O SHOW DE HOGWARTS
Gina ficou toda a manhã e final da tarde ao lado da cabeceira do filho, mimando-o. Harry deu uma passada rápida, mas teve que seguir para a aula, deixando Gina com uma pontada de ciúmes do filho por tê-la só para ele. Após assegurar-se de que James estava bem, Gina se despediu com muitos beijos e uma ordem para que ele lhe escrevesse como estava ainda na mesma semana. James só precisava ficar o resto do dia descansando em observação para que Madame Pomfrey tivesse certeza de que tudo estava bem. No momento, ela tinha dificuldades para colocar para fora Lena, Alvo, Rose e todo o time da Grifinória que rodeavam a cama de Potter cheia de doces e balões enfeitiçados que não paravam de falar para ele melhorar logo. Oliver mesmo estourou vários deles porque não aguentava mais.
– Só quatro! Vamos! O restante fica esperando lá fora. Já estão aqui tempo demais e o Sr Potter precisa descansar – como ninguém se moveu, ela cruzou os braços e foi radical – Ou vocês saem ou vou internar todos em quarentena até o último jogo de quadribol.
Sob protestos, metade das pessoas saiu, ficando apenas Alvo, Rose, Lena e Oliver. Durante vários minutos James permaneceu com a mesma ladainha.
– Se eu não tivesse passado mal...
– Jamie, você não teve culpa, mozinho.
– Você não devia ter comido tanto no café da manhã. Tanta comida ia acabar fazendo mal – disse Rose, categórica – Hugo passa mal direto com a gulodice dele.
– Mas eu não entendo. Sempre comi antes dos jogos e nunca passei mal.
– Bom – interrompeu Oliver – Teve aquela vez da dor de barriga...
– Tá, tá! Talvez eu não devesse comer tanto assim antes do jogo. Mas tem coisas que não entendo, porque era um mal estar estranho. Eu parecia mergulhar num tipo de túnel... e ele distorcia as coisas ao meu redor... ficava tudo muito confuso.
– Se a falta de comida pode causar alucinações, quando você come demais deve ser a mesma coisa, né?
– Sim, Al, mas só se você tiver morrendo de fome ou engolido toda a comida do Salão Principal. E eu não comi tanto assim – disse, meio ofendido.
– Vai que alguma coisa não desceu bem? – Rose tentou ajudar.
– Acontece, mozinho.
– Não comigo, Lena. Eu não aceito ter perdido para a Sonserina. Eles devem ter zoado muito vocês, né?
– É o jogo – Oliver deu de ombros – A gente agüenta.
– Eu vou dar o troco por você, mozinho. A Lufa-Lufa vai derrotar a Sonserina no próximo jogo.
– É! – Alvo e Rose também entraram no clima.
– Eles vão sofrer, mozinho. Prometo!
– Bom, fora isso, o que eu perdi?
– Algumas provas, mas a diretora McGonagall vai deixar você fazer novas assim que tiver se recuperado!
– Nossa, que boa notícia, Rose – disse, com um décimo da animação da prima.
– E tem o Duelo de Exibição dos professores – Alvo lembrou, animado – E vai ser a coisa mais incrível do mundo!
– Nos corredores só se fala em um massacre do seu pai sobre o Prof Pratevil.
– Isso é uma coisa que eu não posso perder, Wood.
– Então precisa descansar, Sr Potter, ou não deixarei que saia desta Ala Hospitalar.
– Mas Madame Pomfrey... – Lena choramingou.
– Nem “mas” nem meio “mas”. Já dei tempo muito além do permitido para que vocês ficassem aqui. Vamos. Amanhã ele já estará liberado.
Madame Pomfrey conduziu os quatro para fora, depois que Lena deu um beijo de despedida no namorado. Rose e Alvo encontraram Jonathan e Peter do lado de fora aguardando por notícias de James. Assim que passaram todas as informações que possuíam, seguiram para seus dormitórios a fim de uma boa noite de sono.
Pela manhã, James voltou a ser o centro das atenções ao tomar café com os colegas no Salão Principal, embora a ausência de boa parte dos professores e da diretora também fosse assunto. A maioria das pessoas lamentava muito o fato de os grifinórios terem perdido o jogo, mas os sonserinos estavam impossíveis, principalmente com Potter. Se não houvesse supervisores por perto, certamente eles iriam sofrer a fúria da varinha de James, mas ele já arquitetava o que faria quando os encontrasse pelos corredores. O que o garoto não compreendia de forma alguma era o que um pontinho azul fazia na borda da mesa repleta de verdinhos.
– O que é que tá acontecendo, alguém me explica?
– Aparentemente, eles são amigos – Oliver falou.
– Impossível! Sonserinos não são amigos de não-sonserinos.
– Por isso eu disse aparentemente.
– Achamos que Tiago namora Elizabeth – Lena falou.
– Ele não namora ela – Jonathan interveio.
– Então me diz uma razão mais sensata.
– Não sei, Lena, mas essa não é!
– Epa! Tá nervosinho assim por quê?
– James, dá um tempo – Alvo defendeu o amigo - Você não sabe quanta gente já parou John só pra perguntar isso.
– Isso... – e apontou para onde o corvinal estava – É contra as leis da natureza. Salazar ficaria horrorizado.
– E você falou exatamente como um sonserino, primo.
– Eu não! Ora, Rosie... só acho errado.
– Errado não, diferente – Alvo corrigiu – E não tem nada de errado em ser diferente.
– Ah, Al! Você vem com essa conversinha mole só porque acabou na Lufa-Lufa.
– E o que tem de errado com a Lufa-Lufa? – Lena inflou.
– Ah, Lena... todo mundo sabe que a Lufa-Lufa...
– O quê? – a garota já fechava o pulso e tinha os olhos injetados em fúria, o que fez o garoto mudar de idéia quanto ao que ia falar.
– É uma Casa tão respeitosa quanto as outras e não tem nada de mais ser dela. Todas as Casas são importantes, meu pai sempre diz – deu um grande sorriso e um beijinho para acalmá-la, revirando os olhos para Oliver.
Aproveitando-se do momento em que as corujas faziam suas entregas matutinas, Oliver tratou de cutucar o amigo.
