OS VISITANTES DO LAGO



Os raios de sol surgiram no horizonte através de grossas nuvens cinzas que tomavam todo o céu. Embora indicassem chuva iminente, as nuvens estavam completamente secas e falhas, o que permitia à luz solar iluminar as paredes de pedra do castelo, revelando a manhã mais estranha que Hogwarts já teve. Os alunos da Grifinória e da Corvinal foram despertados pelos monitores e encaminhados para a Sala Comunal onde ouviram atentamente, de seus diretores, o que havia acontecido na noite anterior. A ordem expressa era de que ninguém poderia sair sem a companhia de um professor até que tudo estivesse seguro novamente. O café da manhã foi servido nas salas comunais e as aulas estavam suspensas, para a alegria de muitos.

Após o café, aqueles que tinham irmãos nas outras Casas foram encaminhados até eles. Jonathan foi levado à Ala Hospitalar pelo Prof Longbottom para ver sua irmã e quando chegou não pôde deixar de notar o clima pesado que dominava o lugar com suas camas praticamente lotadas de sonserinos. Ainda que todos estivessem acordados, ninguém ousava sequer respirar alto. Ele encontrou Elizabeth recostada no sexto leito à esquerda e a abraçou forte. Ela resumiu, num sussurro que só o irmão poderia ouvir, o que havia presenciado e que Deymon a salvou de um afogamento. Ele escreveu uma carta aos pais confirmando que ela estava fora de perigo e ambos assinaram.

Assim que Jonathan saiu para enviar sua carta, várias corujas irromperam pela porta da Ala, deixando Madame Pomfrey aturdida: eram as cartas dos pais em resposta às que a diretora McGonagall havia enviado durante a madrugada. Todos queriam notícias de seus filhos. O corredor do 2º andar, onde os sonserinos e lufos tomavam café juntos, também estava repleto de corujas que aguardavam, ansiosamente, uma oportunidade de entrar na sala. O chão já exibia manchas de sujeiras das aves e era de se estranhar a ausência do zelador Argo Filch para reclamar de tudo enquanto limpasse com o esfregão. Depois de todas as crianças estarem bem alimentadas, Madame Pince abriu a porta da sala permitindo a entrada do correio-coruja e de alguns alunos que tinham irmãos na sala.

Alvo recebeu cartas de sua mãe e sua avó, assim como a visita de James, que estava um pouco pálido e parecia louco para abraçá-lo, mas apenas deu um soco leve no ombro e balbuciou um fraco “E aí, Al? Como é que você está?”. Peter se surpreendeu com a carta dos pais, que nunca haviam utilizado a forma bruxa de comunicação antes. Eram cartas angustiadas e preocupadas. Madame Pince tratou de distribuir pergaminhos, penas e tinta e logo tudo o que se ouvia era o barulho de diversas penas escrevendo ao mesmo tempo. Quando Alvo terminou, esticou os braços e estalou os dedos, satisfeito. James escreveu algumas linhas também e se retirou da sala, após um abraço enforcador no pescoço do irmão. Foi enquanto James saía que Alvo notou o olhar pálido de Malfoy direcionado para o nada, segurando sua carta amassada à mão, sem sequer tocar no material que a bibliotecária lhe havia entregue.

Outro lugar repleto de cartas e corujas era a sala da diretora Minerva McGonagall, que ainda não havia dormido. Sua aparência estava muito diferente da diretora que havia recebido os jovens alunos no início do ano. Seus cabelos não estavam impecavelmente amarrados, sua pele não estava macia e brilhante e seus olhos estavam acompanhados de profundas marcas roxas. Todos os recentes acontecimentos misteriosos na escola estavam deixando-a preocupada e a noite anterior foi a pior desde a Grande Guerra Bruxa. Alunos correndo risco de vida era sinal de que ela não os protegia da forma que a escola sempre, reconhecidamente, o fez. McGonagall estava começando a questionar sua capacidade de dirigir a escola. Todas as cartas e berradores que recebeu desde que informou aos pais sobre a inundação parecia confirmar ainda mais o que estava em sua mente. Contudo, os antigos diretores, num consenso, decidiram que não havia precedentes e nem como alguém prever tais ocorrências na escola. Isso a havia reconfortado, um pouco. Uma batida em sua porta a despertou de seus devaneios.

– Entre.

– Diretora McGonagall?

– Pois não, Prof. Longbottom?

– Eles chegaram.

– Foram acomodados no Salão Principal?

– Sim, senhora.

– Muito bem, professor. Estou descendo.

O Salão Principal, assim como todas as outras áreas da escola, já estava completamente seco. A água havia recuado horas atrás, restanto aos elfos e professores o trabalho de secar todas as salas e reorganizar os dormitórios, ainda que os alunos, provavelmente, não retornassem. A diretora não tinha escolha senão avisar aos pais sobre o acontecido e, evidente, eles não se contentaram em apenas receber corujas para serem informados de que os filhos estavam bem. Desde cedo, Hogsmeade estava cheia de pais angustiados, a maioria, de sonserinos.

A tapeçaria de Hogwarts decorava o local. Havia apenas uma grande mesa paralela à dos professores e os bancos onde as crianças sentavam foram substituídos por cadeiras confortáveis, acolchoadas e revestidas por um veludo negro. Um grande burburinho ecoava no local. Os pais conversavam entre si e os professores aguardavam na mesa, junto aos dois bruxos do Ministério que presenciaram o acontecido. A diretora entrou no Salão com autoridade, fazendo com que todos se calassem até que ela assumisse a cadeira central da grande mesa.

