Capítulo 5
Havia muita verdade no que Gabriel tinha dito sobre seus sentimentos por ele.Se ela fosse alguém do meio em que ele vivia,poderia tê-lo conhecido aos poucos,poderiam ter se encontrado por um longo período, conversado sobre a vida dele e aprendido a conhecê-lo melhor.Poderia até acreditar em seu amor e sentir-se forte o bastante para amá-lo sem reservas.Mas tudo aconteceu muito de repente e violentamente.A paixão desenfreada de Gabriel tinha abalado sua segurança,deixando-a confusa,sem saber o que sentir.
A distância entre o mundo dele e o seu fez com que a situação ficasse dez vezes mais complicada.Como ela poderia acreditar no amor do marido quando a vida dele antes de conhecê-la só confirmava que isso era impossível?
Ele a pressionou para que ela casasse antes que tivesse tempo para pensar,muito menos para sentir.A atração física entre os dois tinha aquele mesmo sabor de irreal.A timidez a impedia de expressar a própria paixão,limitando-a a submeter-se a ele,acentuando a fraqueza e impotência,apesar de ela se ressentir todo o tempo dessa condição submissa.O fato de Marisa esconder os pensamentos e trancar as emoções fez com que dentro dela tudo fosse se amontoando como um muro de pedra,afastando Gabriel de sua cabeça e fechando-a dentro dela mesma.
Agora mesmo,o problema de seu relacionamento com ele era insignificante diante de sua ansiedade por James.Não tinha tempo, não conseguia pensar,com todo aquele peso no peito.Seu corpo e sua alma estavam totalmente absorvidos por pensamentos bons e ruins sobre James,não permitindo que nada mais se interpusesse ou ocupasse aquele lugar.
Gabriel e o futuro teriam de esperar.Tudo teria de esperar.Ate que James voltasse para ela não poderia gastar nem um átomo de energia com nada nem com ninguém.
Levantou-se lentamente,com as pernas fracas,ainda se ressentindo do choque recente.Tomou um banho e vestiu-se.O armário,de ponta a ponta das paredes do quarto,estava repleto de roupas lindas e caras que ela mal tinha usado e das quais nem se lembrava.Nos primeiros meses de casamento Gabriel gostava de escolher os modelos com ela,combinando cores,fascinado com a reação de Marisa nos salões onde se sentavam para observar manequins desfilarem.Marisa percebia que Gabriel gostava de presenteá-la e observar a expressão incrédula quando lhe enchia as mãos de pacotes.
Nunca tinha sido mimada em toda sua vida.A infância tinha sido apertada e vazia.Talvez Gabriel tivesse intuído tudo isso e quisesse compensar.Talvez tivesse aprendido a entendê-la,tentando compensa-la com prazeres que a infância lhe tinha negado.Se ela o tivesse entendido ou tivesse deixado que ele a entendesse,as coisas teriam sido diferentes.
Pegou um vestido que Gabriel tinha escolhido.Ele sempre gostava de vê-la com ele. O decote careca realçava os seios pequenos e firmes e a saia ligeiramente rodada balançava quando andava.Gabriel gostava de vê-la de azul.Era a cor favorita do marido,pois combinava com os olhos de Marisa.
Dudley bateu à porta e perguntou se queria café.
- Só café,obrigada.
Ele saiu sem fazer nenhum comentário.Um momento depois ela o seguiu e encontrou Gabriel na biblioteca,com o jornal espalhado sobre a escrivaninha,os olhos muito arregalados fixos na foto de James que ocupava boa parte da primeira pagina.
Olhou para Marisa,apertando os olhos ao ver o vestido que ela usava.Lembrava-se bem dele,mas não fez nenhum comentário,voltando a atenção para o jornal.
- Não ficarei surpreso se o inspetor estiver com a razão.Se James tivesse sido seqüestrado por profissionais,tudo seria diferente.Acho que o pedido de resgate foi trote.
Marisa não sabia se gostaria que ele estivesse certo ou se rezava para que estivesse errado.
