Loiro Gelado - Capítulo Único

Loiro Gelado - Capítulo Único



- Ah, Bella, você tem que me ajudar – choramingou a jovem bruxa loira, se jogando sobre a cama da irmã mais velha. – Tenho certeza que faríamos o casal mais lindo do mundo mas, no entanto, Lucius não olha pra mim...

- Vai ver, ele não gosta de mulher – respondeu a outra bruxa, olhando-se no espelho sem se importar com o desespero da irmã mais nova.

- Será que eu não sou loira o suficiente? – perguntou Narcissa Black, admirando o tom de uma mecha de seus próprios cabelos. – Talvez ele ache que merece alguém mais loira.

- Ou loiro...

- Bella, pare com isso! – Cissy exclamou, atirando o trasgo de pelúcia sobre a irmã. Eram as férias de fim de ano e ambas estavam na casa de seus pais. Lá fora, a neve cobria os telhados das casas vizinhas, enquanto dentro da casa os elfos corriam enlouquecidos preparando o banquete para a festa da noite seguinte.

Bellatrix Black virou-se para a irmã e comentou séria:

- Conheço um rapaz que está na turma dele em Hogwarts. Ele é irmão de um amigo meu. Um dia, ele comentou comigo que Malfoy tem um Blondor mágico, que garante o tom exato de loiro dos cabelos dele. Talvez possamos pegar essa poção, e você será tão loira quanto quiser.

- Awwwwn! – exclamou Cissy, sem conter sua felicidade. – Você me ajudaria com isso?

Bella tornou a mirar-se no espelho e arrumou uma mechinha de seus cabelos escuros:

- Considere como meu presente de Natal.

- Mas como faremos para roubar o Blondor do Lucius?

Suspirando, a bruxa mais velha se levantou da penteadeira e saiu do quarto.

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No dia seguinte, duas grandes corujas bicaram a janela do jovem Lucius Malfoy em Malfoy Manor. Elas traziam um grande embrulho retangular com um bilhete que dizia tratar-se de um presente de Natal de uma admiradora secreta. Lucius apanhou o embrulho e abriu-o, interessado. Dentro, enrolada em um pedaço de fina seda verde escura, uma linda bandeja de prata polida exibiu o reflexo do bruxo loiro.

Ele estava pintando os cabelos para a festa de logo mais. Então pousou a bandeja sobre a cômoda e colocou sobre ela o frasco de Blondor mágico, seu artigo de nécessaire mais precioso, uma poção digna de ficar sobre uma bandeja de prata.

Qual não foi seu espanto quando o frasco simplesmente desapareceu? Lucius ergueu-se rapidamente, derramando toda a tigela já preparada e o pincel sobre suas vestes. Felizmente, o avental de plástico branco evitou que sua roupa ficasse irremediavelmente manchada. No entanto, o frasco de Blondor havia sumido! Ele ergueu a bandeja, olhou pelo chão. Onde teria ido aquele frasco? Revirando rapidamente sua penteadeira, Lucius colocou outros itens sobre a bandeja, como sua escova de cabelos e uma caixa de grampos amarelos, e logo ambos os itens também sumiram. Mas ele nem notou.

O rapaz, preocupado com seu frasco, colocou a bandeja sobre o banquinho e revirou toda a penteadeira. Sem encontrar, sentou-se novamente, antes de notar a bandeja que repousava sobre o assento.

- Alguém está pregando-me uma peça... – murmurou o loiro, enquanto sentava.

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- Conseguimos, Bella! O frasco de Blondor mágico! – gritava Cissy, excitada, segurando o vidrinho com o pó branco ainda não diluído. – Agora eu serei tão loira, mas tão loira que vai ser impossível não me notar.

- E agora você para de encher o meu saco?

Cissy beijou a irmã, enquanto uma escova de cabelos e uma caixa surgiam sobre a bandeja que estava em suas mãos.

- Veja, ele colocou mais coisas sobre a bandeja dele!

- É, Cissy, tudo o que ele colocar vai aparecer aqui.

Então de repente um volume arredondado envolto em tecido negro surgiu na bandeja das moças. Eram as nádegas de Lucius que, sentado sobre a bandeja em Malfoy Manor, surpreendeu-se com a ausência do veludo macio que recobria o pufe de sua penteadeira.