– Bom dia a todos! O recente acontecimento permitiu a presença de vocês aqui na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Devo informar que a inundação já foi controlada e estamos investigando o motivo que levou as águas do Lago para dentro do Castelo. As crianças das Casas Lufa-Lufa e Sonserina, que são de maior interesse para todos nós, levaram um susto muito grande, mas foram tratadas imediatamente. É o segundo acontecimento sem precedentes em Hogwarts e o Ministério já está a par de tudo, inclusive, membros estiveram presentes na noite de ontem e nos ajudaram a resgatar as crianças. Sei que todos estão ansiosos em encontrar seus filhos e, por isso, nossos professores irão levá-los até onde eles estão.

Uma mão foi erguida pedindo permissão para falar. Educadamente, Minerva cedeu a fala para o homem alto e loiro, de vestes verde-musgo impecáveis e nariz empertigado. Harry e Neville não conseguiam evitar um olhar de desprezo para Draco Malfoy, posto de pé, apoiado numa belíssima bengala negra, cravejada de esmeraldas.

– Diretora McGonagall, sabemos que o Ministério está avaliando os últimos acontecimentos na escola, contudo – e fez uma pausa, levantando o indicador direito e a sombrancelha – a segurança de meu filho, de nossos filhos, está claramente em risco. Como posso permitir que meu único herdeiro estude em uma escola que oferece riscos a sua integridade e, baseado no argumento de que não há precedentes, não oferece nada que possa ser feito em eventos futuros? Vamos ter que aguardar uma ocorrência...fatal, para que a escola feche sob investigação? A magia está, de fato, acabando?

O burburinho geral voltou a tomar conta do local. Alguns pais estavam horrorisados com a hipótese de uma das crianças morrer nesses acontecimentos imprevisíveis e pareciam concordar com as palavras de Malfoy. Outros compartilhavam da visão do Profeta Diário em sua matéria sobre a estagnação das escadarias estar relacionado ao fim da magia. Minerva se sentiu ofendida, contudo manteve a linha.

– Senhor Malfoy, como o senhor sabe muito bem, a segurança dos alunos é nossa prioridade! Os dormitórios do subsolo serão inutilizados até que a investigação do Ministério se encerre, as aulas nas masmorras também serão transferidas e as rondas à noite serão duplicadas. Já contactei o ministro Shacklebolt e, agora há pouco, ele nos ofereceu dois de seus melhores bruxos responsáveis pelo Departamento de Desastres Mágicos para permanecer no Castelo, prontos para intervir da melhor forma possível em futuros eventos. Não acreditamos em boatos sobre o fim da magia. Hogwarts já passou por coisas piores e se manteve firme. É claro, todos são livres para transferir os alunos para outra escola, se acreditarem que isto será o melhor para eles.

Diante da resposta da diretora, Malfoy perdeu um pouco de sua força e a maioria dos pais estava mais calmo.

– Formaremos dois grupos para visitar os alunos que estão descansando na Ala Hospitalar e os que estão alojados em outra sala. Por favor, sigam os professores.

Quando os pais e professores designados para guiá-los saíram da sala, Minerva se permitiu afundar em sua cadeira.

– Diretora?

– Pois não, Prof Potter? – respondeu prontamente, retomando sua postura rígida.

– Estive discutindo uma idéia com os animagos do Ministério e gostaria de saber a opinião da senhora. Para sabermos o que aconteceu no Lago, podemos perguntar aos sereianos.

– Eles não sobem à superfície com facilidade, Harry.

– Sim, senhora. Por isso estive pensando em mergulhar e conversar com eles.

– O senhor sabe falar serêiaco, Potter?

– Aprendi – e abriu um largo sorriso – Acredito que teremos uma boa chance de descobrir algo sobre o que aconteceu aqui. Os sereianos têm uma vida mais longa do que a nossa e, talvez, isso já tenha acontecido antes, em menor proporção e não foi notado.

– É possível. Contudo, Harry, não sabemos como andam as coisas no Lago desde a última Grande Guerra.

– Por isso que serei acompanhado pelo Sr. Beezinsky e o Prof Pratevil também se prontificou.

– Bom, neste caso, podemos tentar, este fim de semana, quem sabe? Se me permite, Harry, vou até a Ala Hospitalar e a sala conjunta averiguar a visita e aproveitar para conversar com alguns pais. Com licença.

Assim que viram seus pais, as crianças correram em direção a eles, abraçando-os. Choro, beijos e longos relatos seguiram depois. Nem todos receberam visitas, apenas os pais mais insistentes e insatisfeitos com a carta da diretora haviam se deslocado até Hogsmeade exigindo ver os filhos. Quando Draco Malfoy entrou na sala, encontrou seu filho fileiras ao lado, ainda sentado e segurando sua carta. Ainda que sua vontade fosse a de correr a encontro dele e abraçá-lo forte por estar vivo, Malfoy manteve a postura rígida com que foi criado e caminhou até seu filho, que se levantou. O abraço foi comedido, mas sincero. Ambos conversavem em um tom reservado, natural para eles.

– Vejo que se manteve forte.

– Sim, meu pai.

– O que aconteceu?

Deymon narrou para o pai o ocorrido, como todos os outros.