– Que mole! – sussurrou.
– Já tá me enchendo, Olie.
– O que?
– Ela. Mozinho... – e revirou os olhos.
– Você vai acabar com ela? – o amigo voltou a revirar os olhos e murmurou algo incompreensível – Espera o Dia dos Namorados, pelo menos.
– Ô! – e Lena o puxou para que ele participasse justamente dessa conversa.
– Acho maravilhoso que a visita a Hogsmeade seja no Dia dos Namorados! Pena que vocês ainda não possam ir. É maravilhoso!
– Vai chegar a hora da gente – Rose respondeu, tentando não parecer decepcionada pelas regras da escola. Que diferença faria, afinal, 2 anos?
Observando que a conversa sobre Hogsmeade iria render, ela fingiu que alguém a chamava e tratou de se afastar do grupo. Logo seus amigos também ficaram entediados e todos acabaram sentados na mesa da Lufa-Lufa, que estava mais tranqüila.
John estava absolutamente distraído, olhando para o teto encantado quando viu uma coruja parda, com algumas penas acobreadas, fazer um voo elegante. Eram manobras suaves, como se deixasse um rastro de caligrafia por onde passava. Assustou-se quando ela pousou na mesa da Sonserina, pomposa, e entregou um envelope para sua irmã.
Lizzie estava atordoada pela interrupção de sua leitura do Profeta Diário. Aquela coruja certamente não era de sua casa e não fazia idéia de quem mais lhe mandaria correspondência. Fez um agrado na ave, mas ela só foi embora depois que a garota abriu o pergaminho. Letras de caligrafia elegante e inclinada, do tipo de quem escreve muito e com pressa, logo deu à garota uma idéia de quem fosse e ela tratou de fechar e guardar, sem ler.
– Quem te escreveu? – Khai perguntou, enquanto se servia de bombons que a mãe de Deymon havia enviado.
– É de casa.
– Sei... – Deymon tinha certeza que não era.
– Encontro vocês depois, lá fora.
– Algum problema, Lizzie?
– Não, nenhum, Tiago – e se dirigiu para a porta, lançando um olhar significativo para o irmão.
Jonathan nem disfarçou e deixou o salão logo em seguida. Isso não passou despercebido aos olhares atentos dos amigos dos gêmeos e nem de alguns professores que estavam ali. Ele a encontrou na entrada da Câmara das Passagens e ela o conduziu até a sala vazia do quinto andar, onde tinha lições à noite com a diretora e podiam ficar a sós.
– Que pergaminho é esse?
– É de Rita Skeeter.
– Uau! E ela já descobriu alguma coisa da nossa família?
– Não sei. Não li ainda.
– Então lê!
Elizabeth sentou-se com Jonathan ao seu lado e abriu o papel gentilmente, lendo com muita atenção.
Queridíssimos Sr e Srta Dumbledore,
Como vão os estudos em Hogwarts? Já ouvi falar coisas interessantíssimas sobre vocês e não vejo a hora de nos encontrarmos para um novo bate-papo. O mundo bruxo adoraria saber o que os herdeiros de Alvo Percival acharam do nível educacional da escola e da nova diretora. É claro que não vou pressioná-los, meus queridos, porque, acima de tudo, me considero amiga da família. E amigos sempre se ajudam, não é mesmo? Sem esperar nada em troca.
Enfim, meus queridos, pressuponho que estejam ansiosos por notícias sobre a minha investigação, não é? Pois bem, devo dizer que foi um trabalho difícil encontrar pistas sobre o relacionamento de Dumbledore com uma moça. É verdade que a existência disso contraria inúmeros fatos já conhecidos, mas o avô de vocês era um homem que sabia ocultar muito bem as evidências, quando isso o interessava. Evidentemente, meus caros, ele não contava com a persistência e perspicácia desta repórter incansável e das técnicas de um eficaz trabalho de jornalismo investigativo. Mais uma vez, meus queridos, Rita Skeeter consegue o que nenhum bruxo no mundo é capaz: seguir os rastros da vida de Dumbledore.
Foi exaustivo, mas, finalmente, consegui encontrar uma fonte confiável que concordou em me revelar tudo. Usando técnicas avançadas de entrevista jornalística ele me revelou, preocupadíssimo, que certa feita uma família de trouxas foi parar em Godric´s Hollow por engano e acabaram ficando por alguns anos. Os moradores acharam a companhia interessante, pelo que soube, e foi nesta ocasião que ele disse ter visto o jovem Dumbledore conversando com a filha de trouxas no jardim da casa dela. Contudo, ela não se tratava da senhora na foto que vocês me mostraram e sim outra pessoa: Ermelinda Jane Ruffery.
Neste exato momento estou rastreando o paradeiro da família Ruffery e quando tiver mais informações não hesitarei em escrever-lhes. Nesse meio tempo, adoraria que me contassem como estão as coisas na escola. Sinto falta de uma boa história para passar o tempo, sabe? Hogwarts sempre gera boas risadas com um toque de suspense. Aguardo notícias, sim?
Da sua amiga e árdua defensora da verdade,
Rita Skeeter.
– Quem é Ermelinda, Lizzie?
– Não sei.
– Meio metida essa Rita, não é?
– Se ela faz algo que ninguém faz, tem o direito de se achar, né? Eu sabia que ela ia acabar descobrindo alguma coisa.
– Você vai responder pra ela?
– Não... você vai.
– Quê????? – Jonathan deu passos para trás, chocado – Você vai deixar que eu resolva isso?
– Claro. Ela quer que alguém fale de Hogwarts, não é? – John cruzou os braços e fez um bico do tamanho de um hipogrifo – Então escreve qualquer coisa que ela já sabe como a inundação, as aulas de sempre e blá, blá, blá – enrolou o pergaminho e guardou.
– Por que você não faz isso?
– Porque eu vou mandar uma coruja pra casa e perguntar se nossos pais lembram da vovó falando dessa tal Ermelinda.
– Por que eu não posso fazer isso?
– Porque eu tive a idéia primeiro – e se dirigiu para a porta – Não é pra falar para ninguém que a Sra Skeeter escreveu pra gente, ouviu? Ah! E muito importante! Quando escrever para ela diga para não contar a eles sobre a gente.