- Contanto que eu o tenha de volta.
- O problema da publicidade é que ela sempre divulga quem não devia ser divulgado.Os jornais tornam o rosto de James famoso,mas se estivermos lidando com um louco ele não pode gostar desse tipo de cobertura.
- Gostaria de poder fazer algo,em vez de só esperar.Essa espera é terrível.Não dá para saber o que está acontecendo,o que estao fazendo...A gente enlouquece só de tentar imaginar.
- Não tente imaginar.Procure ser paciente.
- Você não entende! - Seu grito era um grito de agonia.
Gabriel olhou-a com hostilidade.
- Se tivesse tido a oportunidade e a sorte de conhecer meu próprio filho,poderia entender um pouco.Em vez disso,fiquei sabendo que tinha um filho quando ele desapareceu.
Dudley apareceu com o café.
Sirvo aqui,senhora?
- Por favor. - ela pediu,sentando-se numa das poltronas de couro.
Dudley colocou a bandeja numa mesinha baixa perto dela e retirou-se.Gabriel recostou-se,observando-a enquanto ela se servia de café.
O telefone tocou e Gabriel enrijeceu.Foi até ele,agarrou o aparelho.
- Sim ?
Marisa levantou-se também,quase tropeçando na mesa.Gabriel ouvia atentamente,o rosto inexpressivo.
- Então, é isso - ele falou em tom pesado.
Marisa suspirou,observando seu perfil e percebendo que ele estava carrancudo.
- Bem,obrigado pelo informação.Adeus.
Recolocou o fone no gancho e virou-se para ela.
- Então ? - Marisa perguntou com a voz quase inaudível.
- Houve outro chamado para o mesmo jornal.Dessa vez a policia estava a escuta e localizaram a ligação enquanto o homem falava.O inspetor estava certo... não passava de um trote.
Ela sentou-se desanimada.
- Um trote...que maldade,que maldade!
- Provavelmente algum louco - Gabriel estava ao lado dela,mas não a tocava - O inspetor me avisou que esse não seria o único.Nós podemos receber vários chamados desse tipo.
- Mas a policia,o que ela está fazendo? Ele falou?
- Fazendo tudo que podem. - Inclinou-se e pegou a xícara de café,passando-a para Marisa.- Tente relaxa,pelo amor de Deus,Marisa.Você está um feixe de nervos.
- Como você queria que eu estivesse? Estou ficando louca!
- Com toda essa publicidade,há esperança de quem alguém se lembre de ter visto James.Temos que ter paciência e esperança.
Esperança era uma coisa que Marisa desconhecia.Tinha-a perdido há muito tempo.James havia lhe devolvido a esperança perdida.Tinha impregnado sua vida monótona de alegria e calor,mas agora que o tinha perdido,estava pior do que antes.O futuro lhe parecia morto e vazio.
- Não consigo ficar sentada aqui e esperar.Tenho que saber das coisas.
-Foi por isso que você me deixou? - Gabriel perguntou num tom amargo. - Porque precisava descobrir que o pior era tão imenso e que você não estava preparada nem mesmo para me dar a oportunidade de provar que você estava errada?
Ela baixou a cabeça, deixando cair os cabelos sobre o rosto.
- Fui uma covarde.
- Você foi mesmo.
- Não consegui entender por que se casou comigo.
- Uma palavra de quatro letras apenas: amor.
- Não acreditava nisso.
-Agora entendo.Não estava no seu dicionário.
Marisa olhou para ele,jogando os cabelos para trás,com a mão trêmula.
-Não se costuma acreditar naquilo que nunca se pensou em ter.
O rosto de Gabriel se alterou.
- Entendo que seus pais não tenham lhe dado segurança,carinho,mais isso foi quando você era criança...
- Eles nunca souberam que eu existia.
Ele franziu o cenho,e foi sentar-se onde estivera, na escrivaninha.