– Esta escola não é mais segura, na minha opinião. A diretora McGonagall não está fazendo um trabalho impecável. Conversei com sua mãe e acreditamos que é melhor transferi-lo para Durmstrang.

– Não, pai – o olhar do garoto era de súplica – O senhor disse que Hogwarts é a melhor escola do mundo.

– Sim, é. Contudo, não posso me dar ao luxo de pôr meu único herdeiro em risco.

– Mas pai, eu estou bem. Eu não quero deixar a escola.

– Essa decisão não é sua, Deymon.

– Eu sei...mas...mas...é a Sonserina. É a sua Casa! É o orgulho da nossa família...gerações estudaram aqui. É isso que o senhor e o vovô sempre falaram!

– Talvez seja a hora de mudar isso.

– Eu não quero ser o culpado disso. O vovô não ia gostar nem um pouco.

– Ele está morto, Deymon – os olhos do garoto se encheram de lágrimas.

– Eu sei.

O sonserino desviou o rosto para que seu pai e ninguém pudessem vê-lo secá-las. Um garoto do terceiro ano e seu pai se aproximaram dos Malfoy, discretamente.

– Olá, senhor. Eu sou Caim Hiccock e este é meu filho Seth. Eu gostaria de parabenizá-lo pelo filho. Seth estava me contando que presenciou o resgate ousado que ele protagonizou. Salvar sua amiga de se afogar foi um ato de astúcia. É bom saber que podemos contar com aqueles de nossa Casa. E não foi uma amiga qualquer, veja só, uma Dumbledore! Deve estar orgulhoso. É um prazer conhecer um homem de vastos negócios e o pai do garoto que salvou a Srta Dumbledore.

O homem de vestes finas e elegantes esticou sua mão para Malfoy, que estava absolutamente pasmo. Deymon havia ocultado esta informação. A educação lhe rendeu reflexos que a mente não pôde acompanhar. Enquanto apertava a mão do outro homem, Draco era tragado num turbilhão de lembranças em que ele se encontrava diante de um velho fraco, desarmado. Em seguida, impossibilitado de matá-lo, o viu ser morto por Severo Snape. Por anos, Draco havia carregado o fardo de ser o responsável pela morte do ex-diretor, pois ele o havia desarmado. Ele o havia deixado exposto para a morte iminente. Ele havia colocado os Comensais dentro do Castelo. Ele. Agora, seu filho, seu único filho, havia reconquistado a honra dos Malfoy perante os Dumbledore. Uma dívida que Draco jamais sonhou ser possível pagar.

– Os negócios vão bem, senhor Malfoy? O mercado de vassouras prevê crescimento de vendas este ano.

Malfoy despertou de suas reflexões.

– Com certeza. Temos um lançamento de uma nova linha em breve. O ramo imobiliário também está crescendo. Quem sabe não consigo um bom imóvel para suas férias, Sr Hiccock. Escreva para meu escritório e lhe garanto um bom desconto. Como disse, podemos contar com aqueles de nossa Casa.

– Isso seria ótimo, Sr Malfoy. Escreverei. Com licença, vou deixá-los a sós.

– Tchau, Deymon.

– Tchau, Seth.

Draco encarou o filho por um longo tempo. O garoto estava completamente desconsertado, cabisbaixo e com vergonha. Draco não conseguia entender o porquê de seu filho esconder um ato desses. Será que, mesmo com o esforço para que ele não descobrisse, Deymon sabia que seu pai esteve envolvido na morte de Alvo Dumbledore?

– Explique.

– Foi uma bobagem. Achei que não teria importância, pai.

– Você coloca sua vida em risco para salvar uma sonserina e acha que isso não tem importância? Uma descendente de Dumbledore? Você é amigo de uma Dumbledore? Defina essa amizade de vocês.

– É só...amigo. Fazemos tarefas juntos e sentamos em algumas aulas como parceiros.

– Por que você a salvou?

– Porque ela estava morrendo.

– Ela é sua colega ou sua amiga?

O garoto permaneceu em silêncio analisando o pai. Queria saber qual seria a resposta que Draco esperava dele. Mas a expressão de Draco era ilegível.

– Amiga – disse, baixinho, olhando para o chão.

– Não ouvi.

– Amiga, assim como o Khai.

– Quem?

– Khai Macbeer, ele está na Ala com ela.

– Macbeer?

– É. O pai dele está em Azkaban por ter...

– Sei quem é Macbeer. Você tem...amigos aqui?

– Sim.

– E quanto ao que lhe pedi?

– Os outros são uns grandes idiotas. Não quero andar com gente idiota. Principalmente aquele Gilbert Goyle. Um trasgo em forma de bruxo. Devia ser proibida a entrada de gente burra na escola.

Malfoy deu um discreto sorriso.

– Concordo. Ainda assim, quero que fique por perto. Nunca se sabe o dia de amanhã.

O garoto lançou um olhar atônito para o pai.

– Isso quer dizer que eu posso ficar?

– Você salvou uma Dumbledore, isso lhe deu um certo crédito. Contudo, da próxima vez que algo imprevisível acontecer e isso lhe colocar em perigo, você será transferido. Estamos entendidos?

O garoto o abraçou fortemente, ignorando os olhares ao redor.

– Sim, senhor. Obrigado, pai.

Malfoy o afastou, desconcertado pelos olhares dos outros pais.

– O que é isso em seu bolso?

– Nada demais. É uma pedra diferente que achei perto do Lago. Estava brincando com ela quando tudo aconteceu – mentiu.