– Por que não? É a nossa família de verdade, não é?
– Primeiro: duvido que eles saibam da existência de bruxos; segundo: se nossa avó fugiu de casa ela teve algum motivo e terceiro e mais importante: como você acha que nossos pais de verdade vão reagir com tudo isso? Eu não quero magoar ninguém.
– Eu também não.
– Então pronto. Eu tenho que ir, os meninos estão me esperando.
– Lizzie?
– Quê?
– Você não está mentindo pra mim sobre o Tiago, está?
A garota revirou os olhos.
– Eu não tenho nada com o corvinal, já te disse. Ele que deu a louca e resolveu grudar na gente. Agora, tchau! – e saiu da sala em direção à área externa do castelo.
Não havia uma brisa sequer em todo o terreno de Hogwarts nesse dia. A escola estava mais quente do que o habitual numa primavera e, como era sábado, todos os alunos resolveram sair para se divertir ao ar livre. Os olhos vigilantes dos professores Horacio Slughorn, Mikhail Marstrovich e das professoras Septima Vector e Sibila Trelawney tomavam conta dos alunos. Bom, Sibila estava horrorizada com as acrobacias das crianças no Lago e fazia premonições de perigo a cada minuto, até que Mikhail conseguiu afastá-la dali.
Desde o dia anterior um frisson pareceu se espalhar pelo castelo e, misteriosamente, a maioria dos professores havia desaparecido, sem falar nos bruxos do Ministério. Havia quem jurasse que Longbottom estava trancado em sua sala treinando; que a Prof Trelawney tinha enveredado pelos subterrâneos de Hogwarts para escolher os mais fantásticos feitiços; alguns entusiasmados afirmavam ter visto Prof Potter entrar na Câmara Secreta; e muitos desconfiavam que o Prof Pratevil estava fora do país. Todos estavam equivocados, é claro.
O título de campeão no Duelo de Exibição era almejado por todos, portanto, cada professor já tinha se preparado há tempos para dar o seu máximo.
No momento, entretanto, o corpo docente e os bruxos do Ministério estavam preocupados com o relatório do Guarda-Caças que informava a existência de hungús. O perigo era grande, caso um dos alunos resolvesse se aventurar na Floresta Proibida, o que não era raro, apesar da restrição. Por isso, uma brigada foi formada para caçar os dois espécimes restantes antes que eles conseguissem atrair mais um membro para o bando e se tornassem fortes novamente. Afinal, como Hagrid havia explicado aos caçadores, os hungús só desenvolviam claramente suas habilidades fatais de ataque quando formavam três cabeças pensantes.
É claro que, com tantas crianças e adolescentes curiosos fora do castelo, a diretora McGonagall providenciou um feitiço anti-invasão em toda a orla da Floresta: ao se aproximar da zona encantada, o aluno simplesmente dava meia-volta e conversava naturalmente, sem perceber o desvio feito. Foi assim com um estranho quarteto que caminhava próximo à orla.
– Você demorou – disse Malfoy, com um tremendo mau humor.
– Desculpe, tive que mandar uma coruja para casa.
Os dois sonserinos estavam com cara de quem tinha tomado um frasco inteiro de elixir paregórico: uma poção pastosa da cor de bosta de dragão e gosto de laxante, embora fosse escelente contra gripes e resfriados etônicos. Eles estavam assim porque Tiago havia passado toda a semana ao lado deles, se comportando como um colega íntimo, para não dizer que beirava a uma amizade platônica. Os quatro foram comentário geral da escola por três dias inteiros, o que era muito diante de um lugar onde sempre acontecia um novo fato extraordinário.
Tiago estava satisfeito com o grupo, que cumpria nobremente o acordo feito. Custava ao corvinal explicar aos outros que não estava enfeitiçado, namorando Elizabeth ou algo do gênero e fazia questão de frisar que ele tinha insistido até conseguir entrar. Dentro de sua Casa havia sempre a pressão para que ele deixasse os sonserinos de lado e voltasse a ficar com os seus, mas Tiago recusava, com toda a educação que era possível. Nunca teria coragem de dizer aos corvinais, mas acreditava que aquele era o grupo mais verdadeiro de Hogwarts, pois eram companhias que nada queriam dele.
– Dá para, pelo menos, tirar esse sorriso da cara enquanto caminhamos? Somos sonserinos, sabe? Temos ainda alguma reputação a zelar – Malfoy falou, muito irritado.
– Desculpe. É que vocês não fazem idéia do que significa conseguir paz na escola. Mas vou maneirar.
– Será que dá para falar sobre coisas mais importantes? Como o portal? Não conseguimos nada.
– E nem conseguiremos com tanta gente perambulando pelo castelo, Khai. Até sair sob a capa é extremamente arriscado – respondeu Lizzie.
– Então só nos resta uma solução.
– Qual? – perguntou a garota ao corvinal.
No momento seguinte o garoto deu meia-volta de uma forma afetada, forçando os outros três a voltarem para conseguir ouvir seu raciocínio.
– Temos que usar o cérebro e tentar associar um lugar que se pareça com a infiltração, já que o portal é gêmeo e não dois como eu achava – os sonserinos olharam surpresos para ele, que passou a mão na cabeça, desconcertado – Eu mandei o desenho pra minha mãe, só para ter certeza. Eu acho que o outro deve estar num local que tenha algo a ver com água. E deve ser água do Lago Negro que é a mesma que brota das pedras dali.
– E para isso precisa fazer tanta cena? – Khai revirou os olhos – E estávamos indo para lá – apontou e seguiu pelo caminho de antes.
– Existe outra infiltração no castelo?
– Não que a gente saiba, Lizzie – Tiago completou.
– Podemos tentar tirar informação do Sr Filch.
– Como? – Deymon perguntou ao colega sonserino.
– Bom, primeiro, se existe uma pessoa... – e Khai fez o mesmo movimento afetado de Tiago sem notar - ...que sabe se existe outra infiltração é o zelador, né? A gente podia tentar hipnotizar ele ou a Lizzie podia pegar emprestado um pouco do veritasserum do Prof Slughorn.