- Isso explica essa impressão de distância que existe em você,esse outro mundo que você habita e que me fascinou desde o inicio.Você parecia perdida e vulnerável,incrivelmente frágil.Tinha um medo constante de que você não passasse de uma fantasia.
- As vezes eu mesma costumava pensar que não passava de uma fantasia - confessou,com um sorriso tímido - Tudo ao meu redor parecia um longo caminho que eu podia ver através de uma janela,mas do lado de fora.Achava que nunca poderia entrar no lugar onde as coisas aconteciam...
- As coisas aconteciam?
- Não sei bem... acho que é a vida,não?
Gabriel olhou-a fixamente.
- Estou começando a pensar que em vez de casar com você deveria levá-la a um psiquiatra.
Ela riu e seus olhos se encontraram sem querer.Foi a primeira vez que Marisa riu espontaneamente de uma coisa que ele disse.
- Pelo que acaba de me falar parece que estava num estado de profunda depressão quando me encontrei com você.Se eu não estivesse tão obcecado por meus próprios sentimentos,poderia ter tido tempo para examiná-la melhor e perceber que você não era... - interrompeu e Marisa sorriu completando.
- Não era muito boa da cabeça?
Gabriel fez uma careta.
- Isso é tornar a coisa um tanto dramática,mas acho que você precisa de um tratamento para essa depressão.Não me liguei muito ao passado de sua família,na época,mas confesso que também não estava pensando muito no assunto.Estava tão desesperado para casar com você que não pensava em mais nada.Acho que nós dois estávamos muito fechados em nós mesmos.Fiquei obcecado por você,mas não pela pessoa que encontrei...percebo isso agora.Fantasiei sobre você,por causa da sua maneira de olhar.Criei a minha versão da historia.Não parei para pensar o que era verdadeiro em minha garota...apenas me agarrei a ela.
- Acho que percebi isso.Percebi que você não me amava realmente,apenas me desejava,da maneira que você poderia desejar um objeto numa vitrine e entrar para compra-lo.
Ele corou,apertando os lábios.
- Isso não é muito delicado.
- Foi o que senti em você.Você quase me forçou a casar com você e eu nem conseguia explicar bem o porquê.
- Você conseguiu explicar.Eu sabia muitíssimo bem que você não sentia o mesmo por mim,mas você era tão jovem...Pensei que era pelo fato de eu ser bem mais velho que você...Tinha problemas de consciência em casar com essa diferença de idade entre nós,mas nunca pensei que havia outros problemas alem desse.
- Você imaginou como me senti quando me trouxe para cá?Se eu me sentia perdida antes,me senti dez vezes mais nesta casa.Não sabia o que fazer.Parecia um pesadelo.Os empregados,as festas,a maneira que seus amigos se comportavam e falavam comigo....Me sentia tão sufocada,como se estivesse me afogando,e eu não conseguia transmitir em palavras tudo isso para você.
Gabriel foi até ela e ajoelhou-se a seu lado,pegando uma de suas mãos entre as dele.
- Você está me contando agora e estou escutando.Continue,minha querida.
Marisa olhou,surpresa.
- Estou falando muito,não estou? - Corou ligeiramente. - Não me lembro de ter falado tanto com alguém na minha vida inteira.
- Você é a pessoa mais calada que eu já conheci.Não me importei com isso,no começo.Só queria ficar olhando para você.
- E você acha que eu não sei disso? Você costumava ficar me encarando e eu me perguntava o que você via.Sabia que não era eu.
Os olhos de Gabriel abriram-se de espanto.
- Não era você?
- Você mesmo disse que...criou uma outra pessoa e essa que você criou é que era sua esposa.
- Era por isso que você se recusava a ter um filho?Pensei que detestasse a idéia de ter um filho meu.
- Não sou tão ruim assim! Isso me assustava também.Não esquecia o que tinha acontecido com o seu primeiro filho e tinha a terrível sensação de que isso ia acontecer com o meu também,se tivesse um.Pensei...
- Você pensou que o perderia?