– Escreva para sua mãe, dando notícias.

Malfoy passou a mão pelo cabelo liso do filho e deixou o local. Imediatamente, Deymon começou a escrever uma carta com um sorriso estampado no rosto. Do lado de fora, Draco encontrou com um velho conhecido.

– Prof Slughorn.

– Pois não? Oh...senhor Malfoy. Como vão os negócios?

– Bem, é claro.

– Soube do ocorrido com seu filho. Um bom garoto.

– Sim, ele é. Escute, professor, eu gostaria de conhecer a garota que ele salvou: a Srta Dumbledore.

– Você não vai – uma voz severa respondeu logo atrás de Malfoy. Ele se virou lentamente com os dentes trincados e a expressão falsa.

– Harry Potter.

– Draco Malfoy.

– Senhores... – a voz de Slughorn soou como um aviso.

– As visitas são restritas aos parentes, Sr Malfoy. E se depender de mim, você nunca chegará perto de um Dumbledore mais uma vez, com vida.

– É uma ameaça, Potter?

– Estou apenas lhe informando, Malfoy.

– Bom, não importa. Isso é apenas uma questão de tempo, Sr. Potter. Caso não saiba, meu filho a conhece e a salvou.

– Deve sentir que sua dívida foi paga, mas para mim você continua sendo uma doninha repulsiva.

– É melhor escolher melhor suas palavras, Potter. Ou farei uma reclamação formal sobre sua postura como Professor de Hogwarts.

– Faça. Será sua palavra contra a minha. Quer medir forças comigo, Malfoy?

– O que está acontecendo aqui?

Minerva McGonagall podia sentir a quilômetros a tensão entre os dois bruxos diante de si.

– Sr Malfoy, se já falou com seu filho, tenho certeza de que o Prof Slughorn ficará feliz em acompanhá-lo até a saída.

– É claro, diretora McGonagall. Tenha um bom dia.

Assim que eles se retiraram, Minerva lançou um olhar de recriminação para Harry.

– Potter, essa não é uma postura de um Professor de Hogwarts. Não saímos por aí enfrentando os pais dos alunos por conta de desentendimentos antigos.

– Isso vai além de desentendimentos, diretora. A senhora sabe - sibilou.

– Então por que deu uma declaração favorável aos Malfoy? Por que testemunhou a favor deles na Suprema Corte dos Bruxos? Você lhes deu a liberdade na época, Harry, por acreditar que, no fim, eles estavam sendo forçados. Foi o seu julgamento que permitiu a Draco caminhar entre nós. E ele deu a volta por cima e tem o sucesso profissional para alimentar seu ego.

– Ele queria ver a Srta Dumbledore. Eu não posso permitir que ele chegue perto de um Dumbledore novamente.

– Não seja infantil, Harry Potter. Draco Malfoy não tentaria nada estúpido contra a garota. Ele sequer conseguiu fazer o trabalho anos atrás, conforme você testemunhou. Agora, você precisa se reunir com o Prof Pratevil e o Sr Beezinsky para definir uma ação para o fim de semana, não estou certa?

– Sim, senhora – Harry girou em seus calcanhares e partiu a caminho de sua sala, amaldiçoando Draco de todas as formas possíveis, em seus pensamentos.

O resto da semana passou lentamente. Embora inicialmente os alunos estivessem felizes sem as aulas, logo a permanência em suas Salas Comunais os fazia pensar seriamente em como seria melhor ter algo a mais para fazer. Os alunos da Sonserina e da Lufa-Lufa foram realocados para o 4º andar, na ala direita e esquerda, respectivamente, em quatro grandes salas: duas para as meninas, outras duas para os meninos. Seus pertences foram levados para os novos dormitórios com uma disposição diferentes de camas. Empilhadas nos cantos, elas agora formavam tribeliches e, no centro, uma grande mesa com largas poltronas indicava que ali seria a Sala Comunal particular de cada dormitório.

A agitação mesmo estava fora do Castelo, mais precisamente à beira do Lago. Minerva olhava ainda um pouco apreensiva com a decisão de Harry em conversar com os sereianos. Por mais que se esforçasse, às vezes Minerva continuava a enxergar o homem diante de si como o estudante que viu passar por tantos perigos. Mas Harry não estava sozinho e não havia perigo em três bruxos adultos e experientes mergulharem no Lago. Além disso, ele já era um veterano.

Quando tinha 14 anos, Harry teve a incrível experiência de participar do Torneio Tribruxo e mergulhar no Lago para recuperar seu amigo. Ele nunca esqueceu as coisas estranhas e interessantes que viu naquele dia, muito menos dos sereianos. Ao longo dos anos, como auror, Harry teve contatos com outras espécies e desenvolveu a habilidade de falar com eles. Agora, seu conhecimento era de grande valia e ele estava orgulhoso de si mesmo. Diferente de anos atrás, não era necessário o guelricho. Com um movimento complexo de varinha, Harry adiquiriu guelras, suas mãos desenvolveram pele entre os dedos para facilitar no nado e suas pernas foram subtituídas por uma longa calda esmeralda. Com um salto, ele mergulhou nas águas não mais geladas do Lago. Sentia-se em casa, enxergava com clareza e não se lembrava de ter experimentado um oxigênio tão puro. Em instantes, outros dois bruxos transfigurados se juntaram a ele.