– E para isso precisa fazer tanta cena? – Tiago devolveu na mesma moeda e só assim Khai notou que não estava na direção de antes.
– Deve ser um encantamento ... – Malfoy disse enquanto corria para a frente e voltava no mesmo pique, sem notar a mudança de direção - ...vocês não acham?
– Malfoy, você voltou pra cá – Lizzie alertou e ele percebeu.
– É verdade. Que máximo. Devem querer ter certeza que a gente não entre na Floresta. Mas... por quê?
A sonserina teve um estalo e pensou alto.
– Os hungús!
– Quê? – perguntaram os três garotos.
– Olha, vocês têm que prometer não contar a ninguém – os garotos afirmaram com a cabeça e ela continuou – No último dia de detenção com Hagrid...
– Hagrid?! – Malfoy torceu o nariz para a intimidade da colega com o meio gigante.
– Eu chamo como quiser, Malfoy. Enfim, nesse dia, a gente encontrou um centauro morto.
– Legal!
– É, Khai, mas a coisa que matou ele foi esse tal de hungú. Parece que eram três e agora só tem dois. Hagrid disse que eles são muito perigosos porque quando atacam é para matar e ele ficou de falar com a diretora no mesmo dia.
– Será que os professores estão caçando eles agora?
– Depois de uma semana de aula? Claro que não. Deixa de ser estúpido, garoto – Khai respondeu com desdém para o corvinal.
– Na verdade, Khai, é possível que Tiago esteja certo porque eu li na biblioteca que os hungús só podem ser capturados com redes tecidas de crina de unicórnio e mortos decepados com uma adaga de prata feita por duendes. E isso leva um tempo para se conseguir.
– Duro de matar, esse bicho.
– É. Deve ser porque ele é muito raro, Tiago. E eu li que ataques de bandos de hungús são o verdadeiro inferno na Terra. O autor não descreve e por isso acho que deve ser muito feio mesmo.
– Então essa proteção deve mantê-los fora do castelo.
– Na verdade, Deymon, eles só podem entrar na escola se forem convidados.
– Você é uma chata sabe-tudo às vezes, sabia? – disse, despeitado.
A garota apenas sorriu para o amigo.
– O que posso fazer se sou bem informada? Os hungús só podem entrar se fizermos um caminho de pó de semente de fogo da Macedônia.
– Ou seja, praticamente impossível – Tiago falou – Essas sementes são ingredientes não-comercializáveis classe A. Meu tio, Caianus Grace, trabalha no Departamento de Tráfico Ilegal de Artefados e Ingredientes Mágicos e comentou no natal que não vê um desses há décadas.
– Deve ser uma caçada e tanto – disse Deymon com as mãos no bolso e um meio sorriso, admirando a Floresta.
– Você quer ser um auror, Malfoy?
O sonserino apenas virou lentamente o rosto para encarar o corvinal, com o melhor olhar assassino que tinha, enquanto os outros reagiram meio surpresos com a declaração do garoto.
– Só falei porque achei o que você disse bem a cara deles. Os aurores costumam caçar bruxos perigosos e, às vezes, são chamados para deter criaturas das trevas.
– Eu “achei”, eu “achei” – Malfoy disse, afetado – Guarde seus “achismos” para você.
– Foi mal. Não tá mais aqui quem falou.
O clima ficou pesado e a sonserina resolveu que era hora de mudar de assunto.
– Vamos fazer algo mais interessante. Eu preciso treinar meu expelliarmus e como somos quatro, podemos formar duplas e depois trocar... – diante do olhar assassino dos colegas sonserinos, ela completou - ...ou não. Eu pratico sozinha com o Tiago outra hora.
– Não – Khai interrompeu – Podemos praticar agora, mas eu é que não vou treinar com ele, porque corro o risco de lançar uma maldição “sem querer” – e fez o sinal de aspas.
– Ora, Khai, nós sempre contamos com a possibilidade da varinha da Lizzie surtar de novo e cortar ele em pedacinhos – Deymon completou.
– Pois fiquem sabendo que desde... – a garota tentou lembrar a última vez durante um treino com a diretora que a varinha fez tudo exatamente como ela mandou - ...enfim, já faz um tempinho que ela não lança feitiços diferentes do que eu comando, tá?
– Desse jeito você me deixa numa situação complicada. Fico triste por perder a oportunidade de ver um terrível acidente acontecer com o corvinal e me sinto obrigado a agradecer à diretora por salvar nossas vidas, Lizzie. E isso não é algo que eu queira fazer – Deymon disse com ironia.
– Ah, cala a boca, Malfoy! – ralhou, com um meio sorriso.
– Bom, vamos achar um lugar que não dê tanto na vista. Deve ter pouca gente na parte oeste do castelo.
O quarteto seguiu para o lugar que Deymon havia citado, ainda atraindo certa atenção. Não era fácil digerir a idéia de que o menino mais lindo do 1º ano gostasse da companhia de sonserinos, assim como o inverso era pouco provável.
Durante o jantar, os professores que haviam desaparecido misteriosamente estavam de volta. A fisionomia levemente abatida ajudava a fortalecer a idéia de que eles estavam, de fato, treinando para o duelo no dia seguinte. Quando James encontrou com seu pai sozinho em um dos corredores da escola, não conseguiu se conter.
– Vocês pegaram os hungús? – sussurrou.
Harry parou, abismado.
– Como você sabe?
– Eu estava com Hagrid e... ele deixou escapulir – mentiu.
– Hagrid não muda nunca – e balançou a cabeça negativamente, com um meio sorriso.
– Mataram eles?
– Um. O outro fugiu para além da Floresta e não vai mais voltar, não se preocupe. Agora, nenhuma palavra sobre isso.
– Segredo de família, pai – e deu uma piscadela.
