A Tragédia de Quadribol

A Tragédia de Quadribol



- Pelo menos a minha felicidade não depende da habilidade de Rony defender gols – declarara Hermione após a pequena discussão sobre Quadribol com Fred, Jorge e Harry em seu quinto ano de Hogwarts.


 


Hermione nunca vira muita graça em esportes, claro que poderia ser contagiante toda a animação que envolve o Campeonato das Casas e, certamente, a memorável Copa Mundial de Quadribol. “Mas a rivalidade provocada pelo esporte é tão infantil, tão ridícula.” pensava Hermione.


 


Porém ela bem sabia que os garotos se envolvem de um jeito emocional com os esportes. Inexplicável, porém era um fato. E claramente Rony estava cada dia mais depressivo com a aproximação do jogo de Grifinória contra Lufa-lufa, especialmente depois do último jogo contra Sonserina, que tinha sido uma tragédia.


 


O jogo, que aconteceu em 21 de Fevereiro, realmente foi uma catástrofe. Cada vez que um artilheiro da Lufa-lufa voava em direção a Rony, Hermione fechava os olhos. Com o final do jogo, ainda antes do almoço, Rony saiu do campo sob vaias e o coro “Weasley é o nosso rei”. Hermione sentiu lágrimas de raiva queimarem seus olhos e procurou por Rony enquanto as equipes se dispersavam, mas ele não estava à vista.


 


O almoço daquele dia foi deprimente, quase ninguém falava na mesa da Grifinória. Hermione se angustiava. Como podem ligar tanto para uma partida idiota de Quadribol? E Rony nem ao menos aparecera para almoçar.


 


- Você viu o Rony? – perguntou Hermione para Harry, que deu de ombros.


 


- Provavelmente deve ter ido direto para a sala comunal.


 


- Ele estava no vestiário a última vez que o vi. – completou Gina.


 


Depois do almoço, Hermione se sentou em uma mesa da sala comunal e tentou adiantar um dever, enquanto todos se lamuriavam da partida nos sofás. “Isso está ficando ridículo.” Pensou Hermione, decidindo ir atrás de Rony.


 


Ela tinha uma boa idéia de onde o amigo poderia estar – sozinho no campo de Quadribol. Enquanto descia a escadaria de mármore quase correndo – pois depois que decidira achar Rony, tinha ficado ansiosa para isso – ela encontrou Malfoy, Crabbe, Goyle e Pansy Parkinson a meio caminho das masmorras, cantando a altos brados “Weasley é nosso rei”


 


- Olha a Granger – disse Malfoy, com a voz carregada de sarcasmo.


 


- Porque não está dando colo para o seu namorado chorar o fracasso que é da vida? – perguntou Pansy, os olhos brilhando de malícia. Hermione trincou os dentes, mas não resistiu à provocação.


 


- Se você está falando do Rony...


 


- De quem mais? – interrompeu Malfoy – Ele é um perdedor desde o nascimento, afinal “nasceu no lixo”.


 


- Você acha que sabe alguma coisa da família de Rony, Malfoy?


 


- Ah é. Me esqueci, Granger. – comentou Malfoy com os olhos se estreitando num sorriso maldoso – Você conhece os Weasleys, não é? É de lá que você pega esse fedor...?


 


Hermione sentiu tanto ódio que sentiu o pescoço arder de calor e pode sentir os cabelos armarem devido ao calor que subiu de seu rosto. Ela levou a mão à varinha, mas não a puxou.  Mordeu a língua para não responder o que lhe vinha na mente e marchou para as portas, nem ouvindo o que Malfoy ou Pansy ainda gritou por suas costas.


 


“Canalha, filho-da-mãe, desgraçado.” Pensou Hermione. Respirou fundo e lembrou-se de Rony abrindo os braços enormes para pegar a goles, mas deixando-a escapar. Hermione sentiu algo derreter dentro dela.


 


Assim que pode avistar as enormes balizas de gols, viu um pontinho vermelho no meio delas. Ao se aproximar mais, percebeu que Rony estava sentado na baliza mais alta, cerca de 15 metros do chão, com a vassoura do lado e a cabeça encostada, fazendo a grossura da baliza de poltrona.


 


Hermione entrou no campo deserto e gritou:


 


- Rony!!!


 


Rony, confortável na baliza, se assustou e olhou para baixo, com o coração acelerando. “Hermione? O que ela quer?” perguntou para si mesmo num sussurro. “Ela veio me lembrar que sou uma meleca como goleiro e que nunca deveria ter entrado pra equipe?” ele pensou.


 


- Rony!!! Desce aqui! – berrou Hermione.