Harry liderava o grupo, pois era o único que já havia visto o povoado dos sereianos. Pouca coisa parecia ter mudado ao longo dos anos. O silêncio era absoluto, a paisagem ainda era escura e enevoada e à medida que mergulhava em direção ao fundo, o cenário mudava. Em pouco tempo, os três bruxos já não enxergavam o leito e, usando feitiços não-verbais, iluminavam com suas varinhas o caminho que possuía uma misteriosa claridade acizentada. Diante deles, surgiu uma floresta de plantas verdes e ondulantes, emaranhadas entre si, numa vasta extensão e profundidade, que nem era possível enxergar ao fundo.

– Tomem cuidado! – falou com clareza, sem que as bolhas o atrapalhasse – Os grindylows costumam surgir do nada.

Bastou que falasse para Harry tomar um grande susto com pequenos peixes que passaram em grupo como flechas ao seu lado. Ele sorriu para os outros bruxos e nadou em frente, cada vez mais fundo no Lago. Foi então que um vulto negro chamou sua atenção, fazendo-o assumir uma postura de defesa, com a varinha à mão. Os outros dois o imitaram e olharam assombrados a aproximação da nova lula gigante do Lago. Jovem e curiosa, ela deu uma volta inteira analisando os intrigantes visitantes do lago, que estavam com suas varinhas em riste, preparados para se defender de um ataque. Seus tentáculos compridos de cor roxa e suas ventosas tocaram Harry, que se arrepiou todo, mas pediu aos bruxos que mantivessem a calma e cautela. Da mesma forma, a lula encostou nos outros bruxos. Após alguns minutos, ela pareceu perder o interesse e se afastou do grupo.

– Fantástico! – explanou Pratevil.

– Vamos continuar – disse Harry.

A floresta ondulante ficou para trás e um belo prado aquático surgiu diante deles, com uma iluminação dourada. Finas e claras, as plantas lembravam um vasto campo aberto. Logo a seguir a água ficava mais densa, escura e opaca. Eles entraram com cautela, varinhas à mão. O silêncio incomodava, pois a sensação era de que algo estava à espreita. Suas caudas esmeraldas golpeavam a água, lançando-os à frente. Foi então que vários grindylows surgiram das sombras e vieram em disparada na direção dos bruxos. Eles lançaram feitiços não-verbais e acertaram diversos, mas ficaram surpresos quando os seres aquáticos passaram por eles, fazendo gestos com o punho e mostrando os dentes.

– Eles estão fugindo de algo – explanou o Sr Beezinsky.

E eles logo viram o porquê. Uma criatura que não pertencia ao Lago há anos assustou os bruxos: uma muraena irlandesa de cauda bifurcada. Seu corpo era volumoso como um barril, brilhante e visguento. Seus dentes eram esverdeados e triangulares, bastante afiados e sempre à mostra e suas pequenas garras eram capazes de destroçar grindylows, facilmente. Seu maior perigo, no entanto, era sua cauda bifurcada que ricocheteava e soltava uma descarga elétrica em contato com a pele. Pega de surpresa pela presença de invasores em seu território, ela investiu contra os três bruxos, que se espalharam, desviando. Prof Pratevil, com um movimento de varinha, imobilizou o animal. Não havia necessidade de matá-lo, pois não oferecia perigo para os alunos.

– Olá, Harry!

– Murta?! – Harry se afastou, instintivamente.

– Você está bem diferente da última vez que o vi por aqui. Cresceu. Eu não posso crescer! – e desatou a chorar.

– Vamos, Murta. Não fique assim. Pelo menos você ficará jovem para sempre. Eu vou ficar cheio de rugas e virar um velho gagá.

Ela deu um largo sorriso, sinal de que Harry havia dito a coisa certa.

– Bonita cauda.

– Hum...obrigado, Murta.

– Quem é esse fantasma? – perguntou Sr. Beezinsky.

– A garota que foi morta pelo Basilisco anos atrás, no Castelo – Prof Pratevil esclareceu.

– Oh!

– Indo salvar alguém, Harry?

– Na verdade preciso falar com os sereianos.

– Oh! Então é melhor ir por ali – e apontou para o lado da vasta escuridão das águas – Esse bicho chegou e fez a maior bagunça por aqui, tomando esse espaço todo. Mas tem uma caverna que dá para o outro lado.

– Obrigado, Murta.

– Não há de que, Harry. Eu até iria com você, mas sabe que eles sempre me perseguem quando me aproximo demais. Mas eu quero que saiba que se algo acontecer, se eles te matarem por invadir, eu vou adorar nadar com você por aqui.

Prof Pratevil e o Sr Beezinsky trocaram olhares surpresos e desaprovadores, deixando Harry completamente desconsertado.

– Obrigado, Murta, mas creio que não será necessário.

– Tudo bem então – e soltou uma risada que mais parecia um soluço – Até mais, Harry Potter.

O grupo seguiu em frente, pelo caminho indicado por Murta. Assim que atravessaram, eles puderam ouvir uma melodia gostosa e misteriosa. Harry viu, mais uma vez, o penhasco que emergia da água lodosa com pinturas gastas de sereianos com lanças e caçando uma lula. Prosseguiu como no dia do Torneio Tribruxo até avistar o pequeno povoado, com suas casas de pedra enfileiradas, envoltas por algas e folhagens, que lhe fazia lembrar os jardins da superfície. Os sereianos espreitaram pelas janelas os três visitantes do lago até que eles pararam próximos à estátua esculpida em pedra, que manteve seus amigos presos em outra época.

