice, todos irão passar por grandes provações. Até mesmo você, Draco Malfoy, irá enfrentar um sofrimento que você nem é capaz de compreender. Tudo será parte do teste, tudo será para descobrir se vocês são merecedores do cálice.
Draco continuou com a varinha firme na mão, eles poderiam continuar fazendo quantos discursos quisessem, poderiam continuar falando o quanto ele irá sofrer no futuro, o loiro não confiava nos centauros, e não estava disposto a baixar a guarda.
- Tudo depende de suas escolhas. – Typhon continuou com o discurso que parecia ter sido memorizado. – vocês podem escolher desistir, escolher voltar para casa... Mas se permanecerem nessa busca, estarão colocando um fim numa guerra que dura séculos, estarão mudando o destino do mundo mágico... E deverão fazer sacrifícios para isso. Especialmente você Ronald Weasley... Irá enfrentar o pior dos sacrifícios.
Rony se sentiu zonzo. – Isso tudo está acontecendo muito rápido... Como... – Ele procurou desculpas. – Como vamos saber se podemos confiar em você?
- Tudo no seu tempo, - O centauro aprumou-se. – Agora, se vocês realmente quiserem, devemos buscar a chave... Nosso tempo está acabando. – Todos se afastaram quando ele foi se aproximando, Draco, ainda com a varinha em punho. O centauro se dirigiu a porta, onde Angus continuava como porteiro. – Eu vou aparatar no cemitério, ele está vazio, vocês podem fazer o mesmo... Eu vou lhes mostrar a chave, e se forem merecedores, ela é de vocês.
Eles se entreolharam, o centauro avançou pelo portal em direção da chuva, e com um estampido barulhento, desapareceu.
- Nós devemos permanecer aqui. – Odara falou, segurando a mãozinha da filha.
- Podem seguir o papai... – Hipólita falou pela primeira vez. – Ele tem esperado muito por vocês... Nada de ruim vai acontecer.
Hermione tinha milhões de idéias brotando na cabeça, todas ao mesmo tempo, antes que alguém pudesse fazer alguma coisa, ela correu para o lado de fora e aparatou. Rony, instintivamente, gritou o nome dela e estendeu a mão livre para o nada tentando impedi-la. Quando ela desapareceu aparatando, os outros não puderam hesitar, caminharam decididos e saíram do farol, sentiram os pingos grossos de chuva antes de aparatar para o cemitério.
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Typhon e Hermione, lá entre os túmulos, foram as primeiras coisas que Rony viu quando o puxão forte e a pressão de aparatar sumiu. Harry, Draco e Astória tinham as varinhas preparadas para atacar, e todos viram o sorriso no rosto do centauro. Isso não os acalmou.
Typohon bateu o casco com força quatro vezes no chão, e inicialmente, parecia que nada havia acontecido, então, um pequeno tremor e o som de pedras arrastando chamou a atenção de todos. A estatua do anjo, aquela que Draco já havia reparado, possuía um olhar de zombaria, começava a se mover afastando-se do pedestal onde se encontrava e revelando uma escadaria que levava ao subterrâneo do cemitério.
- A chave que vocês procuram está lá dentro. – Typhon falou apontando. – Vocês cinco devem entrar e procurá-la. – Ele olhou na direção de Harry. – Somente vocês cinco... Mais ninguém.
Harry achou a informação desnecessária... Afinal eles eram os únicos no cemitério.
- Como vamos saber se isso não é uma armadilha? – Astória perguntou.
Typhon olhou para Draco, e o loiro, meio encabulado respondeu. – Eu vejo a chave aqui nesse cemitério toda vez que eu toco o espelho... – Ele rosnou. – Eu posso não confiar no centauro, mas eu sei que a chave está aqui, e ali é o único lugar que não olhamos ainda.
O centauro apontou. – É hora de vocês cinco entrarem.
- Eu tenho uma pergunta antes. – Hermione disse, o mais firme que pode.
- Até o fim dessa noite, eu responderei sua pergunta senhorita Granger. – Typhon bradou com voz grave. – Mas agora, é crucial que vocês busquem a chave, nosso tempo é curto.
- Isso não é certo. – Draco exclamou. – Não podemos simplesmente ir entrando... Nos arriscando desse jeito!
- Tem alguma idéia melhor Malfoy? – Harry rosnou irritado. – Você mesmo disse que é ali que a chave está! Estivemos desperdiçando o mês inteiro procurando por isso... E agora temos uma chance!
- Uma chance de cair numa armadilha Potter! – Draco gritou, visivelmente nervoso.
- É tudo parte do teste Draco Malfoy. – Typhon trotou em direção da abertura, e se postou ao lado da escada que descia como se fosse um porteiro. – aqui dentro vocês irão experimentar sua primeira porção de sacrifício e sofrimento, se forem merecedores a chave será de vocês.
Draco já havia aberto a boca para outra reclamação, mas Astória segurou forte a mão livre do loiro, e começou a caminhar em direção da escada. Rony e Harry trocaram olhares e seguiram os dois, Hermione logo atrás.
- Isso é muito estranho. – Rony falou enquanto caminhava.
- O que? – Harry perguntou, mais pra se acalmar do que por interesse.
- Tudo isso! – O ruivo exclamou. – Toda essa atenção voltada pra mim, com alguém dizendo que eu sou importante de alguma maneira... Dizendo que estou destinado a uma coisa importante... Me dá uma sensação ruim. Eu não sei parece até...
- Parece até que você tem uma cicatriz na testa Weasley? – Draco falou por cima do ombro com uma risadinha maliciosa.
Rony poderia ter retrucado dizendo alguma coisa maldosa, mas quando parou pra pensar, era exatamente assim que ele se sentia. Pela primeira vez, Rony compreendeu como Harry se sentia em todos os anos em que o conhecia.
Eles chegaram aos pés da escada, e respirando profundamente eles caminharam para dentro. Hermione lançou um ultimo olhar para Typhon.
- Continue caminhando senhorita Granger. – O centauro falou sem olhar para a garota. – Eu prometo que responderei sua pergunta quando vocês voltarem.
Ela virou-se decidida e começou a descer as escadarias, sendo engolida pela escuridão das sombras no caminho.
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Comentários (12)
Adorei a fic, esse capítulo foi ótimo caramba, da uma agonia, cheia de mistério, suspense ótima, ótima mesmo posta rápido o próximo capítulo ;DD e Parabéns
2011-07-18Ótimo!Maravilhoso. Contimue postandopor favor!!!!!!!
2011-07-17