Na manhã de domingo os alunos tomaram café e almoçaram em suas salas comunais, aumentando ainda mais as expectativas sobre os duelos. Os professores sequer comentavam sobre o grande evento da noite, mas davam piscadelas enigmáticas que tornavam a atmosfera ainda mais eufórica e mágica. Os alunos não sabiam ao certo quantos professores participariam e nem quais seriam, mas apostavam na vitória de seus preferidos. James organizou, em questão de minutos, o Gringates: portão oficial de apostas. Havia categorias sobre escalação dos professores, juízes, feitiços de ataque e defesa possivelmente utilizados, o professor derrotado de forma mais dolorosamente humilhante e, claro, o grande vencedor. James sorria à toa, pois os galeões para o campeão eram, em sua grande maioria, apostados no seu pai.
Harry estava nervoso, mas se esforçava muito para não transparecer. Ainda cedo recebeu cartas de incentivo e carinho de sua esposa, de “não passe vergonha na frente da família” do seu melhor amigo e uma lista de feitiços e contra-feitiços bastante úteis de Mione. A expectativa era alta acerca de suas proezas, mas Harry era humilde o suficiente para saber que existiam bruxos mais experientes e melhores do que ele.
Durante o dia, o Salão Principal, palco do duelo, estava inacessível a todos. Era impossível ouvir alguma coisa mesmo quando usavam um ouvioscópio Weasley: versão aprimorada das orelhas extensíveis para portas com feitiços antiescuta simples. McGonagall tinha caprichado para manter o suspense. No final da tarde, exatamente quando o sol atingiu a linha no horizonte, as portas do Salão foram abertas. A aglomeração e empurra-empurra de estudantes era tanta que os bruxos do Ministério interviram para organizar a entrada.
Tudo estava diferente e nem parecia o Grande Salão a que estavam acostumados. As extensas mesas das Casas deram lugar a duas arquibancadas enormes de cada lado, separadas por um grande tablado de cristal inquebrável, com tapetes da insígnia da escola em cada extremo. A tapeçaria de Hogwarts ornamentava as paredes e enormes arranjos e ramos complementavam a decoração. Em cada um dos quatro cantos do Salão havia uma armadura reluzente, com o escudo aos pés e erguendo uma grande tocha que espalhava, de archote a archote, a luminosidade no local. O teto encantado exibia um céu estrelado cujas estrelas agregavam-se para formar a frase: BEM VINDOS AO VIII DUELO DE EXIBIÇÃO.
Havia uma cadeira especial no centro e no alto de cada arquibancada, onde os juízes avaliariam o duelo. Os professores participantes tinham um lugar reservado na primeira fileira onde poderiam observar os futuros adversários assim como proteger os alunos, caso algum feitiço desse errado. Isso porque a entrada de estudantes portando varinhas foi proibida pela diretora. Assim que todos se acomodaram, Minerva posicionou-se na frente dos professores, onde antes ficava a mesa deles.
– Boa noite a todos. Em instantes daremos início ao VII Duelo de Exibição dos Professores. Quero informar a todos que as regras são básicas: todos os feitiços utilizados devem ser verbais e constar na lista de feitiços aprendidos na escola. Hoje presenciaremos 7 duelos com os professores: Neville Longbottom, Carmelita Trelawney, Horacio Slughorn, Mikhail Marstrovich, Septimus Vector, Hermito Pratevil e Harry Potter.
A cada nome citado, Minerva foi obrigada a fazer uma pausa em função dos gritos e palmas. Os diretores das Casas tinham seu apoio garantido, mas nenhum professor foi tão ovacionado como Harry e ele se sentiu constrangido com isso.
– A professora de Runas Antigas, Bathsheba Babbling, não poderá participar, pois se acidentou recentemente, mas o Prof Rubeo Hagrid aceitou gentilmente assumir seu lugar no torneio. Os juízes desta partida serão Prof. Arthur Weasley e eu. Gostaria de ressaltar que os duelos sem supervisão de um professor estão proibidos nesta escola e que este evento é apenas para que vocês tenham uma noção ampla da utilização de determinados feitiços. Permaneçam em seus lugares e vamos esperar que as estrelas escolham a primeira dupla do duelo.
Todos os olhos do Grande Salão estavam direcionados para as estrelas do teto encantado que se misturavam em movimentos rápidos para formar: Prof. Longbottom X Prof. Hagrid. Os outros professores sentaram-se enquanto Neville e Hagrid tomavam posição no centro do tablado. Os dois fizeram uma sincera reverência entre eles e assumiram a posição de combate com as varinhas erguidas e apontadas. Um pequeno gongo acionado pelo zelador Argo Filch deu início ao duelo.
– Expelliarmus! – disse Longbottom e a varinha de Hagrid voou de sua mão. Neville não esperava um duelo curto assim – Desculpe diretora, me precipitei um pouco – mentiu e Minerva concordou – Prof. Hagrid, queira me desculpar. Poderia pegar sua varinha, sim?
O duelo recomeçou.
– Avis! – disse Neville e um bando de pássaros surgiu de sua varinha. Ele queria dar tempo para Hagrid pensar em algum feitiço.
– Porcus!
Hagrid tentou dar a Neville um rabo de porco, mas foi a armadura do canto que conseguiu. Houve risos da platéia.
– Oppugno! – Neville comandou o ataque de pássaros.
Hagrid correu pelo tablado para se livrar deles gritando Inflatus e as pequenas aves se tornaram bolas de asas infladas. As crianças riram e motivaram com gritos o guarda-caças.
– Estupefaça! – Neville atingiu Hagrid, mas o feitiço apenas o desequilibrou. Tentou mais uma vez e ficou surpreso sem o resultado, enquanto Hagrid sorria.
– Meio gigante, eu acho – e deu de ombros.
– Petrificus Totalus!
Hagrid caiu com estrondo no chão, fazendo as arquibancadas tremerem e a poeira do teto cair. Neville ganhou o duelo e liberou o amigo, sobre aplausos dos grifinórios.
– Desculpe, Hagrid.
– Sem problemas, Neville. Antes você do que o Prof Pratevil e eu não sou bom mesmo.
Com um movimento de varinha, Minerva liberou o tablado para o segundo duelo. As estrelas do teto já indicavam: Profª Trelawney X Profª Vector. As duelistas fizeram a tradicional reverência e ergueram as varinhas. Ao sinal do gongo, o duelo começou.
– Estupefaça! – começou Trelawney.
– Protego! Relaxo!