– Olá! – disse em serêico – Eu sou Harry Potter e estes são o Sr Beezinsky, do Ministério, e o Prof Pratevil, de Hogwarts. Existem coisas acontecendo na superfície e acreditamos que o Lago está envolvido. Algumas crianças passaram por traumas terríveis. Por isso, gostaríamos de conversar com Murcus, se for possível.

Um grupo de 20 sereianos prestaram atenção nas palavras de Harry. O Prof Pratevil nunca havia visto tantos em uma distância tão curta e sua pele cinzenta, cauda prateada, cabelos verdes e olhos amarelos eram diferentes da espécie que vivia mais ao norte da Bretanha. Todos estavam munidos de lanças afiadíssimas e se posicionaram de modo que poderiam atacar sem piedade a qualquer momento. Uma fêmea se aproximou do grupo: era jovem e possuía os cabelos verdes encaracolados.

Estávamos esperando por vocês – disse, numa voz melodiosa e hipnotizante.

Uma série de outros sereianos se uniram à jovem, cantando em uníssono para os visitantes, que se sentiam acolhidos e confortáveis.

Venham conosco! Permitam-nos levá-los até nossa grandiosa líder. Relaxem em nossas águas quentes e aproveitem nossa melodia para descansar. Vocês irão onde ninguém jamais irá. O caminho é um segredo e não podemos revelar. Durmam agora e acordarão quando for a hora apropriada.

Harry estava se sentindo estranho. Lembrava de estar ouvindo um belíssimo canto em conjunto dos sereianos e de repente tudo havia assumido um tom colorido, como num sonho. Sentia a água corrente fluir ao lado de seu corpo, mas não conseguia enxergar nada além. Aos poucos a concepção do que aconteceu veio a sua mente: os sereianos haviam hipnotizado o grupo para manter secreta a localização de suas casas. Mas Harry achou desnecessário, afinal, eles já haviam chegado ao povoado sozinhos. Por um momento, imaginou se os sereianos do Lago de Hogwarts eram capazes de apagar a memória de um bruxo e ninguém nunca havia registrado isso antes.

Aos poucos, Harry começou a notar que o barulho ao redor era mais claro e podia jurar que uma criança havia dito “Não sabia que nós também tínhamos um Harry Potter”. Com um pouco mais de esforço, ele conseguiu abriu os olhos e a queda de seu queixo foi mera conseqüência. O que ele via diante de si era algo nunca catalogado em livros antes: uma imensa estrutura de pedras seguia à frente, como um castelo. Havia um intenso movimento de sereianos indo e vindo, em ruas que mais pareciam escorregadores esculpidos. Sr Beezinsky e Prof Pratevil haviam acordado antes e ainda se encontravam maravilhados com tudo aquilo. A jovem sereiana que os havia encontrado na Vila estava, mais uma vez, diante deles.

– Murcus irá atendê-lo, Harry Potter.

Ao passo que os três bruxos seguiram a jovem, os outros sereianos, com suas lanças afiadas em riste, impediram a passagem do grupo.

– Murcus atenderá apenas a Harry Potter. Os outros ficam aqui.

Os dois bruxos pareciam confusos.

– Parece que a líder deles só receberá uma pessoa. Fiquem aqui.

Harry seguiu em frente, impressionado com tudo. A grande estrutura tinha várias colunas em vértice que se assemelhavam a torres, uma especialmente grande e alta no meio, e todas eram interligadas por fios de pedra, que na verdade eram caminhos esculpidos como escorregador. Esses caminhos se encontravam e pareciam desaguar pelas laterais em direção à entrada, como dois braços prestes a abraçar algo. Dentro da estrutura, havia um grande salão repleto de pinturas de algo como um festival de caça e uma série de arcos de pedras esculpidas em uma seqüência gradativa do maior para o menor, apoiado em duas largas pilastras tomadas por plantas aquáticas em espiral. Tudo isso preparava o visitante para a visão da cidade dos sereianos. Uma série de diversas casinhas de pedra tomava conta de uma vasta área, diferentes das que Harry vira no início, cercadas por uma floresta de algas azul-acizentadas, que lembravam a pele dos sereianos e se confundiam com as pedras numa perfeita camuflagem. As casas eram mais bem trabalhadas e bonitas, com várias espécies de plantas que decoravam em seus tons verdes, cinzas e azuis.

Boquiaberto, Harry continuou a seguir pelo que parecia ser o meio da rua. Viu dois sereianos carregando uma grande pedra para o meio do jardim, quase foi atropelado por dois filhotes que pararam abruptamente diante dele e nadaram para o outro lado como um raio, ouviu um coral de jovens machos cantando maravilhosamente enquanto pareciam tecer uma grande rede, viu um casal enamorado fugir sorrateiramente por trás de uma casa e, acima de tudo, viu como todos reparavam em sua cauda esmeralda brilhante e cochichavam.

Ao fim, uma casa maior se destacava e Harry viu que era para lá que estava sendo guiado. Dentro, um grande lustre de bolas de cristal adornava um espaço absolutamente vazio, exceto pelas paredes repleta de sereianos esculpidos em alto relevo e pela fêmea particularmente selvagem e de aspecto feroz, no centro.

– Olá, Harry Potter.

– Murcus – e fez uma longa reverência – Um lugar atípico para uma residência – disse, olhando ao redor.

