<u>Prólogo</u>



Prólogo
Narração de Lílian Evans


Créu


Olhei pros lados mais uma vez. Estava perdida, completamente perdida.
E o pior é que ninguém daquele lugar possuía uma cara amigável, era como se para todos aqueles alunos eu nem existisse. Eu era só uma novata imbecil que estava atrapalhando o percurso deles até a sala de aula.
Eu já estava quase desistindo, já tinha decidido que o melhor era voltar para casa ou me esconder na sorveteria mais próxima, aquela coisa de escola não era pra mim. Dei a volta então, me encaminhei em direção ao portão de entrada, e uma vez do lado de fora procurei freneticamente com o olhar o carro de minha mãe que por sorte talvez ainda estivesse por ali, foi nesse momento que o meu olhar cruzou com o dele. Aqueles olhos castanhos esverdeados se prenderam aos meus pelo que durou pouco mais do que dois segundos, mas mesmo esse pequeno contato foi o suficiente para me fazer mudar de idéia. Eu não iria mais à lugar algum.
Ele estava parado, encostado no muro do colégio, tinha os fones nos ouvidos e balançava constantemente a cabeça num ritmo de um rock qualquer. Seus cabelos eram desgrenhados e castanhos, e caíam suavemente na sua face.
Seus olhos eram tão atraentes que quando me dei conta já estava parada em sua frente, rubra e sorridente.
- Oi, sou nova por aqui, pode me dar uma informação? – As palavras saltavam da minha boca com tanta determinação que parecia impossível deter elas. Não sabia se ele tinha me ouvido ou não, por isso fiquei feito boba aguardando sua resposta.
Ele não me respondeu apenas me encarou espreitando aqueles olhos que me fascinavam e soltou o primeiro dos muitos sorrisos marotos que ele designou pra mim até hoje. Arrepiei-me toda e corei ainda mais. Cometi o erro de tomar o sorriso como um encorajamento para que eu continuasse a falar, pensei que o volume do mp3 provavelmente não estava no máximo e que ele estava me ouvindo, por isso perguntei na voz mais suave que encontrei:
- Onde ficam as sétimas séries?
Ele parou de me encarar e de sorrir também. Observei enquanto seus olhos me analisavam de cima a baixo e depois se voltavam para o seu lado direito. Não havia sequer percebido até aquele momento que ali se encontrava um garoto também, quando notei logo supus que era um amigo seu. Achei-o simpático, charmoso, mas essa primeira impressão não durou muito porque eles começaram a rir e a olhar para mim. Eu não entendia o que estava acontecendo, não entendia porque estavam rindo de mim. Comecei a me sentir embaraçada, ficar ainda mais vermelha do que já estava. Pensei em fugir, sei lá. Mal sabia que o que estava por vir ia ser pior ainda. Também, como eu poderia adivinhar que aqueles dois lindos garotos eram na verdade os mais idiotas da escola? Mas é como dizem por aí... Quem vê cara não vê coração.
Quando eles finalmente pararam de rir e perceberam que eu realmente esperava uma resposta se olharam divertidos.
O moreno que havia me encantado tirou os fones dos ouvidos e me disse meio cínico:
- Olha garota, eu sei que você é nova por aqui e por isso vou pegar leve. Mas vou te ensinar uma coisa dês de já.
- O quê?
- Pessoas como você não se misturam com pessoas como nós.
- Pessoas como eu?
- Sim, nerds, otários, cdfs, sei lá como vocês se denominam. Então veja como estou sendo legal, não vou fazer nada, nem vou te humilhar publicamente. Só pega sua mochilinha e suas roupinhas bregas e se manda da minha frente. Ah, e quando me vir por aí pelo corredor esquece que um dia falou comigo, tenho certeza que vai ser difícil já que você provavelmente ta apaixonada por mim, mas tenta ta?
Senti minhas pernas falharem e meus olhos se enxerem de lágrimas. Era tão estúpido, tão completamente idiota. E eu, eu era tão ingênua e bobinha. Tinha me encantado, seduzido, pelo que era provavelmente o maior otário de todo colégio.
Passei o resto do dia dentro de um compartimento do banheiro, chorando e xingando aquele hipócrita. Quando finalmente a manhã acabou e o sinal bateu me avisando que estava livre do que parecia ser o verdadeiro inferno eu respirei fundo e saí da cabine.
Fitei o espelho que estava na minha frente, meus olhos brilhavam numa ira que até então eu não sabia que existia, eu tinha raiva, mais que isso... Eu tinha ódio.
Aquela vez foi a primeira das inúmeras vezes na minha vida que eu tive vontade de matar James Potter.
Infelizmente não foi a única vez que me enganei com ele...

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