 


“Vai embora!” pensou Rony.


 


“Ele vai ficar me ignorando?!” pensou Hermione com raiva.


 


“O que ela está fazendo aqui?” se perguntou Rony, ainda com o coração disparado, sentindo as orelhas esquentarem. “Ela veio ver como estou?” Ele arriscou uma olhada para baixo e depois voltou para sua posição, nervoso.


 


A altura não era o problema – Rony gostava da altura... mas Hermione estava encarando a baliza, quase se pudesse ler a expressão em seu rosto, cobrindo a claridade do meio da tarde com uma mão.


 


“Será que ele quer ficar sozinho?” se perguntou Hermione. “Caramba, eu sou amiga dele! Me recuso a vê-lo se isolando por causa de uma partida idiota de Quadribol!”


 


- Eu vou subir aí! – berrou Hermione, a voz carregada de ameaça, como uma mãe dizendo ao filho “você tem até três!”


 


Rony não agüentou e deu uma pequena risada, mais um bufo do que uma risada. “Essa eu quero ver.” – ele sussurrou pra si mesmo. “Hermione? Subindo mais de 15 metros do chão em uma vassoura? Sozinha? Hahahaha.” Ele pensou, esquecendo-se momentaneamente de sua tristeza. Sentiu o coração inchar com a promessa – ou a palavra seria ameaça? – da garota.


 


“Ai Rony Weasley!” pensou Hermione irritada, sentindo o coração bater com força contra suas costelas enquanto se decidia. Ela apertou o passo até a reserva de vassouras e pegou a que lhe pareceu mais segura. Deu impulso no solo com toda sua força e voou.


 


- Ahhh! – Hermione gritou, sentindo a adrenalina percorrer por todo o seu corpo pela corrente sangüínea. Prestou toda a atenção que pode para seus braços agarrados ao cabo da vassoura e se concentrou em não olhar para baixo.


 


Com o grito da garota, Rony olhou para baixo assustado, com uma leve contração de pânico na barriga, agarrando a vassoura de impulso. No segundo seguinte ele riu. Hermione estava a dois metros do chão, voando em zigzag, tentando pegar altura. A pesar da graciosa forma desengonçada em que a menina voava, ela estava se saindo bem.


 


Rony não tirou os olhos dela, segurando firmemente à vassoura, por precaução, caso precisasse descer correndo e salvá-la.


 


De repente lhe ocorreu um pensamento depressivo... “Se não consigo agarrar a goles que está voando direto para mim, como poderei segurar Hermione se ela escorregar?” No segundo em que ele pensou isso, Hermione alcançou a altura da baliza, há uns quatro metros de distância e levantou o olhar pela primeira vez desde que saíra do chão. Seus olhares se cruzaram.


 


“Como os olhos castanhos-mel dela são... bonitos e expressivos.” Ele pensou.


 


“Será que algum dia vou poder olhar para esses olhos tão lindos e dizer o quanto o amo?” pensou Hermione num átimo de segundo e, logo em seguida “Não seja ridícula, Hermione!” No segundo seguinte ela sorriu.


 


Rony sorriu de volta, sorrindo verdadeiramente, cerrando os lindos olhos azul-claros... No momento seguinte Hermione deixou os braços escorregarem e deu outro gritinho de susto, interrompendo o contato visual dos dois.


 


Rony ficou alarmado e estendeu os braços, mas Hermione se recuperou logo e em dois segundos acelerou na vassoura e alcançou a baliza, se jogando nos braços de Rony, que a segurou e a ajudou a sentar na baliza ao seu lado,  rindo um pouco do jeito estabanado de Hermione no ar, que era sempre tão certinha em terra.


 


- Não está mais me ignorando? – perguntou a garota, rabugenta e ainda arfando do medo que sentira e de toda a adrenalina que sentia à essa altura.


 


- Achei que você tivesse medo de altura. – comentou Rony, com um meio sorriso, fugindo à pergunta.


 


- E tenho! Está vendo o que faço por você? – respondeu Hermione, corando, “‘O que faço por você?’ Você pirou, Hermione?!” ela ralhou consigo mesma, mordendo o lábio e desviando o olhar.


 


“‘O que faço por você?’ O que ela quer dizer?”” perguntou-se Rony, sentindo-se corar também. “Nada do que você está pensando, Rony. Ela é só sua amiga!” ele ralhou consigo mesmo.


 


- Er... obrigado. – respondeu Rony, sério, sem desviar do rosto de Hermione. Como a menina não respondeu, ele acrescentou: - Não olhe para baixo, é pior. – e seus olhares se encontraram novamente.