Depois de desviar os ataques, Prof Vector lançou faíscas vermelhas para distrair Carmelita, fazendo-a recuar, dando tempo para um ataque combinado de Vector:
– Accio escudos! Protean!
Os quatro escudos das armaduras vieram ao encontro como Vector comandou e com o feitiço de duplicar, tornaram-se oito. Nesse meio tempo, Trelawney se desvencilhou das faíscas e se preparou para se defender de um novo ataque.
– Impetus! – ordenou a professora de Aritmancia aos objetos.
– Alarde ascendare! – os oito escudos que atacaram Carmelita por ordem da outra professora voaram por cima de sua cabeça, batendo com estrondo nas janelas atrás.
– Wingardium Leviosa – disse Vector tentando derrubar a adversária, pois ela estava em cima do tapete com o emblema da escola.
– Ascendio! – Trelawney se lançou para o alto para não cair na armadilha de Vector e, em queda, lançou outro feitiço – Estupefaça!
O feitiço atingiu Profª Vector em cheio e ela voou para trás em rodopios. A queda seria feia, mas a professora improvisou:
– Siphonis! – um jato de ar direcionado para o chão a fez pousar de forma suave e elegante. Sem demora, atacou – Incarcerus!
Antes que as cordas prendessem totalmente seu corpo, Trelawney lançou o contra-feitiço:
– Liberatus! – e contra-atacou – Enlacio!
Uma corda saiu de sua varinha e prendeu a professora Vector, mantendo-a sobre a rédea em sua mão. Antes que a outra pudesse se livrar, completou:
– Confundus! - por alguns segundos, sua adversária esteve fora do ar.
Trelawney, então, tratou de finalizar o duelo desarmando a adversária com o expelliarmus. Os lufos ovacionaram a diretora de sua Casa, que saiu feliz pelo trabalho apresentado. Mais uma vez Minerva limpou o Salão, enquanto as estrelas indicavam o novo duelo: Prof. Slughorn X Prof. Potter. O Salão foi preenchido por longos aplausos. Após as devidas reverências, de varinhas à mão, esperaram pelo gongo de Filch.
– Não seja tão duro comigo, Harry!
– Pode deixar profes... – soou o gongo.
– Rictusempra! – Harry quase foi pego pelo feitiço do professor, mas desviou dele e atacou.
– Expelliarmus!
– Protego! – se defendeu Slughorn e tratou de devolver com outro feitiço – Confundus!
– Protego! – Harry desviou o feitiço – Impedimenta!
Com um reflexo afinado, Slughorn desviou do ataque de Potter para atingi-lo.
– Spiratus!
Uma ventania surgiu da varinha do diretor da Sonserina, formando uma espiral, como um pequeno furacão alimentado pela magia. Harry foi pego em cheio e começou a girar no ar cada vez mais rápido. Se não saísse dali, o duelo seria finalizado. Ele não poderia imaginar que o professor estivesse com tanta vontade de vencer e tivesse se preparado tão bem. Harry estava com receio de acertar algum aluno, mas decidiu arriscar um feitiço para prender o adversário.
– Enlacio!
Harry laçou com eficiência o professor que passou a rodopiar com ele no ar, forçando-o a parar com o feitiço do redemoinho. Assim que os dois colocaram a cabeça no lugar, Harry teve que desviar, correndo pelo tablado, de feitiços seguidos de Horacio.
– Estupefaça! Incarcerous! Confundus!
O último quase o acertou e então Harry apontou a varinha para o alto e gritou:
– Lumus Solem!
Uma luz intensa invadiu o Salão, fazendo com que um burburinho se espalhasse pelo lugar, por conta do incômodo. Ninguém entendeu direito o que Harry falou em seguida.
– Simulatus Corpus!
Assim que os olhos se recuperaram da luminosidade, Prof Slughorn avistou Harry ao longe e investiu contra ele.
– Incarcerous!
Mas o feitiço não o atingiu, aliás, passou através do Potter ali parado e os estudantes não entenderam nada. Harry utilizou o feitiço de ilusão para fazer com que Slughorn atacasse apenas uma imagem temporária, enquanto ele dava a volta e ficava atrás do adversário. Quando Horacio entendeu a jogada, já era tarde demais.
– Expelliarmus! – e a varinha voou da mão do diretor da Sonserina, enquanto os gritos e aplausos enchiam o Salão.
– Você me pegou nessa, meu rapaz. Fantástico, Harry! Absolutamente fantástico!
– Obrigado, Professor!
A arena de duelos foi liberada para o último confronto da primeira rodada: Prof. Marstrovich X Prof. Pratevil. Dada a devida reverência e de varinhas em punho, assim que o duelo começou o diretor da Corvinal atacou, em defesa do seu segundo título:
– Aguamenti!
Prof Pratevil se preparou para não levar um banho ou ser sufocado por uma bolha d`água, mas o último campeão do duelo o surpreendeu. Enquando uma onda de água vinha em sua direção, Mikhail rompeu a ligação com a varinha e combinou com outro feitiço:
– Glacius! – toda a água se transformou em uma onda de gelo.
– Escudo! – gritou Pratevil e uma barreira de luz o protegeu.
Todo o gelo maciço que vinha em sua direção, ao atravessar sua proteção mágica, se transformou em pequenos cristais de neve, espalhados por todo o Salão. O efeito visual era pura arte e os alunos soltaram expressões maravilhadas. Mikhail se distraiu observando as reações e seu adversário se aproveitou desse momento.
– Una! – e todos os flocos de neve se aglomeraram em uma onda de pequenos e afiados cristais, lembrando a Harry do dia em que Voldemort atacou Dumbledore no Ministério, embrulhando seu estômago – Impetus!
– Vítreo Vitrelus! – para se proteger do ataque, o Prof. Marstrovich criou uma barreira de vidro.
– Bombarda! – e Pratevil explodiu o escudo em mil pedacinhos.
– Vexatio! – reagiu Mikhail ao mesmo tempo que Pratevil.
