O Reencontro

Bella estava se isolando, propositalmente, para evitar um interrogatório de Voldemort, Narcissa, ou qualquer outro. O ambiente estava in-su-por-tá-vel.
Ela desceu e foi até os portões da casa, longe da multidão. Não havia perigo, a casa era afastada de tudo, e chovia muito forte, “chovia canivetes”. No meio do caminho, ela já estava ensopada, mas parecia nem ter percebido. O vestido preto que ela usava, ficou encharcado e grudado em seu corpo.
Ela encostou o rosto na grade dos portões, como uma criança querendo sair para brincar no quintal em dia de chuva. E ficou lá um bom tempo. A chuva não parava, era quase impossível enxergar um palmo à frente.
Pela estradinha que levava aos portões da casa vinha uma pessoa, igualmente ensopada.
Bellatrix, por motivos de defesa, ganhara reflexos muito rápidos e uma ótima percepção do ambiente à sua volta. Ela puxou sua varinha e continuou parada, observando a figura se aproximar.
Era um homem. Parecia exausto, mas decidido. Tinha os cabelos pretos e compridos até os ombros, que estavam grudados no rosto por causa da chuva.
Quando conseguiu ver que havia alguém no portão, já estava muito perto, mas não dava para ver nada. Ele puxou a varinha e nada disse.
Ela resolveu fazer alguma coisa, e ver quem era e o que queria. Medo não era mais uma palavra que combinava com ela. Abriu o portão e saiu um pouco à frente.
- QUEM É E O QUE QUER? – Seu tom era claro, apesar do barulho da chuva. Ela mantinha a varinha erguida.

Apesar do tempo e das mudanças, ele reconheceu a voz dela.
- AH, É VOCÊ! ISSO FACILITA MUITO MEU TRABALHO! – Gritou em resposta uma voz muito conhecida.
Em menos de um segundo, antes que ela tivesse tempo de responder ou reagir, ele completou a pouca distância que restava entre eles, a puxou pelo braço e a beijou do mesmo jeitinho de 30 anos atrás.
As reações dela também haviam mudado. A primeira coisa que ela consiguiu pensar em fazer foi dar um belo empurrão nele e lançar uma bela Maldição. Mas não. Ela percebeu como queria aquilo, e isso não era bom. Nada bom. Mas todo o tempo que ela perdeu para chegar a essa brilhante conclusão, tarde de mais. Já tinha feito o que não pretendia. Os dois já estavam desesperadamente agarrados no meio do temporal, na frente dos portões da casa onde se encontravam Voldemort e todos os Comensais da Morte que queriam ter o prazer de matar Sirius pessoalmente.
- EU AMO VOCÊ! – Ele precisou gritar, mesmo que ela estivesse do seu lado, era quase impossível ouvir alguma coisa. Aquele devia ser o pior temporal do ano, o mundo parecia estar caindo. Ele a abraçou com muita força, parecia estar tentando não chorar na frente dela.
Talvez essa tenha sido uma das únicas vezes que Bellatrix chorou de verdade, que demonstrou algum sentimento real. Afinal, ela não perdera a capacidade de ser humana. Ela não falou nada, não era preciso. Seus lábios se encontravam mais uma vez. Uma mistura de choro, e talvez um beijo. Quantas coisas não ditas, quantos sentimentos presos...
Ele a soltou, para poder olhá-la de frente. Depois de tanto tempo, conseguiram se encarar sem desviar o olhar.
Ela o entendeu.
- É... Os anos passaram. – Ela o olhava lá no fundo dos olhos, daquele jeitinho irritante que só ela tinha.
- Tomamos rumos diferentes...
-... Mas acabamos no mesmo lugar.
- Perdemos tanto tempo...
- Ele pode ser recuperado. Mas claro que não do mesmo jeito.
- Bellatrix Lestrange. – Foi no que ele conseguiu pensar em dizer. - Bellatrix Lestrange...
- Bellatrix Black. – Ela tinha um ar desafiador, porém satisfeito.
Visivelmente confuso, ele arqueou uma sobrancelha e continuou olhando para ela.
Agora sorrindo, ela lhe mostrou a mão esquerda, e o lugar onde antes havia um grosso anel prateado, estava vazio.
- Por quê? – Foi à primeira pergunta que lhe veio à cabeça. Ele sabia que o casamento dela com Lestrange era pura aparência.
- Cansei daquele imbecil. Eu não quero mais casamento nenhum. Chega. – As duas últimas frases foram propositais, para ver a reação dele.
A essa altura a chuva já diminuíra. Logo dariam falta dela, e alguém viria encher a paciência.
- Porque o dia que eu fizer a burrada de me casar de novo, eu espero estar bem louca e me casando com um idiota. – Ela deu um dos seus conhecidos sorrisos sarcásticos. – Agora, é melhor para todo mundo se você for embora. – Ela deu as costas a ele, mas não sem antes olhá-lo de cima a baixo.
- Bellatrix, Bellatrix, eu te conheço... – Virou o rosto dela e lhe deu um beijo na bochecha (de propósito). E claro, ele parou para prestar atenção no estado da roupa dela, que deixava o contorno do corpo bem visível.
- Sirius Black... – Ela sorriu com sinceridade (outra coisa rara de se ver) e lhe deu um selinho.
Entrou e fechou o portão.
Ainda estava encharcada e com frio. Entrou em casa e passou andando diante de muitos olhares curiosos em direção a escada.
- Você estava lá fora nessa chuva? – Perguntou a voz arrastada e baixa de Lucius Malfoy, que estava entre os curiosos.
- Não, seu imbecil! Estava com calor e resolvi me molhar! – Fez um ruído muito debochado e continuou subindo.

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