Ela concordou,olhando para ele,muito pálida.
- Quando percebi que James não estava na porta da loja tive essa sensação terrível de perda.Sempre tive medo de que algo ou alguém o arrancasse de mim.James é uma coisa muito boa para ser verdade.Me acostumei a acreditar que ele era meu e que me amava,mais sempre temi que algo assim pudesse acontecer.
- Meu Deus...Marisa você nunca foi feliz?
- Com James,fui.James era meu,todo meu.
- Ele é meu também. - Gabriel falou,com ênfase,obrigando-a a encarar a realidade.
Marisa baixou a cabeça e molhou os lábios antes de poder responder.
- Sinto muito.
-Como você se arranjou? Deve ter sido duro,manter um bebê com um salário apertado.
- Sally me ajudou.Ela é fantástica,apesar dos problemas que tem e que não são poucos.Nunca me deixou fazer a metade do que gostaria de fazer em troca do que ela fez e faz por mim.Ela e Joe são amigos de verdade e amam James.Fui muito feliz lá com eles.
- Fale-me sobre eles. - Gabriel mostrava-se realmente interessado e Marisa começou a contar sobre a doença de Joe e a agencia de Sally,de como ela dividia o tempo entre o trabalho e James.Ela esboçou toda sua vida para ele,dando-lhe um retrato fiel de tudo que tinha acontecido nesses dois anos que estiveram separados.
- Sally e Joe parecem pessoas maravilhosas.Fico grato a eles pela maneira que cuidaram da minha esposa e do meu filho.
Ela percebeu a ênfase deliberada que ele deu à última frase.
- Não...
- Não, o quê?
Olhou de lado, hesitante.
- Não me apresse,Gabriel.
Ele estava quieto,olhando para o perfil de Marisa.
- Dessa vez não.Só consigo pensar em James.Ele é tudo para mim.Até ele voltar,não quero saber de mais nada.
- Saber o quê?
- Nada... Sinto que os relógios param e que estou à espera de que a vida comece,ou então...
- Ou ?
- Ou não.
- Não pense dessa maneira! - Gabriel agarrou o queixo de Marisa,fazendo-a olhar para ele. - Será que tudo que acabamos de falar não significa nada para você?Você fugiu da vida durante anos.O que isso lhe trouxe de bom?Esteve se preservando durante tanto tempo que quase se destruiu.Pare de correr,Marisa.Tente se arriscar um pouco mais na vida.Ela pode surpreender você.
- Me arrisquei,casando com você.
-Você não assumiu.Eu forcei a situação e reconheço que foi um erro.Deveria ter esperado para conhecê-la melhor em vez de agarrar-me a você desesperadamente como um náufrago se agarra a uma tábua em pleno mar.
- Sempre me senti como um objeto qualquer nesta casa e um dos que não tinham muito valor ou futuro. - Marisa olhava ao seu redor,para as prateleiras de livros,a mobília de mogno polida,as tabuas largas do chão,as cortinas de veludo carmim. - Fui mais um de seus pertences,só isso.Não era realmente útil.
- Você era útil - Gabriel aprisionou seu rosto entre as mãos,olhando-a nos olhos - Eu precisava de você,demais.Agora percebo que a sufoquei com a minha necessidade.Só pensei em mim mesmo quando deveria ter pensado em você também.
- Isso se aplica a mim também,não é? Nenhum de nós entendeu um ao outro.Nós dois estávamos voltados para dentro.Nós dois erramos.
Ele curvou-se e beijou os olhos dela suavemente e sentiu o tremor daquelas pálpebras cansadas sob sua boca.
- De um modo geral,acho que é isso mesmo que as pessoas fazem.Eu projetava meu desejo em você.Queria acreditar que você era a garota que tinha vontade de encontrar.Quando alguma coisa não se encaixava,era mais fácil ignorar ou forçar a imagem que havia na minha cabeça.Senti que estava passando da idade de encontrar a mulher dos meus sonhos e você se encaixava perfeitamente nesse papel.Estava determinado a fazer você ser aquilo que eu queria que fosse.
