Capitulo Único



A janela entreaberta, a lareira quase apagada, uivos estranhos, vento forte: parecia o ambiente perfeito para um filme de terror. Mas eu desconsiderava esse fato. O único terror que existe pra mim, é perder o Pad. Mas isso não vem ao caso, não agora. Faz exatamente dois dias e meio que tento escrever uma maldita carta para ele. Faz dois dias e meio que não durmo. Depressivo, não? Na verdade, não. Qualquer esforço por ele vale a pena. Mas, enfim... Eu estava procurando um meio de me declarar pra ele, de dizer o que eu sinto. Por que chegar assim, do nada, e dizer: “Pad, eu te amo! Sou loucamente apaixonado por você”, não dá. Digamos que é um pouco... Clichê. Cartas também são coisas clichês, mas é o único meio que achei. Pensei em outras coisas, como: contratar uma banda e EU mesmo cantar uma música pra ele; fazer cartazes com os dizeres “Moony ama Pad”, e espalhar por Hogwarts inteira; pedir para que os jogadores de Quadribol da Grifinória usem blusas com uma foto de nós dois, etc. Mas achei isso meio... Escandaloso, certo? Por isso, optei pelo meio clichê, pois era o único que me restava.

- Moony, o que faz aqui? – Pad havia entrado silenciosamente enquanto eu estava concentrado na carta.
- Pa... Pad? Você, aqui? Eu... Tô... Ahn... Nada, não faço nada. – eu dei o meu sorriso de número 54 (sorriso falso, mas feliz).
- E por que está com o seu sorriso de número 54? Está aprontando algo, não está? Posso participar? – ele perguntou, dando o seu sorriso de número 39 (sorriso de quem espera um “sim” como resposta).

Eu fiquei sem palavras por alguns minutos. Como ele sabe os meus sorrisos? Ele nem sequer sabe o nome da minha mãe (na verdade, eu não estou lembrado). Sirius não me conhecia muito bem. Apenas sabia algumas coisas. E eu nunca revelei os meus sorrisos a NINGUÉM. Será que nós fomos feitos um para o outro? Bobagem. Pare de babar, Pad.

- Mas eu não estou aprontando nada, Moony! Você devia se controlar as vezes em relação a isso, viu? Quando você e o James se juntam, ninguém segura – eu refleti sobre esse comentário, e percebi que eu não devia ter dito isso. – Oh, me desculpe Moony.
- Não se preocupe, você não disse mais nada além da verdade – após dizer isso, ele saiu cabisbaixo.

Eu não poderia ser mais imbecil do que aquilo. Sinceramente, como eu posso ser tão estúpido? Senti-me mas culpado do que nunca. Mas pelo menos conseguirei terminar a minha carta. Afinal, eu ainda não escrevi absolutamente nada nela, apenas planejava como ia ser. Pensei em colocar assim:




Querido Pad,

Durante esses dias, eu andei pensando: “O que eu sou pro Pad?”. Um amigo, um colega, um conhecido, um amor ou apenas uma pessoa? Então, é através dessa carta que eu lhe pergunto isso. Espero que me responda.

Mas, antes de lhe dizer adeus, eu queria dizer uma coisa: que pra mim, você é um amor. Um amor verdadeiro. Um fogo que arde em mim, e que nem mangueira de bombeiro apaga*. Eu quero que saiba, que eu te amo com todas as minhas forças.

*Talvez você saiba o que é, são aquelas pessoas trouxas que andam de um lado pra outro em um carro enorme, com um som infernal, para apagar um incêndio com uma mangueira maior do que o pilar do campo de Quadribol.

Com carinho, Moony.

Sim, podem dizer, eu sou uma aberração, não? Se bem que essa foi a melhor carta que eu conseguir fazer durante esses dois dias e meio. Lembrei-me de uma coisa: o Sirius. Cara, eu sou um imbecil mesmo. Desci as escadas rapidamente, e logo o encontrei sentado no salão comunal. Ele adora ficar lá quando está deprimido. Sentei-me ao seu lado, e o olhei com toda sinceridade.

- Me desculpa? – perguntei, segurando firme a sua mão, apenas como amigos.
- Você me magoou, eu queria ser visto, pelo menos um dia, por Sirius Black, apenas isso! Não como um Maroto! E você Moony, você sabia mais do que todos dessa minha vontade, e simplesmente faz isso! Eu cansei de ser “O Maroto”, eu quero ser... – eu coloquei os meus dedos em sua boca, pois ele já estava me deixando maluco de tanto falar.

- Eu não consigo te enxergar como Sirius Black... – eu disse, e senti que o magoei mais ainda.
- É exatamente disso que falo, e...
- CALA A BOCA! Eu passei dois dias e meio fazendo uma droga de uma carta pra você, e é assim que me retribui? É assim que você me retribui, depois de 7 anos de amizade? Depois de 7 anos que você me procurou pra eu te consolar, e é isso que faz? Quer saber de uma coisa, dane-se a carta, dane-se tudo, dane-se o meu amor por você, dan... – eu arregalei os olhos, e o olhei.

Ele me olhou sério, depois pegou a carta de minha mão, e começou a ler. Eu, receoso, pensei em fugir, pensei em beijá-lo, pensei em tirar a carta de suas mãos, mas e fiquei ali, e enfrentei o problema, que não era exatamente um problema. Após ler o conteúdo da carta duas vezes, ele me olhou e sorriu amarelo. Começou a rir, e eu fiquei envergonhado, constrangido. Por que eu fiz isso? No que eu estava pensando ao me declarar para ele? É claro que ele agiria assim.

- Moony eu... Nem sei o que dizer! Eu esperava isso a muito tempo, e quando finalmente acontece, eu fico assim. Eu me sinto um idiota, e vejo que a situação reverteu! – ele entregou-me a carta, e levantou. – Quer saber a resposta? Eu te considero um amigo, um colega, um conhecido, um amor e uma pessoa! Eu te amo, Moony.

Dizendo isso, passou a mão em meus cabelos úmidos, e encostou o seu lábio ao meu. O chão se perdeu e me senti perfeitamente bem, como nunca estive em minha vida inteira. Quando senti o seu cheiro bem perto ao meu, meus pensamentos se transformaram em pensamentos sórdidos, loucos. Após me beijar-me, ele disse em meu ouvido:
- Eu não sei como mas, te amo – e concluiu dizendo: - Talvez seja o destino.

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