 


- Eu não podia imaginar como essa baliza é grossa. Podemos até sentar aqui! – comentou Hermione.


 


- É...


 


- Então? É aqui que você vem quando quer pensar e ficar sozinho?


 


- Uhum. – respondeu Rony, desviando o olhar. “Ela está me dizendo que sou uma meleca como goleiro?” pensou. – Porque veio até aqui?


 


- Por que você estava me ignorando, Rony. – disse Hermione, ficando nervosa – E você sabe que odeio quando faz isso!


 


- Ora, você deveria ter visto que eu queria ficar sozinho! – exclamou Rony, igualmente irritado. Ele gostava muito da companhia de Hermione, mas estava muito chateado com o jogo e realmente queria ficar sozinho.


 


Hermione se sentiu muito magoada. “Como você pode pensar que este grosso algum dia vai gostar de você?” pensou ela, desviando o olhar e engolindo as lágrimas que tentaram alcançar seus olhos.


 


- Eu só queria ver como você estava. – respondeu Hermione, entre dentes, olhando para o outro lado.


 


- Veio tripudiar? – disse Rony.


 


- Como pode pensar isso de mim? – respondeu Hermione, sentindo a voz tremer de ultraje enquanto virava a cabeça rapidamente para encará-lo. Rony não respondeu, mas desviou o olhar. Houve uma pequena pausa.


 


- Eu me importo com você, seu cabeça-dura. – disse ela, num tom mais brando. “Posso falar isso, né?” pensou “Somos amigos há anos... ele com certeza sabe que me importo muito com ele.”


 


- Você me acha um fracasso como goleiro, né? – respondeu Rony, ainda olhando para baixo. “Ela só está com pena.” Pensou amargurado.


 


Hermione sentiu a voz do garoto como se fosse um choro abafado e sentiu um impulso violento de puxá-lo para um abraço muito forte, fazer Rony deitar em seu colo e envolvê-lo inteiro em seus braços. O impulso foi tão forte que Hermione sentiu que cada célula de seu corpo gritava exigindo a concretização desse impulso. Queria ardentemente que Rony chorasse em seu colo enquanto ela lhe afastava os cabelos lisos, vermelho-brilhantes do rosto, lhe fazendo carinho. Por que não? Uma amiga não pode abraçar seu melhor amigo?


 


Hermione sentiu o rosto esquentar e o coração acelerar com a força que teve para reprimir esse impulso no mesmo segundo em que quase foi dominada por ele. Ela notou como Rony apoiava displicentemente as mãos nas pernas. Estava muito consciente de cada pedacinho de Rony naquele instante.


 


Ela esticou as mãos e segurou a mão direita de Rony, enchendo-se de coragem ao envolver a mão do garoto nas suas, um eco praticamente vazio perto do abraço que desejava tão ardentemente dar em Rony.


 


Mesmo assim, sentiu uma nova onda de adrenalina acelerar seu coração ainda mais. “Eu te amo, Rony.” Ela pensou fervorosamente, enquanto constatava como as mãos do garoto estavam grandes.


 


Rony sentiu as orelhas e a mão direita queimarem ao mesmo tempo ao sentir o toque de Hermione. O rapaz ficou sem reação e apenas pode perceber – e admitir pra si mesmo – como o toque de Hermione era macio e quente. Olhou por um breve segundo suas mãos entrelaçadas e levantou os olhos encarando-a, sentindo o coração martelar em seu peito. “Beije-a” disse uma vozinha em sua cabeça, expressando aquilo que ele desejava de todo o coração. “Impossível!” rebateu a voz mais racional de sua cabeça.


 


No segundo seguinte ele se lembrou “Hermione está segurando uma mão furada.”


 


- Rony... – disse Hermione, com a voz carregada de carinho – Eu não ligo a mínima para Quadribol. Queria que você também não ligasse tanto.


 


“Ela está com pena. Definitivamente.” Pensou Rony, desvencilhando sua mão das mãos pequenas e macias de Hermione com certo cuidado.


 


- Não precisa me lembrar de que fui horrível hoje.


 


- Quê? - Hermione ficou pasma – Eu não disse nada disso!


 


- Mas está pensando! – acusou ele.


 


- Você não pode saber! – ralhou Hermione.


 


- Eu sei. – teimou Rony, emburrando.


 


- Está bem, então. – começo Hermione a dizer muito rápido – O jogo de hoje não foi muito bom, e daí? Precisa ficar evitando todo mundo por causa disso? Precisa ficar com esse bico enorme? Pelo amor de Deus, Rony! Isso é apenas um jogo, bola pra frente!


 


Houve uma pausa.


 


- Acabou? – perguntou Rony, rabugento.


