A Escolhida



"E eis que das sombras surgiu um vulto agourento que lhe tomou em seus braços e lhe beijou"

Tarde de 30 de julho de 1998.

Anos após uma guerra sangrenta que levara muitos dos seus melhores amigos e conhecidos e ela se encontrava sentada em um canto da sala de visitas do Largo Grimmauld, encolhida e olhando velhas cartas e fotos. A que ela mais gostava havia ido embora junto com o amor da sua vida, no dia em que a última batalha fora travado. Hermione Granger olhava para as cartas em que haviam escritas confidencias e juras de amor para aquele que se foi, Fred Weasley.

Estava um pouco nostálgica hoje. Não devia, pois é a véspera do aniversário de seu melhor amigo e ela não devia ficar mais encolhida nos cantos daquela enorme casa chorando uma das perdas que mais marcaram sua vida. Ela se lembrava dos tempos em que ela e Fred saíam as escondidas de dentro do Largo para ver o céu à noite, para poder namorar sem terem medo de serem pegos... Do tempo em que ela realmente fora feliz. Agora estava ali, sentada no chão, com varias fotos e papéis espalhados ao seu redor e sem nenhuma reação.

Até que ouviu um estalo do lado de fora da casa e se levantou, sacando a varinha. Esperou, apurando os ouvidos para algum ruído estranho. Nada. Então, devagar começou a abaixar a varinha e se aproximar da porta com cautela. Novamente nada. De repente, uma batida na porta. Duas, três, eram desesperadas.

- Quem é? - Perguntou ela, empunhando a varinha novamente. - Vamos! Diga-me quem é!

- Anda Granger! Abra! - Berrou a pessoa do lado de fora. - Anda, eu não vou te fazer nada! Anda, rápido!

Ela reconheceu a voz arrastada de Draco Malfoy. Assustou-se, ele não era muito íntimo de ninguém ali na Ordem e não eram comuns as suas visitas.

Ela hesitou um pouco e depois abriu. A visão que teve a deixou paralisada na porta: um Malfoy ensangüentado, ferido e fraco. Adiantou-se, com medo, a ajudá-lo.

- Malfoy, ai santo Merlin! O que houve? - Disse ela com a voz vacilante quando terminou de fechar a porta e colocar Malfoy sentado no sofá. - Olhe o seu estado! Em que esteve se metendo? Se Harry te ver assim...

-Fique calada Granger! - Ordenou ele tampando a boca dela com a mão que não estava muito suja, indicando com a cabeça que ela deveria prestar atenção nos barulhos que vinham de fora da casa. Agora os barulhos tinham se intensificado e pareciam feitiços ricocheteando para todos os lados da rua.

- O que está havendo? - Perguntou ela tirando a mão dele de sua boca e sussurrando. - O que houve com você?

- Fanáticos... Voldemort... Matar... Potter... - Foram as últimas palavras dele antes de apagar.

Hermione ficou olhando aquilo como se nunca tivesse visto Malfoy antes. Não naquele estado. Com um aceno da varinha, suas cartas e fotos se arrumaram em pilhas organizadas e postas lado a lado, perto do sofá. Ela olhou para o sonserino ferido a sua frente. O que podia ter acontecido? Como assim, fanáticos, Voldemort, matar e Potter? Ela não entendia.

Conjurou uma bacia com água, panos e essência de Ditamno. Colocou-se ao lado de Malfoy e começou a limpar seu rosto. Não era de sua natureza ajudá-lo. Mesmo depois de conviverem alguns meses na Ordem, ela ainda conservava um certo desprezo pelo loiro. Alguns anos antes, ela nem teria se dado ao trabalho de ajudá-lo. Pelo contrário, sairia e ajudaria acabar com ele. Mas alguma coisa havia mudado.

Enquanto ela passava o pano pelo seu rosto, para poder limpar as feridas, ela ia pensando em como ela parecia frágil e em como ele era...

- Lindo... - Suspirou ela.

- Quem é lindo, Granger? - Riu-se Malfoy, ela não havia percebido: ele tinha acordado.

Assustou-se, quase caindo dentro da bacia com água que estava no chão ao seu lado.

- Lindo? Eu... Eu disse alguma c-coisa? - Fingiu ela, com medo de que ele percebesse seu constrangimento. - Já está delirando, Malfoy!

- É deve ser! Imagina, eu nesse estado e mais uma fã me chamando de lindo? Eu não mereço tanto! - Disse ele fechando os olhos novamente com um sorriso no canto da boca.

- Deixe de ser convencido, Malfoy! E já que você está acordado, me conte o que aconteceu! - Disse ela, um pouco nervosa e um pouco ruborizada. - Não é muito comum você aparecer aqui sem avisar a Merlin e o mundo, ainda aparecer machucado!?