- A vida não é fácil para os seres humanos,não é mesmo?Quando não conseguimos nos aproximar das pessoas ou quando as palavras não significam muita coisa,como saber o que fazer?
- Confiar - Gabriel sugeriu.
Marisa olhou para ele com ironia.
-Isso é algo que nunca aprendi a fazer
- Nem eu. - Aquela confissão a surpreendeu.Gabriel sorriu para ela diante de tanto espanto. - Não lhe ocorreu que eu também não tinha muito por que confiar nas pessoas? É difícil confiar em alguém quando se está acostumado a ver as pessoas mentindo o tempo todo,se aproximando de você só pelo seu dinheiro.Um dos motivos da minha obsessão por você foi sua total falta de interesse pelo meu dinheiro.Você não se mostrou interessada por nada do que eu tinha.Era preciso lembrar a você que usasse as jóias que lhe dava e nunca me pedia nada...ao contrário,parecia mais atormentada do que satisfeita quando eu lhe presenteava.
- Tinha a impressão de que você usava seu dinheiro para me aprisionar.
-Amarrando você com cordões de ouro?
- É verdade.Quanto mais você me dava,pior eu me sentia.
- Se ao menos você tivesse confessado tudo isso antes! Teria nos poupado dois anos de infelicidade - Ele olhou-a de maneira sorrateira e travessa. - Sentiu minha falta?
Marisa hesitou.Poderia dizer-lhe a verdade e provocar-lhe raiva ou contar-lhe uma mentira e detestar a si mesma. Mas qual seria a verdade? Nem ela sabia.
- Não me permitia pensar em você, e quando James nasceu só me ocupava dele. - Depois de uma pausa: - A não ser quando ele me lembrava você,apesar dos meus esforços para esquecê-lo.
- Estou começando a perceber que devo muito ao meu filho.Pelo menos ele impediu que você me esquecesse por completo.
- Nunca conheci você de verdade. - Será que ele tinha percebido isso?Eram estranhos que tinham casado e viviam na mesma casa sem chegar a se conhecer intimamente.Tinha aprendido mais sobre ele nas últimas vinte e quatro horas e contado mais sobre sua própria vida,do que durante os meses que estiveram casados.
- O que você sentia por mim? - perguntou com voz presa,enquanto acariciava o contorno delicado do rosto de Marisa,como um cego que tateia para reconhecer um objeto.
Ela se afastou,nervosa,o que deixou Gabriel irritado.
- Detesto quando você se afasta de mim!
- Não posso evitar.Não quis ofender você.
- De que você tem medo,o que acha que vou fazer com você? Acha que vou machucá-la? - A mão que tinha sido suave e gentil crispava-se agora,de forma agressiva.
Ele gelou sentindo a violência que nascia dentro dele.Gabriel examinou-a com frieza.
Aproximou-se dela,puxou-a para si com fúria controlada até que sua boca juntou-se à dela,separando-lhe os lábios.Marisa estava surpresa e não conseguia resistir.Tremeu suavemente sob aquela pressão.As mãos de Gabriel soltaram-lhe os ombros,percorrendo-lhe o corpo numa exploração sensual que ameaçava derrête-la por dentro.Sempre tinha se sentido vitima da explosão física de Gabriel,até mesmo quando se entregava a ele.Nunca havia sentido antes uma paixão violenta como a que sentia no momento.Mas,agora,os movimentos famintos daquela boca estavam despertando nela,pela primeira vez,uma tentativa de resposta.
Colocou suas mãos no peito musculoso de Gabriel sob a camisa de seda,sentindo cada movimento da musculatura e o bater do coração.Deixou sua cabeça cair em resposta a Gabriel,que aprofundava suas caricias,explorando seus seios com uma das mãos.
Com os olhos fechados,agarrava-se ao pescoço dele devolvendo-lhe fervorosamente o beijo caloroso e o ardor de seus lábios.