– Não moro aqui, Harry Potter.

– Pensei...

– Mais uma vez Harry Potter não entende que os sereianos são sempre diretos, quando podem. Harry Potter não veio aqui para uma visita a minha casa, veio?

– Sabe por que vim?

– Estávamos esperando. Siga-me.

Murcus cantarolou algo muito belo e um vão redondo começou a abrir logo abaixo deles, revelando uma caverna natural que fazia o caminho inverso, levando-os de volta para baixo da torre mais alta que ele havia visto lá fora, embora Harry nunca tivesse a certeza absoluta disso. Tudo era escuro e Harry iluminava o caminho com sua varinha, mesmo com a contestação de Murcus. Decerto, eles não precisavam daquilo para enxergar. Quando entraram no grande vão, Harry ficou abismado: ali estava toda a história dos sereianos do Lago de Hogwarts. Esculpidas, pintadas ou penduradas, estava tudo naquele local gigantesco. Ela começou a nadar para cima e ele a seguiu, observando tudo com muito entusiasmo. Viu logo no começo sua imagem no Torneio Tribruxo e admirou por alguns segundos. Notou que havia momentos cobertos com algas e espaços vazios como se coisas tivessem sido retiradas dali. Provavelmente, nem toda a história deles podia ser revelada. Então, bem ali, à sua frente, ele viu a pintura de três sereianos de caudas verdes prostrados diante da imagem da gigante sereiana de pedra.

– Uma lenda antiga do nosso povo fala sobre a chegada de três espécies de caudas esmeralda – ela começou a contar, antes que Harry pedisse – Eles vieram de longe pedir conselho à líder-mãe Zurcus, pois sua cidade estava em decadência. Zurcus escolheu um deles e o mandou olhar para trás. Erros, acertos, o previsível e o imprevisível caminharam lado a lado até o momento presente da destruição. O escolhido notou que nem tudo o que estava finalizado, estava finalizado. Então perguntou à líder-mãe Zurcus o que fazer e ela os mandou escutar a cidade e manter a mente e os olhos abertos. Os três voltaram e propuseram um jogo ao povo. Por dias eles ouviram, viram e pensaram livremente. Por fim, descobriram o que tinha de errado no coração da cidade e ela pôde reviver, novamente.

– É isso o que devemos fazer?

– Não sei, Harry Potter. Isso é apenas uma lenda.

Permaneceram em silêncio durante o retorno até a sala do lustre.

– Sabe algo sobre a inundação em Hogwarts?

– Alguns foram olhar. Não há fissuras na parede de pedra na base de Hogwarts.

– Já aconteceu antes?

– Durante a construção da escola, talvez. Pelo que sei, foi algo resolvido imediatamente.

– Aconteceu algo depois disso? Alguma coisa estranha?

– Não.

– A magia de Hogwarts já esteve fraca? A ponto dos kramim também ficarem raros?

– Sim.

– Quando?

– Na última guerra da superfície.

– Os kramins ficaram escassos durante a guerra contra Voldemort?

– Não durante...depois. Mas foi resolvido naturalmente...até agora. Foi um prazer recebê-lo, Harry Potter. Nirlus irá levá-lo de volta ao povoado. Agradeço se comentar sobre o que viu apenas com as pessoas necessárias.

– É claro, Murcus – e fez uma nova reverência.

Durante todo o percurso de volta Harry esteve recluso numa bolha de pensamentos. Com certeza a lenda dos sereianos era feita para eles e, claro, para este momento em particular. A cidade em decadência era a própria Hogwarts e no passado devia estar a resposta para o caos que enfrentavam agora. A inundação tinha ocorrido no início da construção da escola e, na certa, o que estava finalizado não estava finalizado. E Hogwarts havia sido construída mais uma vez. Talvez o Ministério estivesse certo sobre as falhas durante a reconstrução da escola, afinal, o que parecia finalizado não necessariamente estava finalizado. Tudo parecia absurdamente claro. Ouvir Hogwarts: o pedido de socorro na escadaria. Observar Hogwarts: sinais claros de que algo estava errado. Mas manter a mente aberta...para que? O que ele deveria fazer dessa vez?

Encontrou os outros dois bruxos entediados, cercados por sereianos com lanças afiadas. Eles prontamente se levantaram e Harry fez sinal de que esperassem. Logo os sereianos entoaram uma belíssima canção e todos caíram num sono leve. Quando acordaram, estava de volta ao povoado.

– O que aconteceu, Prof. Potter?

– Explico a todos assim que voltarmos, Prof Pratevil.

O caminho de volta foi muito mais fácil e rápido. Em poucos minutos eles já estavam na superfície, desfazendo os feitiços e se secando. Harry não pôde dizer que estava surpreso ao ver duas figuras visivelmente aborrecidas diante dele, embora por motivos diferentes.

– Oi, Mione! Oi, Ron!

– Eu não acredito que ao primeiro sinal de suspeita no Lago você resolveu mergulhar sem sequer pensar nas criaturas que podem ter migrado para cá desde os tempos da última guerra. Merlim sabe que tipo de associações Voldemort pode ter feito para...

– Mione, está tudo bem. Encontramos uma muraena irlandesa de cauda bifurcada e foi só.

– Só?! – ela parecia prestes a começar um discurso, mas Rony interviu.

– Podia, pelo menos, ter esperado eu chegar.