 


- Acho que sim. – respondeu Hermione, com ar de superior.


 


- Você não sabe nada de Quadribol, Hermione, não precisava ter se dado ao trabalho de vir até aqui pra me dizer que o jogo foi uma merda!


 


- Você é um estúpido, Rony!


 


- E você é uma chata! – cortou ele, antes que Hermione terminasse. Ele se levantou e pegou a vassoura. Hermione agarrou o amigo pelo braço.


 


- Aonde você vai? – pergunto ela, sentindo o pânico em sua voz. Seus olhos tornaram a se encontrar e ambos lutaram contra as sensações boas que sentiam ao mergulharem no olhar do outro, para continuarem raivosos.


 


- Eu vou descer.


 


- Eu vou com você! – disse Hermione, era claramente uma ordem. Rony levantou as sobrancelhas. – Por favor. – acrescentou a garota entre dentes.


 


Rony sentiu o coração inchar e sua raiva de Hermione evaporar.


 


- Tudo bem. – disse ele por fim. – Segure nas minhas costas. – E sem dizer mais nada subiu na vassoura e estendeu o braço para ajudar Hermione a subir atrás de si.


 


- Não precisa falar assim comigo, Rony. – foi dizendo Hermione, num tom muito mais delicado – Até parece que você não sabe que me preocupo com você...


 


Hermione se acomodou na vassoura e segurou na cintura de Rony.


 


- É melhor você segurar mais forte. – disse Rony, puxando os braços de Hermione para cima, levando as mãos da garota até seus ombros, fazendo os braços dela envolver todo o seu peitoral e fazendo Hermione encostar o rosto em suas costas. Os dois corações aceleraram, batendo num único ritmo.


 


Hermione fechou os olhos e inalou o perfume de Rony, que a fez tremer de desejo. Naquele momento ela não estava nem um pouco preocupada com a altura, mas sim com uma nova vontade avassaladora de beijar o pescoço de Rony, que estava a centímetros de seus lábios...


 


Suavemente Rony pousou a vassoura e ajudou Hermione a descer.


 


- Eu sei que você se preocupa. – disse Rony , sem encará-la, num fiapinho de voz. – Desculpe.


 


Hermione ficou muito quieta, encarando o garoto que tão poucas vezes lhe pedira desculpas. “Como ele é lindo.” Pensou Hermione, observando-o de perto, como o cabelo de Rony era elegantemente despenteado e liso, como os olhos azuis dele pareciam bolas de gude ao sol da tarde, como as sardinhas dele eram charmosas, até o jeito magrelo de Rony era atraente, ou seu nariz cumprido com a ponta redondinha; as mãos grandes de Rony, ao lado do corpo, estavam agitadas em uma demonstração de nervosismo. E, sem pensar direito, Hermione ficou nas pontas dos pés, se apoiou nos ombros de Rony e lhe beijou novamente na bochecha.


 


- Tudo bem. – disse ela. “Por que ele não me beija também?” ela pensou “Será que é um bom sinal que as orelhas dele estejam tão vermelhas? Ele está com vergonha de mim?”


 


“Como os lábios dela são macios...” pensava Rony. “Por que ela faz tanto isso? Ela sente o mesmo que eu...? Não... se não, não ficaria de cartinhas com o Krum!”


- Se anima, tá? – disse Hermione, com carinho, apertando o braço de Rony de leve.


 


- Tá... – concordou ele, com um breve sorriso, enquanto começavam a caminhar de volta para o castelo.


 


- Me conta, já terminou sua redação de Transfiguração?


 


- Ihh... ainda não... pra quando é mesmo?


 


- Ai, Rony, você não toma jeito, né? – Mas ela sorria – Já é pra segunda feira. Vamos, eu te ajudo hoje, ok?


 


- Obrigada Hermione... você pode dar uma olhada no meu trabalho de Poções também... eu terminei ontem à noite...


 


- Tudo bem, eu dou uma olhada sim... – disse ela, em tom profissional, mas sorrindo. “É bom mesmo que ele mergulhe nos trabalhos pra esquecer essa bobagem de jogo.”


 


Os dois seguiram pra escola falando dos numerosos trabalhos que ainda tinham que dar conta. E, mesmo distraído com a conversa, Rony estava ficando levemente mais carrancudo enquanto se aproximavam da sala comunal, provavelmente com medo das piadinhas de Fred e Jorge e da reação do resto da equipe de Quadribol.


 


“Mas ele vai superar” pensou Hermione, observando Rony pelo canto dos olhos com um aperto de amor no coração. “Rony é uma pessoa essencialmente alegre.”

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