Finalmente,com um longo suspiro,ele levantou a cabeça.Marisa abriu os olhos,tonta.Ele a olhava com o rosto em chamas.
- Isso é o que se chama de uma comunicação total.
Sua pele ardia.Empurrou-o,sentindo-se trêmula,estranha e fraca.
- Preciso ir e.... - Não sabia o que dizer,tinha se entregue a algo sem pensar.
Gabriel sorriu e ela apenas virou-se para sair dali.
De volta ao quarto, sentou-se na cama e segurou o rosto entre as mãos.O que tinha acontecido? Pela primeira vez,não sentira receio nos braços de Gabriel.Não tinha a menor idéia do que tinha sentido,do que era aquele sentimento de vai e vem dentro dela,como água sob gelo,silenciosa e invisível.
Nunca tinha permitido relaxar-se quando estava com Gabriel.Nunca havia se sentido suficientemente segura.A emoção era uma espécie de hóspede do destino e certamente oferecia perigos.Ela tinha se casado com um mito e nunca havia conseguido separar o mito da realidade.Nesse casamento,ele tinha se tornado de carne e osso.Falando com ele,ouvindo o que dizia,sentindo suas mãos sobre os seios e o corpo,ela havia percebido que ele existia e pertencia ao mesmo mundo que o dela.Ele estava certo:tinha sido uma comunicação verdadeira.Aquela longa conversa tinha eliminado as barreiras entre eles,aproximando-os de verdade.
Levantou-se e foi até o espelho: uma estranha olhava para ela,aquela palidez anterior desaparecera.Seus olhos estavam vivos e excitados.
Então ouviu o som do telefone lá em baixo.Correu para a porta e desceu as escadas aos tropeções.
Dudley tinha atendido.Virou-se para ela que o olhava com evidente angustia.
Ele balançava a cabeça,olhando-a de uma forma gentil.
- Sinto muito,nenhum dos dois está disponível.
Marisa debruçou-se contra o corrimão.
- A imprensa,senhora.Eles continuam telefonando.
Ela virou-se para subir novamente.Gabriel apareceu na porta da biblioteca,os cabelos em desalinho pelas caricias que ela lhe havia feito.
- Você precisa comer alguma coisa.Dudley,traga um almoço para nós,bem simples.
- A cozinheira preparou um frango.Ela achou que seria apropriado,senhor.
- Ótimo - Gabriel falou acenando para Marisa - Vamos almoçar agora.
Ela foi até ele.O telefone tocou novamente.Dudley atendeu e ela o ouviu repetindo as mesmas palavras.Gabriel acalmou-a com um sorriso confiante.
- No momento que houver alguma novidade,ficaremos sabendo,Marisa.
- Quando? Quando, Gabriel?
Ele sacudiu os ombros,olhando-a desalentado.
- Perguntas agora não adiantam.Vai ser muito melhor para James se você se alimentar direito.Se não você vai ter um esgotamento e quando ele voltar para casa não vai achá-la esperando por ele.
Marisa reconheceu que ele tinha razão.Forçou-se a comer alguma coisa,com Gabriel a observá-la.Estava bem menos relutante do que antes.Seu corpo solicitava alimento.Estava gastando muito mais energia,mental e física do que o normal e por isso seu apetite estava maior.
Sentaram-se na biblioteca,em silêncio,para tomar café,antes que Gabriel se levantasse para telefonar para a policia e verificar se havia alguma pista ou noticia,qualquer que fosse.Quando ele voltou,procurou ler a resposta em seus olhos,mas ele apenas baixou a cabeça.
- Nada? - Ficou gelada e paralisada.Apesar de tudo,tinha alimentado esperanças e a falta de noticias minava sua resistência.
- Ainda não.Faz apenas vinte e quatro horas,Marisa.
- Apenas?!