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Lucius levantou-se de um pulo, enquanto longe dali Narcissa cobria a boca com a mão, chocada, e Bellatrix ria histericamente. O rapaz ouviu as risadas e rapidamente compreendeu. A bandeja era um presente de grego, um portal adaptado para mandar seus pertences para outro lugar.

Ele então chamou um elfo doméstico, que saiu e logo voltou com uma grande abóbora excessivamente madura. Lançando um olhar vingativo para a bandeja, Lucius mediu cuidadosamente sua largura e, vendo que seria suficiente para a passagem da abóbora, atirou-a com toda a força para dentro da superfície prateada.

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Bellatrix erguia a bandeja sobre sua cabeça.

- Veja, Cissy, quem sabe o próprio Monitor da Sonserina em pessoa não vai cair aqui em nossa casa? Seria... – mas sua frase foi interrompida pela gigantesca abóbora madura, que caiu sobre sua cabeça. Bellatrix agora parecia um espantalho com seios; a abóbora no lugar da cabeça emitia ruídos selvagens e furiosos. Ela tateava em volta procurando por sua varinha, mas não conseguia encontrar.

-Mmmmfff!! MmMMMMFFFFF!!!!

Cissy correu pelo aposento sem conseguir encontrar nenhuma varinha que a ajudasse a tirar a irmã de uma situação tão absurda. E se Bella sufocasse lá dentro? E se alguma semente entrasse em seu ouvido? E se ninguém conseguisse tirar e a semente brotasse? Caberia um pé de abóbora dentro da cabeça de Bella? Perdida em pensamentos, ela abiu a porta em pânico e deu de cara com um armário no corredor que exibia, por trás de suas portas de vidro, algumas relíquias da família Black.

A jovem correu pelo corredor e, alcançando o armário, escancarou suas portas e agarrou, lá dentro, uma comprida espada de esgrima que pertencera a algum ancestral. Ela voltou então para onde estava sua irmã, com medo de encontrá-la sufocada, e abriu um buraco na abóbora onde supôs que estaria o nariz de Bella.

- AAAI!! – gritou a irmã lá de dentro. – Corte essa porcaria de abóbora, não o meu nariz! Não seja estúpida, Cissy!

A bruxa loira começou a abrir diversos buracos na abóbora, porque a espada de esgrima não era a ferramenta mais eficiente do mundo para cortar legumes. Quando já estava parecendo vagamente uma decoração de Halloween, Bellatrix conseguiu ver sua varinha caída atrás da cama. Ela se abaixou e tentou alcançar, mas sua cabeça tinha mais volume do que o normal, graças ao vegetal, então foi impossível apanhar a varinha.

- Cissy, não fique aí parada! – ela ordenou, de dentro da abóbora. – Apanhe minha varinha para eu tirar essa porcaria da cabeça.

A irmã mais nova, cuja cabeça tinha o diâmetro normal para a idade, conseguiu se esgueirar sob a cama e apanhar a varinha. Rapidamente, Bellatrix livrou-se do grande legume alaranjado e virou-se furiosa para a bandeja. Sobre sua penteadeira, a cabeça elegante de Lucius Malfoy a encarava com um olhar cínico.

- Bellatrix Black. Eu nunca imaginei que você teria interesse em Blondor mágico...

- Bandejus immobulus! – ela exclamou, desenfeitiçando a bandeja e prendendo Lucius na posição em que estava.

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Em Malfoy Manor, um corpo sem cabeça se debateu e correu pelo quarto, tentando livrar-se da bandeja onde havia se enfiado. Ele bateu as canelas em todas as quinas de todos os móveis do aposento antes de desistir e cair sentado no chão. Do outro lado do portal, a cabeça de Lucius Malfoy balançava para um lado e pro outro, denunciando o esforço que ele fazia para se libertar, enquanto Bellatrix zombava.

- Quem vai fazer carinha cínica agora, heim, Lulu?

- Humpf. O que você quer, Bellatrix? – murmurou ele, resignado.

- Ah, quero só brincar um pouquinho com você. Achou engraçada a abóbora, queridinho? – ela sorria perigosamente, enquanto abria o guarda roupas e apanhava uma grande caixa revestida de couro de dragão.

Ela se virou para a cabeça sobre a penteadeira, que lhe devolveu um olhar assustado.