Quando ela fez menção de continuar o sermão, ele abriu os olhos e lhe lançou um olhar que a fez calar-se.

- Para sua informação, Granger - começou ele, o sorriso já tinha se apagado, estava sério -, eu não aviso Merlin e o mundo quando venho aqui! Você exagera muito. E segundo, eu vim pra te alertar e te levar daqui comigo porque come...

- O que? - Disse ela confusa. - Pra onde? Vai me seqüestrar? Olha que eu tenho uma varinha, Malfoy! E não tenho medo de usá-la!

- Droga, Granger, cala boca! - De súbito ela se calou. Ele nunca havia falado assim com ela. - Como eu ia dizendo, eu vim te ALERTAR - disse dando ênfase à palavra "Alertar" -, e te levar pra um local seguro e te proteger. Começou de novo.

Ela começou a pensar muitas coisas. De novo? O que é que começou de novo? Cadê o Harry? Cadê o Ron? Ai, santo Merlin, me dê uma luz!

Ao ver sua cara de "perdida", Malfoy se adiantou em explicar-se:

- Voldemort. Seguidores, pra falar a verdade. Eles saíram da clandestinidade e... - ele hesitou, estava com medo da reação dela. - Decidiram que querem você agora, e não Potter.

"O QUE?", se perguntou ela. "O que será que eu fiz? Eu não matei nenhum 'Lord do Novo Milênio', acho que já estão dando desculpa pra começar outra guerra!”

- Tá, Malfoy, adorei a brincadeira, pode parar agora!

- Eu estou falando sério, Granger.

- Não está. Não pode estar, Quer dizer que agora eu sou a "Escolhida"?

- Talvez, Granger. O que eu estou falando, é que aqueles barulhos que vinham lá de fora, pouco depois que eu entrei, era os "Comensais da Morte"... - Ironizou ele.

- Mas como...? - Começou ela, mas malfoy segurou suas mão, ainda molhadas, e ela se calou, assustada.

- Foram ordens de Potter e eu tenho que te proteger. Corra, se arrume, pegue o que for fácil de levar, e rápido!

- Mas e você? Você está todo ferido! E eu não sei se isso é certo...

- Anda, Granger! - berrou ele com as poucas forças que tinha.

Ela se assustou e começou a ir em direção a escada quando parou. Olhou bem para cara de Malfoy e falou:

- Eu não entendo.

- O que você não entende, Granger? - Perguntou ele, se sentando no sofá, impaciente.

- Isso não está certo e eu não confio em você. - Disse ela com frieza. - Onde que está o Harry? E o Ron? E o resto da Ordem?

- Granger, eles estão no local pra onde eu vou te levar se você parar de bancar a irritante sabe-tudo que não sabe de nada! - disse ele com ferocidade. - Já tenho problemas o suficiente, pra você ainda vim com essa sua birrinha!

- Só pra você ficar sabendo, Malfoy, eu não estou com birrinha! - Disse ela, alterando o seu tom de voz. - Eu não confio em você mesmo! Nunca confiei e dificilmente eu vou confiar! - Ela começou a se aproximar dele a passos largos. - Eu não preciso da sua ajuda! Basta me dizer onde eles estão que eu muito bem vou sozinha, além diss...

- Cresce, Granger! Eu não quero te ajudar! Foram ordens e eu tenho que obedecê-las! Não sabe como eu ainda tenho nojo de você, sua sangue-ruim! - berrou ele alto o bastante para os gritos serem escutados do lado de fora da casa. - Não foi minha escolha! Mas se você quer morrer, fique aí! Daqui a pouco aquela fedelha Weasley entra aí e te mata como matou Spinet e as Patil...

Isso bastara. Fora o suficiente para ela entender.

- Fe-fedelha Weasley? Ginny? - Perguntou ela com uma mescla de horror, medo e raiva. - Irmã do Ron?

- Isso mesmo. Aquela nojentinha passou para o outro lado assim que Potter começou a sair com aquela esquisita.

- Luna?

- É, essa mesmo. Filha daquele doido do Xeno. A Weasley pirou legal... - Riu-se ele com desdém. - Tanto faz, nunca gostei dela mesmo!

Despertando Malfoy de seus pensamentos, Hermione falou com uma voz baixa:

- Mas, então... É outra guerra?

- Talvez. - Respondeu ele. - Não sei o que querem de você, mas querem realmente o seu pescoço. - Finalizou ele examinado ela da cabeça aos pés e dando um sorriso forçado. - Suba logo e se apronte!

- Mas quanto a casa? O Largo é o meu lar e lar da Ordem! - Disse ela chorosa.

- Não é mais. - Retorquiu ele com frieza. Pois se de pé analisando as paredes mofadas da casa enquanto ela subia as escadas silenciosamente.

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