- Eu sei.Parece uma eternidade.Sinto a mesma coisa.Ontem a essa hora estava trabalhando normalmente e nem podia suspeitar o que me aguardava.Ontem a essa hora eu estava no parque com James,empurrando-o num balanço - A imagem lhe vinha,perfeita,em sua cabeça... o céu cinzento de inverno,as arvores nuas,o parque vazio e James sorrindo quando ela o balançava.
-Que diferença de um dia para o outro. - Ela suspirou.
-É verdade. - Gabriel concordou observando-a,o rosto contrito. - Ele gosta de balanço?
A lembrança a fez rir gostoso,surpreendendo os dois.
-Ele adora,mas não gosta de ir nem muito alto nem muito rápido.Tem medo.
- Como a mãe.
Ela sorriu novamente.
-Ele é muito mais corajoso do que eu.Se cai,não costuma chorar,a não ser que se machuque de verdade.Ele se levanta fazendo careta e fica furioso.Fica bravo com tudo o que estiver ao alcance dele.Chuta a cadeira,a mesa, qualquer coisa.Parece com você.
- Ah, quer dizer que eu costumo passar o dia chutando cadeiras e xingando as coisas... - Gabriel concordou,sorrindo.
O telefone tocou novamente.Os dois evitaram se olhar.Dudley atendeu.Ouviram a voz dele se alterando e ele se aproximando da porta.Gabriel já ia em sua direção antes que ele o chamasse.
- O que é?
- Alguém dizendo que sabe onde se encontra o pequeno James,senhor. - Dudley gaguejava e as palavras saíam com dificuldade.
Gabriel correu para o telefone antes mesmo que Dudley terminasse de falar.
Marisa seguiu-o.
- Aqui é Gabriel Radley.- Ela ouviu o que Gabriel dizia mais não podia escutar a conversa do outro lado.
Ficou perto de Gabriel,observando-o,tentando descobrir pela sua expressão se as noticias eram boas ou ruins.
- Quanto? - ele perguntou de repente.Depois: - Sim,sim,dou-lhe minha palavra.Quanto?
Outro silêncio,depois ele disse.
-Sim.
Outro silêncio,enquanto a pessoa falava por alguns minutos.Gabriel ouvia,pegando uma caneta de dentro do bolso e gesticulando para que Dudley pegasse papel.Escreveu rapidamente.Marisa tremia por inteiro,entre a esperança e o medo.
- Certo,já tomei nota.
Outra pausa,depois ele disse:
- Entendo.Dou-lhe a minha palavra.Não, a policia não será envolvida.É claro que acredito.Quando é que...
Mais falatório do outro lado e depois:
- Muito bem,estarei lá.
Desligaram do outro lado e ele também desligou,devagar.
Marisa perguntou,impaciente:
- James esta bem?
-Ele está ótimo,se ele disse a verdade,esta muito bem.
- O que ele disse? Era o seqüestrador de James?
-Não.
O telefone tocou novamente e Gabriel atendeu.
- Alô,inspetor.O senhor ouviu?
Marisa sentiu uma pontada no peito.Ele tinha prometido que a policia não seria envolvida e não podia voltar atrás.Senão poderiam nunca mais ver a criança.Segurou Gabriel pelo braço,sacudindo-o, o rosto pálido e os lábios trêmulos.
- Você não pode arriscar a vida de James.Você prometeu?
Gabriel olhou-a de relance.
- Um momento,inspetor - Ele cobriu o receptor com a mão e virou-se para ela - James não vai correr nenhum risco.Não tenha medo.
- Como você pode ter certeza disso?
- Sei o que estou fazendo - disse,com firmeza.
- Se acontecer alguma coisa com ele porque você não manteve sua palavra, não vou perdoá-lo.
- Será que você não consegue começar a confiar em mim.Marisa? Nem agora? - Havia ressentimento em seu olhar.Ele retomou a conversa: - Alô,inspetor,me desculpe.Sim, eu concordo , é assim que devemos agir.
Marisa encostou-se à parede, com o rosto gelado.Gabriel ia cooperar com a policia,mesmo que isso significasse arriscar a vida de James.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!