Ambos ordenaram o lançamento de raios de suas varinhas e o encontro das duas magias resultou num estrondo de trovão, fazendo os alunos pularem de susto nas arquibancadas: eles sequer piscavam. Durante um bom tempo eles ficaram medindo forças com suas varinhas, como se estivessem num cabo de guerra. Harry não pôde evitar e se recordou do feitiço Prior Incantatem de anos atrás, ficando chateado consigo mesmo. Aquela não era hora para esse tipo de recordação. Assim que os duelistas romperam o feitiço, o Prof Pratevil foi milésimos de segundo mais rápido:
– Estupefaça! – e o Prof Marstrovich caiu, desacordado.
Pratevil ganhou o duelo e foi até o adversário reanimá-lo com um ennervate.
– Há muito tempo não duelava assim, Professor! Obrigado! – disse.
Assim que os aplausos cessaram, Minerva se levantou e, com um movimento de varinha, limpou o Salão. As crianças estavam muito ansiosas pelo que ainda estava por vir.
– Atenção! Silêncio, por favor. Em primeiro lugar gostaria de agradecer ao professores que participaram da primeira fase. Daremos continuidade a todos os duelos ainda nesta noite e agora, deixemos a escolha das duplas, mais uma vez, a cargo das estrelas.
Como magia, as estrelas começaram a se movimentar no teto encantado para anunciar o próximo combate: Prof Longbottom X Prof Potter. Harry e Neville sorriram amarelo. Eles acreditaram realmente na possibilidade de se confrontarem apenas na final, mas o destino não quis assim. Os grifinórios foram à loucura com o embate de dois ex-alunos da Casa. Para Neville, era importante vencer ou não perder de forma humilhante, pois a direção da Casa poderia estar em jogo. Harry, de forma alguma, pensava em tirar esta posição merecida pelo seu corajoso amigo, mas não poderia passar vergonha na frente da família, como Rony bem havia lembrado. Os dois se dirigiram para o centro do tablado e trocaram reverências, com a mais pura verdade. Tomaram uma posição de ataque e aguardaram o sinal do gongo. No instante que o duelo começou, Neville fez o primeiro movimento:
– Obscurus! – todas as chamas que iluminavam o Grande Salão se apagaram.
Sem ninguém ver, Neville tirou algumas sementes instantâneas e completou sua jogada:
– Herbivicus!
Harry sabia que boa coisa não via dali. Com certeza haveria uma planta no meio da arena quando as luzes voltassem e ela poderia atacar qualquer um deles, como aconteceu com o amigo no duelo passado. Harry esperou Neville acender as luzes, de varinha em punho, mas durante longos minutos só havia o cochicho das crianças e um grande suspense. Harry recuou o máximo possível e comandou:
– Lumus!
Todos no Salão prenderam a respiração. Havia um espécime superdesenvolvido de luminus planctu no meio do tablado e, como é característico da espécie, avançou com seus tentáculos para a luz, fonte de alimento. Harry ficou tão sem reação que em questão de instantes estava preso pela planta. Com muito esforço, mirou no fundo do Salão e lançou:
– Incendio! Nox!
O archote da armadura pegou fogo e iluminou toda a parede leste do Salão. Vislumbrada pela luminosidade, a planta soltou Harry e ficou perdida no meio do tablado. Isso deu tempo suficiente para Harry pensar num ataque:
– Reducto! – atingiu a planta e ela começou a diminuir.
– Expelliarmus! – Neville tentou impedir que Harry destruísse a planta.
– Protego!
– Engorgio! – Neville tentou fazer a planta crescer novamente.
– Evanesco!
Pressentindo o perigo, Harry aproveitou que a planta ainda estava pequena, apesar do feitiço do amigo, e a fez se desintegrar. Em seguida, enquanto Neville ainda pensava no que fazer em seguida, Potter atacou com seu melhor feitiço:
– Expelliarmus!
Neville desviou se jogando para o lado oposto e apontou para as paredes.
– Mobiliarbus!
Os grandes ramos que decoravam as paredes de ponta a ponta ganharam movimento de acordo com o controle mental de Neville e atacaram Harry!
– Diffindo! Diffindo! – Potter cortou toda a ornamentação em pedacinhos.
– Petrificus totalus!
– Revertum! – Harry lançou o ataque de Neville de volta para ele, que desviou, mas tropeçou, deixando a varinha cair – Tarantallegra!
O Prof Longbottom perdeu o controle das pernas e começou a dançar descontroladamente, fazendo as crianças rirem. Potter rompeu o feitiço com finite incantatem e fez uma reverência ao amigo, pois, sem a possibilidade de recuperar a varinha, não existia duelo. A maior parte dos estudantes vibrou com a vitória do famoso Harry Potter, que avançou para a final.
– Você foi explêndido, Neville! Por um triz você não me derrotou. Parabéns, meu amigo!
A diretora demorou um pouco mais para limpar o tablado e o Prof Weasley ajudou a consertar a ornamentação do Salão. Os alunos estavam animadíssimos com a veracidade dos duelos, assim como a utilização dos feitiços e os efeitos que eles surtiam. Não era preciso olhar para as estrelas para saber quem duelaria a seguir: Profª Trelawney X Prof Pratevil. Eles fizeram a reverência, respeitosamente, e assumiram suas posições. Assim que o gongo tocou, Carmelita mostrou-se mais rápida.
– Confundus!
– Protego! – desviou do feitico e contra-atacou – Orbis Inflamarae!
Da varinha do Prof Pratevil surgiram pequenas bolas de fogo, do tamanho de um pomo de ouro, que atacaram seguidamente a Profª Trelawney. Ela evitava que o feitiço a machucasse, mas, eventualmente, uma das bolas acabou queimando sua vestimenta e a si mesma. Carmelita sentiu que o professor estava jogando um pouco pesado demais para uma exibição e decidiu que ele precisava de uma lição.
– Exóculo Focus! – o feitiço atingiu Pratevil em cheio deixando-o momentaneamente cego. Era o tempo que Trelawney precisava para se recuperar – Episkey! – e o ferimento sarou.
– Aguamenti! – disse Pratevil ainda sem enxergar, alagando tudo em volta de si.
Sua intenção era captar o som de aproximação da adversária para auxiliar na hora de se defender ou atacar. Ela percebeu a jogada do professor e tentou não se mover.
– Expelliarmus!