- O que você vai fazer com isso? Não, você não teria coragem! Pare! Pare! NÃÃÃÃÃÃOOOO!

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Narcissa ouviu os gritos do corredor. No momento em que vira a cabeça de Lucius aparecendo na bandeja, se escondera para não ser vista por ele. Ela escutara toda a conversa entre ele e sua irmã e agora estava assustada. O que Bellatrix estaria fazendo com seu amado Malfoy? Será que ela não tinha noção do quanto era difícil encontrar um pretendente sangue puro nos dias de hoje? Ainda mais um lindo e loiro como aquele!

Sua irmã saiu do quarto com ar satisfeito.

- Bella, o que aconteceu? O que você fez com Lucius?

- Ah, seu queridinho está bem, não se preocupe. Talvez ele esteja em contato com aspectos íntimos demais de sua personalidade, no momento, e não queira ser perturbado. Eu já volto, não mexa em nada, viu?

Cissy observou sua irmã descer as escadas e, quando sumiu de sua vista, entrou sorrateiramente no quarto.

Sobre a penteadeira, um estranho manequim sustentava uma peruca ruiva e um chapéu de verão, com uma fita rosa de bolinhas e algumas borboletas falsas sobre um arranjo de margaridas. Cissy se aproximou do manequim pensando que nunca havia visto sua irmã com aquele ridículo chapéu que a Sra. Lestrange, sua futura sogra, lhe dera com a óbvia intenção de irritar. E, de repente, o manequim se moveu.

- Narcissa?

Ela sentiu-se corar instantaneamente. Sobre a penteadeira, sob a peruca ruiva, o rosto pálido e muito maquiado de Lucius Malfoy a observava. Os olhos cinzentos eram inconfundíveis, mas todo o resto parecia muito mais com uma cantora de cabaré do que com o elegante rapaz de sangue puro que ela conhecera em Hogwarts. Seus olhos traziam uma grande camada de sombra verde, sua face pálida estava colorida artificialmente, rosada graças ao blush de sua irmã. Sobre seus lábios finos, grossas demãos de batom empastelado conferiam mais cor ao conjunto, que já estava parecendo uma versão emagrecida daquela grifinória nascida trouxa, Evans. A peruca ruiva reforçava a impressão, e o chapéu de mau gosto só poderia mesmo vir de alguma loja trouxa.

- Narcissa! – ele repetiu, com a voz esganiçada. – Veja o que sua irmã está fazendo comigo! Ela foi até a cozinha, por favor, me ajude a me libertar antes que ela volte!

- Claro. Claro, Lucius, eu... – ela disse, se aproximando da penteadeira. – Eu vou tirar essa maquiagem antes, porque se você voltar para sua casa assim, não será fácil explicar.

O rapaz tinha uma expressão furiosa, que se abrandou quando a jovem tirou o chapéu feminino de sua cabeça e apanhou um pacote de lenços umedecidos sobre a penteadeira. Com carinho e movimentos precisos, os dedos delicados de Cissy limparam toda a maquiagem que a irmã colocara ali, rapidamente. Ela também tirou a peruca, mas deixou o laço negro de veludo que prendia os fios loiros quase brancos de seu amado Lucius.

- Acho que está pronto. Vou tentar refazer o feitiço, vi quando Bella preparou as bandejas – ela falou, baixinho, arrumando uma mecha teimosa que insistia em cair sobre os olhos do bruxo.

- Sim, mas cuidado porque é minha cabeça que está em jogo – ele comentou, parecendo preocupado.

Cissy olhou séria para ele e respondeu:

- Pode deixar, eu tenho todo o interesse que você esteja inteiro quando as aulas recomeçarem.

Um segundo de silêncio se colocou entre os jovens. A garota se aproximou um pouco mais da cabeça sobre a penteadeira. Lucius, por sua vez, tentou se aproximar dela. Em Malfoy Manor, seu corpo estendeu um braço e depois o outro, na direção em que a moça deveria estar, mas não conseguiu tocá-la. Sendo apenas uma cabeça, o rapaz só pôde aproximar seus lábios dos dela, fazendo um biquinho constrangedor e esperando ser beijado.