– Ronald! – e bateu nele com a edição do Profeta Diário que tinha em mãos.
Ronald resmugou de dor e depois sorriu, piscando para Harry. Era tão bom e divertido ter os amigos por perto, que Harry quase esqueceu do que deveria fazer.

– Diretora McGonagall, acredito que seria melhor conversarmos em sua sala.

– Sim, claro.

A sala da diretora ficou lotada com os professores e bruxos do ministério, além dos antigos diretores, é claro. Todos ouviram atentemente tudo o que Harry contou sobre a lenda dos sereianos e concordaram que encaixava perfeitamente em tudo o que acontecia com a escola. Hogwarts parecia estar realmente querendo dizer algo, alertá-los sobre alguma coisa errada, por mais incrível que aquilo fosse. Mas se tratava da Escola de Magia e Bruxaria mais misteriosa do que qualquer outro lugar no mundo, então, tudo era possível. A discussão sobre a mente aberta gerou uma profusão de teorias das mais diversas e ninguém conseguiu concluir nada. De repente, Rony falou:

– E quanto ao jogo?

– Jogo? – Profª Carmelita Trelawney perguntou.

– Sim. A lenda diz que os três propuseram um jogo. Eu acho que o único jogo que se encaixaria em Hogwarts é o xadrez de bruxo.

– Xadrez de Bruxo! É claro, Ronald! Brilhante!

Hermione estava estasiada. Rony havia aberto sua mente para um raciocínio absurdamente rápido não acompanhado por ninguém. Ela estava radiante por ele estar certo, mas ele estava muito incerto quanto ao porquê dela estar tão radiante. Ao ver aqueles olhos brilhando daquele jeito, Rony sabia que tinha perdido algo no meio do caminho.

– Existem 7 peças fundamentais em um jogo de xadrez: o peão, o cavalo, a torre, o bispo, a rainha, o rei e, claro, o tabuleiro. Sabemos que sete é um número mágico e se falamos de lendas e tradições, com certeza ele está envolvido. Agora me acompanhem: o tabuleiro é Hogwarts e nós somos as peças brancas, pois tudo isso começou depois que algo saiu errado. Algo que, provavelmente, nós fizemos sem perceber. Então o peão negro seria a infiltração, o cavalo as escadarias e a torre a inundação.

– Isso quer dizer que temos dois movimentos antes do xeque-mate? – a diretora parecia horrorisada.

– Isso se algo não aconteceu sem que percebêssemos. E nós já fizemos o movimento, uma vez que Harry já entrou no Lago. Então...é a vez de Hogwarts.

Todos seguraram a respiração por um instante e desataram a falar ao mesmo tempo, concordando com a nova teoria.

– Se você estiver certa, Sra Weasley, então temo que o melhor seja fechar a escola – a diretora disse, com a expressão séria.

Mais uma chuva de opiniões se espalhou pela sala. A maioria concordava que, com o suporte necessário do Ministério, seria possível garantir a segurança dos alunos até o final do ano letivo. A diretora contrapôs afirmando que as crianças que, porventura, se perdessem na multidão numa eventual evacuação poderiam ter um fim nada agradável. Todos concordaram com a diretora neste ponto e foi do Prof Pratevil a idéia que salvou Hogwarts de ser fechada.

– Ensinaremos a eles como mandar mensagens de socorro e localização. Podemos fazer uma escala de complexidade e inserir durante as aulas sem que eles percebam. Para o primeiro-ano, por exemplo, podemos ensinar a enviar, bilhetes voadores, já que é um feitiço inferior aos memorandos. E então aumentamos a complexidade até a mensagem através de um patrono falante.

– Sim, sim, é possível! – exclamou a professora de Feitiços.

Todos os olhos estavam voltados para a diretora McGonagall, tensos. Hermione não parava de pensar em como seria interessante saber esses feitiços na época em que ainda estudava na escola.

– Oh, está bem. Vamos tentar.

A comemoração dos professores fez a sala vibrar. Aos poucos, eles foram se retirando, voltando-se aos seus afazeres. Ron, Mione e Harry estavam na ponte que dava para Hogsmeade, conversando.

– Parabéns, Rony! Aquela idéia do xadrez de bruxo foi genial.

– Bom, eu só tive a idéia. A teoria foi toda da Mione.

– Mas você foi brilhante, amor!

– Bom, acontece, você sabe. Não sou de todo um trasgo.

– Claro que não! Você é um auror e nós não queremos esse tipo de rotulação.

– Ah, cala a boca, Harry!

Os três riram abertamente.

– Sinto falta disso aqui.

– As coisas não mudaram muito – Harry sorriu para a amiga – Ainda temos os Harrys, Ronys, Miones, Dracos, Lunas, Ginas, Nevilles, Goyles, Crabbles... o tempo muda, mas sempre vai existir um padrão de crianças em Hogwarts.

– Mas eles não viverão nossas aventuras, né?

– Ainda bem, Rony! Merlim sabe como tudo aquilo foi apavorante.

– Mas foi divertido e excitante também – Harry ressaltou.

– Vai, Mione, não tem como negar isso.

– Ok, ok. Admito.

– Vamos, eu pago uma rodada de cerveja amanteigada pelos velhos tempos. Enquanto isso, vocês me contam como vai a investigação.

Os olhos de Hermione brilharam e Rony resmugou algo enquanto seus olhos giravam nas órbitas. Os três seguiram sorrindo e conversando, como nos velhos tempos.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.