Ao ouvir o comando, Pratevil se atirou no chão alagado, desviando do ataque, que passou a centímetros acima de sua cabeça. Aos poucos sua visão foi retornando e ele avistou um vulto. Não titubeou.
– Depulso!
– Protego! – Trelawney apontou para a armadura do seu lado e comandou – Piertotum Locomator!
– Piertotum Locomator! – ordenou também Pratevil àquela próxima a si.
As duas armaduras saíram de seu lugar de origem e se encaminharam para o centro do tablado, de escudo em um braço e archote em outro.
– Espartacus Espadarto! – disseram os dois bruxos e transfiguraram o archote em uma espada.
Durante os minutos seguintes só foi possível ouvir a gritaria dos estudantes. As armaduras lutavam entre si com bravura, sob o comando mental dos dois professores. O barulho de lâmina contra escudo e lâmina contra lâmina fazia todos vibrarem. Parecia que o Salão havia se transportado para séculos atrás e isso fazia do duelo dos dois um show à parte. Uma leve titubeada do Prof Pratevil foi o suficiente para que a espada da armadura da Profª Trelawney a atingisse a outra bem no meio, desmontando-a. Em seguida, a lançou de espada e tudo contra seu adversário:
– Impetus!
Prof Pratevil teve que se jogar em direção às arquibancadas para fugir da investida da espada e foi no ar que Profª Trelawney investiu seu ataque final:
– Petrificus Totalus! – no meio do ar, Pratevil congelou e caiu duro no chão.
Todo o Salão ficou de pé e aplaudiu fervorosamente a diretora da Lufa-Lufa. Muitos se sentiram vingados pelas horas de detenção, pela suposta perseguição em sala de aula e pelos exaustivos trabalhos escritos. Imediatamente ao fim da luta, ela desfez o feitiço e ambos apertaram as mãos, em sinal de respeito. Agora, só restava a grande final: Prof Potter X Profª Trelawney. Os alunos que tinham apostado galeões na final entre Pratevil e Potter estavam desolados. Depois de tomar um gole de poção restauradora, os finalistas se dirigiram ao centro e fizeram reverência primeiro para os professores derrotados e depois entre si. Assumiram as posições tradicionais de combate e aguardaram o sinal de Filch.
– Depulso! – ordenou Harry, quando o duelo começou, com muita gritaria da arquibancada.
– Protego! Petrificus Totalus!
Harry desviou do ataque que passou a sua esquerda e contra-atacou muito rápido.
– Locomotor armadura!
Profª Trelawney estava muito próxima à armadura que recebeu o comando de Harry e não poderia desviar deste ataque. Utilizou então um feitiço recém estipulado pela grade da escola e só conhecido no último semestre do 7º ano:
– Essencia Apsque!
A armadura se tornou um pouco translúcida e todos ficaram absolutamente surpresos quando ela atravessou a Profª Trelawney como se fosse um fantasma. As expressões extasiadas de “ohs!” e “ahs!” se espalharam como explosivins. Harry mesmo ficou parado, abobalhado com a primazia da adversária, que não perdeu tempo e atacou.
– Estupefaça!
Potter desviou e contra-atacou com seu melhor feitiço:
– Expelliarmus!
Com grande agilidade Trelawney desviou da rajada vermelha e não deixou por menos.
– Incarcerous!
– Diffindo! – gritou Harry antes que as cordas o imobilizasse, livrando-se do ataque – Asthma!
O feitiço de falta de ar atingiu Carmelita em cheio e ela caiu de joelhos, respirando com dificuldade. Muitos gritos de vitória vinham dos grifinórios das arquibancadas e até o próprio Harry parecia satisfeito com o resultado. O que ele não esperava era que Profª Trelawney estivesse fingindo. Ciente do efeito do feitiço, segundos antes de ser atingida, ela havia juntado forças para um último ataque e esperava o momento certo, pois o que ela queria fazer precisaria ser um lance perfeito. Assim que Harry se aproximou, de varinha firme no pulso, ela direcionou seu ataque não ao Potter, mas a sua varinha.
– Impotentis!
Todos no Salão se assustaram com o repentido ataque, mas depois acharam que não havia dado resultados, pois a varinha continuava na mão de Harry e Carmelita no chão, tomando fôlego para se recuperar.
– Expelliarmus! – ordenou Harry, mas faíscas amareladas saíram de sua varinha – Expelliarmus! – comandou outra vez e nada aconteceu – Estupefaça!
Sua varinha estava inutilizada temporariamente, o que o deixou confuso e sem poder fazer nada a respeito a não ser esperar. Dois minutos depois ele viu Profª Trelawney se levantar, totalmente recuperada e com um largo sorriso vencedor.
– Aracnea Carcerus! – uma teia de aranha surgiu de sua varinha e atingiu Harry em cheio, prendendo-o na porta do Grande Salão.
Demorou alguns segundos para a compreensão geral, mas logo depois o grito de vitória se espalhou pelo Salão. Os sonserinos estavam felizes porque Potter não ganhou, os corvinais estavam impressionados pela esperteza da professora de feitiços e os lufos estavam enlouquecidos nas arquibancadas. Os únicos ainda chocados eram os grifinórios, principalmente os colegas de James, que viam o amigo extremamente pálido. Carmelita rompeu o feitiço e congratulou o colega pelo trabalho. Minerva tentou retomar o controle da situação e anunciar o fim do torneio.
– Sonorus! – teve de recorrer – Os juízes do VII Duelo de Exibição, em plena concordância, declaram Profª Carmelita Angélica Trelawney campeã deste ano!
Os lufos não se conteram e saltaram das arquibancadas para abraçar a diretora de sua Casa. Há tempos a Lufa-Lufa não ganhava algo e no ano passado por pouco Trelawney não levou o prêmio. Os alunos comemoravam como se tivessem levado a Taça das Casas.
– Lufa-Lufa! Lufa-Lufa! Lufa-Lufa! - e batiam palmas, vibrando muito.
Alvo procurou seu pai, que tentava consolar boa parte da Grifinória e seus olhares se encontraram. O garoto lançou um olhar desconsertado, mas Harry sorriu e fez sinal para que ele comemorasse, afinal, sua Casa agora era a sua família.
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