O beijo aconteceu lentamente. Cissy alisou aqueles cabelos tão perfeitamente loiros e aproximou seus lábios dos que Lucius já oferecia. Ela acariciou sua cabeça e passou a mão sobre seu pescoço. Mas quando tocou a prata gelada, o enlevo do momento se quebrou e ela subitamente interrompeu o beijo e apanhou a varinha.

- Então – disse, um pouco envergonhada - vou tentar. Como eu sou sua única esperança, sei que não vai brigar comigo se algo der errado.

- Se algo der errado, não brigarei nunca mais com ninguém, Narcissa.

- Medioportus Duplus!

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Quando Bella voltou ao quarto, trazia um grande prato com peixe cozido, pedaços de torta de rim com alho, alguns vegetais que foram servidos no jantar de anteontem e um grande copo de leite azedo. Aquele seria o banquete de natal de Lucius, no que dependesse dela. Mas sobre a penteadeira, seu lindo manequim sumira, deixando a bandeja vazia.

A bruxa apanhou o artefato se perguntando como Malfoy teria se soltado de lá. De repente, uma avalanche branca saiu de dentro da bandeja, trazendo frio e umidade para dentro do quarto da moça.

OoOoOoOoOoOoO


Logo que foi libertado de sua coleira horizontal, Lucius desceu correndo as escadas, carregando a bandeja, e foi até o jardim. Sobre o gramado, uma grossa camada de neve cobria o solo e as árvores. O jovem bruxo colocou a bandeja perpendicular ao solo e saiu arrastando-a, como se estivesse limpando a entrada da casa com uma pá, e atrás de si deixava um rastro de chão sem neve, enquanto pensava sobre o que Bellatrix Black estaria achando de ter um pedacinho do inverno sobre os tapetes de seu quarto.

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Vendo aquela neve toda que entrava pela bandeja, Bellatrix começou a xingar e esbravejar. Ela enfiou o braço pelo portal, tentando alcançar Lucius, mas ele percebeu e virou a bandeja para o chão, impedindo-a. E mais neve e gelo entraram na casa dos Black.

Sem outra alternativa, Bellatrix empunhou a varinha e exclamou, com a voz trêmula de frio:

- Confringo!

A bandeja explodiu e o nível da neve parou de subir instantaneamente.
Bella virou-se para a porta, onde Cissy observava com expressão oscilando entre o riso e o medo da reação da irmã. Suas mãos apertavam ansiosamente a empunhadura da espada que usara um pouco antes para libertar a irmã de seu cativeiro leguminoso.

- Isso é tudo culpa sua! É isso que eu ganho tentando ajudar você!

- Não, Bella, eu não fiz nada!

- Ora, sua pirralha imbecil! Suma da minha frente! Queria que esse estúpido Blondor mágico derretesse o seu cérebro! Seu e daquele cretino Malfoy! Some daqui! – ela disse, e atirou o frasco contra o lugar onde a irmã estava.

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Em seu quarto seco e aquecido, Narcissa sentou-se sobre a cama ainda segurando a espada e lembrando dos lábios suaves de Lucius cujo gosto sentira um pouco antes. Lágrimas sentidas escorreram sobre sua face. Ele certamente nunca mais a procuraria depois daquilo, pensou ela, acariciando lentamente a superfície lisa do florete. Como fora estúpida, ele provavelmente só a beijara porque precisava se libertar. E agora Bella também estava furiosa e, se ela estragasse o natal da família, Cissy provavelmente tomaria uma bronca da mãe.

Mas o pior de tudo era a sensação de ter estragado qualquer chance que poderia ter com Lucius. O rapaz jamais a perdoaria por ter roubado seu Blondor, que agora se perdera, espalhado no corredor. Nem por ter mandado aquela bandeja-portal para sua casa. Nem por...

Seus devaneios foram interrompidos por uma bicada na janela. Lá fora, um lindo pavão prateado a observava, pousado sobre a floreira. Cissy ergueu-se de um pulo, derrubando a espada que jazia em seu colo, e abriu o vidro só um pouco, o suficiente para o patrono entrar. Imediatamente, a voz macia de Lucius Malfoy encheu o aposento:

- Quer sair pra jantar comigo um dia desses?

**FIM**



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Comentários (1)

  • Carolzinha Malfoyy

    eu eu achei muito engraçada,principalmente porque eu gosto de fics com a belatrix !gostei de verdade 

    2012-10-08
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